O IBope pergunta ao
Povo brasileiro a quem considera o principal responsável pela atual situação da
pandemia do coronavirus ?
Partindo da premissa de que para 71%
dos entrevistados, o impacto da pandemia no Brasil foi muito pior que o
esperado, coloca-se para o objeto da pesquisa - que é sempre o Povo brasileiro
- dissociação funda-mental: até que
ponto é válido considerar-se a população em geral - ao lado dos governantes -
como um agente em condições de assumir respon-sabilidade?
Dessarte, dizer que a População e
Jair Bolsonaro são os maiores responsáveis por esse túrgido, terrivel, tremendo
mesmo número de mortes pela Covid-19 não
se trata senão de torpe tréplica a um falso, na verdade claro enigma. Para quê,
Deus meu, existem governantes senão para responder aos desafios que o Destino
coloca para os respectivos Povos?
Pois Bolsonaro nunca esteve à
altura desse medonho desafio que foi colocado para a gente brasileira. Em todas
as respostas que dele se poderia esperar, o presidente ou não agiu - quando
recusou-se a fechar as fronteiras, que é primeira reação de um Lider nacional,
que busca preservar o próprio Povo, ou o que é pior, tergiversou e correu em
busca de falsas reações, quase como se estivesse diante de mais uma criação da
mídia.
Dessarte, tudo o que mal
começa, prossegue aos trancos e barran-cos. Que Líder é esse, cuja primeira
resposta foi a inação? Seria como se mandasse vir uma salva de prata e os alvos
tecidos do linho da inocência, para que de saída postule a isenção e o falso
abrigo da irresponsabilidade. Não só ele chamou esta praga de gripezinha, numa postura de quem
minimiza o flagelo, mas também em atitude de irresponsável mesquinhez resolveu
livrar-se do bom Ministro Mandetta, que tinha na pasta da Saúde do Povo
Brasileiro.
Ora, pois! havia escolhido
um ótimo Ministro! O que faria um líder responsável? Tomaria com o empenho e a
alegria do bom governante, a quem agrada sobremaneira os prestimosos e capazes
altos auxiliares, e sob que melhores auspícios do que a boa luta, ao lado de alguém que conhece e
respeita o repto dessa terrível doença, que ora volta à terra brasileira,
refazendo os passos sanhudos da horrenda
Peste Espanhola. Se os tempos são diversos e a porfia, com sua enxurrada de
mortes, não mais avance nas trevas da ciência médica de então, mas carregada
pelos anos e o avanço da ciência, possa ter o caminhar mais seguro, dispondo
ora de instrumentos que vencem os ardis da morte.
Não se enjeita a Sorte.
Os grandes desafios fazem os grandes líderes, e não há erro mais torpe de o que
aquele de falhar à esperança de um Povo.
Acaso não parece ao
leitor que o mítico número dos cem mil mortos, objeto de muitas manchetes e de
muitos e muitos - e nunca demasiados - artigos de que gotejam, muito além das tímidas
entrelinhas, como se fora com um peso de paralelepípedo a tosca, torpe,
estúpida verdade de existências que não careciam de serem vítimas de estultas
vaidades e de planos inconsequentes.
A política não é um
jogo de irresponsáveis. Vejam o que está acontecendo com a política municipal
do Rio de Janeiro. Com um governador fora do poder por determinação do
STJ, e com um Prefeito que ao invés de
cuidar da Covid-19 cria métodos fascistóides para tentar impedir o trabalho da
imprensa, enquanto perde o controle de suas responsabilidades, com a invasão
das praias do Rio de Janeiro! Na velha Europa, a juventude desrespeita regras e
põe em perigo em muitos países da Uniao Europeia os sofridos avanços no
controle do coronavirus.
Toda a irresponsabilidade, todo o insano afã
de voltar aos bons, velhos tempos, carregam o peso da imitação de muitos erros
passados e só contribuem para reviver uma epidemia que continua a avançar, como
nos mostram as médias, não só com o cabo infame dos cem mil óbitos já deixado
para trás, enquanto essa torpe progressão, carregada pelo milhão dos novos
casos, que, quem diria, se vai por mares nunca dantes navegados, passaram ainda
além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados...
(Fontes: Luis de
Camões, Lusíadas; Carlos Drummond de Andrade, Fazendeiro do Ar).
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