quinta-feira, 12 de novembro de 2020
A Crise em Hong Kong
A luta pela democracia em Hong Kong tem sido comprida e difícil. Por ocasião das negociações entre o Reino Unido e a China, quis o destino que acompanhasse missão diplomática à essa então colônia de Sua Majestade (em 1997), que se achava em processo de ser devolvida por Londres a Beijing, após duração de mais de século.
Os naturais de Hong Kong se preocupavam então com que fossem mantidas as seguranças democráticas para a antiga colônia, que seria restituída à RPC. Ainda que colônia de Sua Majestade, Hong Kong fruía um estatuto especial, com o tempero da democracia - que uma vez ingerido abre novos horizontes.
São os paradoxos da História. O velho imperio colonial de Sua Majestade Elizabeth II dera à população chinesa residente naquela ilha uma visão e uma ambiência democrática, e daí a preocupação de seus próceres em continuar a pautar-se por uma legislação de cunho e têmpero do Ocidente, com as características de sociedade democrática.
A negociação entre Londres e Beijing se movia, com os representantes do Foreign Office empenhados em lograr a continuação da ambiência ocidental, com uma legislação que seguisse a pauta democrática do Ocidente. Nesse sentido, Londres buscava assegurar a visão pró-ativa que é própria dos ambientes da democracia ocidental.
A princípio se acreditara possível que a sobrevivência de Hong Kong que passaria de colônia de Sua Majestade britânica à dependência do Império do Meio seria assegurada por conveniências recíprocas. Com efeito, pela sua condição de entreposto comercial e econômico, a vestimenta ocidental que lhe deixava a velha colônia tenderia a ser aceita pelo mercado, eis que haveria interesse de Beijing em coexistir com os costumes da antiga colônia, dada a presença afirmativa de Hong Kong no intercâmbio internacional.
Sem embargo, a relativa liberdade da ex-colônia a princípio não obstaculizou a implementação de seu papel no comércio internacional. Também interessava a Beijing dispor de um entreposto em tais condições. Mas interesses à parte, mais uma vez se comprova para os regimes chamados fortes que eles na verdade são fracos e tendem a sentir-se impelidos a desrespeitar tudo o que porventura hajam prometido, dominados que são pelo temor que para eles representa a democracia. Dir-se-ia até que para os servos das ditaduras e de seu entorno (em que repontam as piores características do homo sapiens) a sua reação instintiva é aquela de desrespeitar tudo o que prometeram em termos de obediência às condições básicas do chamado acordo democrático.
Vejam a reação de Carrie Lam, a favorita de Beijing ( e do regime imperante ), que enquanto representante do Poder Imperial sito no Continente curvou-se como serva que é desse Poder absoluto, e nessa triste postura carimbou as expulsões dos quatro deputados como "constitucionais, legais, razoáveis e necessárias".
Para as ditaduras - como a de Jiping - a intervenção no Parlamento de Hong Kong, que determinou a prisão e expulsão de quatro deputados eleitos pela população da antiga colônia de forma livre, se realiza como se nada fora, mostrando, por conseguinte, que a convivência entre a Força Popular (consubstanciada nos deputados livremente eleitos) e o poder imperial de Beijing surge como impossível na prática. De resto, será por força dessa mentalidade de ultima ratio das ditaduras (sejam fascistas ou comunistas), que os partidários pro-democracia em Hong Kong se sentem cada vez mais perseguidos desde a entrada em vigor da Lei de Segurança Nacional, que foi aprovada sem sequer passar pelo Parlamento da ex-colônia.
Tudo o que o governo ditatorial de Jiping quer, é, pelo visto, ver-se livre da "ameaça" da democracia em Hong Kong. Quanto mais autoritário o regime, maior será a sua inflexibilidade,no recurso do poder comunista da RPC de instituir uma draconiana lei de segurança nacional. Através da Lei de Segurança Nacional - aprovada sem passar pelo Parlamento local, na prática se ignora o princípio acordado pelos dois Países - Reino Unido e RPC -"um país, dois sistemas", que garantiria até 2047 uma série de liberdades inexistentes na China Continental.
Nesse contexto, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab asseverou: " A decisão da China de remover arbitrariamente os parlamentares pró-democracia eleitos em Hong Kong representa mais um ataque ao alto grau de autonomia e às liberdades concedidas em Hong Kong pela declaração conjunta Reino Unido- China de 1997." E o ministro de Sua Majestade Britânica acrescentou, duas estocadas que hão de ser fortemente sentidas: "Essa campanha mancha a reputação internacional da China
e mina a estabilidade de longo prazo de Hong Kong." Não poderia ser mais profunda e irretorquível tal assertiva.
É o destino dos regimes dito fortes. O que lhes move é o próprio horror à democracia. E mais uma vez se comprova que os regimes autoritários pendem para medidass que objetivamente se afiguram negativas pelo próprio horror à democracia, que confundem como se fora a ameaça à sua respectiva capacidade de sobreviver. A ditadura chinesa escolhe uma vez mais abominar a democracia pelo que ela representa como suposta ameaça à sobrevivência de um regme repressivo e autoritário. Para o comunismo e seus servos não parece haver outra opção ...
(Fontes: O Globo e experiência diplomática).
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