quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Palestina adere à CPI


                                  

         O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, diante de ulterior prova de que o governo dos Estados Unidos não está interessado em terminar com a ilegal ocupação dos territórios palestinos por Israel, resolveu cruzar o Rubicão e assumir postura de país com igualdade de direitos no campo internacional.

         Que prova foi esta? Com efeito, diante das resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas– que, no papel, deveria garantir a soberania palestina nos territórios da margem ocidental do Jordão, territórios esses que ultimamente vem sendo objeto de descarada e ilegal ocupação pelos chamados colonos israelenses, com o resoluto apoio do gabinete de Benjamin Netanyahu – a posição palestina é inatacável.

        Mais uma resolução no Conselho de Segurança foi derrotada – na verdade, tal ‘derrota’ resulta apenas do voto contrário de Washington, eis que os Estados Unidos é uma das cinco grandes potências que detém o veto naquele organismo. Cansado das promessas da Casa Branca – que não são mantidas quando atingidos os interesses de Israel, ainda que manifestamente contrários ao direito internacional e seus precedentes – o presidente Mahmoud Abbas resolveu afinal agir.

        O que acionou a reação palestina foi a enésima derrota de resolução que determina o fim da ocupação israelense do território palestino em 2017. Diante de mais um malogro da orientação de confiar em Washington como gestor honesto (honest broker) das relações israelo-palestinas, o ultramoderado Mahmoud Abbas se cansou das negaças da Administração Obama, e resolveu valer-se de sua carta de última instância.

        Desiludido pelas contínuas protelações do State Department, e de mais uma enésima prova de que na hora da onça beber água, Tio Sam estará sempre ao lado de Israel, assim se manifestou – e agiu – o Presidente da Autoridade Palestina:

        “Há uma agressão praticada contra nossa terra e nosso país, e o Conselho de Segurança nos deixou de lado (let us down): para onde nos resta ir ?”

          Esta foi a declaração do ultramoderado presidente Abbas, no seu gabinete na Cidade de Ramallah, na Margem ocidental do rio Jordão, ao assinar, afinal, o Estatuto de Roma, a Carta da Corte Penal Internacional, assim como outros 21 tratados e convenções internacionais.

          Mahmoud Abbas, cuja popularidade despencara desde a última guerra entre o Hamas e Israel, estava com as costas na parede diante da pressão popular e de outros líderes palestinos para ingressar na Corte da Haia.

           Entre a cruz e a caldeirinha, espanta que Mahmoud Abbas haja esperado tanto antes de tomar a decisão. “O nosso propósito é queixar-nos para essa organização. Enquanto não há paz, e o mundo não dá prioridade à paz na região, a região há de viver em conflito constante. A causa da Palestina é uma questão básica que clama por ser resolvida.”

            Diante do manifesto desrespeito do gabinete Netanyahu e de Israel ao direito internacional, e às inúmeras resoluções do Conselho de Segurança que criam condições de paz no Oriente Médio e em particular na margem ocidental do Jordão, o recurso à Corte da Haia era porta aberta que agora Abbas, com a sua posição reforçada, resolve enfim adentrar.

               Nesse contexto, a Autoridade Palestina terá todas as condições para pôr em juízo a ilegal e invasiva política israelita. Ao tornar-se membro da Corte da Haia, o governo de Mahmoud Abbas disporá das necessárias condições para colocar no banco dos réus não só a política de colonização israelense (feita sempre às expensas do povo palestino), assim como as abusivas operações militares do Tsahal.

                A própria resposta do governo estadunidense e do Estado clientelar israelense trai, pela dureza de seus termos, a irremediável fraqueza de sua posição, eis que só recorrem à ameaça crua e sanhuda aqueles governos sem outra escolha senão a de  postura imperialista. Com efeito, não lhes resta outro recurso senão apelar para a força e a sua próxima parente, que é a tentativa de intimidação.

                Para manter a atual situação de vassalagem a que está ora submetida a Autoridade Palestina, são brandidos diversos espantalhos e também sérias ameaças para desestabilizar a causa palestina.

                Antes que possa acionar a Corte da Haia, a Autoridade Palestina terá de aguardar sessenta dias, para submeter à Corte as próprias causas. Não há dúvida de que estarão devidamente documentadas em todos os seus aspectos de desrespeito aos direitos do Povo palestino. A insolente e manifesta expropriação de terras palestinas, instrumentalizada pelo Gabinete Netanyahu, é feita com a sutileza e a arrogância da ocupação militar.

                 Cansado de bater diante de porta que, na prática, está fechada, o ‘moderado’ Mahmoud Abbas  surpreendera a Casa Branca e o cliente Israel, ao aderir a quinze tratados e convenções internacionais, depois que nove meses das sólitas conversações diplomáticas guiadas por Washington estavam prestes a malograr.  Os instrumentos internacionais a que aderiu a Autoridade Palestina são as quatro Convenções de Genebra de 1949, e os protocolos adicionais de 1977 sobre as leis da guerra, a par daqueles que tratam da discriminação contra mulheres e crianças.

                 É interessante notar que, salvo erro ou omissão, até hoje o Brasil não firmou alguns desses protocolos adicionais de Genebra, muito provavelmente por temor de desagradar as instâncias internas castrenses.

