A coluna
de hoje de Míriam Leitão nos fala da reincidência, na
prática, a cargo do Ministro Guido
Mantega, de buscar em orçamentos paralelos o financiamento, a custa do
endividamento da União, de projetos sem origem fiscal ortodoxa.
Depois das famigeradas ‘capitalizações’
do BNDES, instrumento que tanto
agradara ao Presidente Lula da Silva – na medida da falsa mágica de ‘criar’
recursos de fontes não-orçamentárias -, a reinsistência nesse embuste fiscal –
que ora aumenta a dívida do Tesouro, em ‘bondades’ para a Caixa Econômica e o
Banco do Brasil, desvenda três aspectos da alegada inventiva de Mantega: (a)
não tem nada de novo; (b) é irresponsável e, portanto, perniciosa; (c) mostra
que Dilma Rousseff, no seu estilo ‘equilibrista’
(V. Cristovam Buarque) e
fragmentário, não está nem um pouco preocupada na preservação de uma ordem
fiscal, duramente edificada sob as bênçãos do Plano Real.Como oportunamente recorda a colunista econômica de O Globo, ‘por quinze anos, entre o fim da ditadura militar e o ano 2000, o país executou uma enorme tarefa para acabar com os orçamentos paralelos, a conta movimento, os ralos e as fantasias contábeis até chegar à aprovação da Lei de Responsabilidae Fiscal.’
Tanto o seu criador, quanto a pupila não semelham inquietos em aumentar – dada a origem e o caráter falacioso, o verbo mais adequado seria inchar - os recursos à disposição da Viúva. Nesse sentido, não se lhe acuse de falta de coerência. A ‘autonomia’ do Banco Central, mantida a duras penas por Henrique Meirelles, sob a nova governante transformou-se em miragem do deserto, enquanto a autoridade financeira se descobriu sempre mais na órbita fazendária.
Os artifícios do Ministro Mantega, se satisfazem os caprichos do poder dílmico, têm fôlego curto, não enganam ninguém, a par de sobrecarregar os cofres públicos. É agourento anúncio de males futuros fazer entrar pela porta dos fundos o quarto de despejo de truques baratos e malabarismos nas contas, contra tudo o que representou aturada luta para restabelecer a ordem na casa e dominar a cultura inflacionária.
A imparcialidade
do New York Times
É uma suposição, mas como o momento político não se afigura especialmente favorável ao gaffeur Mitt Romney, caberia então um artigo crítico no que tange a Barack Obama.
Insere-se nesse eventual projeto a matéria de primeira página ‘Duras Lições para Obama na Primavera Árabe’. Se não tenho decerto procuração para defender o 44º Presidente dos Estados Unidos, causa espécie a argumentação, seja no que tange a prioridades que se deveriam defender, seja na própria enunciação das razões que embasariam a postura do New York Times.
A reportagem se inicia pela colérica reação de Hosni Mubarak ao telefonema do presidente: “ Você não entende esta parte do mundo. Você é jovem.”
O presidente egípcio reagia ao que Obama acabara de dizer-lhe, considerando insuficiente o discurso retransmitido para milhares de manifestantes na Praça Tahrir. Para Obama, Mubarak não tinha ido longe o bastante. No seu entendimento, Mubarak deveria renunciar.
O presidente americano anunciaria dentro de poucos minutos, em conferência de imprensa convocada às pressas, que o fim do governo de trinta anos de Mubarak ‘precisa começar agora’.
Na avaliação do jornal, o presidente Obama pôs de cabeça para baixo (upended) três décadas de relações com o seu mais firme aliado no mundo árabe, pondo o peso dos Estados Unidos diretamente do lado das manifestações árabes de rua (Arab street).
O restante da matéria, que reflete a profusão da pesquisa e da consulta às diversas fontes envolvidas – quer na Administração Obama, quer no mundo islâmico – pode ser comparada a essas vastas tapeçarias que caracterizam as produções de maior importância da imprensa americana.
Nesse contexto, elas relembram, mutatis mutandis, o dito relativo aos clássicos portugueses, que seriam igreja onde todos os pecados (de linguagem) são perdoados. Dessarte, na sua preocupação de abrangência, os diversos atores, prismas e opiniões são revisitados, e a posição de Obama não surge com o simplismo do nariz de cera. Chega-se mesmo a um certo reconhecimento de seus traços positivos, não só ao dissociar Washington e o jovem presidente dos ditadores árabes, senão de sua visão que a primavera revolucionária tinha pernas mais robustas, com força para levá-la muito além da Tunísia.
Sem embargo, para quem se detém no cabeçalho e nos parágrafos iniciais, a impressão colhida não desagradará a Mitt Romney e seus partidários...
( Fontes:
O Globo, International Herald
Tribune )
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