Com o apego extremado de José Sarney à presidência do Senado, justamente quem se diz ter tanto apreço à liturgia de um cargo, não lhe passará acaso pela cabeça que o aferrar-se a posições ao arrepio da maioria só tende a aumentar o próprio desgaste e a tornar-lhe mais pesada a queda final ?
Por outro lado, errará todo aquele que se propõe a julgar Luis Inácio Lula da Silva pelos parâmetros do passado, do comportamento do líder sindical afrontando a ditadura, do constituinte que, junto com a bancada, se recusou a assinar a Constituição Cidadã, que proscrevia do PT àqueles que aderiam a posições da maioria, inda que sensatas. Por que tal personagem há muito foi jogado às gavetas?
Em seu novo avatar – que, aliás, não é tão novo – o personagem presidencial se irrita com a hipocrisia de os que censuram deputados por se valerem da fazenda pública para assuntos privados e não hesita em arrostar a opinião pública ao desmerecer os escândalos no Senado.
Tal postura se exacerba na sua defesa, contra vento e maré, do oligarca do Maranhão, instando o povo a respeitar a biografia do ilustre estadista, que não pode ser tratado como se fosse um homem comum.
Pondo de lado que o Primeiro Magistrado da Nação se atreva a ignorar cláusulas pétreas da Constituição, como a igualdade de todos em obrigações e direitos, seria o caso de relembrar a Sua Excelência que não só Sarney deveria ser o primeiro em respeitar a sua biografia, mas também ele, o ex-agente sindical, careceria de tê-la bem presente.
Por ora, não é o que parece.
Que não se iluda se acredita que lhe será menos oneroso o apoio envergonhado ao claudicante Vice-Rei do Norte, que iniciara com a proibição das fotos no seu almoço de desagravo ao presidente do Senado.
Agora, quando pede a José Múcio Monteiro, da Coordenação Política - que vem a ser um dos seus quase quarenta ministros- a desautorizar nota do Senador Aloizio Mercadante, imaginará acaso o Presidente Lula que o seu desgaste será evitado ?
Se Mercadante, que é líder da bancada do PT no Senado, apenas solicita que Sarney peça licença da presidência, e, por isso, se intenta desmoralizá-lo, assacando que não fala pelo PT, caberia indagar duas coisas: i. se a causa (do presidente) é justa, por que o temor quanto aos efeitos sobre a própria imagem; ii. e qual a razão do destempero contra o senador paulista, respeitado militante petista, se apenas pede a licença, quando muitos outros já exigem a cassação por falta de decoro ?
Será necessário explicitar o que os cortesãos calam, mas a inocência do menino proclama aos quatro ventos ? Se quando uns poucos já não reputam até mesmo cabível a encabulada homenagem que o vício costuma prestar à virtude, como hão de pensar que o desbragado cinismo de defender a falta de princípios como se fora um princípio possa ser aceito pela opinião pública ?
E no seu açodamento de não desagradar ao PMDB, pensando na sua pré-candidata Dilma Rousseff, e secundando a tropa de choque de Renan Calheiros e Paulo Duque, imagina o Presidente Lula da Silva que não chocará a seus partidários, pobres e ricos, com o despejado batalhar por quem até a Justiça do Maranhão já mandou retirar o sobrenome das placas ?
terça-feira, 28 de julho de 2009
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