Prezado Leitor, devo confessar que tenho dificuldade de entender certas coisas. A falha deve ser minha. De qualquer maneira, talvez o melhor método seja desenvolver o tema e descobrir onde foi que errei.
O Governador do Rio de Janeiro, Sua Excelência Sérgio Cabral, está muito zangado com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) por ter a sua Presidenta, Solange Vieira, revogado portaria do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC) que limitava as operações do aeroporto Santos Dumont. Com o serviço restringido desde março de 2005 ao eixo Rio – São Paulo, o Santos Dumont poderá em breve reiniciar os voos para Campinas, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Brasília e, quem sabe, Porto Alegre.
Em 2005, por causa da necessidade de obras no Santos Dumont, se decidira interromper os voos para essas cidades e para Porto Alegre. A Infraero garantiu que depois o assunto voltaria a ser debatido.
Como dizia, o Governador Sergio Cabral está zangado, e muito mesmo. Ameaça recorrer à Justiça ainda esta semana para barrar a reabertura. Nessa linha, ele promete retaliar com alta de impostos e suspensão das licenças ambientais do terminal. Mostrando irritação, Sua Excelência – que tem o comovente apoio do Prefeito do Rio de Janeiro, o Senhor Eduardo Paes – classificou a decisão de “covardia, deboche e absurdo.”
Assinale-se que o Governador está preocupado com o que esta mudança vai acarretar para o aeroporto do Galeão. Não duvido, senhor Governador, da sinceridade de seus propósitos. Fiquei preocupado, a princípio, com a sua ameaça de suspensão das licenças ambientais. Cuidado, Governador, que meio ambiente é coisa séria, e não se deve instrumentalizar o emprego das licenças para outros fins que não os próprios.
Por outro lado, o que me dificulta o entendimento do problema – e, perdoe-me Excelência, também um pouco do fundamento de sua raiva – é que em minhas frequentes visitas ao Galeão, tanto a despeito da vista dos cartazes anunciando as obras nos terminais do aeroporto, quanto o educado pedido de paciência aos usuários, infelizmente não vislumbro essa determinação refletida seja nos anúncios (desativados) de chegada e partida dos voos, seja em trabalhos visíveis de alvenaria. A falha deve ser minha, Governador, mas a verdade é que no aeroporto só se veem cartazes e nada de obras.
Dizem que o Senhor deseja privatizar o Galeão para que ele se transforme em um hub comparável ao aeroporto de Guarulhos. Estou, em princípio, com o Senhor, embora, repito, deva confessar a minha perplexidade não só com a aparente ausência de obras efetivas no aeroporto Tom Jobim (durante todo esse tempo em que o usuário carioca não tinha outra opção de aeroporto por que o senhor não tocou essas obras?), mas também – e releve-me introduzir um outro argumento – fica difícil, Governador, compreender a razão de deblaterar contra um estrangeiro por causa da utilização maior do Santos Dumont...
No meu entender, o senhor deveria recorrer a uma campanha de publicidade esclarecedora – não concordo em que se trataria de um oxímoro, segundo dizem os detratores dessa rentável atividade – para fazer ver ao carioca que o interesse dele seria melhor servido pelo Galeão. Convenhamos que o senhor é governador não só dos fluminenses, mas também dos cariocas.
O senhor precisa mostrar aos cariocas que eles estão errados em preferir o Santos Dumont ao Galeão. Agora, Excelência, perdoe-me a impropriedade, mas, nesse sentido, precisa policiar um pouco a sua linguagem. O que é isso, afinal, que chama de “covardia, deboche e absurdo” ? Francamente, e uma vez mais, não logro entender. Tem isso a ver com a preferência que o usuário carioca tem evidenciado pelo aeroporto Santos Dumont devido a maior facilidade de acesso, haja vista a lamentável localização central do aeroporto em detrimento do maravilhoso Galeão ? Ou será pelas melhores condições de segurança, que a situação do Santos Dumont parece oferecer ? Esse é outro argumento que sei não será do seu agrado, a despeito do apreço dos cariocas pela zelosa e onipresente Polícia Militar, que é um dos inegáveis apanágios de sua Administração...
Meu ilustre Governador, repensando, não estou certo se em recorrendo a uma agência de publicidade Vossa Excelência logrará o louvável objetivo de convencer os cariocas. Esta gente é muito teimosa, sobretudo se acharem que este “absurdo” lhes pesará menos no bolso, estará mais a mão, e será mais seguro.
Veja só, Excelência, quão ingratos são os seus eleitores, se nem os seus êxitos na segurança do Rio são capazes de reconhecer...
quinta-feira, 5 de março de 2009
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