domingo, 31 de julho de 2016

Antes Tarde do que Nunca

                         

1.     Talvez seja a herança portuguesa, com certeza. Mas a coluna de Elio Gaspari revela mais particulares da desastrosa gestão do Ministro Ricardo Lewandowski, com a inclinação de proteção à burocracia judiciária. 
          Depois de maltratar o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de vários modos - notadamente obstaculizando a ação para a qual o Conselho foi criado pelo Ministro Nelson Jobim - "Lewandowski podou a Resolução 226 do CNJ e livrou todos os magistrados de contar quanto recebem por suas palestras fora dos tribunais (um ministro do TST faturou R$ 161 mil com 12 palestras). A exigência foi suprimida a pedido de Lewandowski, que julgou necessário "resguardar a privacidade e a própria segurança" dos juízes, " porque hoje, quando nós divulgamos valores econômicos, estamos sujeitos, num país em crise, num país onde infelizmente nossa segurança pública ainda não atingiu os níveis desejados..."
          "Há poucos dias, Daniel Chada, engº  chefe do projeto "Supremo em Números", da FGV Direito Rio, e o professor Ivo Hartmann, coordenador da iniciativa, puseram na rede  artigo com título provocador: "A distribuição dos processos  no Supremo é realmente aleatória?" Numa resposta rápida, é. Cada ministro do STF recebe cerca de quinhentos processos. Em tese, ninguém pode prever  qual processo vai  para qual ministro.  Com base na Lei de Acesso à Informação, um contribuinte pediu ao Supremo o código-fonte do programa de computador que faz a distribuição aleatória. Foi informado de que não seria atendido, tendo em vista a "ausência de previsão normativa para tal". A Lei diz que não pode haver sigilo  para informação necessária "à tutela  judicial ou administrativa de direitos fundamentais". Um programa bichado pode ser violado. A divulgação de um código-fonte não o torna vulnerável. Pelo contrário, permite a percepção de brechas. O código-fonte do Bitcoin, bem como aquele usado  pelo banco Itaú para dar números aos clientes, são públicos. Nunca apareceu maledicência que justificasse  uma suspeita de vício na distribuição dos processos no STF. Ao proteger um sigilo que pode até mesmo encobrir serviço malfeito, a burocracia de Lewandowski   atravessou a rua  para escorregar na casca de banana que estava na outra calçada. (meus os grifos)
2.           PT já não acredita na volta de Dilma.  Esta é a manchete do Globo de hoje, domingo, 31 de julho.
                   Embora evitem admiti-lo em público, a cúpula do Partido dos Trabalhadores está mais preocupada em superar o desgaste  causado pela Operação Lava-Jato, a fim de que o Partido sobreviva politicamente até as eleições de 2018. Assim quanto ao Julgamento pelo Senado Federal não há mobilização para a tentativa de virar  votos no Senado.
                       O próprio Lula da Silva, em discurso recente criticou Dilma por ter feito desonerações que favoreceram empresários, enquanto promovia um ajuste fiscal que puniu os menos favorecidos.
                        Por sua vez, a Presidente afastada diz que cabe ao PT e não a ela, explicar as denúncias de Caixa Dois em sua campanha.
Lula busca reconstruir sua imagem: o Ex-Presidente tem viajado pelo país, notadamente o Nordeste, tentando recuperar a popularidade perdida.  Nos locais, não mais encontra o afluxo de público que por ele esperava em qualquer de suas viagems àquelas localidades em que grande, enorme mesmo, era a sua popularidade.  Agora, o esperam espaços vazios, e um público ralo, as mais das vezes falto do antigo ativismo e entusiasmo. 
Perseguem a Lula de novo problemas na garganta, que decorrem de seu excessivo discursar. Mas o fundador do PT não parece desanimar, mesmo diante de baixos índices de popularidade...


(Fontes:  O  Globo, Elio Gaspari (O STF quer transparência para os outros

O pessimismo americano

                               
       Frank Bruni dedica o seu comentário de hoje no New York Times ao tema do pessimismo nos Estados Unidos.
       Segundo ele, a última vez que a reação do povo americano foi positiva ocorreu logo após a reeleição de Barack Obama contra Mitt Romney.
       Subentendido, o prevalente pessimismo explicaria a aparição e o apoio recebido pelo candidato Donald Trump.
       Corresponderão as cores pesadas com que o agora candidato do GOP visualiza  os Estados Unidos da atualidade ao sentimento prevalente no eleitorado ?
        Por enquanto, tudo parece indicar que sim, por mais grosseiras e até absurdas as colocações do suposto candidato do verão que atropelou o bando de pré-candidatos republicanos, decerto ambiciosos, mas que não lograram dissociar-se do pálio de mediocridade com que o forasteiro Trump soube envolvê-los.
        Posta a premissa pelo articulista, ele se pergunta se Hillary Clinton projetará a própria imagem e não a do continuismo.
        Quero crer que o eleitor americano saberá distinguir entre Hillary e Trump, enquanto expressões de realidades diversas. As bases de um e de outro diferem como a água do vinho, e não se pode presumir que o eleitorado seja tão limitado a conformar-se com os lugares comuns e as visões negativas com que joga Trump.
         Além disso, é muito grande a diferença entre a mensagem e  visão dos dois candidatos. Não foi à toa que o Presidente Barack Obama saudou Hillary Clinton como a candidata mais preparada e com invejável curriculum vitae, nisto incluída a stamina e a visão nascidas de muitos obstáculos vencidos e de um invejável cursus honorum - que o digam os cães que latem ao passar de sua caravana.
          Só não têm inimigos aqueles que pouco ou nada representam. Além de ter o contexto político, o conhecimento que vem tanto da academia e dos livros, quanto da universidade das ruas e praças, permeia a Hillary uma realidade que lhe foi jogada ou concedida, de acordo com os caprichos da deusa Fortuna que - é sempre  bom lembrar -  podem ser cruéis, enganosos ou benfazejos.
          Como nos ensina o hoje esquecido A. Toynbee as provações tanto das culturas quanto civilizações podem ou não ser determinantes para a respectiva grandeza ou ruína de suas respostas, que, em essência, têm a última palavra.
          Assim, não há ventríloquos na política e no embate das nações. Haverá, por isso, muita oportunidade para que se faça a triagem entre os dois candidatos, e segundo a época e seus desafios, vencerá quem melhor estiver preparado para mostrar ao respectivo Povo o caminho e as escolhas mais adequadas.


( Fontes: A. Toynbee, The New York Times ) 

sábado, 30 de julho de 2016

Colcha de Retalhos D 32

                           

Exonerado  Chefe do Cerimonial
          
          Foi demitido ontem o Embaixador Fernando Igreja.   O Presidente interino Michel Temer tomou tal decisão, por haver chegado a seu conhecimento que o citado Embaixador Igreja  - que nunca terá escondido a sua ligação com o PT e a Presidenta - abertamente  difamava as Olimpíadas do Rio de Janeiro para a imprensa nacional e internacional.
           Segundo se agrega, como petista nutre ele  grande admiração pela Presidente Dilma Rousseff.
            É compreensível a irritação do Presidente Michel Temer, eis que o Senhor Igreja em seus contatos com a imprensa nacional e internacional externava a sua peculiar visão sobre o grande evento internacional, alegadamente falando mal das Olimpíadas e da participação do Governo Temer nesse grande evento internacional.  
             Pelo visto, esse remanescente do Governo Dilma Rousseff desconhece que o chefe do protocolo não trata de política, assim como diplomatas de carreira não falam mal de eventos realizados pelo governo que ele de alguma forma representa. Pelo menos esta é a prática diplomática respeitada por qualquer governo do mundo civilizado.


Linha Quatro do Metrô  

              O Governador Pezão reapareceu em foto tirada ao ensejo da inauguração da Linha 4 do Metrô, que vai ser aberta para os atletas e público especial da Olimpíada, mas ainda não para o Povão.
              Por muito tempo, o governador titular do Rio de Janeiro esteve ausente das atividades. Se a sua reaparição reflete, como se presume, que esteja em condições de reassumir as respectivas funções, os nossos melhores votos.

