sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Nova Face dos Protestos na Grécia

As manifestações de protesto prosseguiram na Grécia durante toda a semana. Nos primeiros dias, em que a revolta estudantil se mostrara mais forte, a situação política evoluíu para uma possível crise de governo. Os partidos de oposição, com o líder dos socialistas Georgos Papandreou à frente, pediram a demissão do gabinete da Nova Democracia, de Costas Karamanlis. Diversas passeatas pacíficas foram realizadas, em que foi expressa a considerável insatisfação popular com a morte do jovem Alexandros Grigorópoulos.
Nesse contexto, seria previsível que a oposição formada por Pasok (socialistas), comunistas e radicais de esquerda (Syriza) tenha reivindicado não só a saída de Karamanlis, mas também eleições antecipadas.
Houve dentro da própria maioria declarações ambíguas, que terão sido motivadas pela mosca azul do poder. Nesse sentido, a deputada (e ministra dos negócios estrangeiros) Dora Bakoyannis disse que a culpa pelos acontecimentos não podia ser circunscrita a apenas um setor - todos dela participavam. De modo algo oblíquo, dentro da linguagem cifrada e bizantina das facções políticas, pode-se interpretar o comentário como possível pré-posicionamento de uma alternativa na chefia de governo, no caso de que a posição do chefe partidário e primeiro-ministro Karamanlis ficasse fragilizada.
A própria minúscula maioria da direita – um voto de vantagem em parlamento de trezentos membros – representa inegável incentivo para que, diante de uma crise, a oposição visualize a oportunidade de instrumentalizar a situação, através da tentativa de antecipação dos comícios.
Nesse sentido, a lei eleitoral grega dá ao partido que alcance maioria relativa uma quota que possibilita a formação de maioria absoluta. Só existem atualmente dois partidos na Grécia em condições efetivas de usufruirem desta vantagem - a Nova Democracia e os socialistas (Pasok). Dessa maneira, o legislador assegurou não só a alternância no poder, senão as condições de governabilidade. Evita-se a repetição de situações anteriores em que gabinetes minoritários da direita e da esquerda ficavam reféns de pequenos partidos.
Após a greve geral – que estava aprazada há bastante tempo, como forma de protesto contra a política do atual governo, e que se serviu da motivação adicional da crise – as manifestações se seguiram, e o recurso à violência se tornou a tônica dos protestos.
Na sociedade grega existe uma faixa assaz minoritária – denominada de ‘anarquista’ pela imprensa – e que recorre sistematicamente a depredações, incêndios e danificações de prédios comerciais e públicos. Dessa feita, ao invés de singularizar a escolha a alvos como bancos, revendas de carros estrangeiros e prédios governamentais, a investida dos anarquistas se caracterizou pelo ataque indiscriminado ao comércio, tanto a lojas menores, quanto a grandes conjuntos comerciais. Por uma inicial retração das forças da ordem, centenas de lojas foram danificadas ou mesmo destruídas. Tal modalidade de ‘protesto’ provocou compreensível revolta na opinião pública. Duas conseqüências decorreram dessa mudança no sentimento da população: o enfraquecimento da indignação contra o governo e a concessão pelo gabinete de ajuda financeira a título de reparação às empresas mais prejudicadas.
Assim, no sétimo dia de distúrbios, as perspectivas se afiguram: (a) ulterior radicalização dos protestos estudantis, ora realizados sobretudo pela chamada ala anarquista do movimento universitário e secundarista (ter-se-á presente que Grigorópoulos tinha apenas quinze anos), e (b) seu progressivo isolamento em meio à sociedade helênica.
A menos que ocorram fatos imprevisíveis, a facção anarquista torna-se na prática a única antagonista das forças da ordem. Este cenário já é conhecido do governo grego e tende a contribuir para que a dita normalidade possa ser restabelecida.

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