No seu décimo-oitavo dia, a ofensiva do exército e da aviação israelense contra Gaza ainda não alcançou o objetivo que se prefixara ao iniciar as operações de guerra: a destruição da capacidade do Hamas de lançar foguetes ‘artesanais’ contra cidades e povoações israelenses a cerca de 30-40 km da fronteira.
Somente o desespero pode explicar este recurso do Hamas em alvejar o poderoso vizinho com seus foguetes de curto raio da ação. O Hamas governa em Gaza, após conseguir afastar o Al-Fatah. Movimento integrista, com vínculos assistencialistas muito estreitos com a população local, o Hamas é radical, adota táticas éticamente contestáveis (a exemplo do Hezbollah do Líbano) com a sua instrumentalização da população civil. Apesar de extremista, o Hamas não é insano. O seu recurso à guerrilha dos foguetes só é explicável porque a atual liderança israelense, após a derrocada dos Acordos de Oslo, adota uma estratégia de sufocar a população palestina, através do incessante aumento da colonização nos territórios da Cisjordânia, da construção do muro de contenção (que invade ilegalmente os territórios palestinos) e de uma rede viária que privilegia os núcleos de neo-colonização.
A despeito das declarações em contrário, a partir do fracasso do plano Clinton, em que Arafat terá perdido oportunidade histórica, ao recusar a proposta de paz (por não incluir o direito de retorno dos refugiados de 1948), a causa da paz na Palestina foi a principal vítima com a ascensão de Sharon – visita provocatória à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, que desencadeou a segunda Intifada – e a assunção do governo de Bush-Cheney (que acentuou o desequilíbrio no Oriente Próximo, com seu apoio aos governos direitistas israelenses, em detrimento de Arafat, virtual prisioneiro em Ramallah).
A situação no Oriente Próximo agravou-se nos últimos anos em que a política dos dirigentes israelenses se orientou para a ‘bantustanização’ dos territórios palestinos e da sua conseqüente inviabilização como Estado independente. Se alguém se propusesse criar um sistema que impossibilitasse a convivência pacífica entre dois povos, não poderia colimar nada mais apropriado do que a série de medidas implantadas (núcleos de colonização israelense, rede viária de sustentação, cerca de concreto, barreiras de circulação, etc.) para tornar realidade esta anti-política.
Daí o desespero do Hamas e da população de Gaza, cercada esta por uma série de embargos punitivos, devidos à circunstância de ter preferido o movimento integrista ao invés do moderado Fatah, de Abbas.
A história das relações entre Israel de um lado, e o movimento palestino de outro, mostra – como assinala Robert Fisk – que o recurso à guerra e sobretudo às invasões do Líbano (e agora de Gaza e da Cisjordânia) não proporciona os resultados perseguidos por Israel. Não obstante o seu poderio desproporcional com respeito aos palestinos, a dinâmica demográfica e as limitações a que mesmo Tel Aviv tem de sujeitar-se demonstra de forma consistente o truismo de que, entre as serventias do fuzil, não está a de oferecer assento a quem o utiliza.
Dessa maneira, a atual campanha militar – alavancada pelas próximas eleições israelenses, pela ambição dos herdeiros de Sharon de vencer nas urnas a ultradireita de Netaniahu e possibilitada pelo apoio dos Estados Unidos, nos estertores da Administração de Bush júnior – se já se aproxima das suas mil baixas na população de Gaza, ainda não logrou extinguir o lançamento dos ditos foguetes artesanais contra o território israelense. Mesmo admitido que logre interromper essa resposta da guerrilha palestina contra Israel, se não houver uma solução política séria para a questão palestina – assegurado o respeito às fronteiras através de observadores imparciais – pode-se prognosticar, sem medo de erro, que o atual cenário naquela zona conflagrada continuará a prevalecer. De um lado intolerância e desrespeito aos direitos básicos das populações civis; de outro, crescimento de movimentos do estampo de Hezbollah e Hamas, i.e., do integrismo fundamentalista e radical.
Entretanto, nunca é tarde demais, para que a paz prevaleça. Para isso, é indispensável a vontade política. O calendário oferece para tanto uma grande oportunidade.
Com a palavra o futuro Presidente Barack Obama.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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