No dia dezesseis de junho José Sarney encenara o seu discurso, em que declarou, perante calada e respeitosa assistência, que a crise não era dele mas do Senado. Nenhum Senador se atreveu a contrariá-lo.
Os seus partidários, reunidos sob a égide de Renan Calheiros, ora olhavam com prazer a obra realizada, de que a alocução do Presidente do Senado fora o fecho. Parecia haver funcionado a tática do líder, na qual a intimidação, insinuada ou explícita, estivera sempre presente.
Congregados em torno do velho oligarca, julgavam que o contra-ataque não só tivera êxito, senão recuperara para o respectivo campo a iniciativa na refrega. Ainda no final do dia colheriam mais um apoio, vindo este das lonjuras do Cazaquistão, na palavra solícita do Presidente Lula.
No entanto, o processo semelha ter dinâmica peculiar, não necessáriamente controlável, como o próprio Renan já experimentara, na sua queda das alturas da Presidência. Como relembra a colunista Eliane Cantanhede, Sarney não está sozinho no padecer desse lento desmoronar de posições antes havidas por inatingíveis.
Precederam-no nessa provação, além de Renan, Antonio Carlos Magalhães e Jáder Barbalho. Todos culparam o mensageiro por seus males. As acusações vazias, a campanha da imprensa, supostamente a serviço de inconfessáveis propósitos, acabariam, decerto, por esmorecer.
Sem embargo, costuma existir algo de solerte e incompreensível no processo. Pois as acusações, ao invés de se dissiparem, ganham forças novas, multiplicando-se. E a maldita imprensa prossegue no seu trabalho, surda aos reclamos e impropérios.
Debalde, o presidente José Sarney clama que a crise não é sua. Com o transcorrer dos dias, a sua antecâmara, ao invés do deferente público habitual, vai sendo tomada por estranhas e desgrenhadas criaturas, que dali no seu afã de invadir-lhe o gabinete não arredam pé.
Das mesuras se passa para as demandas, que a cada sessão se tornam mais afrontosas e constrangedoras. Não terá sido sem razão que o velho oligarca, sob o látego de mais um escândalo – este envolvendo outro de seus netos, com intermediação de negócios de crédito consignado no Senado – haja preferido ficar em casa, de onde divulgou nota em que se diz alvo de “campanha midiática” por apoiar o governo Lula.
É mais uma salva desesperada, de quem acuado renova o sólito apelo pela ajuda do atual aliado.
Se é provável que Sua Excelência volte a repetir os ditos em seu favor e contra o denuncismo, também o é que não surtam qualquer efeito.
Eis que os tempos são outros. Inexorável, o processo não dá indícios da ansiada reviravolta.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
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