  
Lula, réu na Lava-Jato       

           Luiz Inacio Lula da Silva não se rende facilmente, como os observadores da cena brasileira já terão percebido.  A despeito das notícias que continuam a sair a seu respeito, ele continua a apresentar-se como vítima de uma perseguição incansável. A sua peculiar interpretação da Operação Lava-Jato chegou ao ponto de sua estapafúrdia denúncia do Juiz Sérgio Moro  às Nações Unidas.
           Lula da Silva querer apresentar o juiz Moro com o seu ingente trabalho como um perseguidor implacável nada tem a ver com a realidade. O escopo de Lula é vestir-se de mártir, e apresentar-se como vítima de uma perseguição política.
           Ao tentar politizar o assunto, ele agride a inteligência do Povo brasileiro que já celebrou em grande e multitudinária manifestação o seu apreço pelo trabalho do Juiz Moro.
            Ao invés de tentar passar para o público fantasias sobre a sua situação, omitindo qualquer explicação sobre as reais causas por que a Justiça lhe venha dando crescente atenção, seria oportuno que Lula da Silva reconhecesse os próprios erros. Ou pelo menos se calasse.
            O jornal O Globo, em foto  publicada de aparição sua em São Paulo, mostra-lhe a condição física, e o quanto essa pertinaz anti-campanha de Lula lhe vem minando a aparência e as cordas vocais. Se já a voz não esconde a sua situação, também o próprio desproporcional envelhecimento está estampado na página do jornalão O Globo.
             E, no entanto, ele continua a dar ouvidos moucos para as acusações que lhe são movidas.


( Fontes:  O Globo; Globo digital )

Hillary, a candidata democrata

                              

      
      Terminada a Convenção de Filadelfia, que começara um tanto mal, sob a tentativa de Putin de jogá-la em águas turvas, com a incriminação das instâncias do Partido Democrata, como suspeitas de favorecimento de Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders, a reação posterior, veio a pôr a questão em  prisma menos deformado.
      O próprio Senador Sanders discursou para a Convenção e apoiou, sem cavilações, a candidata Hillary. Se o grupo que apóia acolher a sua postura, engrossará a votação da senhora Clinton um número ponderável de jovens. Essa modificação está na ordem das coisas, eis que semelha difícil supor que passem para o candidato do GOP, que defende o oposto de o que desejam os partidários do grande rival de Hillary nas primárias.
      Em seu discurso, Hillary enfatizou que o próximo pleito será uma tomada de contas com a realidade.
      Nunca um candidato do GOP se aproximou de postura tão fascistóide quanto a de Trump.
      Além disso, a sua superficialidade desperta o temor de que sejam induzidos a graves erros de avaliação. Pensar que alguém como Vladimir V. Putin possa ser amigo dos Estados Unidos é não só um atestado de cavalar ignorância quanto ao perfil e ideologia do  ex-funcionário do KGB, mas também uma simploriedade no que tange a alguém que não se conforma com a capitis deminutio da atual Federação Russa, no que concerne aos títulos anteriores da defunta URSS, vitimada pela singular implosão da revolução provocada involuntariamente por seu último líder Mikhail Gorbachev.
        A postura de Donald Trump - que aparentemente desdenha a informação dos especialistas - leva a perigosas simplificações, que podem ser a antítese da visão ponderada da realidade.
       Assim, as suas receitas: eu possa dar um jeito nisso (I can fix it)  carregam uma postura que é antônima do estadista que não pensa dispensar, no estudo das questões, a visão dos especialistas.
        O anti-intelectualismo e a tendência de arrogar-se o controle (e as decisões) dos diversos temas são dois braços que se unem, e não necessariamente conduzem a uma visão equilibrada da realidade.
        Um candidato tão fraco em termos de concepção e de atitude (no que tange especialmente à tendência da simplificação excessiva das questões) não é um bom indício para a democracia americana.
        Contudo, o maior perigo em uma democracia está em adotar um juízo preconceituoso no  que tange ao adversário nas urnas. Pensar que alguém não apresenta maior perigo pela sua aparente simploriedade, e pela suposta falta de sofisticação política, seria incorrer em grave erro de subestimação do adversário.
        Não se pode esquecer que Donald Trump - o suposto candidato do verão - triturou nas primárias os seus adversários no GOP (Jeb Bush, Marco Rubio, Joe Kasich, e o redivivo Joe MacCarthy, representado  através do senador pelo Texas Ted Cruz).
          A sua atuação na próxima eleição vai se afigurando como verdadeira incógnita. Como todo demagogo, ele está demasiado próximo do homem  comum, e por isso o que mais pode ajudá-lo será a respectiva subestimação, assim como uma crença perigosa de que o eleitor vá necessariamente identificar-se com a mais habilitada. Não se vá esquecer que Hillary é demasiado conhecida tanto pela imprensa, quanto pelo Povo, e isso pode ser bom ou mau, atendidas as circunstâncias.
            De modo algum a candidata democrata pode permitir-se subestimar o adversário, e tal subestimação, como não se desconhece, pode se refletir em muitos aspectos. Nesse contexto, o homem da rua, o homem comum, e a própria mulher que desconfia da esperta Hillary podem ser trunfos na mão de um candidato populista e simplista, que está pronto para ser objeto da auto-identificação do eleitor.
            Por isso toda cautela - e caldo de galinha - é pouco para enfrentar um adversário do imprevisível porte do demagogo Donald Trump.

( Fonte colateral:  The New York Times )
     



O réu Lula

                                          
       Custou, mas a Lei acabou batendo na porta de Luiz Inácio Lula da Silva.
       O longo processo da Lei foi acionado não por quem o chefe do PT mais temia, mas por um juiz federal de Brasília, o magistrado Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal do D.F., que aceitou ontem, 29 de julho corrente, denúncia do Ministério Público Federal contra Lula da Silva, o ex-senador Delcídio Amaral, o banqueiro André Esteves e mais quatro pessoas (Diogo Ferreira, Edson Ribeiro, José Carlos Bumlai e Maurício Bumlai).
        Não estava escrito que aquele a quem Lula da Silva mais temia não firmaria a denúncia-mãe de seu processo.
        Qual é a principal acusação contra Lula da Silva e seu grupo?  O Ministério Público Federal acusa o grupelho encabeçado por Lula da Silva de três crimes: organização criminosa, exploração de prestígio,  e patrocínio infiel.
        Sob o chapéu de tentarem  atrapalhar as investigações da Lava-Jato - que apura, sobretudo, a corrupção na Petrobrás - eles são acusados notadamente de tentarem comprar o silêncio  do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró, a quem foram oferecidos R$ 250 mil para que desistisse da delação premiada. A denúncia em tela se baseia, sobretudo, em gravação feita pelo filho de Cerveró, e em delação premiada de Delcídio Amaral, que acusou Lula da Silva de ordenar a operação.
       O ex-Senador Delcídio entregou à Justiça documentação que, segundo ele, é suficiente para comprovar a acusação, como registros em agendas de diversas conversas por telefone entre Lula da Silva e ele, assim como de reuniões, a par de extratos bancários. Nesse contexto, Delcidio  relatou aos procuradores  que fora chamado por Lula em São Paulo, em maio de 2015, para discutir a necessidade de evitar que Cerveró celebrasse acordo de delação premiada.
        Em razão da articulação para tentar barrar a delação, Delcídio foi preso em novembro do ano passado.  As conversas em que o ex-Senador tenta comprar  o silêncio de Cerveró foram gravadas pelo filho deste último, Bernardo Cerveró.  O áudio foi entregue ao Ministério Público.  Nessa ocasião, foram também presos André Esteves, Edson Ribeiro, e Diogo Ferreira. Antes de ser solto, em fevereiro de 2016, Delcídio firmou acordo de delação premiada para colaborar com as investigações.
Tentativa do MPF para transferência do Processo ao Juiz Moro.  
        Em junho último, após a cassação do mandato do Senador Delcídio do Amaral,  o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot pediu que as investigações fossem transferidas para a 13ª Vara Federal em Curitiba, onde, como a Nação não desconhece, o Juiz Sérgio Moro conduz os processos da Lava-Jato.
         Vejam, no entanto, o que ocorreu no caminho desse processo penal (citação ipsis verbis de  O Globo): " Mas o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, ponderou que o caso não tem relação direta com os desvios da Petrobrás. O Ministro também disse  que os supostos crimes teriam ocorrido na capital federal, daí a remessa dos autos para um juiz de Brasília."
         Note-se o anterior fatiamento da Lava-Jato, também de iniciativa de Zavascki, no que concerne ao envolvimento em questões nucleares.
         Além disso, numa das diligências das investigações, quando elas ainda estavam  no STF, a Procuradoria Geral da República pediu dados bancários que comprovassem  as movimentações financeiras dos Bumlai com o escopo de barrar a delação de Nestor Cerveró.  As provas nesse sentido, obtidas com a autorização do Supremo, após o ex-presidente Lula da Silva ter sido denunciado, confirmaram as acusações e foram incluídas na denúncia.
          Lula nega as acusações. A defesa de Bumlai informou que vai provar que o aludido empresário jamais deu dinheiro a Cerveró ou a sua família, para obstruir a Justiça.
           Também por meio de nota, o advogado de André Esteves (ex-Executivo do BTG Pactual), que é Sepúlveda Pertence, disse não haver justa causa para abrir processo penal "em bases tão fracas" (sic).
           Por conseguinte, se Lula da Silva passa de investigado a réu, contrariando o Ministério Público, mais uma vez o relator da Lava-Jato no Supremo, Teori Zavascki, toma decisão que afasta do Juiz Moro a responsabilidade direta da causa contra o alegado principal responsável das atuações paralelas contra a Lava-Jato, o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
           Dizia-se na imprensa que o ex-presidente Lula da Silva (que passa como o principal responsável por tais maquinações contra a Lava-Jato) uma vez mais não tem, como tem temido, ter a ver com o Juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. 
               Mais uma vez Sua Excelência Teori Zavascki desvia o processo  da Lava-Jato, e não para o seu magistrado epônimo, como tal reconhecido pela voz do Povo Soberano, como foi verificado de resto na grande manifestação popular, que precedeu à declaração do Impeachment da pupila Dilma Rousseff.
               À primeira vista, semelha deveras estranho que o Juiz Federal responsável pela Lava-Jato, e cuja grande experiência na matéria receba a aprovação do Povo Soberano, e dos próprios magistrados do Supremo - a par de suscitar o temor do principal indigitado - seja afastado, e por mais de uma vez, da intervenção na matéria para o qual semelha singularmente preparado.
              Seria interessante saber o que motiva esses singulares escanteamentos.