                Assinale-se que a relação entre a superpotência Estados Unidos e o estado clientelar de Israel já mudou bastante desde a criação do Estado israelense pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1947, e sobretudo a partir da presidência Richard Nixon e de Henry Kissinger como Secretário de Estado – quando na prática a relação de influência se inverteu. Cresceu o poder intimidatório de Israel nas relações com a Casa Branca, dada a popularidade do estado judaico no Congresso americano. Assim, houve relativa inversão nas relações entre cliente e potência tutelar. A força de Tel-Aviv se baseia notadamente no seu peso político objetivo junto ao eleitorado americano, o que tem desaconselhado os primeiros mandatários da Superpotência a tomarem posições que possam ser interpretadas como contrárias aos interesses de Israel. A atitude de Barack Obama, no particular, é bastante ilustrativa. Desde a sua posse em 2009, malgrado as suas relações pessoais com Bibi Netanyahu não sejam próximas (este apoiou abertamente Mitt Romney, o candidato republicano em 2012) ele  não ousou mostrar maior equilíbrio na mediação entre os dois países. Por isso, se vê a reboque das posições de Israel, como no recente veto à resolução que poria fim à ocupação israelense em 2017. De nada valeram nesse sentido os apelos do ultramoderado Abbas.  

 

( Fontes:  The New York Times, Estados Unidos –Visões Brasileiras (v. a pp 109-337 contribuição de minha autoria )

Ao Morto Desconhecido


                                 
        Hoje,  trinta e um de dezembro,  dia comumente reservado a peculiar gênero de despedida. Davam adeus ao ano velho,  pensando  livrar-se do papelório, e dos encostos do ano velho,  jogando pela janela todos os trastes da burocracia.

        Era uma espécie de ritual e como toda prática desse gênero continha um secreto desejo, a um tempo  humano e por isso natural, mas também ingênuo, porque o passar dos dias – antes marcado por estações e agora, com o aquecimento global – virou uma espécie de ficção, em que os caprichos do clima, desencadeados pela mão pesada do homem, vão alterando tudo.

        Mas, um momento, por favor! A tal usança –  se não me engano, herdada do colonizador luso – já está proibida por outro invento português, que é a burocracia. Se as regras que os seus escrivães deitam nem sempre nos agradem, elas tem o condão de dar emprego – em geral inútil – a muita gente.

       No passado, o súdito – e agora, o cidadão – não verá muita diferença no que esses senhores aprontam, pois as ruas continuam perigosas, por mais que inchem taxas e tributos municipais, estaduais e federais. Somos, é verdade, o país do impostômetro, de que o letreiro, coitado não para um só instante – e aí não se veja homenagem à provada locomotiva de São Paulo – mas à ânsia burra de sobrecarregar o povo, posto que esse túrgido, disforme montante relembra a atávica ganância de um poder que nos dessangra, sem na verdade querer que esse ouro se transforme em um futuro melhor para a nossa boa gente. Assim, ao lado desse letreiro que não para nunca, deveria também aparecer o ralo descomunal dessa fome tributária, que não se transforma nem na miragem do saneamento básico, nem em hospitais que a todos recebam sem exceção sob o doce olhar de dona saúde, nem em escolas decentes, nem em logradouros seguros e limpos de toda espécie de lixo.

        Revista estrangeira andou espalhando uma verdade ignóbil a nosso respeito. Seríamos um país de muitas leis, embora muitas não sejam cumpridas. Não tenho elementos para comprovar ou refutar essa afirmação. Mas não é que desde o império cunhamos a expressão ‘pr´a inglês ver’?  A última Copa do Mundo, que estava reservada para o hexa, trouxe, na verdade, outras novidades para nós. Além dos múltiplos vexames das obras inacabadas para receber as seleções (e as torcidas) estrangeiras, também esquecemos de preparar-nos de forma tecnicamente adequada para arrancar o caneco, que a grande maioria brasílica, já considerava cousa decidida. Além de não tirar-nos as lições das partidas – como a chuva de gols alemães sobre o nosso Portugal – transformamos o oba-oba da locução global como a via segura para repetir o êxito da Copa das Confederações. Não foi tanto a maldição que pesa sobre essa copinha que serve de vestíbulo para as coponas, mas a nossa segurança, além do pensamento de que dispomos dos craques (e do técnico) para garantir de saída a conquista!

         É de esperar-se que esse mega-vexame dos sete a um sirva para algo. Exportamos jogadores para todas as seleções (ou quase) do planeta, e olvidamos de preparar a prata da casa...

        Mas voltemos à vaca-fria. Posturas municipais nos impedem de jogar na rua o papelório velho. Tais proibições, convém não discuti-las. Talvez o carioca – e quem sabe? o brasileiro – invente maneiras inteligentes de lidar com a burocracia nesse ano novo de 2015...  

         Não obstante os zelos municipal, estadual e federal, nos perguntamos por que  mãe natureza já não é mais tão gentil, e os seus afagos por vezes se transformam em golpes, por vezes insidiosos e que julgamos não merecer.

         O bicho-homem não entende, e com olhar perdido descobre o quanto o progresso pode ser enganoso. A ironia do progresso e das fortes e inéditas sensações pode ser dádiva ao revés. Ela traz os tornados que pensávamos confinados às planícies do meio-oeste americano, e agora vemos perplexos a visitar-nos com a sua força impiedosa.

         Se os rigores climáticos – que se comprazem em jogo incompreensível de invernos europeus, canículas senegalescas, tremores de terra que por cá jamais se viram, e, sem cuidar de lógica cadência, o desaparecimento das estações – nos confundem, enquanto insuflam as ressacas – que vêm ameaçar as vilas praieiras e nos fazem olhar o oceano menos como a morada de Iemanjá do que o antro das tsunamis...

