Aos setenta e seis anos, em decorrência da conhecida Covid-19, por conta da qual ele estava internado desde dezembro, morreu neste domingo, no Rio de Janeiro, o economista Carlos Langoni.
Próximo do Ministro Paulo Guedes, ele foi o primeiro brasileiro a formar-se em economia na Universidade de Chicago (EUA), em 1970.
Natural de Nova Friburgo (RJ), a sua tese de doutorado é considerada um trabalho pioneiro sobre o retorno econômico do investimento em educação. Nesse sentido, o respectivo estudo sobre o caso brasileiro, o diretor do Centro de Economia Mundial, da Fundação Getúlio Vargas, chegara a um resultado muito próximo ao obtido em todos quase todos os trabalhos posteriores: a rentabilidade do investimento em educação é, em média, o dobro da verificada nos investimentos convencionais em capital físico.
Embora na atualidade a importância do investimento em capital humano constitua uma ideia consolidada, tal abordagem era polêmica na década dos setenta, máxime por ter sido elaborada na Universidade de Chicago, vista então como reduto de economistas de viés liberal. Até mesmo a ideia de "capital humano" era encarada por grande parte dos pensadores de esquerda no Brasil como se fosse um conceito equivocado.
"A educação foi negligenciada pela maioria dos economistas brasileiros. Langoni mediu os impactos no caso brasileiro específico, em um trabalho de altíssimo padrão, reconhecido internacionalmente", segundo assinalou Aloisio Araujo, professor da FGV EPGE e do IMPA (Instituto de Matemática |Pura e Aplicada), que conhecera Langoni na Faculdade e trabalhara com ele igualmente na Fundação.
De retorno ao Brasil, no fim dos anos setenta, Langoni elabora estudo sobre distribuição de renda, que lhe fora confiado pelo então governo militar como reação a uma série de artigos que se ocupavam do tema.
Em entrevista ao projeto "Memória do Banco Central", Langoni afirma que ele levantava a discussão sobre aspecto no processo de crescimento econômico, em pleno período do Milagre, e que não era favorável ao governo de então, a saber, a desigualdade. Com números, demonstrara que o problema era muito mais educacional e de estrutura social do que de política salarial do governo.
Em 1979, assumiu a diretoria da Área Bancária do BC. Durante seu mandato, foi criado o Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), um dos primeiros sistemas no mundo a assegurar a liquidação virtual de operações com títulos públicos. Anos depois, a Selic, taxa formada nesse processo de liquidação, se tornaria a taxa básica da economia brasileira.
Em 1980, Langoni assume o comando da autoridade monetária. Segundo a publica- ção do BC, em sua gestão, adotou-se uma política monetária que gerou um severo aperto de liquidez, com impacto sobre diversas instituições financeiras.
Nessa mesma época, Langoni lidera negociações relacionadas com a Dívida Externa Brasileira que envolviam o Fundo Monetário Internacional.
Em período mais recente, apresenta ao Ministro Guedes a ideia de um "choque de energia barata", que poderia diminuir o preço do gás à metade, reduzindo o domínio da Petrobras.
O Ministro de Jair Bolsonaro lamenta a morte de Carlos Langoni: "Foi o primeiro economista a estudar com seriedade a questão do capital humano, a mostrar como a desigualdade nas oportunidades educacionais se transformam em desigualdades econômicas e sociais, chamando para tanto a atenção para a importância de políticas públicas na área", afirmou o Ministro da Economia, Paulo Guedes.
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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