Nesses últimos meses, será difícil topar com uma primeira página dos principais jornais do país que não noticie sobre escândalo no Legislativo, eventuais comentários do Presidente Lula, e supostas irregularidades em estatais. Nas páginas internas, de quando em vez, aparecem matérias sobre privilégios e corporativismo no Judiciário.
Não há negar que o presidente do Senado, José Sarney, tem sido aquinhoado com a maior parte dessa cobertura negativa. E não é decerto por acaso que tal se verifica.
A crise do Senado se agravou sobretudo com as denúncias sobre os atos secretos. Em um primeiro discurso, em que tentou generalizar o problema, Sarney acreditou contornar a ameaça à sua presidência, com recurso simultâneo a telefonemas orquestrados por Calheiros e sua tropa de choque.
Repetindo dramas anteriores, as habilidades retóricas ditas salvadoras tiveram vida curta, enquanto saíam dos porões do Senado novos escândalos. De um plenário intimidado na reação inicial da defesa do oligarca maranhense, sem que nenhum senador ousasse criticá-lo da tribuna, a situação se deteriorou com a rapidez inerente às grandes crises.
José Sarney, o maior oligarca da República, se viu constrangido a desaparecer da assembleia, deixando vazia a curul a que tanto se apega, para evitar o contato pessoal com discursos de colegas senadores a pedir-lhe – metaforicamente – a augusta cabeça.
Coisas impensáveis na grande imprensa principiaram a se tornar quase corriqueiras. Assim, professor respeitado de universidade federal, em entrevista, ( V. blog de 20 de julho) definiu a crise como tendo um lado muito positivo e produtivo, por estarmos caminhando para virar a página, vale dizer, para nos vermos livres do “símbolo maior” do coronelismo no país. Em consequência disso advirá sua anunciada morte política com positiva mudança para a democracia brasileira.
O leitor atento encontrará decerto nas páginas internas de jornais tentativas de relativizar os crimes ( e as mentiras ) desse Vice-rei do Norte, que tem dominado o cenário do Maranhão e do Amapá. São os alegres compadres de Brasília – que Carlos Lacerda, quando escrevia com um heterônimo na imprensa dos tempos da ditadura, por vezes lograva constranger ao silêncio. Navegar contra o vento é sempre possível, se se logra desviar a atenção para outras transgressões, supostamente cometidas por opositores seus.
Mas a relativização não semelha ter limites para o defensor por excelência da república, no que respeita às alegadas injustiças praticadas contra Sarney e outros legisladores de menor nomeada.
Apesar de colher da leitura (por assessores) das pesquisas de opinião que a sua incrível popularidade principia a sofrer, por conta desse comportamento, Sua Excelência o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda se aventura em procurar explicar e respaldar o que, em dirigentes da hierarquia de Sarney, é inexplicável e indefensável.
Na progressão da queda que para tantos se afigura inexorável, Lula, no entanto, tem feito algumas concessões. A par de não querer ser fotografado em companhia tão onerosa, na sua derradeira intervenção, considerou oportuno alinhar junto a crimes de violência e sangue, as práticas do empreguismo e do nepotismo. Estamos habituados à canhestra e peculiar análise presidencial, que a sua compulsiva improvisação desvenda impiedosa diante de país já habituado a discursos mais pensados e elaborados.
Dentre os inúmeros poderes do Presidente, está o que Theodore Roosevelt a seu tempo denominou de bully pulpit, uma espécie de tribuna pedagógica para a nação. Será que Lula foi eleito para relativizar os delitos, para reivindicar para os grandes tratamento diferenciado, fundado não em qualidades excelsas, mas na circunstância de ser um alto dignitário, cuja preservação aproveita ao esquema de governança do PT e assemelhados ? Em suma, pleitear a estrondosa negação do preceito constitucional de que todos são iguais em direitos e obrigações ?
domingo, 26 de julho de 2009
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