         Estaremos mais em tempos de nênias e epicédios, do que de hinos e marchas triunfais ?

         A dizer verdade, não sei. Talvez seja o tempo de voltar às epopeias e aos tempos heroicos... Até hoje, continuam de pé os cânticos homéricos, virgílicos, camonianos, sem esquecer os dantescos...

         Na verdade, o Homem continua como a medida de todas – ou quase todas – as coisas. Temos assim de acompanhá-lo de perto pela relevância que tem – e, infelizmente, isto vale não só para o bem, senão igualmente para o mal.

         Nesse contexto, acho comovente o interesse que manifestam os nossos mais altos juízes na fixação do respectivo salário para o ano entrante. Ministros vitalícios, nomeados pela autoridade presidencial, e após passar por exame pro-forma do Senado Federal (desde o início da República, apenas uma indicação para o Supremo foi barrada) podem permanecer até os setenta se não desejarem aposentar-se antes. Ultimamente, no entanto, mordidos talvez pela mosca da carestia, têm feito propostas de aumento de ordenado, que vão muito além da Trapobama.

         E o mais grave é que todos os juízes formam uma enorme escada, cujos vencimentos são fixados a partir dos Ministros do Supremo.

        Não é um espetáculo gratificante assistir aos aumentos anuais  a que se precipitam Suas Excelências dos três poderes da República. Será comovente a rapidez da respectiva autoconcessão, que chega a ser efetuada em um único dia.

       Aos demais mortais, não são reservados tais parâmetros. Quem deve assistir comovido a tal cerimônia é o senhor dragão. Essas cerimônias de auto-concessão, se mostram o ardor de tão altas autoridades trazem consigo o sal da ironia e a dúbia qualidade de incrementos que ativam um mecanismo infernal de remarcações que cada vez mais lembram aquelas menos nobres, mas também filhas da inflação, que nos é dado presenciar na corrente infinda dos aumentos – de todos os serviços, com as passagens de ônibus e dos demais transportes na sua fila anual da ganância anualizada.

           Por graça de Dona Dilma, que cuidou de manter a inflação viva, a cada ano cresce a sinfonia dos índices, dos serviços, dos supermercados e das feiras-livres.

           A carestia está de volta, com as suas diversas e espalhafatosas – por vezes cínicas - roupagens.  Estão todos vivos! Entramos na roda-viva da inflação.

           Em meio a essa ignominiosa correria, nessa busca do tosão de ouro, que por mais altos e relevantes que sejam as autoridades a receberem o dúbio prêmio de um aumento que já sai diminuído das gavetas e dos contra-cheques federais, estaduais e municipais, corre no povão a certeza de que a um canto cabe o registro de um infausto evento:

          Em todos esses aumentos, lamentamos comunicar a morte lenta, e, na aparência inexorável, do Senhor Plano Real. A cada ano, o sentimos mais débil e fragilizado, ao lado da velha companheira – que também inspira cuidados -, a Lei da Responsabilidade Fiscal.
 
 

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Lembranças da Justiça de Putin


                                
          Não é exatamente um presente de natal para o principal opositor  do presidente Vladimir Putin.  Aleksei A. Navalny acaba de ser informado  de que a estranha ação que lhe era movida por tribunal interiorano – por suposta fraude em operação comercial – virou sentença de três anos e meio de prisão. A sentença, no entanto, foi aplicada  a título suspensivo.

          Interpreta-se essa ‘concessão’ como um meio de manter sob controle Aleksei Navalny. Sem querer transformar Aleksei em um mártir político, o dispositivo armado pelo campo oficialista não deseja, no entanto, que o antigo blogueiro e principal opositor presidencial, possa acirrar as dificuldades que já enfrenta gospodin Putin.

          Dada a situação das finanças russas, a queda no principal produto de sua economia, e a consequente fragilização política do presidente Putin, por força de uma série de fatores que, em parte, teve a ação agravada pela sua atuação, o poder não quer transformar Aleksei Navalny em mártir político. Por isso, cuidam de proteger o flanco de Vladimir Putin, mantendo o principal nome da oposição sob a perene ameaça de eventual transformação em prisão firme. Tentando evitar conceder a aura de mártir a Navalny, o Kremlin, se agravado o perigo, não hesitará em transformá-la em detenção efetiva.  Pouco importa se tal violência configure confissão de fraqueza. O despotismo de Putin, colocando diante de um desafio mais grave, dificilmente hesitaria em apelar para tal tipo de recurso.

         Já o irmão de Aleksei, Oleg Navalny, foi objeto de igual sentença, com a diferença de não lhe ter sido infligida a título suspensivo. Por isso, Oleg já está trancafiado em algum cárcere do vasto universo prisional de todas as Rússias.

         Por sua vez,  os serviços de segurança do governo estão em alerta, pois preveem protestos e manifestações maciças dos numerosos  partidários de Aleksei Navalny.  Como se sabe, a ação movida contra o opositor de Putin foi urdida pelo Kremlin e o seu escopo é o de perseguir e afastar, com um processo montado, a ameaça política que a popularidade de Navalny coloca para o todo-poderoso  presidente russo. Transformar o irmão em refém pode ser mecanismo odioso, mas o comportamento pregresso do principal interessado não deixa ilusões quanto a sua manutenção e eventual acirramento, se as circunstâncias políticas assim o aconselharem. Se puxar a corda ainda mais possa ser interpretado como ulterior sinal de fraqueza política, não é de crer-se que o atual soberano russo, se acreditar-se ameaçado, há de hesitar quanto à oportunidade da medida. Ainda mais quando sentir-se com as costas contra a parede...  