( Fonte:  O  Globo )

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Entre terrível e farsesco

                                    

           A mídia terá as suas razões que a própria razão desconhece. A famosa citação semelha aplicar-se como uma luva ao misto de consternado silêncio e de atônita exposição de um arrocho brutal pelo homem forte Recip T. Erdogan.
          Com efeito, a aparente confusão da mídia reflete outra realidade ainda mais grave. A falta de qualquer ação, seja de um silente Comitê de Segurança das Nações Unidas, seja da União Europeia, seja do próprio Estados Unidos.
           Nunca a liberdade de expressão e a democracia foi atropelada de forma mais brutal e cínica do que a investida do aprendiz de Tirano Erdogan.
           Nunca uma tentativa de golpe que logo mostraria a respectiva fraqueza e falta de uma ação crível em termos de pôr em perigo a situação estabelecida terá sido instrumentalizada do modo mais descarado e mesmo despudorado do que a alegada reação da 'ordem instituída' de parte do homem forte Erdogan.
            O cinismo exibido pelo Presidente da Turquia não encontra, nos tempos modernos qualquer paralelo. A desfaçatez com que instrumentaliza não só a quartelada, mas todos os pretextos no que concerne à repressão, já sequer se preocupa em colocar motivos e razões que de alguma forma guardem aparências de credibilidade.
            Nesse feroz descaramento, o entorno de países que se dizem democratas guarda sórdido silêncio, que a tudo dá a impressão de admitir sem qualquer reação, e, portanto, se iguala no que tem de rasteiro e de ofensivo ao espírito democrático e ao império da Lei, ao que poderia esperar-se de regimes opressivos e absolutistas.
            O mais revoltante é que, se uma tal reação não despertaria mossa em governos como os da Bielorrússia, da própria Rússia,  Arábia Saudita, e alguns outros cujo silêncio não espantaria - pois fazem o mesmo ou parecido com os próprios súditos - o que dizer das grandes democracias, como Washington, União Européia e algum país da América do Sul, que não se envergonhe de vocalizar a sua fé democrática?
             Que mutismo é esse que atordoa pela anti-reação, pela falta de qualquer expressão de repúdio aos brutais, cínicos processos de Erdogan de partir insolente e esfaimado contra tudo o que existe de princípios de respeito à liberdade e ao direito de cada um de ser presumido inocente, antes de ser jogado em alguma enxovia ou outro cárcere do gênero tristemente notório do chamado expresso da Meia-Noite.
         Para que se tenha alguma noção do sanhudo, cínico suposto contra-ataque do tirano Erdogan tenha-se presente que ele mandou prender ou suspender sessenta mil pessoas - militares, juízes, policiais e professores - acusadas de elo com o golpe.
         A empregar-se os próprios argumentos do Presidente turco já se tem um gigantesco e sinistro selfie dos acusados de 'ligações como o golpe'.
         Agora, pelo visto, chegou a hora de prender os havidos como 'inimigos' e aqueles mais articulados opositores do Ditador.  Assim, o denuncismo desvairado alcança sessenta mil "suspeitos", entre os quais jornalistas de nomeada como Sahin Alpay, ex-colunista do maior jornal turco (até a interdição em março) "Zaman", ligado ao desafeto Fethullah Gülen.       
          Dentro da lógica da repressão, terá ecoado em ouvidos de mercador o telefonema da Chanceler Angela Merkel, que advertia Erdogan que a reintrodução da pena de morte o afastaria da entrada na União Europeia.
          Na própria orgia  de sangue e repressão, o ditador Erdogan na sua mania persecutória  por ora prefere prosseguir no sofrimento que distribui por atacado: além do expurgo, fecha jornais, tevês e rádios.
          Em seu entorno, prefere o silêncio ou o seu pútrido similar, que são os correios que reproduzem as declarações e anúncios oficiais.  Quanto às mortes e torturas, ficam por conta da imaginação e dos temores de gente encurrulada pelo medo e as longas sombras dos agentes da ditadura.


( Fonte:  Folha de S. Paulo; Alan Parker )  

quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Lei do Abuso de Autoridade

                         

         Esse projeto de lei - que, segundo se supõe em determinados círculos, estaria a caminho de tornar-se legislação - não deve sequer ser lido e discutido no Congresso. 
         E para ater-nos às considerações mais singelas, pela simples razão de que o seu escopo difere da legislação a ser discutida, debatida, votada e sancionada.
         Esse projeto parte de postura normativa e filosófica que é o contrário da lei que visa a coibir o comportamento criminoso e suas consequências.
         Como o jabuti no galho da árvore - no exemplo famoso do Senador Vitorino Freire - já é prova de que alguém com suficiente poder nela está muito interessado. Pois grita aos céus que jabuti não sobe em árvore. E, se ele aparece refestelado numa forquilha, alguém o colocou ali.
          O Brasil sofre de um caso preocupante de que a norma legal possa transformar-se não mais em instrumento de coibir o comportamento criminoso, e vire atalho insidioso para que os fora da lei  se prevaleçam de seus instrumentos para implantar situação em que ela se transforme em apoio à sua atividade criminosa !
            O que dizer de uma sociedade em que os interessados nesse tipo de comportamento possa virar a lei da terra, senão que esse perigo já deixou de ser teórica possibilidade para vírar fática probabilidade ? Que haja gente situada em postos que possam vestir de legal esse tipo de comportamento, constitui um perigo muito maior para a sociedade, porque Haníbal não está mais diante das portas de Roma, mas já adentrou a Cidade Eterna, e ora cuida dos meios e instrumentos para legalizar esse tipo de anti-legislação.
            O silêncio neste caso seria a ajuda mais perniciosa que imaginar-se possa para tal tipo de comportamento.  O poder petista já se serviu das MPs para mercadejar procedimentos vizinhos do criminoso em termos de concessões especiais e favorecimentos ilegais de grandes empresas.
             Agora, nesse jardim de especiarias, teríamos outra espécie de lei,  que serviria  a outros fins inconfessáveis, eis que apagariam a diferença entre a norma legal e a ilegalidade.
              Nesse tipo de empreendimento, o que mais surpreende ao Povo Soberano não é nem a ideia em si, mas que passe pela cabeça de um grupo que a Norma Legal possa ser colocada a serviço de fim que é o contrário de seu escopo natural. Dizer que haja gente situada em posições em que a implementação de tais fins aproxima perigosamente de transformá-lo em realidade, equivale a dizer que nunca foi maior nem a audácia, nem o perigo de concretizar-se tal meta-realidade, o que equivaleria a pôr a norma legal em ponta cabeça.
               E é isso o que mais preocupa. Não o fato em si, mas a existência de uma pervertida realidade que permita elaborar instrumentos como os que ora desejam, com a protérvia típica desse grupo antissocial, transformar na lei da Terra !


