terça-feira, 11 de outubro de 2011

Notícias do Front Democrático

Sentença contra a líder da oposição

        Yulia Tymoshenko, ex-primeira ministra e líder da oposição, foi sentenciada a sete anos de prisão, pelo Juiz Rodion Kireev, sob a acusação de haver assinado contratos de gás com a Rússia, que supostamente seriam lesivos ao interesse nacional.
         Como já comentado por este blog, a sentença recende a perseguição política. Em abril, o Promotor-Geral da Ucrânia abrira processo penal contra a Tymoshenko por alegado abuso de autoridade ao assinar acordo de fornecimento de gás com suposto preço majorado.
         Yulia Tymoshenko em fevereiro de 2010 perdera para Viktor Yanukovych  na eleição para a Presidência da Ucrânia.
        Yanukovych é o chefe do partido pró-russo, enquanto a Tymoshenko lidera os nacionalistas ucranianos. Para enfatizar o seu apego aos valores nacionais, faz questão de usar uma trança camponesa.        A líder da oposição declarou, ao tomar ciência da pesada sentença, que discorda do veredito e que o ano de 1937 está de volta, aludindo à perseguição então encetada por Joseph Stalin.
      A combativa parlamentar considera todo o processo uma instrumentalização política,  fabricada pelo Presidente Yanukovych, com a complacência da justiça, e em particular do juiz Kireev, a quem reputa um fantoche do governo.
       Dentre as muitas contradições da questão, é estranhável que a nacionalista Timoshenko esteja sendo condenada por acordo com a Federação Russa, malgrado seja Yanukovych o cabeça de fila do partido pro-russo.
       Pelo visto, se assiste à utilização da justiça para atenazar e deixar acéfala a oposição. Em tal sentido, diversas instâncias de direitos humanos  já tinham questionado esta instrumentalização do judiciário, nos moldes do ditador Alexandre Lukashenko (da Bielo-Rússia). Na América Latina, esse ‘sistema’de intimidação tem adeptos fervorosos no caudilho  Hugo Chávez e no presidente Rafael Correa.

Liberdade para Liu Xiaobo

      Parece mentira,decorreu um ano desde a ignominiosa prisão e condenação do ativista chinês Liu Xiaobo, que está trancafiado em uma das masmorras mais inacessíveis do Império do Meio.
      Liu é mais um mártir da democracia naquela ditadura. Condenado por uma corte  – a ‘independência’ do Judiciário naquele país é a característica observada nos ditos regimes autoritários e nas chamadas democracias adjetivadas – a onze anos de prisão  “por incitar à subversão contra o Estado”, na verdade o coordenador da Carta 08 sofrera o que os algozes chineses entenderiam como ‘advertência’ ao movimento democrático.
     A Carta 08 é um documento que só pode parecer extremista em uma ditadura nervosa e burocrática. Essa Carta se restringia a reivindicar liberalização política gradual e legal, fundada em princípios constitucionais. Dessarte, o PCC se servia da justiça intimidante, e entrava de borzeguins em cena, de modo a evitar a propagação da insidiosa ameaça democrática.
      De certa forma, o tiro lhes saíu pela culatra, com a designação posterior de Liu Xiaobo para o Prêmio Nobel. Desatinada, a liderança chinesa, encabeçada por Hu Jintao, tentara intimidar o pequeno reino da Noruega, que, na oportunidade, evidenciara mais coragem e altaneria do que recentemente a timorata União Sul-Africana, ao recusar a concessão de visto ao perigoso agitador de alcunha Dalai Lama.
     Ao ensejo da concessão do Prêmio Nobel da Paz (V. Colcha XCIII), organizações de direitos humanos reivindicaram da China a liberação de Liu Xiaobo, esse prisioneiro da intolerância institucional. Também provoca repulsa o tratamento dispensado  à esposa do mártir, Liu Xia, a quem se cerceia todo tipo de contato além de sua família próxima, a par de dificultar as breves entrevistas com o preso político Liu Xiaobo.
     Parece sempre oportuno relembrar que a adoção da democracia – ou pelo menos de um respeito maior a ela – não esteve longe de tornar-se realidade. Valendo-se da ausência temporária do Secretário-Geral do Partido, Zhao Ziyang, a camarilha de Li Peng lograra convencer o ancião Deng Xiaoping do perigo que colocavam para a ordem comunista as manifestações da Praça da Paz Celestial. Para o massacre da Praça Tiananmen e as demais consequências da burocratização da instância governamental foi apenas um passo.
    

A intolerância religiosa no Egito

     Um dos poucos aspectos favoráveis da longa presidência de Hosni Mubarak foi a relativa proteção concedida à minoria cristã copta. Com a revolução da praça Tahrir, se desencadearam, além das justas reivindicações democráticas, movimentos que se valiam da temporária ausência das forças da ordem. Nesse sentido, se assinala o temor que gangues criminosas têm provocado na cidadania morigerada, muita vez forçada a refugiar-se atrás dos muros das respectivas residências, para tentar escapar da sanha de elementos anti-sociais.
    Outra característica da chamada era Mubarak era o entendimento do Presidente com o Patriarca copta, com vistas a controlar a violência intolerante de franjas do islamismo. Com efeito, a atenção do Chefe de Estado podia ser qualificada como uma benévola indiferença que – se não impedia ocasionais tropelias contra a seita minoritária – cuidava de que os eventuais danos materiais (ataques por islamitas a igrejas) e mesmo físicos ficassem contidos dentro de certos limites ‘aceitáveis’
     Os coptas são uma minoria decerto importante na população egípcia. Correspondem a cerca de dez por cento do total, o que não é pouco em país com os totais demográficos do Egito.
      Com a fragilização do controles, tem havido sistemáticos ataques – sobretudo da franja salafista, a mais intolerante – da maioria islâmica contra a comunidade copta e suas igrejas, que se busca sistematicamente destruir.
      Não se desconhece que a perseguição dos credos minoritários é um triste termômetro do baixo nível de tolerância inter-religiosa. Os cristãos caldeus são uma das vítimas da guerra de Bush Jr. contra Saddam Hussein. Sem embargo, a fraca representação do cristianismo no Iraque não pode ser cotejada com a relevante presença da religião cristã no Egito.
      Os recentes choques de coptas com a polícia e o exército expressam o desespero desta comunidade com a atual malévola indiferença que lhe é atribuída pelo chefe da junta, o Marechal-de-Campo Hussein Tantawi, que vem fazendo vista grossa a todo tipo de ataque, seja pessoal, seja aos templos do culto cristão, a que se dedicam impunemente fanáticos provocadores islâmicos.
     Tantawi tem recebido gestões do Ocidente contra essa criminosa atitude de nada fazer para proteger o direito dos coptas egípcios – que participaram do lado democrático da revolução da Praça Tahrir – de poder viver pacificamente na terra dos faraós.
     A reação dos coptas – que ainda dispõem de número suficiente não só para protestar, mas para defender-se dos ataques de polícia e de destacamentos do exército – semelha um aviso extremo, que se insere na vontade da comunidade de permanecer no solo pátrio, e não seguir a dolorosa escolha de noventa mil de seus compatriotas, que tangidos por um entorno opressivo e agressivo tomaram o caminho do exílio.



( Fontes: CNN, International Herald Tribune e O Globo)

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