domingo, 8 de novembro de 2020
É hora de deixar a raiva para trás
Com o maior número de votos da História, o septuagenário Joe Biden foi declarado ontem Presidente eleito dos Estados Unidos. A vitória lhe foi trazida pelas últimas urnas da Pensilvânia, que é seu Estado natal além de ser o berço da Democracia Americana. Com isso, o democrata - que foi Vice-Presidente de Barack Obama - superou os duzentos e setenta votos no Colégio Eleitoral, perfazendo 273 votos eleitorais, indo além dessarte do número de votos necessários para sacramentar a sua eleição como presidente dos Estados Unidos da América.
Ao ultrapassar o marco que até o presente lhe barrara a investidura, em nota após a confirmação do resultado, ele fez um apelo à união: "Com o fim da campanha é hora de deixar a raiva e a retórica dura para trás e nos unirmos como uma Nação."
Um País dividido é apenas um dos desafios do novo Presidente. Nesse contexto, o candidato derrotado Donald Trump partiu para o negacionismo, a ponto de em suas palavras na Casa Branca haver dirigido acusações fantasiosas, com increpações tão fora da realidade que levaram todas as redes televisivas que cobriam o evento a suspender a transmissão (até mesmo a Fox News, que apoiara Trump!) do discurso do presidente em fim de mandato.
A carreira política do moderado Biden já nos enseja um modelo de como esse líder democrático, com sua habilidade e moderação - que não excluem, porém, firmeza, quando essa postura se torna necessária - terá as condições indispensáveis para criar uma atmosfera de Justiça e da indispensável habilidade para poder contornar os óbices criados por condições anteriores de poder.
O comportamento de Trump criou para o prócer republicano uma série de dificuldades, que só a plácida firmeza de Biden poderá neutralizar, eis que, como os observadores da Casa Branca puderam assinalar Trump perdeu o sentido da realidade, ao lançar inúmeras acusações, sem prova, de fraude eleitoral, como se a derrota que afinal lhe visitou após tê-lo poupado em tantas oportunidades não fora aquele momento da verdade a que o velho político pensara poder persistir em subtrair-se, ainda por um tempo, que é a Ilusão que costuma visitar aos políticos que pensando estar acima dessa Verdade, imaginam a possibilidade de ainda não perder o dom do ilusionismo. Na realidade, é um fenômeno que visita àqueles que pensam dispor da deusa Fortuna por tempo indefinido.
O poder costuma livrar-se de forma drástica, e com a crueldade necessária para domesticar aqueles políticos que pensam possível prevalecerem contra o bom senso - que costuma ser a última defesa daqueles que se crêem isentos das determinações da Deusa Fortuna. Nesse contexto, o jogo de golf de Trump, saindo em cortejo de carros negros da Casa Branca é de um simbolismo que escapa ao velho líder político, ao pensar subtrair-se às próprias regras que só tornam maior e mais ridícula a própria queda.
( O Estado de S. Paulo )
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