Talvez o Sr. José Sarney tenha razão em fim de contas. Se a crise não é dele, é do Senado, será com o Senado que o Povo brasileiro deve lidar.
Depois do chocho discurso em que procurou livrar-se de qualquer responsabilidade – e pelo qual recebeu apoio de valor similar do Presidente Lula -, a situação de Sarney, e da instituição que preside, continuou a deteriorar-se, em patética série de revelações, envolvendo não só o Senador pelo Amapá, como sponte sua, do próprio líder da oposição, Arthur Virgílio.
Em seguida, o Senador Cristovam Buarque sugeriu, da tribuna, que o presidente José Sarney se licencie do cargo por sessenta dias.
Em resposta às pressões que se avolumam, José Sarney acreditou oportuno responder que não foi eleito “para limpar as lixeiras da cozinha do Senado”.
Filho dileto do patrimonialismo, José Sarney não pode compreender o movimento pela redenção do Senado. O homem letrado, que se acredita escritor consagrado, cuja palavra é lei em dois Estados da União, parece nada saber do pequeno mundo à sua volta.
Apesar de haver nomeado Agaciel Maia grão-diretor do Senado, diz ignorar a existência de atos secretos, como também as nomeações de seus protegidos e parentes para a administração do Senado. Tampouco, segundo assevera, estava a par do auxílio-moradia que indevidamente percebia, assim como não tinha ideia de que lá existissem 180 diretores.
Na verdade, o indicado por Renan Calheiros para a presidência do Senado, que perante todas as denúncias promete averiguar e tomar as providências cabíveis, desta figura que é a reificação de tudo o que aí hoje vem a lume, não é lícito antever nada que possa sanear o chavascal da instituição a que, não sendo homem comum preside. Pois há limites até para a ingenuidade e desse lídimo espécimen do coronelato nordestino só se pode esperar o apego à prática do deixa estar para ver como é que fica.
Mas, pensando bem, afigura-se forçoso admitir que José Sarney, de alguma forma, representa o que hoje é o Senado Federal.
Que outra instituição mais se assemelha a uma Casa da Mãe Joana ? Além dos mais de seiscentos atos secretos, o que dizer da choldra de dez mil funcionários ? E o que falar das verbas abundantes, transformadas em cabides de empregos ilícitos ? Sem mencionar os suplentes, instalados em cadeiras que não são suas, por todo o restante de um mandato que pertence ao Povo ?
O Senado Federal foi transformado em um pântano em que todas as legitimidades desaparecem. Na áulica atmosfera de Brasília, sob a magnífica arquitetura de Oscar Niemeyer, proliferou uma estranha cultura, misto de alienação cívica e de absurdo corporativismo, que afinal produziu a seleta sociedade que ora se nos depara.
Que costumes são esses em que um ex-diretor administrativo se julga em condições de chantagear o líder da oposição e de intimidar outros ? E o atroador silêncio de tantos insignes senadores ? Por que não se organizam, não se constituem em comissões ad hoc, não fazem ouvir da tribuna a sua concertada reação ? Ou será que há razões a explicarem este silêncio, esta inação, que é objeto de estranhável assombro em políticos tarimbados ?
A Nação brasileira, formada por este Povo em nome do qual todas as leis e todas as sentenças são emitidas, carece de encontrar maneira para enfrentar a crise do Senado. Será crível arrostá-la e solucioná-la com a gente que lá se encontra ?
terça-feira, 23 de junho de 2009
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