 

( Fonte:  The New York Times )  

domingo, 21 de dezembro de 2014

Colcha de Retalhos B 47

                               

Obama e o embargo

 
        No dia dois das novas relações  Estados Unidos – Cuba,  o presidente Barack Obama tem pela frente o dragão do embargo. Com a perda da maioria democrata também no Senado – a Câmara de Representantes é outra estória, e só poderá ser aí encaminhada a respectiva normalização, vale dizer, a alternância democrática, quando for possível corrigir o maciço gerrymander que um conjunto fortuito de circunstâncias engendrou. E isto vai demandar tempo – à primeira vista o quadro para a aprovação de medidas que terminem com o embargo se afiguraria bastante complicado.

        No entanto, uma análise mais aprofundada da questão – e do jogo de interesses na sua aprovação - há de indicar que este embargo, por não ser inexpugnável,  pode  ser até afastado por um Congresso de maioria republicana. Explico-me: enquanto o bancada do partido democrata no Senado votará, sem maiores dissidências,  em prol de sua derrogação, já o majoritário GOP não nos apresenta a frente maciça contrária, como antes se pensava. Não há dúvida que Marco Rubio e outros republicanos tendem a  expressar-se a favor da manutenção do embargo, mas ao contrário dos democratas – que apoiam a sua abolição – a frente republicana não está coesa e, ao que parece, tem representantes favoráveis à tese do Presidente Obama.

         Por outro lado, há interesses comerciais e empresariais na balança, e a cercania topográfica da ilha com os Estados Unidos continental igualmente trabalham a favor de se afastar essa considerável barreira ao desenvolvimento do intercâmbio entre as duas economias.

         Todos esses fatores, portanto, somam a favor de eventual  derrubada dessa portentosa barreira – ainda que a batalha possa ser longa. De qualquer forma, por circunstâncias políticas e econômicas há um conjunto de forças que poderá vencer a resistência do núcleo-duro da comunidade cubano-americana. Os interesses econômico-financeiros deverão, pela sua força inercial, derrubar a resistência advinda desse núcleo que congrega os primeiros opositores à revolução de Fidel Castro.

 

A Lista do Delator P.R.Costa

 

        A lista de Paulo Roberto Costa, o ‘Paulinho’ de Lula, ex-diretor da Petrobrás, apresenta 28 nomes de políticos, como recipiendários de propinas, dentro do esquema investigado pela Lava-Jato.

        Pode ser interpretado como um retrato sem retoques da política, neste governo petista de Dilma Rousseff.

        Além de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado,  Henrique Alves (PMDB), presidente da Câmara, Antonio Palocci (PT- ex-Ministro da Fazenda), Tião Viana (governador do Acre reeleito –PT), Humberto Costa (líder do PT no Senado), Edison Lobão (Ministro e Senador Licenciado – PMDB), Sérgio Cabral, ex-governador do Rio - PMDB; Roseana Sarney (ex-governadora do Maranhão – PMDB), Lindbergh Farias (Senador – PT), e Mário Negromonte (Ministro das Cidades – PP), Sérgio Guerra (PSDB – falecido), e Eduardo Campos (PSB – falecido). A lista não para aí: estão também relacionados - do PT: Gleisi Hoffmann, Senadora; Delcídio do Amaral, Senador; Vander Loubert, deputado federal; e Candido Vaccareza, deputado federal não reeleito;  do PMDB:  Valdir Raupp, Senador, Romero Jucá, Senador; e Alexandre Santos, Deputado Federal, não se reelegeu; do  PP:  Ciro Nogueira, presidente do PP e Senador, Senador Benedito de Lira, Nelson Meurer, deputado federal, e Simão Sessim, dep. Federal. Por fim no PP,  Luiz Fernando Faria, Dep. Federal, José Otavio Germano, Dep. Federal, e os deputados federais não-reeleitos João Pizzolatti  e Aline Lemos e o ex-deputado Pedro Corrêa.

            Deverão, de resto, ser melhor esclarecidos os casos de Eduardo Campos e Sérgio Guerra, ambos falecidos.

 

A situação de Graça Foster

 

          Apesar do comovente apoio que lhe vem sendo prestado pela Presidenta Dilma Rousseff, a situação de Graça Foster na Petrobrás está longe de ser esclarecida. Muitos comentaristas consideram que ela não tem mais condições políticas de se manter na presidência da Petróleo Brasileiro S.A. A lógica no caso é simples: espera-se de uma chefe de empresa de tal importância na economia nacional uma atitude mais alerta às realidades circundantes e existentes na companhia sob sua responsabilidade.

            E a sua situação perante a atuação da corajosa Venina Velosa da Fonseca continua a piorar. Em depoimento de cinco horas, a ex-gerente da Petrobrás reafirmou a dezenove do corrente, que a presidente da Petrobrás, Graça Foster, e toda a diretoria da empresa sabiam de irregularidades nos contratos da Diretoria de Abastecimento, chefiada por Paulo Roberto Costa.

            Em tal sentido, e consoante seu advogado,  Venina entregou  cópias de documentos e e-mails que afirma ter enviado a integrantes da cúpula da companhia. Neles, Venina Fonseca alerta sobre desvios em contratos de comunicação e nas obras da Refinaria Abreu e Lima. A funcionária da Petrobras entregou igualmente ao M.P. o seu computador, onde estão gravadas as ditas comunicações.

 

Rio de Janeiro: onde está a Polícia?

