quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CIDADE NUA (II)

Doris (4)

Gostava de servir o café da manhã pra seu Almir. Ao contrário da cara fechada da outra, ele sempre dava bom dia pra ela. Quando a patroa não estava, parecia ainda mais simpático, muita vez ensaiando um sorriso.
“ Como é que você vai, Doris ?”
“ Vamo indo, seu doutor...”
Um dia mais para o fim da segunda semana, lá estava ele de novo sozinho... Então, resolveu arriscar.
“ Será que o senhor me dava uma mãozinha ?”
“ Como assim, Doris ?”
“ Já tá chegando o segundo domingo, e dona Sonia não diz nada da minha folga, do salário... Nem uniforme eu tenho, tou com a mesma roupa desque cheguei...”
À medida que escutava as queixas da empregada, o risinho foi desaparecendo. Por um momento, ficou quieto, a testa franzida.
“ A patroa é a minha mulher... Para tratar disso tudo, será melhor falar com ela.”
A princípio, a menina o encarou. Tinha as vistas marejadas de lágrimas.
“ Se ela nunca me responde, com’é que vou falar com ela ?”
Fungando, deu meia volta e saíu apressada da copa.
Surpreso com a reação, Almir hesita. A situação e sobretudo a atitude da moça mexiam com ele. Por isso, num relance, a alcança na área.
Doris chorava. Enternecido, quase sem dar-se conta, lhe envolve os ombros com o braço, e a retém. Na agradável estreiteza do contato, sente retesados os músculos.
Aos poucos, o pranto vai cessando. Sem resistir ao abraço, olhos úmidos o procuram, agradecidos.
Por um tempo, ele ainda a prende. Turbado, não atina de imediato com o motivo.
“Deixa comigo, Doris. Vou me ocupar do teu caso.”
*

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