Depois de longa pausa, retorno à campanha presidencial nos Estados Unidos (a última postagem sobre o tema havia sido em Dos Jornais XIV, a catorze de setembro p.p.). Em resultado sobretudo do agravamento da crise economico-financeira, aparentemente a posição de John McCain se enfraqueceu. À primeira vista, semelha um desenvolvimento natural, porque, por mais malabarismos que faça, McCain continuará a ser o candidato republicano à sucessão de George W. Bush, e por conseguinte resultará difícil, quase impossível mesmo, que se dissocie por inteiro da desastrosa administração de Bush júnior. É igualmente compreensível que grande parte do eleitorado prefira a economia doravante sob a gestão de um democrata, diante dos resultados do laissez faire do partido republicano, com o enfraquecimento das agências reguladoras e a ‘farra’ dos grandes executivos bancários, com polpudas remunerações e uma direção de negócios que se poderia qualificar de temerária, como se verificou na crise das hipotecas subprime (que, como se sabe, deu início à crise nos Estados Unidos e, por obra e graça da chamada globalização, se estendeu às demais bolsas mundiais).
De acordo com as últimas pesquisas – e havendo terminado o ciclo dos três debates presidenciais – o candidato Barack Obama teria uma liderança de cerca de oito pontos sobre o adversário John McCain. O próprio Obama teria recomendado a seus partidários que evitem a excessiva confiança no triunfo nas eleições de quatro de novembro. Nesse sentido, Obama encareceu a seus votantes que não sejam ‘cocky’, isto é, convencidos. Compreende-se o acerto de tal advertência, porque nada existe de mais danoso para uma empresa do que a mentalidade do ‘já ganhou’. Nós brasileiros podemos opinar a respeito.
Por outro lado, a imprensa tem assinalado o comportamento errático do candidato John McCain, mudando de tática com grande desenvoltura, muito provavelmente porque as pesquisas de opinião continuam a indicar a vantagem de Obama. A par disso, todos os três debates, segundo o parecer de pesquisas, foram vencidos pelo democrata, embora em nenhum deles tenha havido uma vitória indiscutível ou decisiva. Em outras palavras, se McCain ficou inferiorizado, nunca o foi de forma desmoralizante ou determinante. Não houve, portanto, nos debates nenhum ‘knock-out’ sofrido pelo republicano.
Diante de tudo o que precede, o leitor há de esperar que me pronuncie por uma vitória quase inevitável do candidato democrata sobre o republicano. Se a eleição de Barack Obama vem sendo ‘anunciada’ por todas as pesquisas, existem contudo alguns fatores que permanecem válidos, e que carecem portanto de serem considerados.
O deputado democrata John Murta, um veterano e respeitado congressista, veio recentemente a público assinalar que parte substancial de seu distrito eleitoral (no estado da Pennsilvania) se caracteriza por uma 'postura racista'. As declarações de Murta provocaram grande celeuma, sendo negadas por muitos eleitores daquele estado. O próprio congressista achou oportuno revê-las, atendida a iminência das eleições (como se sabe, os deputados nos Estados Unidos tem um mandato de dois anos e, por conseguinte, se devem submeter a cada eleição ao juízo de seus concidadãos). Não obstante, a circunstância de que tenha refraseado os seus comentários sobre a influência do racismo, a luz vermelha acerca de seu efeito foi acesa.
Em alguns comícios de John McCain, alguns eleitores republicanos explicitaram a sua ‘raiva’ contra o candidato democrata, que consideram um ‘árabe’, alguém que não merece postular a Casa Branca. A atitude de McCain foi nobre, ao discordar de modo inequívoco de tais posturas, porém causa espécie que tais assertivas do Senador pelo Novo México hajam merecido apupos e não aplausos. Todos nós sabemos o que pode significar esta ‘raiva’ preconceituosa da direita contra um candidato democrata qualquer que ele seja.
Por outro lado, a direita e os republicanos colocaram em pauta em grande número de estados, diversas consultas plebiscitárias, com ênfase sobretudo em tópicos como a admissibilidade da chamada Ação Afirmativa (quotas para os afro-americanos). De acordo com especialistas, a finalidade precípua de tais consultas é de fazer com que muitos eleitores reorientem o seu voto, tanto em contrário às quotas, quanto a candidatos como Obama que com elas estejam naturalmente identificados.
Dentre as ameaças para o êxito da candidatura democrata a principal será aquela consubstanciada no ‘fator Bradley’ a que já me referi (V. blog de 14 de setembro último). Determinados eleitores são seletivos nas suas informações às pesquisas eleitorais e tal se refere não só à presente fase de aferições pré-eleitorais, mas também àquelas de boca-de-urna. Eles deixam para o segredo da urna a verdade do respectivo sufrágio. Sabedores, no entanto, da causa racista de sua opção de não votar no candidato democrata, eles preferem mascará-la, seja atribuindo outros motivos à sua escolha republicana, ou a mentira nua e crua, declarando um voto pró-democrata que em realidade não existiu. No passado, muitos candidatos negros democratas viram vantagens sobre o adversário de até dois digitos ‘desaparecerem’ no trajeto das pesquisas de boca-de-urna para o veredito das urnas. Se esse dito fator Bradley equivaleria em certos cômputos a sete pontos nas pesquisas, parece evidente que será muito difícil atribuir uma mensuração exata a um elemento tão subreptício.
Conquanto desejasse pronunciar-me por uma vitória provável de Barack Obama nos comícios de quatro de novembro, infelizmente me vejo forçado, pelas considerações acima, a designá-la como possível.
sábado, 18 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário