A República Helênica pode ser considerada como o epicentro da crise na Zona do Euro. Não há negar que a Grécia, por uma série de meios e artifícios, estava em situação que não espelhava as reais condições de sua economia. Uma dívida enorme a pesar sobre uma economia de pequeno porte. E, no entanto, a desproporcionalidade do dever sobre o haver tem para a velha Hellas um efeito na aparência contraditório.
Por pequena que seja, em termos econômicos, a Grécia é julgada como se fora grande. As instâncias financeiras, seja o diretório europeu, o BCE e o próprio FMI, temem o calote grego e preferem estender-lhe a sobrevida na zona do euro através de uma série de empréstimos de emergência, que prorrogam uma permanência cada vez mais artificial de Atenas em um clube para o qual as suas condições de membro efetivo se tornam sempre mais afastadas da realidade.
Para que se entenda melhor a cruel situação enfrentada por grande parte do povo grego, bastariam alguns traços de um drama que se arrasta desde 2010: o primeiro Ministro Antonis Samaras é, na verdade o terceiro chefe de governo a prometer a seu povo que os atuais cortes (em pensões e salários) serão os últimos. A receita da austeridade – que é a resposta automática das troikas de credores -, atacada e abominada em vários países, tem demonstrado não ser este o caminho da recuperação das economias.
Se no princípio poderia fazer algum sentido – dados os truques, os embustes e a deliciosa viagem na maionese – continuar a aplicar maquinalmente tal remédio é um acinte não só contra o povo grego, senão contra a própria economia. Primo, os empréstimos baile-out arrancados, na austera filosofia de Frau Merkel, com shylockianas libras de carne da população, são na realidade um artifício contábil, que apenas prorroga a permanência no clube do euro, deixando aberta a porta da prisão por dívidas.
Secondo, a filosofia dos gerarcas europeus continua a ignorar que a melhor maneira de vencer recessões e depressões é seguir os ensinamentos de Lord Keynes. Ao invés de empobrecer a população, o que se deve é injetar recursos e dar emprego. Não será pela dieta draconiana da austeridade que se alavancará a economia helênica (a qual encolheu 25% nos últimos anos).
Vejam as greves na Grécia. Os comícios na Praça Sintagma, os protestos a multiplicarem-se e os suicídios isolados, porém marcantes (não são armadores, mas aposentados à mingua) têm sido o termômetro do desespero. Os manifestantes não se cansam de expressar não só o respectivo repúdio, mas também – e de acordo com a única saída de que dispõem - a sua negação diante de cínica e continuada injustiça. Eles são as vítimas e os reféns de falsos acordos.
As fissuras – que nas ruas e praças aparecem como fossos e rachaduras crescentes – começam a ressurgir no parlamento. A escassa maioria do Premier Samaras – formada essencialmente pela aliança da Nova Democracia (direita) e do Pasok (socialistas moderados) – dá sinais de fragmentação: sete socialistas expulsos e mais um conservador.
O desespero econômico e a falta de perspectivas é uma mistura digna de Lady Macbeth, eis que de seus caldeirões surgem os monstros do extremismo. A presença de deputados eleitos sob a bandeira da extrema direita, com os traços do nacional-socialismo, são sinais hediondos mas premonitórios de situações mais do que inquietantes, pelo que apontam de lacerações no tecido social.
( Fonte: International Herald Tribune )
Um comentário:
A matéria é de suma importância e foi abordada de forma exemplar.E verdade a Grécia é pequena mas possui no nosso imaginário um tamanho de gigante. Porque continuar, artificialmente, a fazer parte de um acordo que não será possível honrar?
Será então que a ordem da extrema direita a colocará nos trilhos...
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