( Fonte: O Globo )   

Correio da Pré-Olimpíada


Do Prefeito e da Austrália

       
            A preparação das Olimpíadas deixa a desejar. É o mínimo que se pode dizer diante das confusões arrumadas pelo Senhor Eduardo Paes.
         
             Quem faz o mais, deve também cuidar do menos. Nada acontece por acaso em termos de obras e o caminho a seguir.  Nada pode ser deixado por conta da fortuna. Esquecer os procedimentos habituais, delegar para as pessoas erradas, e acreditar em milagres é um comportamento que não se deve imitar, pois tende a acabar sempre mal.

              Vamos torcer para que a experiência torne as pessoas mais sensatas.

              Não é sinal de mediocridade desconfiar da Fortuna. Dada a impossibilidade de cuidar de tudo sozinho, um bom sinal de liderança é cercar-se de gente capaz e confiável.

               Que o episódio sirva de lição. Tenho, no entanto, as minhas dúvidas, dada a natureza do personagem e os óbvios efeitos da húbris.


Exploração de Visitantes Estrangeiros


               É indispensável evitar que se torne costumeira a prática de explorar os visitantes da Olimpíada.

               Esse traço cínico de caráter que pensa aproveitar-se do desconhecimento dos visitantes para explorá-los de forma revoltante - seja em táxis, seja em hotéis ou restaurantes - precisa ser punido de forma a que esse comportamento não se torne uma segunda natureza.

               O carioca no passado sempre se distinguiu pela simpatia e a hospitalidade, nessa última compreendida uma ajuda honesta ao forasteiro que nos visita. Tratá-lo mal já é traço que não se coaduna com o Rio de Janeiro. Que dizer então de explorar pelo seu desconhecimento das práticas e preços do lugar alguém que aqui vem para render-nos a grande homenagem de confiar na terra e nos seus  habitantes?

                Cadeia para quem for apanhado explorando vilmente um turista olímpico !

             


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Trump e a Rússia

                           

         Aludindo à operação dos hackers russos que, por ordens superiores, intervieram no processo político americano, e entregaram ao Wiki-leaks  os e-mails do Partido Democrata, com o intúito de desestabilizar o processo político americano, notadamente a Convenção democrata de Filadelfia, o candidato republicano à Presidência, Donald Trump se permitiu solicitar ao governo russo que tente desencavar os e-mails do servidor privado da então Secretária de Estado Hillary Clinton!
         Qualquer outro seria exprobrado como vendilhão da pátria, mas parece que a personagens como Mr Trump sejam permitidas e toleradas ações que ao comum dos mortais representariam causa de sérios problemas jurídicos.
          Pedir aos hackers - que não passam de agentes de gospodin Putin - que exponham os famosos e-mails da candidata Hillary, além de constituir  convite a ação criminosa, implica em outros problemas, como a incitação a interferir de modo ainda mais escrachado com a alta política estadunidense do que na operação com os e-mails do Partido Democrata.
          Por outro lado, incitar poderes estrangeiros como o Kremlin que, saudoso da antiga potência, sonha sob o punho de Vladimir V. Putin  atingir o antigo nível de adversário de Washington, a intrometer-se de tal maneira nas questões internas de Tio Sam, só pode acudir como ideia ao cérebro de alguém como Trump.
          O problema está em que Trump não é formalmente o bobo da Corte. Ele, por um capricho do destino, é o candidato oficial do Partido Republicano.  Não se desconhece que na Idade Média e no tempo do poder absoluto do soberano,  esse personagem - o bobo da Corte - cuidasse de fazer chegar aos ouvidos de Sua Majestade, sob o manto da facécia, certas verdades que poderiam interessar ao Rei conhecer.
          Mas hoje, nos poucos países em que a realeza ainda prevalece, Suas Altezas não têm mais poder algum, nem recorrem ao arcaismo desses antigos personagens.        
           Contudo, por algum capricho do destino, a esse peculiar figurante que para muitos seria apenas o candidato do Verão, tudo semelha ser permitido, inclusive declinar tolices como a sua admiração pelo Presidente de todas as Rússias, Vladimir Putin, a quem acredita possa ter como amigo...



(Fonte subsidiária: The New York Times)

terça-feira, 26 de julho de 2016

Discurso de Bernie Sanders

                        

        No primeiro dia da Convenção Democrata, o Senador Bernie Sanders fez o discurso mais importante. Há, nas fileiras democratas, grande número de delegados favoráveis à sua candidatura, e que estão compreensivelmente amargurados com a vitória da candidata Hillary Clinton.
         A questão dos e-mails na direção democrata da campanha e a maneira com que o seu conteúdo veio à tona revela mais uma operação exitosa de hacking, com objetivos escusos. Depositados, como ontem foi adiantado, à disposição do WikiLeaks, o escopo óbvio da operação foi o de acirrar os ânimos e tentar enfraquecer a candidatura democrata de Hillary Clinton.  
         Mas como tudo hoje em dia, o prazo de validade de tal divulgação tende a ser bastante curto, dados os manifestos interesses escusos em baralhar as cartas e indispor os ânimos para servir a escopos inconfessáveis.
         Na noite de ontem, reservou-se uma longa ovação ao candidato das primárias, Bernie Sanders, que teve de esperar muito tempo antes que  os numerosos delegados e público que lhe são favoráveis o deixassem falar.
         Bernie, como líder da esquerda democrata, cumpriu a sua parte no entendimento havido com a hoje candidata democrata. Fê-lo de forma correta, agradecendo ao apoio recebido dos militantes que lhe são favoráveis, mas não deixando de mostrar que respeita e implementa o acordo havido com Hillary Clinton, frisando aquilo que os une, e não buscando remexer no que porventura os divida.
         A fala de Bernie Sanders expôs a plataforma comum da candidata e dele próprio. Com isso, o pré-candidato - que teve surpreendente atuação no longo processo das primárias - cuidou de sublinhar que Hillary havia compreendido muitas das posturas do movimento por ele liderado.
         Como todo bom orador, Bernie soube negociar o tortuoso caminho das primárias, enfatizando aqueles ítens em que maioria e minoria se puseram de acordo. Agiu com a habilidade do político veterano que é, mas também do ativista que não desconhece da principal meta a ser atingida, v.g., a de vencer o adversário comum. Para tanto, enfatizar a união das correntes partidárias, que não devem perder de vista o interesse de comparecer às seções eleitorais de forma a tornar possível o sonho democrata de fundar as bases progressistas das diversas linhas representadas por ele e a candidata Hillary. Esta última, em recebendo a nomination,  passa a enfeixar, sem ulteriores lutas intestinas, o escopo precípuo do Partido Democrata, que é o de vencer nas eleições de novembro.
           Assim, Bernie Sanders soube canalizar da sensação inicial do movimento na esquerda democrata, que lamenta haver chegado à praia, mas não logrou prevalecer em todas as metas da cruzada do prócer progressista. Em outras palavras, transformar essa sensação potencialmente negativa em reação positiva, na qual a ala de Bernie, com os seus milhões de votos nas primárias, se une com a corrente majoritária de Hillary. 
           Daí, o mantra de Bernie para os seus partidários de que a candidata Hillary compreendera - e por conseguinte, abraça - os principais fins perseguidos na luta durante as primárias, de forma que essas duas linhas - tanto a majoritária, quanto a minoritária - se unissem, dada a implícita aceitação pela candidata  vencedora, como vetora destas idéias novas, debatidas e votadas nas diversas etapas das primárias, para que, em chegando a novembro, a candidata democrata se torna a vetora natural das reformas indispensáveis para alcançar-se sociedade mais progressista e mais justa.


