Há alguns dias atrás o Senador Cristovam Buarque (PDT-DF) aventou a possibilidade de convocação de plebiscito para decidir sobre o fechamento do Congresso.
De pronto, a imprensa se apressou em tentar sepultar a questão por meio de pequena nota inserida na coluna política (“Pegou mal”), e com citação do Presidente do PPS, Roberto Freire: “É uma asneira golpista”.
Asneira golpista ? Decerto Hércules hesitaria em limpar estas cavalariças de Augeas em que se transformaram, por irresponsabilidade da maior parte de seus dirigentes, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados.
Ali são poucos os justos. Na Câmara, a frase famosa dos ‘trezentos picaretas’ já se acha superada por outra, mais turva realidade. No Senado, a situação é tão caótica, os escândalos tão abundantes, a choldra imperante, seja na maioria dos 81 senadores, seja dentre os funcionários, que não há espaço para discussão possível.
Que fazer de um Senado que tem a cara de Renan Calheiros e de sua ‘tropa de choque’? Que fazer de uma Câmara que só pensa em artifícios para aumentar os próprios estipêndios, privilégios, a par de articular a criação de 79 cargos eletivos (75 para integrar a bancada nacional no Parlamento do Mercosul, e quatro para representar os brasileiros que vivem no exterior) ?
Asneira, deputado Freire? Diante da sucessão de escândalos (Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães, Renan Calheiros) não é de hoje que se aventa a abolição do Senado.
Depois da entrevista a Veja do Senador Jarbas Vasconcelos, e a opção do PMDB de nada fazer a respeito da afirmação do Senador pernambuco ( ‘O PMDB é corrupto’), não há mais o que dizer em defesa do maior partido político no Parlamento.
Também no Senado, o total de representantes honestos se resume talvez em números de um dígito. Vêm à lembrança os nomes de Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Cristovam Buarque. Haverá outros mais, mas não muitos.
Cristovam Buarque é um Senador honrado, criador quando governador de Brasília da bolsa-educação (de que a pletora de pais hoje convive com o seu atual desvirtuamento), cuja presença como Ministro da Educação se caracterizou por comprida luta devida ao constante atenazamento pelo então todo-poderoso José Dirceu, e se marcaria por triste exoneração pelo telefone, a que Lula se permitiu por motivos que só engrandecem ao Senador Buarque.
Assim, Deputado Freire, uma declaração como a do Senador por Brasília, se deve tomar muito a sério. Em tempos como os presentes, em que Senado e Câmara são naus desgovernadas, em que seus representantes sofrem de uma febre corporativa, que lhes faz perder a noção das mais comezinhas realidades – de que devem os seus mandatos ao Povo brasileiro, que vivemos em tempos de crise, em que a austeridade é imposta a muitos, mas não às choldras dos funcionários – cuja farra de diretorias e de outras artimanhas é tamanha a ponto de necessitarem auditorias externas para determinar-lhes o número e o alcance – e dos senhores ditos pais da pátria ?
Asneira, senhor Presidente do PPS? Em tempos sombrios como os de agora, em que os patifes semelham controlar a situação e ditar as regras, são essas pequenas frases que vão iluminando, a princípio em lampejos, e mais tarde em série crescente de clarões, alimentada pela cólera dos justos, os vastos e imundos estábulos, que, na arrogância dos alienados, ignoram ter contadas as horas.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
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