De conformidade com suas repetidas declarações contra o ‘denuncismo’ e de apoio ao amigo José Sarney, Lula determinou à bancada do PT maior empenho na defesa do Presidente do Senado. O Ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, disse a respeito que “o apoio do governo ao Presidente Sarney é absoluto”.
A representação do PT no Senado tem doze senadores. Haverá um óbvio desconforto diante dessa diretiva presidencial. Segundo noticiado, seriam contrários a tal posição Tião Viana (AC), Eduardo Suplicy (SP), Marina Silva (AC), Paulo Paim (RS) e Flávio Arns (PR).
Já o líder Aloizio Mercadante (SP), deixa em aberto a questão. Especula-se, no entanto, que favoreceria posição comum da bancada, o que pressupõe um viés pró Sarney.
Existem diversos fatores imediatos e mediatos que explicam o afã presidencial em respaldar na sua curul o combalido José Sarney. Dentre as condicionantes mais próximas, está o interesse de Lula de atender aos apelos de Sarney, o qual, segundo a própria versão, estaria submetido a essa artilharia pela sua posição favorável ao Presidente da República. Assim, se visto sob tal ângulo, tratar-se-ía de uma simples e humana contrapartida.
Se aprofundarmos um tanto a análise, a Lula não interessa um Sarney fragilizado, com a sua posição na presidência prejudicada e, por conseguinte, forçado a crescentes delegações de poder. Releva a esse propósito assinalar que, em função da série de escândalos, este processo já se iniciou, com a cessão ao Primeiro Secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) de competência na área administrativa.
A sustentação política do Presidente do Senado, dada pelo PMDB e pelo DEM, com o avanço da crise se afigura mais precária, diante das crescentes pressões sobre a bancada do DEM de retirar-se de barco que ameaça soçobrar. Por causa da defecção de senadores no partido, o líder Agripino Maia poderá dissociar o DEM de um apoio cujo custo político ascende a cada dia.
Para agravar a posição do presidente da Casa, será hoje protocolada por José Nery (PA), único senador do PSOL, representação contra Sarney por quebra de decoro. Por outro lado, o líder do PSDB, embaraçado por revelações de que solicitara em 2005 empréstimo a Agaciel Maia, em discurso pediu ao Conselho de Ética que investigue dezenove denúncias contra o Senador do Amapá. No entender de Arthur Virgílio, Sarney perdeu as condições de presidir a Casa. Nesse contexto, Virgilio insinuou que Sarney e seus aliados Renan Calheiros e Gim Argello (PTB-DF) teriam estimulado Agaciel a divulgar denúncias contra ele.
Não param aí as motivações do Presidente Lula em conservar, contra vento e maré, a José Sarney na presidência do Senado. O seu substituto natural, o tucano Marconi Perillo (GO) seria anátema para esse ano e meio que resta de mandato para o atual Presidente.
Lula não esqueceu o comportamento de Marconi no episódio do mensalão. O então governador de Goiás revelou haver reportado ao Presidente, em maio de 2004, a existência de um esquema de mesada a parlamentares. Esse informe vinha contradizer a postura presidencial de alegada ignorância no que concerne à prática do mensalão. Por outro lado, a presença de Marconi Perillo na presidência do Senado não só dificultaria a desenvoltura de Lula no que tange às viagens para o exterior, como seria mais um empecilho para o fortalecimento da candidatura de Dilma Rousseff.
Dessarte, por muitas razões, mas decerto e sobretudo para evitar que o amigo Sarney seja substituído pelo tucano Marconi Perillo, Lula está disposto a jogar às urtigas, o que restava de um PT principista e ético.
Sem recorrer diretamente, por conhecimento próprio, ao conhecido princípio de F. Meinecke da Staatsraison (Razão de Estado) seria o que, por instinto, estaria tentando aplicar.
Como se verifica, a ânsia de Lula em preservar a Sarney não é movida por considerações pessoais. Se terá êxito e se redundar na restante nivelação por baixo do PT no que concerne ao egrégio exemplo do PMDB, já é outra estória.
terça-feira, 30 de junho de 2009
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