No marcante discurso de Hillary Clinton, a que me referi no artigo anterior, em que suspendeu a campanha e martelou junto a seus partidários a necessidade de apoiar a candidatura de Barack Obama à presidência através de refrão com traços shakespearianos, se reflete tanto a dificuldade, quanto a necessidade de autêntica união do partido se os democratas realmente desejam voltar à Casa Branca. Costurar este apoio constituirá a premissa indispensável para que Obama logre vencer o republicano John McCain.
Os escolhos para que uma real composição de forças entre os dois grandes nomes do Partido Democrata não são imaginários. Temos idéia do difícil caminho pela frente na lacônica declaração de apoio a Obama pelo ex-Presidente Clinton, declaração de uma única linha e veiculada por assessor. Se tal frieza clintoniana decorre da aparente falta de vontade política de Obama e seu grupo em chegar a acordo com a corrente de Hillary Clinton, não é de prever-se que a chapa democrata terá a necessária pujança para vencer o G.O.P.
Malgrado Obama, com a ajuda da mídia e do ‘establishment’, haja vencido o duro embate das primárias democratas, se computarmos os estados mais populosos (California, New York, Pennsilvania) e aqueles que costumam pender para o ganhador nas eleições presidenciais (Kentucky, Virginia, Ohio) os resultados não se afiguram tão animadores para ele. Para que vença em novembro não lhe bastará o endosso cerimonial da Convenção de Denver. Deverá afastar a húbris do pré-candidato e os rancores de seus partidários ‘incondicionais’ e trazer para o aprisco os diversos segmentos que se identificaram com a pregação da pré-candidata Clinton (mulheres, operários e trabalhadores de baixa escolaridade, latinos, etc.). Se Obama não manifestar disposição de recompor-se e de reunir-se com o grupo de Clinton, a sua liderança no Partido Democrata terá a duração que teve a de outros candidatos designados como Humphrey (1968), McGovern (1972), Mondale (1984), Dukakis (1988) e Kerry (2004).
E assim como foi difícil para Hillary obter da multidão de seus partidários presentes no discurso de despedida da candidatura à Presidente os seus aplausos para o pré-candidato Barack H. Obama, será igualmente árduo porém politicamente necessário que o candidato afro-americano forme com a mulher Hillary a chapa democrata, unindo as duas forças majoritárias no partido e com equipolente apoio popular.
Obama pode parecer um novo John Kennedy, mas tem mais flancos vulneráveis ao preconceito do que o carismático presidente da Nova Fronteira. A recente declaração de assessor de John McCain, desautorizada é certo pelo candidato, é um sinal premonitório desses temores que muita vez o eleitor resolve no segredo da urna. Outro indício da ressurgência de esqueletos supostamente jogados na lata de lixo da história se acha nas reuniões sulinas dos senhores encapuzados da Ku-Klux Klan.
Que Obama não se faça ilusões. Se se propõe realmente recolocar os democratas na Casa Branca e reconfirmá-lo na maioria das duas Câmaras legislativas, não será através da escolha de medalhões para a Vice-Presidência – podendo ofertar-lhe um nome ilustre, mas não os votos que soube granjear Hillary – que ele se tornará o próximo Presidente dos Estados Unidos da América.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
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