Os piratas, esses bandoleiros dos mares, já infestavam as águas do Mediterrâneo Oriental, no primeiro século antes da era cristã. O próprio jovem Júlio Cesar foi sequestrado pelos piratas da Cilícia. Anos mais tarde o seu grande rival nos agitados anos finais da República em Roma, Pompeu Magno, conseguiria o feito de livrar o Mediterrâneo do flagelo.
Como a história nos ensina, será sempre em situações derivadas da anarquia ou da fraqueza de potestades regionais que a pirataria surge e prolifera. Embora essa atividade criminosa tenha os mares como o seu meio, o pressuposto de sua existência se acha em base territorial propícia. Sem tal condição, a pirataria há de fenecer, como a árvore privada das próprias raízes.
No continente africano, a Somália se acha entre os estados ditos malogrados ( failed states) desde 1991, quando caíu o ditador Siad Barre, e o país se dividiu entre chefes da guerra e clãs rivais. Na última década do século vinte, na região nor-nordeste da Somália, constituíu-se a república da Somalilândia que, apesar de não reconhecida pela O.U.A., é a entidade mais organizada da antiga Somália.
Por causa da falta de governo central – existe administração provisória, apoiada pelas Nações Unidas, porém ainda sem controle sobre o território -, a atividade da pirataria encontrou o ambiente ideal para desenvolver-se (anarquia, conivências tribais, refúgios seguros, tráfico marítimo intenso em amplo litoral). A princípio no golfo de Aden, os piratas somalis prosperaram por força do apresamento de navios estrangeiros e, sobretudo, pela velha e lucrativa prática dos reféns.
Após longo período em que a inoperância das potências internacionais permitiu que tal praga se estendesse e se reforçasse, o próprio vulto da atividade obrigou a diversos países, entre os quais os Estados Unidos, a França, a Rússia e a China, a formarem espécie de força tarefa para tentar coibir a pirataria no golfo de Aden.
No entanto, o nível de relativa sofisticação técnica atingido pelos piratas somalis lhes tornou possível desviar os respectivos ataques predatórios para o mar oceano, recorrendo aos chamados navios-mãe e à orientação pelo G.P.S.
Foi, contudo, tal desenvolvimento, arrimado em extensa experiência criminal e os recursos de muitas operações bem-sucedidas que induziu os piratas a atacarem a quinhentos km da costa o cargueiro americano Maersk Alabama.
Na sua húbris se terão acreditado em condições de afrontar a reação da super-potência. Surpreendidos pelos piratas, os tripulantes desse cargueiro resistiram ao ataque. Para evitar sacrifício de seu pessoal, o comandante Richard Phillips se entregou como refém. Passou então com os piratas para um barco salva-vidas.
Não tardou o contra-ataque americano, através de uma força tarefa comandada por contra-almirante, que cercou o barco, enquanto estabelecia contatos com os piratas, em um processo dito de negociação.
Tolhidos em seus movimentos e sem capacidade de fugir, os somalis acederam em mandar um ‘negociador’ para bordo de navio de guerra americano. Com o passar do tempo, e já desprovida a embarcação de combustível, se acirraram os ânimos dos piratas contra o prisioneiro Phillips.
Verificada a gravidade do perigo a que estava exposto o capitão – tinha um AK-47 apontado para as suas costas – e com a autorização do Presidente Obama do uso das armas pelos snipers (atiradores) da Marinha – se logrou levar a cabo a arriscada operação de abater os três piratas, sem que o refém Richard Phillips nada sofresse.
A boa estrela do Presidente americano continuou a valer-lhe nesta incrível peripécia (foi o primeiro navio americano a ser atacado e apresado em duzentos anos). Por outro lado, a par do escarmento imposto aos criminosos, é de esperar-se que a intervenção da frota estadunidense possa indicar o começo de um processo de limpeza dos mares do chamado Chifre da África.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
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