Os departamentos de pesquisa dos jornais oferecem ricos mananciais aos que buscam assertivas contraditórias de nosso loquaz Presidente da República. Podem-se atribuir muitas causas à serie recente das declarações presidenciais e, decerto, tais comentários têm conotação própria e circunstancial.
No entanto, engana-se quem deseja restringir ao deslumbramento com o alto cargo a incontinência verbal de Luiz Inácio Lula da Silva. Na oposição, assombra a sua liberdade nos comentários, como a referência ao então Presidente Sarney em 1987: “Adhemar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República”.
Tais afirmações, todavia, poderiam ser pesadas e desrespeitosas – como a dos trezentos picaretas na Câmara (1993) – mas tinham a característica de expressar juízos de largos segmentos da opinião pública.
De uns tempos para cá, porém, se a desenvoltura nas observações permanece, a sua direção e conteúdo indicam mudanças que não encontraremos nos passados registros do líder sindical e oposicionista.
Lula ganhou com o exercício prolongado do mando crescente confiança quanto à sua capacidade de comunicação. Em função dessa íntima segurança, tem preferido em geral o chamado improviso, enjeitando os textos escritos por seus assessores. Dada a usual relevância que se atribui às palavras dos primeiros-mandatários, tal opção envolve óbvios riscos. Nesse sentido, o comportamento dos seus homólogos deveria acender na mente de nosso guia uma luzinha vermelha de advertência.
Estranhamente, para alguém que ama o improviso, o presidente Lula não tem particular apreço pelas entrevistas coletivas. Na verdade, a explicação seria a de manter um certo controle em seu diálogo com os jornalistas. Talvez inseguro quanto às suas possibilidades de lidar com temas abertos, não terá o mesmo sentimento se falar sobre questões por ele determinadas.
Nesse contexto, muitas de suas manifestações – como o incensamento do próprio papel na história, e a peculiar visão negativa de seus antecessores (vide, na visita à Turquia, a constrangedora observação acerca de D.Pedro II) – semelham apontar para a ausência de qualquer assessoria digna desse nome para embasar os comentários presidenciais.
Por conseguinte, a nova linha de pensamento do Presidente Lula se apresenta sobretudo a partir de sua esdrúxula declaração na entrevista conjunta com Gordow Brown, em fins de março último: a crise financeira imputável a comportamentos irracionais de gente branca e de olhos azuis.
Desde então, se reconhecemos a consueta intemperância verbal, ela, contudo, não mais vocaliza impressões comungadas pela maioria. Com efeito, os comentários presidenciais – e nesse ponto não diferem muito do descuidismo do coronel Hugo Chávez – revestem uma turbadora tendência contra a corrente. E, apressemo-nos em qualificar, este suposto novo estilo nada tem de vanguardista ou corajoso.
Assim, em princípios de maio, Lula não se constrange em defender o desmoralizado Congresso Nacional de José Sarney e Michel Temer, taxando de hipocrisia os protestos quanto aos salários na Câmara. Ainda na contramão da opinião pública, ele agora acredita oportuno gravar declaração de apoio ao presidente José Sarney, e de ataque ao ‘denuncismo’.
Repisando a sua vinda a público para defender o Congresso – na época, em intervenção alegadamente forçada pelos dois líderes do PMDB – Lula respalda o presidente do senado, alinhando diversos argumentos de questionável validade e lógica: “Sarney tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum (sic)”. “Sempre fico preocupado quando começa no Brasil um processo de denúncias, porque são acusações sem fim... e depois nada acontece”.
“Se tiver alguma coisa errada, que se apure de maneira correta. O que não se pode é todo dia você arrumar uma vírgula a mais, (porque) você vai desmoralizando todo mundo. Inclusive a imprensa corre risco. A imprensa tem que ter a certeza de que não pode ser desacreditada (...)”
Será tarefa inútil procurar dar sentido à arenga acima. Não terão sido muito diferentes os telefonemas feitos pelo grupo de apoio a José Sarney, sob a sábia orientação do respectivo chefe de fila, o redivivo Renan Calheiros.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
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