domingo, 6 de setembro de 2020

Brasil: quem é responsável pelas mortes? .

 

          

 

       O IBope pergunta ao Povo brasileiro a quem considera o principal responsável pela atual situação da pandemia do coronavirus ?

          Partindo da premissa de que para 71% dos entrevistados, o impacto da pandemia no Brasil foi muito pior que o esperado, coloca-se para o objeto da pesquisa - que é sempre o Povo brasileiro - dissociação funda-mental:  até que ponto é válido considerar-se a população em geral - ao lado dos governantes - como um agente em condições de assumir respon-sabilidade?

           Dessarte, dizer que a População e Jair Bolsonaro são os maiores responsáveis por esse túrgido, terrivel, tremendo mesmo número  de mortes pela Covid-19 não se trata senão de torpe tréplica a um falso, na verdade claro enigma. Para quê, Deus meu, existem governantes senão para responder aos desafios que o Destino coloca para os respectivos Povos?

              Pois Bolsonaro nunca esteve à altura desse medonho desafio que foi colocado para a gente brasileira. Em todas as respostas que dele se poderia esperar, o presidente ou não agiu - quando recusou-se a fechar as fronteiras, que é primeira reação de um Lider nacional, que busca preservar o próprio Povo, ou o que é pior, tergiversou e correu em busca de falsas reações, quase como se estivesse diante de mais uma criação da mídia.

                Dessarte, tudo o que mal começa, prossegue aos trancos e barran-cos. Que Líder é esse, cuja primeira resposta foi a inação? Seria como se mandasse vir uma salva de prata e os alvos tecidos do linho da inocência, para que de saída postule a isenção e o falso abrigo da irresponsabilidade. Não só ele chamou esta praga de gripezinha, numa postura de quem minimiza o flagelo, mas também em atitude de irresponsável mesquinhez resolveu livrar-se do bom Ministro Mandetta, que tinha na pasta da Saúde do Povo Brasileiro.

                     Ora, pois! havia escolhido um ótimo Ministro! O que faria um líder responsável? Tomaria com o empenho e a alegria do bom governante, a quem agrada sobremaneira os prestimosos e capazes altos auxiliares, e sob que melhores auspícios do que  a boa luta, ao lado de alguém que conhece e respeita o repto dessa terrível doença, que ora volta à terra brasileira, refazendo os passos sanhudos  da horrenda Peste Espanhola. Se os tempos são diversos e a porfia, com sua enxurrada de mortes, não mais avance nas trevas da ciência médica de então, mas carregada pelos anos e o avanço da ciência, possa ter o caminhar mais seguro, dispondo ora de instrumentos que vencem os ardis da morte.

                        Não se enjeita a Sorte. Os grandes desafios fazem os grandes líderes, e não há erro mais torpe de o que aquele de falhar à esperança de um Povo.

                         Acaso não parece ao leitor que o mítico número dos cem mil mortos, objeto de muitas manchetes e de muitos e muitos - e nunca demasiados - artigos de que gotejam, muito além das tímidas entrelinhas, como se fora com um peso de paralelepípedo a tosca, torpe, estúpida verdade de existências que não careciam de serem vítimas de estultas vaidades e de planos inconsequentes.

                           A política não é um jogo de irresponsáveis. Vejam o que está acontecendo com a política municipal do Rio de Janeiro. Com um governador fora do poder por determinação do STJ,  e com um Prefeito que ao invés de cuidar da Covid-19 cria métodos fascistóides para tentar impedir o trabalho da imprensa, enquanto perde o controle de suas responsabilidades, com a invasão das praias do Rio de Janeiro! Na velha Europa, a juventude desrespeita regras e põe em perigo em muitos países da Uniao Europeia os sofridos avanços no controle do coronavirus. 

                              Toda a irresponsabilidade, todo o insano afã de voltar aos bons, velhos tempos, carregam o peso da imitação de muitos erros passados e só contribuem para reviver uma epidemia que continua a avançar, como nos mostram as médias, não só com o cabo infame dos cem mil óbitos já deixado para trás, enquanto essa torpe progressão, carregada pelo milhão dos novos casos, que, quem diria, se vai por mares nunca dantes navegados, passaram ainda além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados...   

 

(Fontes: Luis de Camões, Lusíadas; Carlos Drummond de Andrade, Fazendeiro do Ar).

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