Bernanke acena
com novo estímulo
Pronunciado no Jackson Lake Lodge, no meio do Parque Nacional Grand Teton , o discurso de Bernanke foi ouvido por um público de dirigentes de bancos centrais, agentes de política fiscal e economistas acadêmicos.
Assinalando o benefício trazido para o mercado nas passadas políticas do Fed, havia necessidade de novos estímulos, eis que o desemprego nos Estados Unidos continua acima dos oito por cento. Nesse contexto, Bernanke se referiu a estudo que concluíra ter sido o efeito combinado das três aquisições de ativos pelo Fed de aumentar em três por cento a produção e a mão de obra em dois milhões de novos postos de emprego.
Embora, dentro da linha de discrição das autoridades monetárias não haja indicado quais seriam os novos passos, nem muito menos eventuais datas, a previsão dos analistas é de que o Federal Reserve atue na próxima sessão de seu comitê de política monetária, prevista para 12 e 13 de setembro corrente.
Na estimativa do pessoal do ramo, a aludida iniciativa se realizaria através da injeção de dinheiro na economia mediante a aquisição de ativos, i.e., a compra de títulos do Tesouro americano, assim como obrigações lastreadas por títulos hipotecários. O Fed estaria, desse modo, encorajando as companhias a investirem nos próprios negócios, e a reduzirem os custos de financiamento (borrowing costs). Outros prognosticam que o banco central estadunidense anunciaria o desígnio de manter o nível de juros como próximo de zero além da atual previsão de fins de 2014.
A Administração Barack Obama semelha interessada em contar com política pró-ativa do Fed em termos de estímulo da economia. Tal se entende dada a inviabilidade por claras motivações políticas de qualquer ação pelo Legislativo – haja vista a maioria republicana na Casa de Representantes, e o consequente bloqueio de possíveis medidas com criação de emprego até os comícios de novembro.
Será no mesmo contexto que os líderes do GOP têm procurado dissuadir Bernanke e o Fed de atuar com novos estímulos na deprimida economia americana.
Sem embargo, o tom utilizado por Mitt Romney – acentuando o lamento mais do que a raiva – pode ser mais eficaz em arrancar de seu compromisso os anteriores sufragantes de Barack Obama: ‘Os americanos têm sido pacientes; os americanos têm apoiado este presidente com sua boa fé; hoje chegou a hora de virar esta página.”
Esse jeitão santimonioso do candidato republicano, quando fala de boa fé, mostra a rasgada hipocrisia do GOP, que, dentro do velho exemplo de um congresso (de maioria republicana), dos tempos de Harry Truman – que tudo fazia para bloquear a ação do Executivo democrata, exatamente como vem procedendo a Casa de Representantes dominada pelo Tea Party.
Mitt Romney e o seu aspecto camaleônico – mudou de política quanto a aborto, direitos dos gays, controle de armas e last but not least (por último mas não por menos) na lei de assistência sanitária – oferece um fácil e óbvio alvo em termos de caráter. Nas próprias primárias republicanas, haverá material bastante de seus precedentes opositores na denúncia dessas falhas.
Há outros episódios, como o do bullying, nos anos sessenta, levantado por um conceituado diário. Os dados fiscais de Romney – esse milionário mórmon com escassa sensibilidade para o cidadão comum americano – também são um prato bastante indigesto, como análises de jornalistas têm sublinhado, seja pelas quantias depositadas off-shore, seja pelo contorcionismo contábil, tendente a minimizar a paga do respectivo imposto de renda.
A propaganda negativa, contudo, é uma faca de dois gumes, como o sinaliza a observação a porta-voz de campanha do GOP, ‘o presidente Obama e a sua equipe estão recorrendo a uma campanha de destruição pessoal para evitar falar de seu malogro na economia’.
É um jogo perigoso investir em um viés negativo. Tudo se cingirá na circunstância de a maioria dos eleitores convencer-se ou não de que Obama mereça uma segunda chance. O republicano Romney tentará persuadir o eleitor de 2008 que isso não vale a pena. No entanto, há dois elementos contrários a essa tese: a experiência de Mitt na Bain Capital, com lucros de milhões de dólares, aponta para um empresário de Wall Street, para quem a criação de empregos não é importante; por outro lado, no legislativo os republicanos fazem tudo para inviabilizar por ora qualquer intervenção na economia tendente a reativá-la. Tudo isso realça a hipocrisia de Romney, ao desejar que Obama tivesse êxito.
Com a palavra, a verdade democrata, pela Convenção desta semana em Charlotte.
Não obstante, o máximo líder Ali Khamenei saíu no dia seguinte em defesa do seu principal aliado no mundo árabe, i.e., o atribulado e assediado Presidente Bashar. É enorme a relevância dessa aliança para Teerã, ao manter para a teocracia o acesso à militância do Hezbollah, no Líbano, e a do Hamas, na Palestina.
Além disso, a derrocada do regime alauíta na Síria, e a possível entrada em cena de coalizão chefiada pela seita sunita implicaria igualmente em perda relevante para o campo xiita, na política médio-oriental.
Tampouco surpreende a resposta do Ayattolah Khamenei. Para responder a Morsi, o Supremo Líder e seus subordinados levantaram o bicho-papão de Israel. ‘Esta é uma guerra por procuração contra o governo sírio, de que são vanguardeiros alguns estados liderados pelos Estados Unidos e outras potências. O seu objetivo é favorecer os interesses do regime Sionista e provocar dano à resistência na região.’
A pobreza da argumentação de Khamenei – que deve pressupor de seus ouvintes o total desconhecimento da realidade da revolução síria, e de sua sustentação por uma ampla gama de países que não tem qualquer relação com o isolado regime isralense – é complementada por uma grosseira observação de Hossein Sheikholeslam antigo embaixador iraniano junto ao governo de Bashar. Segundo o atual assessor do Líder Máximo, ‘a defesa por Mohamed Morsi da oposição síria indica que “lhe falta maturidade política”.
Entrementes, afastado de Khamenei e no período final de seu segundo ‘mandato’ como presidente, Mahmoud Ahmadinejad tem guardado até agora uma inusitada discrição. Pudera, eis que ao presidir a sessão dos não-alinhados, não lhe tocou apenas ouvir as palavras do presidente Morsi. Também a seu lado, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, denunciou as absurdas tentativas de ignorar a realidade do Holocausto, a par de ataques contra estados-membros das Nações Unidas.
( Fonte: International Herald Tribune )
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