terça-feira, 29 de julho de 2008

DOS JORNAIS

DOS JORNAIS

O GLOBO (29.07.08) pag. 12

MEC: em 2013, nova ortografia será obrigatória. Minuta de decreto preparada pelo Ministério da Educação, a ser analisada pelos Ministério da Cultura e das Relações Exteriores, antes de seguir para a Casa Civil, estipula que as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa serão obrigatórias no Brasil, em caráter definitivo, a partir de primeiro de janeiro de 2013. Haverá um período de transição: de 2009 a 2012 valerão tanto as normas atuais quanto as novas. O Governo não descarta a possibilidade de fazer consulta pública antes de o Presidente Lula assinar o decreto. Segundo declarou o Ministro Fernando Haddad, da Educação “Temos de ver se afeta o cronograma de alguma entidade. O objetivo é fazer uma transição bem tranqüila.”

Comentário do cidadão. Sempre me perguntei porque o Governo (e a Academia Brasileira de Letras ) gostam tanto de reformas ortográficas. Pretendo debruçar no futuro sobre esse momentoso assunto, mas por minhas modestas contas este é o terceiro acordo ortográfico a ser implementado no Brasil no espaço de uma geração. Mais uma vez, portanto, se confirma aquele antigo dito de que a Europa se curva ante o Brasil. Porque muitos países europeus, decerto não assinalados pela cultura, como Reino Unido, França, Alemanha e Italia, desconhecem totalmente essa prática ! Imaginem as pobres crianças francesas, inglesas, etc. constrangidas a grafarem sempre o mesmo idioma ! Deve ser qualquer coisa a ver com atraso ou subdesenvolvimento cultural ! Felizmente os nossos acadêmicos (e os editores brasileiros e portugueses) pensam grande, com a colaboração de outros públicos, como os de Cabo Verde, Timor Leste, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, ao tratarem tempestivamente dessa relevante questão. Uma derradeira dúvida: o Ministro Haddad se manifestou por uma transição tranqüila. Se me permite uma sugestão gráfica, seria preferível uma transição tranquila (eis que o trema está sendo banido).

O GLOBO (idem, pág. 30)

ENGESSADO PELO CAOS FINANCEIRO, VASCO MANTÉM LOPES NO COMANDO – Presidente exime técnico de ser o único culpado pela situação do time.

Comentário vascaíno. Será que dá para compreender a relutância do Sr. Roberto Dinamite em despedir o técnico Antonio Lopes que fora beneficiado pela administração de Eurico Miranda com o pagamento de todos os seus salários, mesmo no caso de ser exonerado, até o final do corrente ano ? São só quatrocentos mil reais... Um dos principais fatores da eleição do líder da oposição fora a situação calamitosa do clube, transformado em pequeno por Eurico Miranda. No passado, quando convidado a retirar-se da tribuna de honra de São Januário, Dinamite ficou com os olhos marejados de lágrimas. Infelizmente, caro Presidente, o senhor foi eleito para encontrar soluções e esta de manter Lopes não parece das mais adequadas. Tem de esquecer que, não sendo mais oposição, e sim direção, tem que mostrar resolução, coragem e inventiva para iniciar a recuperação desta grande equipe do passado. Não adianta torcer as mãos e deixar tudo como está. Podem pensar que o senhor é incompetente. Qual a alternativa ? Permitir que a equipe continue descendo na tabela até o objetivo da entrada na Segundona ?

FOLHA DE S. PAULO (29.07.08) pág. A2

EDITORIAL - A Cartada do Brasil

Itamaraty acerta ao distanciar-se de parceiros tradicionais na tentativa de salvar a liberalização do comércio agrícola. (...) Ao distanciar-se momentaneamente de Índia, China e Argentina, o Itamaraty entendeu, a tempo de tentar salvar Doha, que o jogo de negociações comerciais não pode ser travado com base na rigidez de esquemas político geopolíticos ultrapassados.Quando estão em conflito vários interesses econômicos distintos, o que importa para as alianças é o raciocinio tático, que nem sempre antepõe ricos e pobres.

Comentário do cidadão. As observações sobre negociações diplomáticas são sempre dificeis, por não disporem os não-participantes dos elementos do conhecimento de nossos representantes. Nesta decisão de apoiar a proposta da OMC, o Brasil se dissociou de aliados importantes no chamado G-20 como a Índia e a Argentina. Como potência agrícola, ter-se-á acreditado que os bons ofícios de Lamy (diretor-geral da OMC) são favoráveis aos nossos interesses. Nesse capítulo da Rodada de Doha duas coisas me preocupam: o etanol brasileiro terá melhores condições de entrar na União Européia e nos Estados Unidos ? Ou será que Washington o classificará como ‘produto sensível’ para inviabilizar-lhe a importação ?
A segunda coisa que me inquieta nessa questão não são tanto aqueles que criticam a troca de alianças pela delegação brasileira em Genebra, mas sim as inúmeras vozes que de repente passaram a entoar loas à posição governamental... Nesse contexto, terá alguma importância ter presente o preceito de Mao, de que na avaliação de uma proposta é necessário determinar a identidade de seu autor. Esse cuidado, no entender do líder comunista, deveria anteceder até mesmo a análise do conteúdo da dita proposta...

Um comentário:

Mauro disse...

Por trás da proposta de revisão ortográfica está em grande parte a tentativa de fortalecer a CPLP e projetar o Brasil nesta plataforma. É um erro do ponto de vista das prioridades brasileiras e dos outros países da CPLP e em grande medida mostra a hipocrisia de seus formuladores. Como as populações dos países envolvidos (fora Portugal) são praticamente analfabetas, a reforma é apenas um oneroso instrumento de aproximação entre elites. Pode-se perguntar o quanto isto custa para países como Guiné Bissau, Angola e Moçambique, e se o mesmo gasto revertido na educação não traria retornos mais prioritários. Do lado do Brasil, um povo mais instruído aqui e nos outros países de língua portuguesa aumentaria muito mais o peso da CPLP no plano internacional do que mais uma reforma artificial.