A imprensa comenta as recentes medidas do Arcebispo de Olinda, D. José Sobrinho. Há geral condenação, diante da insensibilidade do prelado e do seu claro descompasso com a realidade. E, no entanto, nada que D. Sobrinho faça pode surpreender-me pelo triste histórico de sua presença à testa da Sé de Olinda.
Ao nomeá-lo para suceder a D. Helder Câmara em 1985, o Papa João Paulo II mostrou a sua predileção pela orientação dita conservadora. D. José Sobrinho se assinalaria pela triste obra de destruição de todo o legado de D. Helder. Uma sólida mediocridade, D. Sobrinho só poderia distinguir-se através do negativismo, o que infelizmente comprovou, ao desfazer tudo o que o grande D. Helder havia construído na arquidioce de Olinda e Recife.
Agora no apagar das luzes do seu ministério – havendo completado setenta e cinco anos, a idade canônica para o seu afastamento, seria de estranhar-se a demora do Papa Bento XVI em acolher o seu pedido de renúncia – D. José Sobrinho mostra mais uma vez ao que veio. Espanta decerto esta predileção dos Papas recentes por bispos tão perniciosos para a Igreja Católica.
D. Helder suportou em silêncio, com o arrimo da fé, toda a estúpida provação que teve de acatar, em respeito ao princípio da obediência devida ao novo titular. Obviamente, D. Sobrinho não tinha condições de destruir o que D. Helder já fizera, mas cuidou de inviabilizar a continuação de sua obra. Com o seu estulto fanatismo, ele afastou da Igreja não só os colaboradores diretos de D. Helder, mas também um grande número de fiéis que se refugiaram em outras confissões. Como refere Merval Pereira, em sua coluna de hoje, “foram fechados o Instituto de Teologia de Recife e o Seminário Regional Nordeste II, fundados por D. Helder. (...) Todos os antigos colaboradores de D. Helder foram retirados ou se retiraram de suas funções”.
A relação dos desmandos de D. José Sobrinho se me afigura uma experiência penosa, e por isso tratarei de resumi-la no que ela realmente é, a expressão da intolerância mesquinha e, por que não dizer, burra.
Nomeando essa agressiva mediocridade para substituir a D. Helder, um gigante cujo centenário de nascimento ora se celebra, o Papa João Paulo II prestou, sem dar-se conta, uma homenagem ao antigo bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, ao mostrar ao mundo quão grande era o arcebispo a que ele sempre se negara em criar cardeal. D. Helder, na verdade, prescindia de tais homenagens, ele que já transcendera por sua mensagem e obra os estreitos confins a que a Igreja Católica pós-joanina se viu limitada.
Por isso, as barbaridades ora cometidas por D. José Cardoso Sobrinho não me espantam. Não só desconhecer a motivação da equipe médica, que excomunhou, mas declarar a fortiori que o estupro é um delito menos grave do que o aborto, para parafrasear um dito famoso, não é só um crime, mas também e sobretudo um erro.
Seria de esperar que a Santa Sé agisse com presteza, e nos desobrigasse de suportar a insensatez e a nefasta pequenez de D. Sobrinho. Dados os precedentes, todavia, com os recentes constrangedores equívocos de Bento XVI na nomeação de bispos, que teve de revogar, é forçoso dizer que um excessivo otimismo não é aconselhável.
sábado, 7 de março de 2009
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