Há muitos anos, recordo-me de crítica feita por um jornalista, Lord Altrincham, à Rainha Elizabeth, dizendo sentir uma dor no pescoço ( a pain in the neck ) ao ouvi-la discursar. A despeito da expressão vulgar, nela havia um quê de verdade, tanto que, talvez sob o aguilhão da mordacidade, a elocução de Sua Majestade Britânica melhorou bastante desde então.
Dentro em breve o Presidente, Luiz Inacio Lula da Silva, deverá fazer visita oficial à Rainha. No contexto de relações estreitas, sucederá à atual vinda ao Brasil do Primeiro Ministro inglês, Gordon Brown. No encontro dos dois chefes de governo, no Palácio da Alvorada, terão tratado, entre outros assuntos, da próxima reunião do G-20.
Na conferência de imprensa que se seguiu, o Presidente Lula disse notadamente: “É uma crise causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise parecia que sabia tudo e que, agora, demonstra não saber nada”.
Gordon Brown, que estava ao lado e acompanhava pela tradução simultânea o que Lula afirmava, não fez qualquer comentário, embora parecesse um tanto constrangido.
Questionado por jornalista inglês da BBC se por acaso as declarações não continham um viés ideológico, o presidente não recuou, mantendo sua posição, acrescentando não conhecer “nenhum banqueiro negro ou índio”.
Como é sabido, o presidente Lula da Silva enjeita a leitura de discursos, preferindo falar de improviso. Na eventualidade de conferência de imprensa, obviamente não há discursos lidos, mas se cabe declaração introdutória – como acredito tenha sido o caso – não se descarta a leitura de texto preparado.
Lula, fundado na sua experiência de líder sindical, se sente mais à vontade ao improvisar as alocuções. Faz parte de sua auto-imagem presidencial, de pessoa que exerce controle pleno sobre seus atos e palavras, e que tem prazer em demonstrá-lo.
Ora, por que, em geral, preferem os seus homólogos – e, no passado, os próprios antecessores no Brasil – ler e não improvisar ? Tentando resumir, se me afigura que o fazem por duas considerações básicas: prudência (pelas implicações e peso das palavras do chefe de governo) e a liturgia do cargo.
Se se contra-argumenta que em conferências de imprensa o improviso é a regra – deixando de lado a possibilidade acima mencionada de declaração lida – semelha provável que já preparara a observação em tela, porque não é crível, pelas suas implicâncias, que tenha sido comentário extemporâneo.
Conquanto haja negado o viés ideológico, a negativa me parece capenga. A generalização no caso é tão extremada que a intenção presidencial – descontada a alternativa da pilhéria, em que o exagero costuma ser instrumento usual – não se sustenta, por deslocar a suposta causa eficiente da crise para fatores, os quais são circunstanciais e adjetivos, nunca determinantes.
As causas da crise, consoante se verifica na série de artigos sobre A Crise Financeira Americana, são decerto muitas, e nada têm a ver com raça, pigmentação da íris ou da pele.
sexta-feira, 27 de março de 2009
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Um comentário:
O comentário foi infeliz e racista.
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