domingo, 23 de setembro de 2012

Colcha de Retalhos CXXII


                               
Grevismo
 

      A Presidenta Dilma Rousseff parece não dar muita importância aos efeitos perniciosos do grevismo sem limite que  infesta  seu governo.
      Depois da onda de greves que tomou aparentemente carona em singular movimento, com vistas a salário e condições dignas para o magistério universitário – que, excluídos casos tópicos, mereceu o apoio da cidadania,  pelo defasamento em termos de remuneração e ordenamento de carreira – reaparecem, para desconforto do usuário-povo a hidra dos paros, com os costumeiros cartazes – estamos em greve! e a sigla da CUT.
      Ou muito me engano, mas a Central Unica dos Trabalhadores e D. Dilma ambas se inserem na esfera de poder do Presidente Lula da Silva. Feito o desconto da presente provável desatenção do Líder Máximo, pelo superior motivo de pesadas acusações de direta responsabilidade no escândalo do Mensalão, provoca ainda assim perplexidade essa descoordenação no petismo.
     Não é o momento de atenazar o cidadão com outra greve nos bancos. Ainda mais, se se descamba a cada ano para novas paralisações, de que, com inegável humor negro, se pede o apoio do público.
    Todo esse ativismo reacende a lembrança de passados exemplos de farras sindicais. Causa, de qualquer forma, espanto crescente e difusa impressão de desgoverno, que os sindicatos partam para radicalização com  negativas repercussões para o poder petista.
    Se a Dilma Rousseff parece faltar sensibilidade política – estranham as suas repetidas derrotas em um Congresso que se diz dispor de tão larga base de apoio – só se pode atribuir o recrudescimento do surto grevista ao malogro do primeiro presidente operário brasileiro na sua malparada tentativa de controle do julgamento pelo Supremo do mensalão. Dizer para a imprensa que ‘tem o mais o que fazer’ é uma frase oca, pois a campanha petista faz água nos principais centros, inclusive com o horizonte sombrio de eventual não participação no segundo turno em centros antes dominados pelo lulo-petismo.
 

Moralização dos processos de cassação          

 
     A cidadania não deve permitir que o Presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), mande para as calendas gregas a votação pelos deputados da emenda que torna ostensiva a posição de cada parlamentar sobre a cassação ou não de seus colegas.
     Sua Excelência pensará que o corporativismo poderá ser-lhe um bom cabo eleitoral para a sua eventual reeleição.
    Passado o recesso branco das eleições municipais, urge um movimento popular para confrontar o petista Maia com o despautério de querer ignorar a decisão do Senado, e empurrar garganta abaixo da cidadania a cômoda e autoritária negativa dessa relevante reivindicação ética dos eleitores. De uns tempos para cá, a Câmara dos Deputados tem cinicamente negado a cassação de coleguinhas em casos de agressiva e gritante falta de decoro.
     Com a sua má-vontade, Marco Maia, na prática, mantém essa prática imoral para todo o Congresso, eis que a manifestação da Câmara Alta carece de ser referendada pela da Câmara Baixa.
     Assim, nas cassações, o voto aberto precisa ser instituído. Suas Excelências não carecem de esconder-se atrás do biombo do sigilo. Quem não deve, não teme. E se não estiverem de acordo com a cassação do deputado, terão todo o direito de expressá-lo. Só que às claras.

 
Campanha Presidencial Americana  

 
     Há uma atmosfera de pessimismo na campanha de Mitt Romney. Tal fenômeno, que atinge a direção e a militância do GOP, o candidato republicano não tem outro alvo senão a si próprio para inculpar.
    Com o vazamento de uma reunião reservada – que Romney pensara circunscrita a um grupelho de milionários simpatizantes – a falta de sensibilidade de suas opiniões tanto em política interna (os 47% de vítimas que votarão sempre no Presidente), quanto externa (os palestinos não estão interessados na paz) não causa em verdade assombro, por ser coerente com a habitual postura do ex-governador de Massachusetts, que é um comprovado gaffeur.
    Desta feita, na expressão americana, ele realmente pôs o pé na boca, pelo conteúdo deletério e, porque não dizer tolo, de seus destrambelhados comentários.
    Por isso, o Grand Old Party tem razão em perguntar-se se ainda há possibilidade de uma virada. Se tiverem presente a velha expressão de Buffon[1]o estilo é o próprio homem -, caberá  inegável pessimismo. Sem embargo, a calinada foi vazada em  prazo que admite uma recuperação. Faltam quarenta e três dias para os comícios de novembro, e cerca de duas semanas para o primeiro debate. Esse costume americano, relançado pela tevê em 1960 no embate John F. Kennedy x Richard M. Nixon, apesar da habitual considerável expectativa, não é havido, em geral, como determinante para o triunfo em novembro. Há, no entanto, discordâncias, como no do desafiante Bill Clinton contra George Bush sênior. Teria sido ruinosa para o então presidente a olhada no relógio, o que mostrava impaciência com o processo e um consequente pouco respeito pelo juízo do eleitorado americano.
     Sem dúvida, é cedo para apontar o vencedor. De qualquer modo, a campanha de Obama atravessa momento assaz favorável, com vantagem de três pontos no cômputo geral, e em posições bastante promissoras nos chamados estados swing – os que engrossam o total para alcançar os decisivos 270 votos eleitorais.
    Resta cruzar os dedos, esperar que os índices da economia não caiam ainda mais, e que o 44º Presidente não tenha nenhum tropeço na reta final.

 

(Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo, International Herald Tribune)

 



[1] Georges-Louis Leclerc de Buffon, naturalista e escritor francês, (1707-1788).

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