Manda a tradição que no limiar do Ano Novo as pessoas troquem votos de saúde e prosperidade. A propósito, recordo-me dos brilhantes pacotes que colocávamos debaixo da árvore, e que se destinavam a nossos filhos. Como vivia por dever de ofício longe do Brasil todos esses presentes de Papai Noel eram escolhidos e comprados por nós, eis que a distância impedia os demais parentes de participarem nas lembranças às crianças.
Tinha prazer em assistir à alegria deles, freneticamente abrindo, na verdade rasgando, os invólucros das caixas. Para eles, no meu entender, metade da satisfação estaria em desvendar o mistério que se encerrava em cada pacote, todos eles prometendo brinquedos e brincadeiras novas e diversas. E o nosso comum esforço, em terra estrangeira, de proporcionar aos filhotes a visão e o gozo de uma árvore cercada de pacotes de boas surpresas, tinha o objetivo principal de não negar às crianças a oportunidade de um Natal com o esperado número de presentes. Naquele jogo de fazer de conta, Papai Noel tinha trabalho redobrado – todos aqueles embrulhos reluzentes eram carinhosas mensagens não só nossas, mas de toda a família, de que o afastamento continental inviabilizara a presença.
Compreende-se, assim, a ansiedade com que as crianças íam para cama dormir, assim como o oculto despertador que os faria, de manhãzinha, vir até a árvore enganalada, para afinal descobrirem o que trouxera o bom velhinho.
Manda igualmente a tradição que em Natal e Ano Novo o otimismo seja de regra. Mesmo que da boca para fora, ninguém ousa desrespeitar esta regra não-escrita. Por isso, os fogos de artifício a saudarem as boas entradas, que se repetem, pelos caprichos do cronômetro, da baía de Sidney até Times Square. Em uma cidade conflagrada como o Rio de Janeiro, a noite de trinta e um de dezembro, com suas multidões em Copacabana, é espetáculo a repetir-se pelos anos afora. E é bem que, a exemplo das tréguas da Antigüidade e do medieval asilo sagrado nos templos, o bom povo carioca tenha mais do que quinze minutos de paz e gáudio, nas homenagens a Iemanjá, nas areias macias da praia, no passeio atopetado da avenida Atlântica, nas janelas curiosas dos edifícios circundantes, e, como nos velhos tempos, em retorno tranqüilo na alta madrugada aos respectivos domicílios.
E é bom que assim seja. É preciso acreditar em que as coisas possam um dia mudar para melhor. E por que não a partir deste dia, na confraternização em meio ao espoucar da champanha e de todas as demais bebidas a que os festejantes têm direito ?
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
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