No Brasil, a popularidade do Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva paira nas alturas dos quase oitenta por cento, e não parecem atingi-la as declarações presidenciais na contramão da opinião pública, como na farra das passagens, e agora nas intervenções em favor do homem que não é comum José Sarney.
No exterior, Lula é ungido por seu novel admirador Barack Obama como ‘o cara’ e o líder mais popular do planeta. Por onde vá - e, diga-se de passagem, vai bastante – cercam-no os sorrisos e as solícitas presenças de gente poderosa, afeita às gambiarras da fama.
Ontem, em Paris, na sede da Unesco, o Presidente Lula recebeu o Prêmio Houphouët-Boigny pela Busca da Paz. É galardão prestigioso, já recebido por Nelson Mandela e Jimmy Carter, entre outros.
Lula, que tanto quanto o antecessor Fernando Henrique Cardoso não exatamente enjeita tais oportunidades de ser agraciado com prêmios internacionais – por óbvias razões não poderá imitar o predecessor na coleção de doutorados honoris causa – decerto pensou que a sete de julho amealharia mais uma distinção em solenidade, cuja importância se cinge à foto oficial da tradição da prenda por afáveis e anônimos dignitários.
Paris, a velha Lutécia dos romanos, é terra, no entanto, que pode ser prenhe de surpresas e nem todas agradáveis.
Estava o Presidente, ledo e bem postado, a receber o prêmio das mãos do Diretor-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, quando em silêncio galgaram o palco dois ativistas de Greenpeace.
Os assistentes da premiação – entre os quais o primeiro-ministro português José Sócrates – levaram algum tempo para dar-se conta de o que acontecia. Duas faixas amarelas, uma com dizeres em português e outra em inglês, ladearam o grupo da foto. Clamavam perante a seleta platéia: Lula, Salve a Amazônia, salve o clima.
Os habituais seguranças buscaram remover os importunos, mas a intervenção provocou protestos.
Um terceiro ativista acercou-se de Lula e logrou, na segunda tentativa, entregar um globo inflável ao Presidente.
Lula soube manter a fleugma, diante dessa invasão de uma outra realidade, que pouco ou nada tinha a ver com a reinante placidez do oficialismo. A princípio, Sua Excelência continuou recebendo os cumprimentos das autoridades, procedendo como se não se apercebesse de o que ocorria à sua volta.
Ainda sem dar-se por achado, pouco depois, e sempre com a gravidade do Primeiro-Mandatário, pediu desculpas aos jovens pelo transtorno da intervenção dos seguranças e, sem pestanejar, emendou: “Mas o alerta desses jovens é um alerta que vale para todos nós, porque a Amazônia tem que ser realmente preservada.”
E como se não fora bastante, acrescentou : “De qualquer forma o mal-entendido permitiu que toda imprensa fotografasse a reivindicação dos jovens, que deve ser uma reivindicação de toda a humanidade. A Amazônia tem de ser preservada e cuidada com muito carinho.”
Antigo Primeiro Ministro britânico, entre os anos cinquenta e sessenta do século passado, Harold Macmillan, se notabilizou pela “imperturbabilidade” (unflappability), a qualidade de enfrentar situações adversas sem perder a compostura.
Sem conhecê-lo, o presidente Lula não lhe fica nada a dever. Chegou mesmo, em rasgo que será preferível não definir, a associar-se ao idealismo dos jovens ativistas de Greenpeace. Que melhor maneira de disfarçar a má publicidade de uma quase explícita censura que fazer de conta que a causa ambientalista é também plenamente partilhada por Nosso Guia ?
Sob as mesuras dos funcionários internacionais e no instante da entrega do Prêmio Houphouët Boigny, ao sofrer a irrupção da realidade das ruas, ter-se-á Lula acaso lembrado de haver assinado a Medida Provisória 458, dita MP da Grilagem, e ter designado o aloprado Mangabeira Unger, para presidir a comissão da Amazônia, dentre ações que não o colocam na companhia de Chico Mendes e Marina Silva, mas sim junto à coalizão dos desmatadores e demais adversários dos ambientalistas ?
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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