Segundo apurou o Ministério Público, a central da corrupção era operada na prefeitura do Rio de Janeiro, durante a administração de Marcelo Crivella, pelo empresário Rafael Alves. Dada a extensão do esquema imposto a pelo menos vinte órgãos da Administração, e as características de seu gestor, o Prefeito se curvava diante das ordens de seu suposto subordinado, a que tinha de subordinar-se e a postar-se como se fora não o chefe máximo do órgão, mas um simples lacaio do empresário, a cujas determinações não tinha o direito de contrariar, sendo reduzido à própria expressão de suposto subalterno, seja nas comunicações imperativas do empresário, por via oral ou escrita , como se procedesse a implementação daquela estranha hierarquia de subordinação. Tal conformação de poder abrangia cerca de vinte órgãos da Administração Crivella, entre os quais os setores vitais como Saúde e Educação, e empresas como a Rioluz.
Estranhamente, Alves não ocupava cargo no município, mas detinha não obstante grande influência na sua gestão, indicando nomes como o do Presidente da Previ-Rio ou trocando administradores regionais.
Crivella - que acaba de sair favoravelmente de uma votação de impeachment na Gaiola de Ouro - busca negar as acusações levantadas. Por sua vez, o personagem Rafael Alves tenta refutar as incriminações, como se o Ministério Público houvesse interpretado as mensagens colhidas de "forma enviesada".
Para demonstrar, se fora o caso, o caráter tosco dos meios utilizados pelo capanga do Prefeito tornado pela evidência da relação, o real chefe do esquema criminoso, Rafael Alves guardava, escondido sob uma pilha de roupas, na sua própria casa, o seu instrumento de comando. Dentre os quatro telefones apreendidos pela Polícia Civil e o M.P. , estava o celular que fora utilizado pelo empresário em março do corrente ano, quando aqueles dois órgãos estatais realizaram operação de busca e apreensão em marco de 2020, na residência utilizada por Rafael Alves em condomínio da Barra.
Enquanto se desenvolvia a operação conjunta, o celular tocou, acionado por uma chamada - e logo de quem - do Prefeito Crivella, que ansioso, buscava colher informações sobre a operação que estava ocorrendo! Com detalhes de um giallo (romance policial) a ligação foi atendida não por Rafael - já às voltas com os braços da Lei, mas por um delegado. Ao dar-se conta que não falava com Rafael, o prefeito Crivella desligou o telefone.
In totum, foram apreendidos quatro celulares de Rafael, dos quais apenas um foi entregue de forma "espontânea". Em veículo estacionado próximo à residência, ainda havia jóias, relógios e uma bolsa contendo cinquenta mil reais. Dadas as características, tal poderia ser "uma espécie de veículo de fuga", vale dizer, o carro que lhe desse condições para fugir do Rio de Janeiro. A explicação dada pelo empresário era que tudo pertencia a Shanna Harrouche Garcia, sua ex-mulher e filha do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho.
A análise dos telefones celulares demonstra que, entre maio de 2016 e março de 2020, o prefeito Crivella e o empresário Rafael Alves trocaram 1.949 mensagens, o que fortaleceu as investigações, mostrando tanto a estreita relação entre ambos, a par da extensão do esquema que está sendo revelado. A comunicação da dupla muitas vezes era cifrada, para tentar inviabilizar a compreensão de terceiros. É de notar-se também que boa parte do conteúdo dos celulares foi apagada, mas os investigadores conseguiram recuperá-la.
Dentro dos esforços da parte advocatícia de ajudar o seu cliente, o advogado de Rafael afirmou que o MP interpreta as mensagens de forma "enviesada", sem se preocupar com os esclarecimentos do cliente, que quer ser ouvido.
( Fonte: O Globo )
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