( Fonte: discurso de Bernie Sanders na Convenção de Filadelfia )  

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Papai Putin penetra no party !


                                    
  Gospodin Vladimir Putin quer igualmente participar da eleição americana! A súbita entrega a Wiki-Leaks de uma batelada de e-mails furtados (hacked) do Conselho do Partido Democrata já teve consequências concretas: a demissão da Diretora (chairwoman) do Partido Democrata, Debbie Wasserman Schultz.                                    
         Parece fora de dúvida que a operação foi realizada pelos serviços de computação do autocrata de todas as Rússias, Vladimir V. Putin. As gravações dos comprometedores e-mails (cerca de vinte mil) que apareceram como que por acaso na porta do Wiki-Leaks representam oportuno auxílio para quem deseja criar confusão nas fileiras democratas. Primo, fica claro nos e-mails o apoio a Hillary, e secondo  a  oposição ao contendor Bernie Sanders. Não só se tomam medidas para ajudar a candidata Hillary, mas também se zomba do dissidente Sanders (que não atrapalhou pouco a Hillary Clinton, na batalha das primárias).
           Não se esqueça, também, que a postura isolacionista de Donald Trump agradou sobremaneira a Papai Putin. Compreende-se a satisfação do antigo membro da KGB em poder criar confusão nas fileiras democratas! Além do mais, Gospodin Putin ficou enternecido com o propósito do candidato Trump de não ajudar a países menores - como Lituânia e Letônia, que são membros da OTAN - se eles criarem confusão com Moscou...
            Outra coisa interessante nessa operação dos serviços moscovitas é o seu caráter pontual. Não por acaso acontece na abertura da Convenção de Filadelfia, em que será entronizada a candidata Hillary.  Ora, ganha uma bala quem adivinhar porque Papai Putin prefere a vitória do isolacionista Trump sobre a metida e hábil Hillary...
             Uma coisa importante de que deve ocupar-se quem se sentar no Oval Office no próximo ano é a criação de defesas mais consistentes para evitar as intrujices cada vez mais frequentes nos segredos de Tio Sam: invasão dos endereços dos funcionários americanos (realizada com sucesso pelos hackers da RPC), invasão dos arquivos da Sony Pictures Entertainment (Coréia do Norte), e agora o hacking pelos serviços do Kremlin dos documentos do Conselho Nacional Democrata.
               Segundo o artigo do New York Times, há muitos indícios quanto à autoria do hacking ser de expertos russos. O conteúdo dos comprometedores e-mails revela que eles foram invadidos por serviços russos (metadata de origem do computador). O mistério vira um claro enigma dado o interesse do Kremlin em jogar areia no mecanismo do Comitê Nacional Democrata.


(Fonte:  The New York Times)

Hillary

                                                 

       Será a semana de Hillary Clinton, a política mais conhecida dos Estados Unidos. Se dispõe de eleitorado certo, ela também tem uma carteira invejável de gente... que a detesta, pelas razões mais díspares possíveis.
        Como já está por bastante tempo na ribalta, não surpreende tampouco que muitas pessoas tenham formado - para o bem ou para o mal - juízos finais a seu respeito.
         Tais avaliações podem ser um tanto desequilibradas. Por uma razão ou por outra, há de impressionar a violência verbal que, em geral, lhe circunda os epítetos que os eleitores formulam, cultivam ou deixam crescer a seu respeito.
         Assim, no que toca à Hillary, por ser talvez companheira de longa data nas fabulações da massa, os juízos tendem a ser robustos, capazes de arrostar os desafios mais agressivos, ou então cortantes e ríspidos. Conquanto esse conteúdo emotivo possa estar presente em formatos diversos, a veemência estará sempre aí. É difícil encontrar algo morno e dúbio a respeito da ex-chefe da diplomacia americana.
         Veja-se, por exemplo, o julgamento que produziu a seu respeito o chefe do FBI. Se ele a isentou de culpa - para desaponto de seus adversários republicanos - tampouco hesitou em pespegar-lhe frase que a definia como extremamente descuidada no tratamento dado ao seu terminal privado de e-mails. A violência verbal me pareceu despropositada, sobretudo se outros Chefes do Departamento de Estado, tanto republicano, quanto democrata, não fizeram jus a nenhuma qualificação nesse campo, em que também atuaram.
         Por outro lado - e me perdoem se cito uma vez mais a obra prima de George Orwell - as reações que ela provoca podem parecer como  sessões do GOP dos três minutos de ódio. Parece-me que a intenção do autor de 1984 é mostrar o aspecto ridículo dessas manifestações de fúria, sobretudo aquelas rituais. Nesse sentido, a raiva que os republicanos votam a Hillary será para muitos outros a principal razão por que devam absolutamente sufragar o seu nome. Muito pior seria a indiferença. Se ela causa tanto animus, tanta raiva nas fileiras do Partido Republicano, todas as minorias devem lembrar-se disso e aguentar as por vezes intermináveis filas - em geral criadas pelos republicanos e seus acólitos - máxime em bairros de gente pobre, velha, latina ou afro-americana, justamente porque esses senhores têm medo do povão, daquele que teima em votar em quem está do lado dele, e nesse sentido Hillary, na longa estirada das primárias sempre teve o apoio daqueles que lhe acompanham a luta e a porfia pela gente de que os senhores do GOP temem o voto, e por isso inventam toda espécie de truque sujo para torná-lo mais árduo e difícil.
              Em consequência, o fato de Hillary aquecer o sangue de certa gente, de motivar reações por vezes fortes inda que despropositadas, nos ajuda a entender o que está em jogo nesta eleição. E não nos iludamos: a direita está nervosa, porque o seu capitão é fraco e fanfarrão, e por isso a votação do povo unido não será vencida, e ajudará a carregar, com a força e o ímpeto das grandes correntes, toda essa resistência a um futuro melhor, com justiça para todos, mas sobretudo para aqueles que mais dela careçam. Hillary pode ser o fanal de uma grande corrente de progresso, liberdade e justiça para todos, e em especial para aqueles que hão de comparecer em massa nas seções eleitorais, para sufragá-la e, com ela, uma grande maioria capaz de varrer com o gerrymander na Câmara de Representantes, além de restabelecer a pujança democrata no Senado Federal.
              É por isso - e por outras razões mais fortes - que vemos com emoção e entusiasmo crescer o nome da primeira mulher a entrar na Casa Branca como Madam President of the United States of America !   Essa reação, em verdade, se expressa de ambos os lados. Nesse sentido, ela provoca mais do que avaliações, na verdade emoções e rótulos em que a contundência estará presente, seja na direção do bem, seja naquela do mal.
       Pelo que se depreende das avaliações da massa eleitoral, segundo os segmentos elas tenderão a serem mais cáusticas ou contundentes do que o usual.
       Não será à toa que ela se apresente como a primeira mulher que reponta, em um grande partido, como candidata a Presidente dos Estados Unidos da América
        Do outro lado, está o que muitos definem como o anticandidato, aquele que penetrou em festa fechada e resolveu o problema à sua maneira, registrando-se no GOP e, para surpresa da gente do ramo, conseguiu sair com a candidatura oficial depois de atropelar toda a legião de descrentes...

domingo, 24 de julho de 2016

Olimpíadas no Rio...

