Os leitores estarão surpresos. Inabilitado por um tempo, o computador retorna ao que seria o seu terreno habitual. Em meio à crise institucional, aberta pelo Presidente da República, o Brasil refaz caminhos que não se pensara repetisse.
Com efeito, como assinala a página primeira da Folha, por primeira vez na história, os comandantes militares pediram a trinta de março renúncia por discordarem do presidente da República.
Nesses termos, diante da iniciativa dos três Comandantes, o novo Ministro da Defesa general Walter Braga Netto anunciou a demissão dos três, por ordem do Presidente Jair Bolsonaro.
Como anuncia a Folha, o comando militar mostrou-se contrário à citada demissão, na segunda, 29 de março, do antecessor de Braga Netto, general Fernando Azevedo e Silva.
Em tais termos, o ex-ministro rejeitara a pressão do chefe do Executivo para que as Forças apoiassem o governo e ações de repressão a medidas de contenção social contra o coronavirus.
Embora o contexto seja diverso, a inopinada saída do trio militar abre a maior crise nesta área, e a Folha logra compará-la com outra crise ministerial, que data da ação do então presidente general Ernesto Geisel ao demitir, em 1977 o Ministro da Guerra, general Sylvio Frota.
Alude-se também à tensão surgida pelo espoucar da crise em dia que relembra o triste golpe militar de 31 de março de l964, contra o governo constitucional de João Goulart.
A notar-se outrossim, que a saída dos ministros militares abre a maior crise nesta área político-militar desde que o general Geisel demitira o citado ministro Sylvio Frota. A assinalar que a primeira nota de Braga Netto como ministro foi sobre a data, em que repetiu o tom antes adotado por Azevedo e Silva, ao situar o então golpe militar como se fora resposta a uma suposta ameaça contra a democracia.
Há muito ainda a delimitar e a esclarecer no que tange à ação presidencial, e o que motivara a reação presidencial, dada a circunstância de que o exonerado Azevedo e Silva sempre se pautara pela moderação no exercício de suas altas funções.
Existe inegável ironia em que o ministro e os comandantes militares saiam por seus acertos. Segundo editorial da Folha, Bolsonaro só revela fraqueza ao tentar demonstrar força. Nesse contexto, a saída simultânea dos três comandantes das Forças Armadas mostra em seu ineditismo um presidente da República que parece desconhecer o real da corporação militar em uma Democracia. Dessarte, se não dispõe de amparo a seus arroubos autoritários, o presidente buscaria exibir fardados como eventual instrumento de intimidação.
É forçoso reconhecer o patético no episódio. Tanto o Ministro Azevedo e Silva, quanto os Comandantes saem por seus acertos. Na verdade, Bolsonaro só revela fraqueza ao tentar demonstrar força.
Já no Congresso, foi depositado na instância competente um pedido de impeachment contra o Presidente da República. Não é decerto o primeiro, enquanto o então Chefe da Comissão competente na Câmara dos Deputados terá recebido vários, a que não teria dado seguimento por considerações próprias, a que só ele poderia responder. E, não obstante, a proposição do impeachment volta à ribalta. O que dela será feito já é outra estória.
(Fonte: Folha de S. Paulo )
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