O governo Bolsonaro trouxe o impeachment de volta para a comunidade política nacional, na medida em que a sua política torna esse recurso extremo uma eventual necessidade.
Está instalada no Senado Federal, a CPI da Covid. Como se verifica por entrevista à Folha, a relatoria da CPI é a vida política que restaria ao Senador Renan Calheiros, escolhido que foi para relator dessa Comissão, eis que decidira aceitar esse cargo chave para encaminhar o tratamento da atual crise na política brasileira.
Em entrevista à Folha, Renan admite o "erro" que cometeu, haver distribuído sua declaração de Imposto de Renda à imprensa na época em que considera a pior crise política que já viveu, em 2007 (nesse ano, foi acusado de receber dinheiro de um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão da filha que tivera com a jornalista Mônica Veloso).
Como consta da página da Folha de hoje : "Foi um grande erro. Entreguei o IR e pedi ao Ministério Público para ser investigado, e fiquei oito anos sob investigação". Com o decorrente desgaste, Renan acabou renunciando à presidência do Senado. Embora tenha sofrido reveses sérios, ele se mantém na crista da onda, permanecendo como protagonista no Senado em várias oportunidades. A sua capacidade de articulação e retórica o terão levado à relatoria dessa importante CPI, o que sinaliza, segundo observadores da política, uma ameaça importante à estabilidade do governo de Jair Bolsonaro.
Segundo assinala a página da Folha, Renan tem uma longa travessia política e não é difícil de supor que a conclusão da investigação será uma "peça política pesada, com uma enxurrada de sugestões de responsabilizações do governo e, muito provavelmente, do próprio presidente. ´É uma investigação fácil de fazer, tem muita coisa aí, só fazer uma linha no tempo", afirma Renan. "
Com efeito, nesse sentido o próprio governo Bolsonaro facilita tal interpretação, como se verifica na performance do corrente Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pela leitura bolsonarista desse ministro, o quarto desta pasta no atual governo ( v.g., Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, e o general de intendência, Pazuelo). Sendo ministro de um presidente que acredita nos poderes farmacêuticos da hidroxicloroquina e congêneres, se torna compreensível - mas intelectualmente difícil de engolir - a performance do presente ministro, quando perguntado sobre se acredita nos poderes dos "medicamentos" que Bolsonaro recomenda, como as tortuosas respostas de Queiroga sinalizam. Há decerto limites éticos que não devem ser desrespeitados, dada a circunstância de que o atual não é um simples político, mas um médico formado, e é nessa condição de larga prática, com que entrou no gabinete ministerial, como, de resto, os seus antecessores na Pasta, com exceção de Pazuelo.
Sem maior pejo, Bolsonaro ataca a CPI e mente de novo (segundo a Folha) sobre cloroquina. Chegou mesmo a declarar mentira sobre a hidroxicloroquina, que é medicamento ineficaz contra a Covid, Nesse sentido, vai divulgar vídeo em que seus ministros irão propagandear a substância com a afirmação: "Eu tomei".
Vamos ver a eventual performance dos ditos ministros e quais sejam eles que nesse espetáculo tão particular estarão dispostos a descer tão baixo para conformar-se às estranhas medidas do seu respectivo chefe. Nos atuais tempos, não será mostra a ser desdenhada, dadas as óbvias implicações de humano rebaixamento envolvidas. É dose pra Leão, para a adequarmos a uma eventual sinalização de comportamento de época...
( Fonte: Folha de S. Paulo )
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