As grandes tragédias podem marcar a História de um Povo. Com efeito, no presente momento o Brasil amarga o segundo maior número de mortes no planeta, que é apenas inferior àquele dos Estados Unidos, que dispõe de população 50% maior. Nesse caso, porém, a imagem do fracasso também é brasileira.
Tal se deve a um conjunto de fatores, mas sobretudo pela circunstância não-ocasional de o Brasil não ter uma política nacional contra a Covid-19.
Esses malogros históricos não acontecem decerto por acaso. Como nos ensina o historiador e filósofo da História Arnold Toynbee, ao falhar diante de uma magno desafio, o Brasil, outrora orgulhoso de seu programa de vacinação, superou as projeções mais pessimistas e se tornou, no dizer de cientistas, um pária internacional de saúde pública.
Como assinala o artigo de Ana Lúcia Azevedo, em O Globo - A Face do Fracasso - Brasil supera as piores projeções e chega a duzentos mil mortos pela Covid-19.
Segundo o referido artigo "é brasileira a face do fracasso contra o coronavírus. Sem testagem em massa, sem distanciamento social, e sem vacina, o país, outrora orgulhoso de seu programa de vacinação, atravessa o difícil momento acima reportado."
É difícil determinar que idéia na realidade se faz Bolsonaro do desafio que enfrenta. O que ele mostra na maneira com que trata essa desgraça pública só tende a transmitir uma idéia de confusão mental, que pode chegar a excessos como considerá-la "uma gripezinha", o que constitui uma afronta não só aos duzentos mil mortos, mas também a todos aqueles que confrontam a "tal de gripezinha", seja nos superlotados hospitais de Manaus,seja naqueles do Sul do Brasil, nas alas de casas de saúde e naquelas especialmente a quem tocou essa promessa, que tudo transfigura, diante da vantagem preciosa de um tratamento em UTI (unidade de terapia intensiva). A UTI é a promessa que não tem preço - que não pode ser proporcionada pelas enfermarias das UPAs - e que em muitos casos significa a benção da vida, como que arrebatada às fauces sangrentas e por vezes desgrenhadas da terrível catadura da Morte.
Falar de gripezinha não é só desrespeitar a todos aqueles que se contorcem e sobretudo sofrem, tangidos que são pela ameaça onipresente do grande desafio, que é a sombra sinuosa, e, por quê não dizer, sôfrega da morte tão terrível , com que lutam, no silêncio por vezes sufocante das casas de saúde.
Falar de gripezinha não é só demonstrar a incapacidade de vivenciar, de alguma forma, esse enorme desafio a cada indivíduo, que luta, com dor ou sem dor, mas sempre com esperança na bênção existencial que aqueles silentes personagens à sua volta cuidam de manter bem vivo, seja ele moço, homem feito ou idoso, porque esse combate tem muitos personagens, mas sobretudo há uma luz que deve ser preservada, na superação da morte, que é a motivação comum, , que pode transformar forças díspares em uma empresa generosa, que abre, de par em par, as portas da esperança, a qual, junto com o saber médico e a prestação tão silente e tão empenhada, tantos fatores, na aparência díspares, mas na realidade podem ser empunhados com ciência, conhecimento e confiança, para trazer a luz e a sua companheira esperança para todos os momentos de dor e desânimo, durante uma luta que semelha difícil marcar os passos, os minutos e as interrogações.
Por isso, esqueçamos o deboche acintoso da gripezinha e num esforço que não poderia ser mais válido, saudemos com um obrigado o doutor que está à cabeceira deste e daquele paciente, esse regente que tudo faz para tornar real essa promessa da superação da enfermidade, que numa simbiose não nos traz dúvidas mas certezas de que também ali aquela doença está sendo vencida, em uma empresa a Deus bendita, que será paga com respeito e a gratidão da cura.
( Fonte: O Globo )
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