 

           A Polícia Militar, subordinada ao Secretário José Mariano Beltrame,  volta a pautar-se pela ausência na Linha Vermelha, que é  uma das principais e mais movimentadas artérias de acesso ao centro do Rio de Janeiro, assim como para o aeroporto do Galeão.

            Na sexta-feira, novamente, os motoristas de carros particulares e de taxi, foram assaltados por bandidos que ingressam nessa via rápida através de buracos nos espaços laterais, buracos esses que são feitos pelos próprios meliantes. Além de apontar para a incúria das autoridades responsáveis – que não providenciam a reposição das lâminas – durante o ataque (que em geral ocorre de manhãzinha), os facínoras dispõem de inteira liberdade para assaltar os motoristas, eis que a polícia prima pela ausência, malgrado a repetição de tais práticas.

             Não é só na Linha Vermelha em que o braço da lei não aparece.  Ontem, por exemplo, ao sair para algumas compras do cotidiano, pude verificar que, na extensão de quatro quarteirões, todos eles próximos da praia de Ipanema, não havia vivalma com uniforme da PM.

             Dada a presença anterior de policiamento intensivo nesses locais – o que se deve a repetidos assaltos e tentativas  – julguei assaz estranho que a área estivesse totalmente desprovida de agentes da lei, justamente na tardinha, ao cair da noite, hora da preferência dos grupelhos da mala vita para o assalto dos transeuntes.

 

A Entrevista Anual de Putin com o Povo Russo

 

                Seguro de sua popularidade junto ao povo russo – que chegaria aos 75%  a favor, embora palavra de cautela se imponha, porque a Federação Russa não é exatamente uma democracia, nem os institutos de opinião se afiguram confiáveis – Putin enfrentou a maratona de três horas em que responde às questões dos cidadãos russos.

                 A sua postura foi a do negativismo. Segundo ele, não existe crise alguma na economia russa. Pela faccia tosta, como diriam os italianos – a tradução mais aproximada para o português seria cara de pau -  pensa Vladimir Vladimirovich refutar a presença de qualquer crise. Se terá impressionado o cidadão comum, como ele está lidando com uma situação factual, o seu engenho não terá boas perspectivas de vencer a realidade a médio prazo, e através disso, convencer os seus ouvintes.

                Pela ousadia e até desfaçatez, o presidente Putin pode lograr algum sucesso, mas qualquer impressão arrancada pela força de suas negativas tenderá a dissipar-se, quando cada cidadão tiver a oportunidade de verificar no dia a dia, que as coisas não estão assim tão bem quanto apregoa o presidente.

                 Outra promessa feita por Putin e sem qualquer perspectiva de ser aceita pelo governo de Kiev, é a oferta de apresentar-se como mediador para a crise ucraniana. Nem como humor negro um tal despautério pode ser conjuminado. Em outras palavras, que possibilidades tem alguém que invadiu a Ucrânia, que se apossou da Crimeia, e que tudo tem feito para desestabilizar o governo de Kiev – agora com a cara lavada vir a apresentar-se como mediador nessa crise ?

                  Esse cinismo na proposta só pode existir em ambientes como o do encontro anual com o povo russo. Apesar de a guerra não-declarada com a Ucrânia já tenha sido associada aos body-bags[1] de soldados russos mortos nesse conflito fabricado por Putin, a grande maioria da população ainda ignora a margem de envolvimento (e de dispêndio) com tal aventura imperialista, que reedita moldes do século XX, como os ‘movimentos espontâneos’ dos nazistas e de suas quinta-colunas. Está na base do controle da informação que essa jogada anual do interrogatório do Presidente pela população pode ser encenada.

              Mas uma crise com a seriedade e a potencialidade da presente não semelha suscetível de ser escamoteada do povo russo, a despeito da audácia de gospodin Putin. Como a mentira terá sempre as pernas curtas, a negação da realidade não terá fôlego de apresentar as coisas como elas não são. No médio prazo, se não intervierem outros fatores que o favoreçam, as perspectivas apontam para dificuldades crescentes na manutenção de um teatro de faz-de-conta.

 

( Fontes:  Rede Globo, Site do Globo )



[1] O body-bag – um plástico negro que recobre o cadáver – é o procedimento dito usual para expedir ao país natal o saco com o cadáver do soldado vitimado em combate. Foram os body-bags e seu volume que apressaram o fim da aventura americana no Viet-Nam.

sábado, 20 de dezembro de 2014

As boas intenções do Ministro Levy

                           
 
         Em conversas reservadas no gabinete improvisado no Palácio do Planalto, o futuro ministro da Fazenda tem dito a interlocutores – segundo noticia a página econômica de O Globo  - que está impressionado com a “multiplicação de algumas despesas”, que atingiram  uma dimensão “impossível de ser sustentada”.

         Nessas avaliações, ele também questiona a efetividade de algumas das desonerações feitas nos últimos quatro anos para estimular o crescimento da economia e o emprego. Há incentivos  cuja relação entre custo e benefício não se justifica, concluiu.  Embora o futuro ministro não revele as medidas de correção de rota que estão em estudo, ele indicou a interlocutores que o corte de despesas que crescem sem sustentação é inevitável, assim como de incentivos. Levy também demonstrou o desejo de não carregar para o orçamento de 2015 despesas que estão sendo represadas, como a conta de energia.

