sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Drama da Palestina


           O noticiário fala de troca mortal de mísseis entre Israel e Hamas, mas a simplificação de um conflito será sempre enganosa. A esse respeito, o  governo de Benjamin Netanyahu não dá a impressão de interessar-se pelas relações exteriores convencionais.
           Se não, vejamos. Tem um ministro do exterior, Avigdor Lieberman, que não demonstra qualquer interesse pelos assuntos próprios da pasta. A sua presença no gabinete israelense se prende a questões de política interna – controla o partido Yisrael Beiteinu, que representa os interesses dos judeus emigrados da Rússia, com ênfase em posição dura no que tange a questões palestinas.
           Israel é um país cliente dos Estados Unidos. O seu atual primeiro ministro fez uma aposta errada quanto ao resultado das eleições presidenciais americanas (favorecia abertamente a Mitt Romney).  Se Netanyahu procurou superar as suas dificuldades com Barack Obama através do deus ex-machina do pleito de novembro, deu-se mal.
           Não se deve, no entanto, subestimar-lhe a capacidade de restabelecer o contato com o 44º presidente estadunidense. Se a sua força não será total, o complexo relacionamento Washington –Tel Aviv induz a Obama a ter cautela em aplicar correções a Netanyahu, eis que elas, em termos de política americana, não podem ser confundidas como contrárias ao país, aliado visceral da superpotência. Nesse sentido, bastaria a menção à inversão na possibilidade de Washington de influenciar pro-ativamente o governo israelense, tendência que se cristalizou a partir do tandem Nixon- Kissinger, nos anos setenta.
         Apenas mais um bosquejo quanto às relações externas do Estado israelense. É notório o isolamento internacional de Tel-Aviv. As relações com os demais países, depois do esfriamento com a Turquia, se restringem na prática, em termos de conteúdo político, à superpotência. É um desenvolvimento que deveria inquietar o governo de Israel, eis que só se afigura, mutatis mutandis, comparável à antiga Africa do Sul dos tempos do apartheid.   
          A par disso se inserem as ameaças de reação truculenta diante do propósito da Administração Palestina de obter da Assembleia Geral das Nações Unidas o reconhecimento como Estado. Enquanto Tel Aviv pautar suas relações com Ramallah como se se tratasse de um bantustam, a ulterior deterioração nos contatos se afigura como inevitável.
          De resto, mesmo se compararmos com gabinetes anteriores, semelha difícil visualizar um quadro menos propício à formação de alguma válida perspectiva de uma possível melhora nas relações. Com Netanyahu e o crescente predomínio da direita ortodoxa tais possibilidades não seriam entrevistas nem pelo Senhor Pangloss.
          Por outro lado, não é – para dizer o mínimo – uma linha de bom senso tentar transformar um approach belicista no que diz respeito à Faixa de Gaza e à Administração Palestina como questão a ser eleitoralmente instrumentalizada. A eliminação por um míssil israelense ar-terra de Ahmed Jabari, chefe da ala militar do Hamas, no contexto de uma ´punição´ da longa detenção do soldado Gilad Shalit, só tenderia a acirrar e radicalizar os ânimos, com o lançamento de foguetes contra Tel Aviv, o que não ocorria desde a guerra do Golfo, em 1991.
         Com o assassínio de Rabin e o malogro dos acordos de Oslo, a condição da questão palestina só tem piorado, através de uma série de gabinetes israelenses, a partir de Ariel Sharon. Em Israel, a preponderância de uma  direita militante e a crescente influência da ortodoxia e dos chamados colonos muito tem contribuído para a piora nas relações palestino-israelenses.     
          Dentre as tradicionais perspectivas abertas pelo segundo mandato, o presidente Obama ganharia a oportunidade de retomar a senda antes trilhada por Bill Clinton. Trilha que no momento presente não se mostra particularmente auspiciosa, dada a postura de Bibi Netanyahu,o agravamento da tensão com o Hamas e as próprias relações com Mahmoud Abbas, na Administração Palestina. Se o horizonte não  pressagia luz muito promissora – a fortiori com a pendente investigação da causa da morte de Arafat – é mais do que tempo de se retomar o caminho da paz. Como asseverou um documento famoso, tudo se perde com a guerra. Só a paz se mostra conducente a reintroduzir o bom senso nessa questão.
            O governo egípcio – que não está mais a cargo de Hosni Mubarak – por intermédio do Presidente Morsi, da Fraternidade Muçulmana, se tem esforçado em manter uma postura responsável, dados os condicionamentos da opinião pública interna. A contenção manifestada deve ser vista como mais um motivo para que se avoque um tratamento  responsável dessa questão.
            É hora de enfatizar o bom senso dos partidários da paz, e afastar a irresponsabilidade dos mercantes da guerra.

 

(Fontes:  International Herald Tribune, Folha de S. Paulo )

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