No Poder Legislativo, Senado e Câmara são investidos pelos escândalos os mais diversos – castelos em Minas Gerais, pulverização de diretorias fastasma, malversação de verbas, a farra das passagens, viagens, muitas viagens, etc. etc. – e a consternação inicial da opinião pública se transforma em cólera, que se afigura tão mais forte quanto a sentida aparente falta de remédio salvador. Os patifes – e são muitos ! – têm fé inquebrantável no poder do esquecimento. Para eles, todas as afrontas, todas as raivas, todos os crimes, acabam envoltos nas águas sinuosas, complacentes e, por fim, plácidas e nebulosas do rio do Letes. Seriam quiçá as duas divindades preferidas dos transgressores: o tempo e a desmemória.
Contada por tantas bocas, esta estória acabará sempre na penosa reaparição das múltiplas cabeças da Hidra, insolentes e arrogantes defronte dos vãos esforços dos justos ? É o que gostariam de fazer acreditar, mas nos escaninhos da História, esta mestre-escola imprevisível e contraditória, há muitos exemplos que reconfortam aqueles que crêem, apesar de tudo, na vitória do Bem e no castigo da vasta súcia dos velhacos.
Em junho de 1954, o Senador Joseph McCarthy dirigia a sanha de seu subcomitê de ‘Atividades anti-americanas’ contra o Exército. Aí encontrou a própria nêmesis, personificada por advogado pouco conhecido, de nome Joseph Welsh. Com a sua famosa frase, ‘Senador, o Senhor não tem vergonha, não tem decência ?’, Welsh, com a firmeza da coragem, perfurou a empáfia do Senador, que atemorizara e dominara a gente muito mais conhecida e poderosa do que o inconspícuo representante do Exército americano. A partir desse momento, desmoronou a construção de ódio e perseguição que caracterizara por mais de quatro anos o macartismo, até o ato final da censura pelo Senado, em dezembro de 1954, do antes todo-poderoso Joe McCarthy.
A lição de Joe Welsh não é uma fábula. É a demonstração que os invernos podem ser longos, grande a desenvoltura dos patifes – na crença de que a história se repete na monotonia do olvido -, extenso o poder das oligarquias com os seus muitos braços para lograr a unção contra vento e maré de seus entes favorecidos, mas que ao fim e ao cabo, tudo termina, no choro de uns poucos e na alegria de muitos.
É bem verdade que o Brasil atravessa momento difícil. Em meio à crise do Congresso, à desfaçatez imperante das passagens, das viagens turísticas a toda parte, ao despautério das ‘diretorias’ do Senado, do desrespeito geral à Nação brasileira, algumas verdades, por causa deste chavascal, carecem de ser singularizadas.
O Povo brasileiro deve confiar em si mesmo e não em ajudas milagreiras de algumas supostas exceções entre seus representantes.
Não é à toa que Senado e Câmara têm hoje a cara de seus Presidentes.
Excluídas as exceções de regra – e que até hoje não deram o ar de sua graça – não vejo diferença entre gente que não sabe distinguir entre o que deve pagar de seu bolso, e o que compete ao Erário Público.
Ao invés do que apregoa representante da esquerda, o mandato parlamentar não lhe dá o direito de distribuir passagens a outrem.
Aliás nisso não há diferença entre direita e esquerda. Inchou a turba dos trezentos picaretas.
Por ora, não se divisam vigias institucionais e autoridades morais nos outros poderes da República. Não perturba a cacofonia das denúncias da imprensa qualquer manifestação de censura ou revolta dos demais poderes instituídos.
A natureza tem horror do vácuo. De alguma forma o Povo brasileiro encontrará maneira de expressar a própria vontade, que é, como reza a Constituição, soberana.
terça-feira, 21 de abril de 2009
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