         O futuro ministro também tem indicado que o quadro atual precisa ser corrigido logo, o que não significa necessariamente provocar um baque na economia. Em conversas com colaboradores, o futuro Ministro tem aduzido que “diante dos números e das perspectivas, não seria produtivo deixar as coisas para serem todas resolvidas ano que vem.” A idéia não é passar uma foice em tudo.  Tem lugares onde o mato está tão alto que mesmo cortando ainda continua bastante grande.  Assim, o plano seria fazer um ajuste sem dar brecadas efetivas, sem causar desconfortos efetivos.”

         Sobre o aumento de tributos, Levy também tem demonstrado cautela, dizendo que “não é boa ideia de carregar demais na carga de impostos”. Assim, a respeito das benesses tributárias dos últimos tempos, chega a dizer: Há áreas em que o conforto é tão grande que ninguém vai notar (a retirada).

        Da atual equipe econômica, Levy tem cobrado que o resultado fiscal  de 2014, não importa o tamanho, seja transparente e não deixe esqueletos. Um deles está no setor elétrico. Nesse sentido, a estratégia do governo de tentar desonerar as contas de luz em 2012 desequilibrou o setor de tal maneira que o Tesouro Nacional teve que colocar recursos orçamentários na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e ainda negociar com o setor privado dois empréstimos às distribuidoras.

        Os planos da nova equipe são que os custos da CDE voltem a ser cobrados na conta de luz.  Levy nesse sentido tem defendido  em reuniões internas que a medida “vai aumentar um pouco a inflação, mas parar de criar esqueletos.”  O futuro ministro também é um defensor das chamadas bandeiras tarifárias, que entram em vigor em 2015. O sistema indica aos consumidores as condições de geração de energia no país. Quando os custos sobem, a diferença é repassada imediatamente para as tarifas.

          É notado que a urgência em mostrar como a política fiscal mais austera vai ser executada em 2015 aumentou com  o atual quadro internacional, de dólar em alta e preços do petróleo em baixa.

          Para o futuro Ministro da Fazenda, o que é ruim é a incerteza. Quanto mais rápido a gente der o rumo, mais rápido a gente começa a avançar. O importante é arrumar a regra do jogo. Quando (a coisa se) arruma, as peças começam a se mexer, segundo terá dito Levy a interlocutores.

          De acordo com a nova estratégia, os subsídios aos bancos públicos serão reduzidos substancialmente. Com o aumento da TJLP (taxa de juros de longo prazo) aprovado ontem, o BNDES terá que fazer mais escolhas na hora de emprestar seus recursos e deve “priorizar segmentos estratégicos”, disse uma fonte do Palácio do Planalto.  Entre eles, pequenas empresas e setores inovadores, como o do etanol.

           O discurso da transparência e uma boa comunicação com o mercado também são considerados essenciais pela nova equipe econômica. O futuro Ministro da Fazenda tem demonstrado simpatia pela ideia de adotar um Focus fiscal como “ferramenta de disciplina”. A pesquisa semanal Focus, feita pelo Banco Central com as principais instituições financeiras, traz hoje as projeções para indicadores como crescimento, inflação e câmbio.

           Acabado de ler o teor da entrevista,  se tem a impressão de que ela se propõe transmitir o plano de trabalho do Ministro Joaquim Levy. Talvez houvesse sido mais adequado para a atual situação na economia que o novo Ministro fosse empossado prontamente. Dada a situação da economia – que transpira nesse cuidadoso anúncio de  medidas a serem tomadas pelo novel ministro – que a atual estrutura fazendária fosse afastada, e que se entrasse de rijo no enfrentamento da situação.

           Entretanto, como essa situação calamitosa corresponde aos planos (melhor seria dizer falta de planos) da Presidente Dilma Rousseff, tornou-se necessário dar o dito (ou o programado) por não dito, e passar a atuar dentro de normas ortodoxas.

           Velhos (e novos) esqueletos têm de ser tirados afinal do armário, e o mais recomendável é proceder sem mais tardança, em marcha batida para repor as condições básicas na economia consentânea com os desejos do mercado.

            Ao ler a ‘não-entrevista’ de Joaquim Levy se volta a tomar conhecimento com as suas boas intenções e a macega que tem pela frente – como expressamente se refere quanto à necessidade de comedimento (a ideia não  é passar uma foice em tudo).

            A dificuldade mor nessa tarefa é que ela – se almeja ter êxito – deve ocupar-se (em maior ou menor medida) da confusão instalada nas estalagens. É um segredo de Polichinelo que a atual situação se deve às boas intenções da Presidenta. Será assim possível desconstruir-lhe toda essa herança?  A par disso, o que fará o Ministro Levy com os agentes da confiança de Dilma Rousseff, como Arno Augustin ?

            Se lograr completar a mágica e com o passar do tempo reunir condições de liberar-se da ‘ajuda’  de elementos que até o presente se empenharam – sempre com a melhor das intenções – em fazer progredir o plano Rousseff., não só o mercado, mas o Brasil terá sobejos motivos de tirar o chapéu e congratular o Ministro.

            No momento, o problema continua onde sempre esteve. E a chave mágica estará na concordância de Dilma Rousseff em ser Presidente, mas não Ministra da Fazenda. Será bom que deixe isto para a gente do ramo.

 

( Fonte:  O Globo )

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Diário da Mídia XXXIV

                           

De novo, a censura judicial

 
                A direção do jornal “Diário da Região”, de São José do Rio Preto (SP), decidiu recorrer ao Tribunal Regional Federal  da 3ª Região contra a decisão do juiz Dasser Lattiere Júnior, da 4ª Vara Federal na cidade. O Juiz em tela autorizou a quebra dos sigilos telefônicos do jornalista Allan de Abreu e de todos os ramais do veículo de comunicação.