     
          Pelo visto, a  Vila Olímpica sofre de afecção aguda de terceiro-mundite...  A Delegação da Austrália, recém-chegada, diz que não precisa de canguru e sim de água encanada... Por isso, ela  só pretende  mudar-se na quarta-feira... De tanto dar entrevistas sobre os efeitos da Olimpíada, e os problemas terríveis que surgiriam em outras searas, Eduardo Paes esqueceu de fazer o dever de casa, na preparação da Vila Olímpica para receber as comitivas e as equipes olímpicas estrangeiras.

           Só espero que os atletas de Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos encontrem nos próximos dias lugares pelo menos com disponibilidade de um mínimo de conforto, em matéria de alojamento.

           Espero que os chefes e monitores dessas comitivas  não encontrem o que se topava, por exemplo, nas  cidades da esfera soviética, quando da  organização pelas ditas repúblicas populares de grandes conferencias ou certames esportivos.  Lembro-me de experiências em conferências internacionais em que os prédios e hotéis feitos às carreiras para receber os delegados estrangeiros apresentavam as mesmas lacunas que agora afugentaram a delegação da Austrália... Estávamos então em tempos anteriores à queda do Muro de Berlim, e as condições na Europa das chamadas republicas-irmãs  da União Soviética apresentavam tocantes similitudes com condições e práticas de Terceiro Mundo... Nada funcionava...

           O Prefeito Eduardo Paes, que passa por grande quebra-galho (como terá resolvido os problemas de Cesar Maia quando do Pan-Americano), agora terá prometido que estará tudo pronto em 48 horas...

          Não sei se teremos outros problemas.  Quando o pessoal brasileiro da segurança não encontrou o indispensável nos alojamentos, só com muita reclamação é que a questão parece ter sido resolvida. Mas era gente brasileira, portanto sem repercussão em Primeiro Mundo...

           O falante Prefeito Paes promete agora que tudo estará em ordem em 48 horas.

            Sua Excelência tem dado tanta entrevista às CNNs da  vida, assim como a agências européias, vaticinando coisas ruins em outras áreas não de sua competência... Não teria sido melhor que tivesse montado um setor de acabamento e de colocação em condições vivíveis nos alojamentos ?

             Ou será que o Senhor Prefeito Eduardo Paes terá pensado que a quota de absorção e paciência dos atletas de  Primeiro Mundo é a mesma daqueles do Pan-Americano ?

              Temos o primeiro vexame montado, com a bagunça nos trabalhos de ultimação das condições da Vila Olímpica provocando previsíveis reclamações nas comitivas visitantes.

               Diante disso, como não lembrar-se das promessas - despoluição da baía de Guanabara, limpeza da Lagoa Rodrigo de Freitas...- e agora isso ?!

               Alojamentos sem água encanada...  A gente daqui parece que não conhece o que outros chamam de vistoria...

                Ser bom de gogó pode dar a ilusão de que tudo se pode resolver.  Será que o prefeito Eduardo Paes e os demais responsáveis pela Olimpíada do Rio de Janeiro pensam que tudo podem resolver com a conversa do carioca ?

Colcha de Retalhos D 31

                                   
Procuradoria denuncia Lula

           O MPF apresentou em Brasília à Justiça  denúncia contra Lula da Silva, o ex-Senador Delcídio do Amaral, o banqueiro André Esteves, o pecuarista José Carlos Bumlai, e mais três acusados  de agir para atrapalhar investigações da Lava-Jato.
           Como assinala o Estadão, o caso se refere à tentativa de impedir a delação premiada  do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró.
           No caso de a denúncia ser aceita, Lula da Silva será transformado em réu por primeira vez.
            Não foi divulgado o nome do juiz federal que analisará a denúncia.

Dilma e o Caixa 2

              O publicitário João Santana e a mulher e sócia,  Mônica Moura, assumiram ontem, em audiência com o Juiz Sérgio Moro, haver recebido dinheiro via caixa 2 da campanha que elegeu  Dilma Rousseff em 2010.
              O casal alegou ontem que US$ 4,5 milhões  recebidos em conta na Suiça tiveram como origem caixa 2 da primeira campanha de Dilma Rousseff.
               Santana foi o marqueteiro  das campanhas de Lula e de Dilma entre 2006 e 2014. Ele e Mônica Moura, sua mulher,  estão presos desde fevereiro último e respondem a ação penal  acusados de receber propina do esquema de desvios de dinheiro da Petrobrás.
               No depoimento a Moro, Mônica Moura  disse estar disposta a colaborar com a Justiça, mas só o fará depois de assinar  acordo de delação premiada.
               Não obstante, o casal admitiu ter mentido  em um primeiro depoimento, em fevereiro último,  ao apontar a origem do dinheiro como serviços prestados a campanhas eleitorais no exterior.
                Assinale-se que por este depoimento se esboroa a farsa de Dilma Rousseff como se as respectivas campanhas tivessem sido bancadas com dinheiro limpo.
                 Com isso, Curitiba e o juiz Moro se aproximam das questões da ex-presidenta, que sempre alegara ter sido eleita por meios e recursos legais. E agora dona Dilma?

Julgamento da Presidente afastada
 
                 Enrola-se o Senador Cristóvam Buarque em estranha atitude que, apesar de constar do ramo ético, se tem sistematicamente recusado a abrir o seu voto quando do futuro julgamento de Dilma Rousseff. Em não se tratando de questão de lana caprina, mas sim de confirmar ou não o afastamento definitivo da presidenta, compreende-se que os eleitores o monitorem com atenção, e crescente inquietude.
                  Nesse campo, portanto, para lá de estranha, reponta a sua cuidada ambiguidade.  Compreende-se, por conseguinte, que uma senhora se haja recusado a cumprimentá-lo, exatamente por tal postura que não se coaduna com as suas afirmativas de ordem ética.
                   Em questões capitais como essa, a postura equívoca costuma ser o refúgio de outro tipo de gente, e não de um senador que diz cingir-se de altos padrões éticos. Sem embargo, com relação a essa votação - que serve para separar o joio do trigo - querer encontrar uma sinalização clara é tarefa de desanimar qualquer um, ou então irritar eleitores que começam a ver no tecido de ambiguidades que são as respostas do nobre Senador uma indicação pouco tranquilizante de o que pretende na realidade o representante de Brasília.
                     Pois, para que tantos subterfúgios que afastam eleitores como a senhora por ele citada no próprio artigo, se S.Exa. está armado de boas intenções ?

A Federação Russa está fora do Atletismo Olímpico

           A Corte arbitral do Atletismo Olímpico, diante das evidências, negou o recurso interpelado por 68 atletas que se diziam 'injustiçados' pela suspensão por doping imposta pela Federação Internacional de Atletismo.
           Emulando passados usuários inveterados do "doping esportivo", como a antiga RDA (a então Alemanha comunista), a Rússia sob gospodin Putin tem aplicado o doping de forma ampla e sistemática, como se viu, v.g., nas Olimpíadas de Inverno de Sochi. Como já foi referido neste blog, esse recurso ilegal - que não só modifica os resultados, mas também prejudica e muito os atletas - tem sido empregado sistematicamente pelo Governo da Federação Russa.
            Para que se entenda melhor essa peculiar característica do esporte na Rússia, se impõe a leitura do livro da professora americana Karen Dawisha "Cleptocracia de Putin".
             No ramo do esporte, o doping - a que tem recorrido de forma sistemática a Rússia - é um flagelo que faz grande mal aos atletas que dele se servem (ou são obrigados a dele servir-se), não só por alterar resultados e marcas atléticas, mas também e sobretudo por prejudicá-los fisicamente.
              É um artifício anti-esportivo,  e não só por dar capacidade aos atletas que dele se servem para ir muito além das próprias possibilidades normais, mas igualmente por causarem sérios desajustes nos próprios organismos, com ameaça à respectiva saúde. Por todos esses motivos, o doping é um recurso banido do esporte, pelo mal que ele produz tanto no atleta, quanto no desvirtuamente das respectivas capacidades.


( Fontes: Estado de S. Paulo; Putin`s Kleptocracy, Karen Dawisha.) 

sábado, 23 de julho de 2016

Dia de Trump?

