Eleições legislativas na Argentina
Ao contrário do que as pesquisas de opinião – que em terras portenhas não são muito confiáveis – haviam indicado durante a campanha, a oposição agora parece não mais ter a folgada vantagem antes exibida contra o peronismo kirchnerista.
Segundo se especula, os ataques governistas contra os líderes do peronismo dissidente Macri e Narváez teriam surtido algum efeito, em especial no que concerne ao suposto neoliberalismo da oposição e seu antigo envolvimento com Carlos Menem.
Conforme as pesquisas, existiria empate técnico entre as chapas de Kirchner e de Narváez, com a vantagem respectiva variando de acordo com a pesquisa. A diferença, no entanto, é pequena, o que não prenuncia vitórias esmagadoras de parte de ambos os campos.
O casal Kirchner já antecipara a dificuldade da presente eleição parcial legislativa, e foi por esta razão que Nestor Kirchner se dispusera a ser cabeça de chapa do peronismo oficialista na grande Buenos Aires.
Se os percentuais de voto de situação e oposição não se afastarem demasiado das projeções dos institutos de pesquisa, há a previsão tentativa de que o governo de Cristina Kirchner deverá perder o controle de Senado e Câmara de Deputados, onde atualmente tem frágeis maiorias.
Essas eleições intermediárias constituem indicador bastante importante para o próximo pleito presidencial. Eventual tropeço em tais comícios constituirá péssimo sinal para as pretensões de Nestor Kirchner reassumir formalmente a presidência argentina.
Dentre eventuais antagonistas de Kirchner no pleito presidencial de 2011, estão o Vice-Presidente Julio Cobos, que se afastou do campo kirchnerista com o seu voto de Minerva no Senado, por ocasião do conflito ruralista, e o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri. Dessarte, a vitória dos partidários de Cobos na província de Mendoza lhe abrirá boas perspectivas para a candidatura presidencial. O mesmo se pode afirmar, no que concerne à Macri, quanto a um bom desempenho de sua chapa, de centro-direita, em Buenos Aires.
A Honduras de Zelaya se afasta do figurino habitual
As benesses do petróleo subsidiado, cortesia de Hugo Chávez a países simpatizantes, atraíra a surpreendente adesão do antes conservador Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, à Alba, organização alternativa, patrocinada pelo caudilho venezuelano.
Antes de aderir à Alba de Chávez, Honduras se assinalava por duas características basilares: disputava com a Nicarágua o dúbio galardão de ser o país mais pobre da América Central, e era um dos paises onde a presença de Washington se achava mais solidamente implantada. Historicamente, Honduras funcionara como cabeça de ponte para intervenções americanas em outros países centro-americanos, como foi o caso da expedição de Castillo Armas, patrocinada em 1954 pela CIA de Allen Dulles contra o regime de Jacobo Árbenz na Guatemala; e através do apoio prestado aos chamados ‘contras’ , na tentativa de derrubada nos anos oitenta pela América de Reagan do regime sandinista na Nicarágua.
Manuel Zelaya, afastando-se do partido Liberal (de tendência conservadora), pelo qual se elegera, se propõe realizar neste domingo consulta popular sobre a possibilidade de mudar a Constituição. O intento de Zelaya tem precipuamente o intento de introduzir a reeleição no texto constitucional. Consoante a tradição da democracia centro-americana, a reeleição é defesa, chegando mesmo a não haver possibilidade de que alguém se recandidate à presidência, ainda que depois de transcorrido intervalo entre a primeira e a eventual segunda eleição.
Inspirado decerto no exemplo de seu modelo, o democrata Hugo Chávez, Zelaya deseja reescrever a sua Lei magna, de modo a ensejar-lhe a permanência no poder. No entanto, ele vem encontrando muita resistência, seja no Congresso, onde perdeu a maioria, e deve ser submetido a processo de ‘ impeachment’, seja da própria Justiça, que considerou ilegal o projetado referendo.
Outro complicador para Zelaya – e quiçá mais grave para o atual Primeiro Mandatário, se tivermos presentes os antecedentes políticos hondurenhos – é o seu conflito com o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Romeo Vásquez. Zelaya o demitira nesta quarta-feira, porque ele se recusara a apoiar-lhe a iniciativa. Não de todo discrepante do usual figurino centro-americano, a Corte Suprema decretou como nula a decisão presidencial, abrindo, em consequência, grave conflito de poderes no país. Posteriormente Zelaya recuou, revertendo na decisão de exonerar o general Vásquez.
A situação em Honduras representa desafio para a democracia nesse país, e o mais grave é que a ameaça não se restringe a um dos protagonistas. A adoção por Tegucigalpa do modelo referendário chavista já constitui um desafio. Outro é a reinserção do condestável no jogo político hondurenho. Sem falar no desafio que representaria para o Presidente Obama, em um país sempre reputado como de seguro alinhamento no que respeita à política de Washington.
domingo, 28 de junho de 2009
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