                 O escopo do juiz é descobrir a fonte de reportagem publicada pelo jornalista, com base em informações de um inquérito aberto pela Polícia Federal, em 2011, relativo a esquema de corrupção implicando fiscais de trabalho na cidade.

                A esse propósito, assim se manifestou o editor-chefe do jornal, Fabrício Carareto: “A decisão é uma afronta à liberdade de imprensa e uma tentativa de violar o que está previsto na Constituição Federal, que é o sigilo da fonte.  Um repórter não quebra segredo de Justiça, ele só divulga as informações. Tanto o indiciamento (do repórter) quanto a quebra do sigilo são decisões arbitrárias e abusivas”.

               É importante notar que processo semelhante foi movido contra jornalistas da “TV Tem”, retransmissora da TV Globo em São José do Rio Preto, por divulgarem as mesmas informações do ‘Diário’.  A decisão da Justiça, no entanto, foi diversa e favorável, como seria de esperar, à liberdade de imprensa, tendo sido o processo  arquivado pela 1ª Vara da Justiça em Rio Preto.  Na oportunidade, ao decidir pelo encerramento do processo, o juiz Adenir Pereira assim se expressou quanto à ação do Ministério Público Federal: colocava em “risco a liberdade de informação, enquanto pilar do regime democrático”.

               Por sua vez, entidades de classe como a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) criticaram  a decisão do juiz Lattiere Jr. , da 4ª Vara Federal, em Rio Preto (SP).

 
O último discurso de José Sarney ?     

                

                 Sarney fez ontem, 18 de dezembro, discurso para um Senado esvaziado.  A pouca atenção recebida pelo ex-Presidente – que se despede da Câmara Alta – contrastou com o plenário cheio que acompanhara, com emotiva participação, a alocução de despedida do Senador Pedro Simon (PMDB-RS).

                  José Sarney  assinalou que aquela seria a última vez em que ocuparia a tribuna parlamentar. Começara em 1955, com a UDN e, portanto, no Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, que então era a capital federal. 

                   Em sua oração, tentou defender o Maranhão (no Senado, ele representava o Amapá pelo PMDB), a despeito dos índices negativos do estado natal. Um ato falho cometido pelo ex-presidente foi o de haver chamado de ‘revolução’ o golpe militar de l964.

                      Disse ter sido um ‘erro’ de sua parte, haver continuado na vida pública, disputando cargo eletivo, depois de haver sido presidente da república. Elogiou a propósito a Constituição americana, que proíbe o exercício de cargos eletivos aos presidentes, após dois mandatos.  Na verdade, a proibição se refere à 22ª  emenda à Constituição americana,  aprovada e ratificada pelos Estados Unidos, a 27 de fevereiro de 1951. O intuito da emenda foi o de evitar, no futuro, que se repetissem as  reeleições de Franklin Delano Roosevelt. Antes, pela norma consuetudinária encetada por George Washington, os presidentes americanos concorriam apenas a uma reeleição.

                      Da longa trajetória política de Sarney, registre-se: era governador do estado, quando estourou, em 1964, a chamada ‘revolução’. Com a sua habilidade política, logrou manter-se no cargo. Mais tarde, afastaria o chefe político local, o Senador Vitorino Freire. Sarney passou à Arena, na década de setenta, e mais tarde também presidiu o novo avatar do partido governista, o PDS (Partido Democrático Social)  que igualmente apoiava o regime militar.  Nesse sentido, foi presidente tanto da Arena, quanto do PDS.

                       Com  o enfraquecimento do governo João Figueiredo, José Sarney se aproximou da aliança presidida por Tancredo Neves, e acabou integrando a sua chapa, como candidato a Vice-presidente. A chapa do regime militar era  encimada por Paulo S. Maluf. Após a eleição, com a enfermidade de Tancredo, assumiu como vice-presidente.  Com a subsequente morte de Tancredo, e a negativa de Ulysses Guimarães de substituir o presidente-eleito morto, Sarney foi empossado como presidente, e permaneceu no Planalto de 21.IV.1985 até 14.V.1990,  até a posse  do novo Presidente, Fernando Collor.       

 

Perseguição à imprensa na China                       

 
          Zhao Ziyang, que acreditava na democratização como um vetor contra a corrupção na China – e que pagou caro por sua posição, quando foi destituído de Secretaria-Geral do Partido, e permaneceu em prisão domiciliar até sua morte em 2005 – mostra, contrario sensu, o quanto tem regredido a R.P.C. em matéria de liberdades públicas. Liu Xiaobo, Prêmio Nobel, está trancafiado em masmorra interiorana desde 2010, e em 8 de outubro do mesmo ano, o Comitê Nobel lhe concedeu o prêmio.

           Essa política repressiva, já marcante no governo de Hu Jintao, se acentuou com o atual presidente Xi Jinping. Às vésperas de sua confirmação para a presidência, a Bloomberg News, servindo-se de documentos corporativos e de entrevistas calculou a fortuna do entorno familial de Xi em bens no valor de centenas de milhões de dólares. Como não havia maneira de o Governo chinês explicar o porquê do montante dessa fortuna, a solução foi bloquear na rede o web-site da Bloomberg, que assim permanece até hoje.

            Por conseguinte, e em tal contexto, a expectativa de que o novo Presidente faria ‘abertura política’ se dissipou com a rapidez da névoa matinal.