                                            
        Cercado por ressentidos (o anfitrião ausente, o gov. Joe Kasich, o Senador moleque, Ted Cruz, que aceita servir-se, mas cospe no prato), a festança de Donald Trump não saíu de acordo com o esperado. Mas, como pergunta o New York Times, quem penetra num clube, pode esperar ser bem tratado?
         Aí está talvez o nó da questão. Trump tenderá a ser visto como o intrujão, aquele que no verão passado entrou sem licença na festa republicana, e acabou tornando-se dono dela.
          Fez picadinho dos adversários, e se alguns como Chris Christie estão aí para servi-lo, outros têm idéias diversas. De qualquer forma, a instrumentalização a que se prestou o Senador pelo Texas, não tem eticamente qualquer suporte.  Pelo que se vê, o caráter de Ted Cruz não luziu demasiado na noite em que se valeu da boa vontade do dono da festa, e o tratou de forma não-condizente com qualquer manual de boas maneiras.
          No último dia, a festa foi de Trump, entronizado candidato republicano para alegria de uns tantos e horror de muitos. O seu discurso foi longo, como seria previsível.
           Falou muito, mas terá dito pouco.
           Há certa sensação de vazio em torno dele, por mais ruidosa que seja a sua banda.
           Uma vez virada a outra página - a dos democratas - com a chapa destes afinal completa - Hillary Clinton ladeada pelo ex-governador Tim Kaine - será a hora da Convenção de Filadelfia. Vejamos que papel terá o Senador por Vermont, Bernie Sanders, depois que vazou o tratamento depreciativo que lhe foi dado pelo Comitê dos Democratas, durante as renhidas primárias.
            No entanto, ainda é cedo para fazer prognósticos sobre o embate dos dois candidatos, Trump e Hillary. Se  a diferença de preparo é colossal, como o é igualmente a experiência de governo, a avaliação pelo Povo americano não pode ser adivinhada, malgrado os muitos sinais do grande domínio da matéria por uma parte, e o aventureirismo da outra parte. Se cada qual jogar como sabe e como deve, o resultado da refrega não será difícil de prever, não fora a intervenção de outros fatores - que tendem a ser movidos pelo desespero - que intentarão virar o jogo, por mais dificultoso que constitua tal desígnio.
               Dizer que a vitória do candidato republicano seria desastrosa para os EUA é quase chover no molhado. No entanto, o trágico dessa partida é que o seu resultado não semelha suscetível de ser prejulgado.
               Por conseguinte, com um dos candidatos já tornado oficial, aguardemos a próxima Convenção. Não será de duvidar que o seu libretto será melhor preparado, e os vários atores, tanto os coadjuvantes - aí incluído Tim Kaine, quanto a atriz e diretora Hillary Clinton, hão de desempenhar papéis mais coerentes e, por isso, estruturados dentro de visão  de Estado.
                Será acaso possível cotejá-los com o grupo republicano? Para surpresa de alguns, a resposta será sempre sim!
                Como no filme de Abel Gance sobre a política na Assembléia Nacional revolucionária, a comparação será com as encapeladas ondas de mar enfurecido. Que resultado sairá dessa luta titânica? De um lado, as fileiras desorganizadas da facção oportunista e demagoga; de outro, movendo-se com proficiência nas águas traiçoeiras que cercam gregos e troianos, as  bem-treinadas divisões da provada capitã, com experiência longa nesse duro mister? Chamai, no entanto, xamanes, adivinhos, pitonisas e que-tais, e eles não te dirão uma só palavra sobre como acabará a refrega!
                 E não calarão por covardia ou perversidade. Toda a divindade, por mofina que seja, tem de ser respeitada. Há, portanto, de esperar a hora da deusa ôý÷ç (*), antes que as sortes sejam lançadas.
                 Se a ansiedade é atributo dos humanos, pacientar será respeitar o poder e a ínsita crueldade dos habitantes do Olimpo. Por isso, será sempre o caso de honrar os nossos maiores. O próprio Carlos Drummond de Andrade ensina a respeito: 'minhas filhas, boca presa, vosso pai evém chegando'.

(*) Tuxe, deusa da fortuna

Vice: Escolha de Hillary

                                               


       Hillary Clinton escolheu Tim Kaine como seu companheiro de chapa. Esta seleção indica, como refere o artigo de The New York Times, os seguintes tópicos:  (a) estado contestado:  a Virgínia é um swing state (estado cujo apoio pode ir para um ou outro lado). Daí a importância de indicar como vice-presidente um político popular neste estado; (b) Kaine tem raízes na classe trabalhadora; e (c) é fluente em espanhol.
       Além de ter boa química com a candidata, Kaine, ex-governador da Virgínia, tem assento no Comitê de Relações Exteriores do Senado,  qualificações importantes para ajudar no sucesso da chapa democrática.
        Hillary preferiu Kaine ao invés de escolhas mais ousadas: (a) Thomas E. Perez, o atual Secretário para o Trabalho, que teria sido o primeiro hispânico na chapa de um grande partido;  (b) Senadora Cory Booker, de New Jersey, a primeira afro-americana candidata à Vice-presidência; (c) James Stavridis, ex-Almirante de quatro estrelas que serviu como comandante supremo aliado, mas nunca exerceu  cargo eletivo.
         De acordo com a sua natureza, Hillary preferiu a escolha menos ousada. Por outro lado, é impossível contentar a todos. No entanto, Kaine goza de boa sustentação, e pode ajudar bastante a candidata. É católico apostólico-romano, fluente em espanhol, e muito popular na Virgínia.
        Ao escolhê-lho, a candidata terá de forçosamente desagradar a alguns, como os liberais no comércio.
         Dada a atitude do candidato adversário, não é de esperar-se que ele e seu grupo possam elogiar a chapa de Hillary. Qualquer que seja a opção, o GOP, atrelado a candidato polêmico e contestado por número apreciável de correligionários, será sempre negativo na avaliação da chapa democrata, e ainda no que tange a Hillary, por quem nutrem uma negação que bordeja o histerismo.
         Sem dar-se conta, o GOP, atribulado por um cabeça de chapa contestado e até odiado por muitos republicanos sangue-azul, investe com fúria taurina contra Hillary Clinton, a que muito temem, e que por isso buscaram derrubar desde o affaire da Líbia (assassínio do embaixador Chris Stevens) até o anti-affaire do servidor privado de e-mails ...
          Pela boa recepção dada ao simpático Tim Kaine, Hillary semelha ter feito ótima escolha para vice: não é controverso, é simpático e soma, tanto na Virgínia, quanto alhures, para os católicos e a comunidade hispânica.

( Fonte: The New York Times)

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Dobre pela Democracia Turca

                           

          Para Recip Erdogan a tentativa de quartelada lhe serviu à maravilha. Basta observar a cínica manipulação do movimento desorganizado e ineficaz que nunca ameaçou o governo do presidente turco.
         Com a reação au  toritária, o presidente turco, além de dar as costas a qualquer aparência de democracia, realiza verdade razzia de todos os seus opositores - reais ou imaginários - fazendo expurgos no exército, no judiciário e na intelectualidade.
         Regurgitam de suspeitos - reais ou imaginários - as cadeias naquele país.  O pesado silêncio da ditadura recai sobre o país. Voz só a possuem os áulicos do ditador, que tem sede de sangue, como se espalhá-lo reduzirá seus adversários à paralísia do medo e do terror.
        Sob o bater dos tambores, o Congresso, agachado, concorda em que Erdogan enfeixe todos os poderes, inclusive o legislativo.
        Desgarrado de antigos propósitos, ele vê inimigos por toda a parte, e quer conduzi-los todos aos calabouços da Turquia. O seu ódio privilegia o adversário no estrangeiro, a quem atribui a responsabilidade da tentativa de sedição.
         A paranóia costuma ser a alcoviteira dos tiranos, pois eles costumam presumir grandes forças e grandes responsabilidades,  mesmo diante de esturricados, medíocres indícios de poder  muito da Taprobama dos exilados como o clérigo Ferhat Guillen que mesmo à grande distância se creditam capacidades inauditas na produção de maldades e de conspiratas.
          O retrocesso que o sanhudo ditador inflige àquele país se é tristemente previsível, mais o será o mal e o atraso que ele trará não só à liberdade, mas também à cultura e a qualidade de vida naquela terra que se através dos séculos e em todas as idades já tocou alturas em espírito e qualidade existencial,  também vegetou em eras terríveis no que tange à longa noite da tirania, que vive mais a gosto nos braços da torpeza e da corrupção, pois estas últimas criaturas sóem ser aquelas que mais se arreganham na palude da cultura e de tudo aquilo que dignifica o homem.

