Se sobre as reuniões de Vladimir Putin com o Presidente Donald Trump, pairava o clima do déjà vu, tantos haviam sido os encontros entre os dois presidentes, acerca da entrevista do ex-chefe da KGB com o novel presidente estadunidense Joe Biden as impressões tendem necessariamente a serem bem diversas.
Basta olhar para o rosto de gospodin Putin para que se veja na face severa do Senhor de Todas as Rússias uma promessa de glacial tratamento para o eventual interlocutor. Putin tem estatura mediana que o insere em uma aparência corriqueira. Ele não dispõe do porte de um general de Gaulle ou a envolvente e mineira simpatia de nosso grande presidente Juscelino Kubitschek.
No entanto, não é aconselhável subestimar gospodin Putin. Nos traços frios de sua fisionomia, há uma ameaça subjacente. Ele não é um pequeno burocrata que de repente algum clarim terá convocado para o grande salão do poder.
Com as suas raízes na KGB, os senhores desse mundo têm bem presente que não é aconselhável subestimá-lo. Com a sua percepção da importância da reunião, O Estado de S. Paulo, coloca a entrevista dos presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, em foto a cores de primeira página, com direito às duas bandeiras respectivas, o tapete persa, o globo mundial que dá o contexto do encontro e o poder que ambos enfeixam, além de um magnífico fundo livresco com muitas obras bem encadernadas, que acenam aos amantes dos livros com a sua sólida promessa de boas - mas inatingíveis leituras - se o comum dos mortais a elas pudesse ter acesso.
Como políticos tarimbados que são, os dois chefes de governo saíram ontem, quarta feira 16 de junho, da chamada cúpula de Genebra trocando elogios, conforme asseguram os dois partícipes. Pela sua obviedade, a importância da reunião se impõe. Se não há muito o que festejar, o próprio fato que ela tenha ocorrido sob as usanças de Genebra, as sombras da Liga da Nações e o peso da neutralidade helvética, tendem a dar um aspecto positivo ao encontro.
Tanto Biden, quanto Putin não foram negativos na avaliação dessa primeira reunião de cúpula. Assim, segundo Biden "o tom da reunião foi positivo", e Putin assegurou que "não houve hostilidade".
Sem embargo, Biden e Putin deixaram Genebra com pelo menos um acordo concreto: os embaixadores dos dois países retornarão a seus postos. Como se sabe, eles haviam sido "convocados para consultas", em março último, após Biden ter sugerido, em entrevista para a ABC News, que Putin era um "assassino".
Nas relações bilaterais, outras questões importantes restam pendentes. Nesse contexto, Biden informou haver pressionado o russo em uma variedade de questões e nesse sentido garantiu que seguirá exigindo uma correção de rumos do Kremlin, notadamente no que tange ao tratamento dado ao líder opositor Alexei Navalny - condenado pela dócil justiça russa a dois anos e oito meses de prisão. A esse propósito, afirmou Biden: "Deixei claro para o Presidente Putin que continuaremos a levantar questões de direitos humanos".
Após o encontro de Genebra, o presidente Biden negou que a conversa entre os dois líderes tenha incluído ameaças militares ou de eventuais sanções . Nesse sentido, o presidente estadunidense, a par de negar que a conversa haja sido permeada por eventuais ameaças militares ou de sanções, foi por ele asseverado que os Estados Unidos estão prontos para responder a qualquer ataque da Rússia. "Putin sabe disso", disse ele.
Ao cabo, reconheceu que ainda "há muito trabalho a fazer", mas fez questão de frisar que na semana passada na Europa cumprira o objetivo de recolocar o governo estadunidense como protagonista da geopolítica global: "Os Estados Unidos estão de volta", festejou Joe Biden, com a previsível estocada contra o medíocre predecessor Donald Trump.
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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