Em sua primeira entrevista, Eduardo Paes, computados os resultados, “dedicou a vitória ao governador e ao presidente Lula”. Permita-me, senhor prefeito-eleito, uma pequena correção. Se procede o agradecimento ao governador Sérgio Cabral, o grande artífice de um árduo triunfo, seria melhor que omitisse a menção ao Presidente da República, que, na verdade a par de prestar-se a um embaraçoso vídeo e constrangedora foto, nada fez por sua candidatura. Bem agiu, ao invés a Primeira Dama, ao recusar o perdão de um pedido, feito à undécima hora.
Estou de acordo, contudo, com o senhor quando dedica a ‘vitória’ ao Governador Cabral. Pois ele, além de descobri-lo como candidato, tudo fez para criar condições que ensejassem o abraço perante as câmeras, documentado pelos jornais.
Convenhamos, sr. Paes, foi uma difícil caminhada, e a magreza extrema da vantagem obtida pode ser entendida como sinalizadora do caráter decisivo das ‘ajudas’ que o hábil Cabral soube produzir de sua mágica cartola.
Com efeito, o pupilo de Cabral venceu com diferença de 55 mil votos (1,66% de vantagem) sobre o contendor Fernando Gabeira, em um eleitorado de 4,5 milhões de eleitores. Foi desde o fim da ditadura militar a eleição mais apertada no Estado do Rio de Janeiro. Assinale-se que Gabeira venceu na Zona Sul (70,88%), na Zona Norte (61,61%) e no Centro (56,50%), e Paes venceu na Zona Oeste (57,26%) e no Subúrbio (54,84%). Os totais gerais foram de Paes 50,83% e Gabeira 49,17%.
Falta, entretanto, um dado, cuja importância avulta diante da tão reduzida vantagem obtida pelo candidato oficial. Reporto-me à abstenção que foi de 20,24% no segundo turno, contra os 17,91% do primeiro turno. A que se deveria atribuir tal inchação do absenteísmo, em um país de voto obrigatório, senão ao prestimoso auxílio do governador Cabral, que antecipou o ponto facultativo do feriado do servidor público? E a sua iniciativa foi coroada de êxito, provocando, de resto, abstenções maiores na Zona Sul (25%) e menores, veja só, na Zona Oeste, com 17%. Parece que o diligente governador Cabral tem a suspeita de não ser excessivamente amado pelo funcionalismo público estadual, e, por isso, terá gentilmente afastado eleitores que presumia fossem sufragar o candidato opositor.
Se a campanha de Fernando Gabeira inovou, privilegiando o eleitor, trazendo mensagem ética de mudança e de seriedade, o governador Cabral e o seu pupilo preferiram o calejado modelo de uma grande frente do atraso, imantada apenas pela sede de poder, não obstante a pletora de suas contradições.
Não nos fortalece a confiança no futuro saber que a grande frente do atraso saiu uma vez mais vitoriosa. Parabéns ao deputado Picciani, coordenador nos últimos dias da campanha, ao vereador Elton Babu, eleito pelo PT e acusado de envolvimento com milícias, ao também vereador-eleito (pelo PSDC) Claudinho da Academia, com reduto na favela da Rocinha, a Jandira Feghali, a derrotada candidata pelo PCdoB, Marcello Crivella (apesar de ser o “candidato do coração do Presidente Lula”) com o seu cimento social, e a muitos outros, na grande coligação encabeçada pelo PMDB, essa grande frente eleitoreira que se considera partido, e o PT,PP, PR, PTB e outros mais que como dizia o finado Ibrahim Sued ficam na geladeira.
Não poderia terminar estas observações a respeito da campanha que poderia fazer história e infelizmente não o fez – considerar a campanha de Gabeira como ungida por uma vitória política pode ser até verdade, mas, para mim, soa como prêmo de consolação – desejaria reservar uma palavra final para o T.R.E. Se bem agiu na organização e na rápida e eficiente computação dos votos, o T.R.E. não pôde lidar satisfatoriamente com o sistemático uso pela campanha de E. Paes de recursos contestáveis e mesmo ilegais na propaganda eleitoral. Nas palavras de Danuza Leão, “a avidez de Eduardo Paes me lembra Cesar Maia”, e a utilização por seus cabos eleitorais e partidos aliados de panfletos apócrifos contra o candidato Gabeira, o emprego dos telões do Maracanã e a propaganda explícita no dia da eleição em templos religiosos configuram tanto crimes eleitorais quanto emprego indevido da máquina estatal. Como se tudo isso não bastasse, cabe a pergunta por que o T.R.E. nada fez para desmontar ou desmascarar a atrevida manobra de decretar a antecipação de um feriado, com claros mas inconfessáveis objetivos, que desmerece de uma data de eleição, conquistada no passado pela luta e o sacrifício de muitos.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
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