           Cem anos em outra terra pode ser o cântico dos áulicos do mando, que há de soar mais forte, quanto mais cresça o braço hirsuto do poder absoluto.  Terá como companheiros o atraso, a ignorância e a pobreza, pois os palácios da riqueza serão para os súditos do déspota - e o quanto dure será sempre pouco e atribulado, porque na companhia  do temor e da certeza no descalabro final.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Merkel recebe Theresa May

                                       

          A Primeira Ministra britânica, Theresa May, visitou ontem, dia vinte de julho, a sua colega e Chanceler alemã, Angela Merkel. De saída, logrou uma postergação simpática da Merkel, que concordou, sem maiores dificuldades, que o Reino Unido precisa de tempo para notificar oficialmente sua saída da União Européia, o que não deverá ocorrer neste ano.
          A importância da Alemanha e sua liderança na C.E. fica sublinhada pela visita em primeiro lugar da May à colega germânica. Ter-se-á presente que a primeira reação da Merkel, à quente, fora que a U.E. não esperaria indefinidamente pela saída do Reino Unido da Comunidade.
          Pelos sorrisos e posturas, a reunião terá transcorrido a contento. A frase da Chanceler, se é aberta e flexível, mostra que o Brexit não significaria ruptura completa: "É de interesse de todos que o Reino Unido peça esta saída quando tenha uma posição de negociação bem definida", afirmou Frau Merkel, lembrando que nem todos os laços com a União Européia  serão cortados.
           Tomada a decisão - não importa por que motivos, inclusive erros de quem a acionou, no caso David Cameron - é papel da Primeira Ministra May tentar dar aspectos graciosos à ruptura. Defende por isso uma saída 'sensata e ordenada', e tornou a sublinhar que não pedirá para deixar o bloco antes do fim de 2016.
             Como refere, contudo, a notícia, a senhora Nina Shick, do círculo Open Europe, a boa vontade da Merkel pode ter prazo de validade. No caso, se recorda que essa boa disposição poderia esgotar-se no caso de demora julgada excessiva do Reino Unido em pedir a ativação do art. 50 do Tratado de Lisboa, previsto em casos de ruptura.
              Nesse contexto, contudo, é sempre bom lembrar que a diplomacia só pode atuar dentro de parâmetros estabelecidos. Cometido o erro através de irresponsável ativação da ruptura, e sem embargo do percentual apertado e do voto de Escócia e Irlanda da Norte pela permanência, a diplomacia não pode embelezar o feio, nem dar o troncho como não cortado. No quadro, será oportuno lembrar o dito popular: "não desejes muito uma coisa, porque ela pode acontecer".



( Fonte:  O  Globo )

O anti-show de Ted Cruz

                               

       Não  por acaso, o Senador Ted Cruz é por vezes comparado a distante colega seu, que gozou da dúbia honra de carimbar uma era com o seu sobrenome. Com efeito, Joe McCarthy marcara época com a sua demagógica perseguição à suposta esquerda responsável pela 'entrega' da China aos comunistas, assim como pela paranóia da ameaça comunista na Terra do Tio Sam.
        Talvez nenhum demagogo tenha chegado tão longe no seu domínio de uma época, junto com um  incontável sofrimento e as perseguições que provocou. Desapareceria em meados da década de cinquenta, como surgira - como nuvem ruim que termina pela própria inanidade.
         O começo de seu fim surgiria em audiência de seu comitê que estavava na busca de traidores no exército americano. 'O senhor acaso não tem vergonha de o que está fazendo? Não tem qualquer senso de decência, Senador?'
         Essas palavras do Conselheiro especial do Exército americano Joseph Nye Welch[1], soariam a nove de junho de 1954, como o dobre da nefasta carreira  do Senador e do próprio movimento. Se há demagogos que foram mais longe do que McCarthy, que de fato deu nome à época infame (o macartismo) ilustra bem o quanto uma sociedade democrática possa cair presa das piores pulsões psicológicas. McCarthy merece atenção quase não por si mesmo, mas por dar ocasião às piores expressões do preconceito e da leviandade de carimbar grupos de pessoas por supostos desvios políticos. É o medo do diverso que, explorado por demagogos sem qualquer senso de medida, leva a episódios deploráveis, em termos de perseguição à liberdade individual de pensamento.
          Não sei se Ted Cruz se enquadrará em algum maldito círculo da demagogia política. De qualquer forma, ele já é enquadrado nesta faixa, por certos repórteres. Consumido pela ambição, ele pode ser autor  de comportamentos lamentáveis, como o da última noite no show televisivo da Convenção republicana de Cleveland.
            A exemplo do emboaba, Donald Trump decerto já chegou muito mais longe de o que prognosticaram os xamanes republicanos como o "candidato do verão".  Para surpresa de muitos e raiva de poucos, ele continua avançando, deixando para trás os que se julgaram mais merecedores do que ele. Agora, é o candidato do Grand Old Party, e será para valer, seja no sucesso surpreendente, seja no temido desastre.
              Trump, como o escolhido para candidato ter-se-á esquecido das palavras e, sobretudo, da grave falta de vencer nas primárias aos seus contendores republicanos. Pensando homenageá-lo, escolheu o Senador Ted Cruz como o orador da véspera, aquele que é suposto incensar o agraciado com a investidura.
              Ted Cruz é um personagem da direita do Partido Republicano. Essa definição não será pouca coisa, em grêmio que, na prática, não tem mais ala moderada, como no século passado. A ambição - não a dita normal em qualquer político, mas a raivosa e que ignora quaisquer peias - o consome. Ter-se-á presente, por conseguinte, o quanto sofreu por não ter o seu direito digamos de investidura reconhecido pela turba das primárias, que concedeu, como se sabe, a primazia ao aventureiro Trump.
                Por tais personagens consumidos pelo carreirismo, não se vá exigir bons modos. Trump, inebriado pela vitória na Convenção, e pensando que o espetáculo se destinava a glorificá-lo, não terá dado a devida atenção ao que poderia esperar de semelhante criatura. Pensou, embalado pela própria euforia, que Ted Cruz lhe seria grato pela tribuna.
                Infelizmente, quem não tem grandeza, não possui condições de agir em consequência. Mas o Senador Cruz agiu de forma ainda mais lamentável, porque utilizou o espaço que lhe fora concedido, não para se mostrar à altura dele, mas para alinhar uma série de frases propositalmente ambíguas que, como vasta caudal, desembocaria em um estuário de desfazimento da cortesia alheia. Para usar linguagem que parece mais  condizer com a mente do orador, ele literalmente cuspiu no prato que lhe fora oferecido, estultamente decerto. O mau-caratismo e a velhacaria podem levar os seus portadores a más paragens, como foi a vaia merecida que recebeu, e a maneira precipitada com que se fez escorraçar pela própria falta de dignidade e espírito partidário.  Se além de merecer a comparação com aquele senador de memória infausta, Ted Cruz perdeu boa ocasião de aparecer sob luzes mais dignificantes do que o papel de um indivíduo que não tem sequer grandeza de aparentar distinção diante do gesto do adversário, que o venceu na lisa porfia dos sufrágios recebidos.
                   Com o plágio por Melanie Trump - convenientemente assumido por uma assessora - de um parágrafo de alocução de Michelle Obama em ocasião similar, falta apenas o dia de hoje para concluir a Convenção de Cleveland, marcada pela descortesia e a má-vontade da elite do GOP, descortesia essa que é assinada com força pelo governador do Ohio, John Kasich, que como senhor da Casa não deveria ausentar-se da alegada festa de entronização do candidato do GOP. 

( Fonte: The New York Times )                  




[1] Joseph Nye Welch (1890 - 1960)