terça-feira, 3 de novembro de 2020
Eleição americana: o falso problema
Trump é um jogador antes de político, e quer transformar a eleição estadunidense em um verdadeiro jogo de poker, em que, de caso pensado, se desvirtua a política e se deseja apresentar esse prélio como se fora uma espécie de confrontação em que dois adversários que se confrontam no duelo típico do western americano.
Mas tenha-se presente que esse duelo só é verdadeiro, enquanto metáfora, na qual, ao cabo de longa disputa, dois adversários se singularizam, colocando, ao cabo, as respectivas cartas sobre a mesa.
O que não se deve esquecer é que essa aparente confrontação não passa de uma imagem que busca, mal ou bem, refletir um combate de idéias entre os dois principais políticos estadunidenses. Eles completam um longo caminho, em que as respectivas candidaturas se refletem e se desenvolvem. Se as comparações abundam, elas não nos devem fazer perder o caminho, eis que os dois líderes completam, nos seus respectivos papéis, alternativa presença política.
Cada um joga com as cartas de que dispõe. Mas não se vá esquecer que se trata de uma luta que deveria ser apenas política, mas que as eventuais características de cada protagonista podem levar a intentar por artifícios, mais do que a própria força política, a buscar alterar o resultado, seja pelo jogo de fatores alheios à disputa eleitoral em si - se um dos representantes das forças em confronto se sentir objetivamente mais fraco - seja por um desafio digamos à antiga, em que cada jogador se crê representante da Justiça e da própria Maioria, e por conseguinte, tende a ser levado no calor da refrega a projetar mais força daquela de que realmente dispõe.
Muita vez a imprensa - e hoje, através da tecnologia, essa metáfora se veste de muitos trajes, os quais podem ao cabo iludir não só ao público que nos respectivos representantes deposita fé, mas também pode vestir de luzes (e de sombras) que mais tendem a desfigurar, do que a representar o que um ulterior embate metafórico, em que dois campeões, engajados por forças que eles próprios imantam, semelham trazer para um campo que não é tão grande quanto a eles faz querer parecer, na verdade um combate de campeões aos quais movem poderes que lhes parecem maiores do que a própria realidade.
Seria importante que presida à mente dos dois líderes que eles, ao cabo, representam forças que eles próprios imantaram na própria campanha, e que o propósito desse imenso jogo político que estã por chegar ao cabo, não passa daquilo que realmente é, uma contraposição pacífica de forças, que visa a determinar quem vence e quem é vencido, e para tanto existe um esquema de regras desde muito cumpridas, e que importa uma vez mais atender.
É um jogo, ainda que democrático, e por conseguinte, como todo jogo ele segue a regras claras e inequívocas. Não há interesse em baralhar tais determinações, porque elas além de serem claras, vem sendo seguidas desde muito.
Os dois jogadores podem crescer por conta das respectivas auto-imagens, mas na verdade o exercício é simples, quase singelo. Ao vencedor, vale dizer aquele que em meio à gritaria e poeira, reune o maior número de trunfos eleitorais, torna-se o reflexo do consenso vitorioso. Para isto, existem as maiorias eleitorais. É um processo que pode ter muitas vestimentas, mas que pela sua exibição da realidade tende a tornar-se irrefutável.
Por isso, vamos ater-nos aos números. Eles, ao fim e ao cabo, por mais complicados que nos pareçam a princípio, tendem a prevalecer e apagar todas as dúvidas que os eventuais adversários disseminarem pelo caminho. As eleições tendem a ser tortuosas, mas os seus resultados costumam ser o porto seguro em que o respectivo veleiro acaba por concluir a vitoriosa navegação - na terra firme da vitória não há mais lugar para hipóteses e dúvidas. Com esta serodia manhã, acabam as dúvidas e as suas incômodas névoas. Ao desaparecerem as eventuais incertezas, o cenário se aclara e o sol da verdade há de brilhar com a sua habitual força. E que seja com o vigor, a ênfase e a segurança que costumam ser os trajes das longas caminhadas que o valor e o esforço de muitos tende a emprestar aquela inegável presença que, de súbito, se mostra aos muitos, dissipando dúvidas e falsos temores.
Fonte: imprensa no sentido lato.
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