           O recente livro de Evan Osnos registrou  mídia bastante viva e atuante na RPC, o que se estende à internet.  A sua observação, no entanto, somente aflora o início de Xi, eis que a permanência de Osnos na China grosso modo coincide com a presidência de Hu.

          Nesse contexto, o toque especial de Xi Jinping já se mostra inconfundível: A RPC é o país que mais encarcerou jornalistas  em 2014! São 44 profissionais. Isso sem contar a Liu Xiaobo, que pela sua condição de Prêmio Nobel pode ser considerado hors concours.

            A reativação da repressão sob Xi Jinping, se tivermos presente a reportagem da Bloomberg News, chama a atenção para detalhe relevante. O mártir da democracia Zhao Ziyang (que foi, de resto, quem introduziu a reforma financeira na China,   que se livrou das constraints (limitações) do marxismo-leninismo) achava a reforma política importante porque coibiria o fenômeno da corrupção, que hoje continua florescente, ao valer-se da censura do PCC.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Prisoner of the State (edited by Bao Pu) e Age of Ambition, de E. Osnos )

Pobre Baía da Guanabara

                                 

 
         Dentre os filmetes com que o Brasil e notadamente o Rio de Janeiro soube ganhar de Chicago e outros concorrentes a sede olímpica, terão decerto comparecido algumas vistas tiradas com engenho e arte da Baía da Guanabara.

         Esse dom da natureza, essa encantadora baía que é tida por muitos como o cartão de visitas do Rio de Janeiro, eu, menino ainda, a conheci com ondas límpidas e quase sempre tímidas, que se transformavam em enorme e acolhedora piscina para quem tivesse a fortuna de ter algum parente rico na família.

        Em lancha de certo porte, que podia até aventurar-se fora dos amplos limites desse grandioso cartão postal do Rio de Janeiro – e que é célebre pelo mundo afora e comparada à baia de Nápoles, embora pela conformação, esta última, malgrado o itálico exagero na promessa[1], não lhe esteja à altura – em geral, meus tios costumavam preferir as cercanias de Icaraí e do saco de São Francisco.

       Ali junto de uns arrecifes, podíamos mergulhar e nadar em águas azuis, límpidas, quase sempre tranquilas. Como o ponto era um tanto afastado da costa fluminense, não tínhamos em geral companhia, e a experiência, se o mar estivesse calmo, prometia horas agradáveis e sobretudo prazerosas, passadas em o que nos parecia enorme piscinão de mãe Natureza.

       Dirão os mais moços do que eu – e são decerto muitos – que tais memórias, eu as teço com os fios do tempo, que docemente irá expurgando o que vai enfeiando o quadro. Nada mais longe da verdade. As lembranças da meninice, e, em especial, aquelas dadas por mãe Natureza, não sóem envelhecer com o tempo. Elas são, para quem as tem, uma espécie de farnel, sem propriedades alimentícias, mas que nos alimentam a fantasia, mormente aquela que vem vestida com os trajes singelos de anos luzentes que só nos voltam por cortesia da saudade.

        Se tivera hoje os instrumentos do passado, não me aventuraria nas pequenas expedições de outrora. Não creio que de mim discordassem os que proporcionavam, ao menino órfão, um passeio radioso em transparentes águas azuis. Não porque hoje estejam todos deitados dormindo profundamente, mas por bem diverso motivo.

        Como poderiam eles conviver com a súbita e obscena transformação do paraíso em uma quase cloaca? Não entenderiam de que maneira surgira tão drástica e horrenda mudança.

       E, no entanto, é estória simples, até singela, em que  desídia e  falta de palavra se misturam, e com isso vão pondo a perder o que nos legaram nossos maiores.

       Aqui fementidos e corruptos se dão as mãos. De cara lavada, tudo prometem, a ponto de tecer suas historietas com os fios de refinada tecnologia. Pensam, no entanto, que com isso está feita a sua parte. E deixam tudo ao deus dará.

       Nada fazem. Apenas assistem à decomposição e destruição de o que herdaram de administradores quiçá mais responsáveis. E dessarte tudo prometem, embora nada façam.

       E a baía da cidade maravilhosa vai virando não mais metafórica cloaca, ao acolher lixo e suas infindáveis excrescências. E no lodo da incúria e do abandono, a baía irá definhando e, por cúmulo, virando cultura de superbactérias.

       E o que fazer, se tal gente parece haver perdido até a vergonha, aquele brio que pode remover montanhas e até conter e mesmo vencer o chorume?

 

 

( Fontes: Manuel Bandeira, Poesia e Prosa, vol. 1, p.211; Folha de S. Paulo )



[1] Ver a baía de Nápoles e depois morrer.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Balaio das quintas-feiras

                          

*       A notícia  no site de O Globo de que 7 milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil surpreende sobretudo pela sua discrepância com os comunicados grandiloquentes do governo e da própria Dilma Rousseff, ao congratular-se com o eleitorado pelo avanço da política social do Partido dos Trabalhadores.  A acreditar na propaganda, a Presidenta estaria ganhando a guerra contra a miséria.

        É o caso de  perguntar:  se a campanha vai tão bem, por que um número tão alto de brasileiros vai tão mal, continuando  sem ter o que comer ?

 

*      A situação financeira da Federação Russa permanece preocupante, mas o ex-KGB Vladimir Vladimirovich Putin, Presidente da Rússia, continua a impressionar pela sua cara dura. Não chega a dizer que tudo vai bem, senhora marquesa quando questionado nas entrevistas de fim de ano, mas continua o Putin de sempre, com o inescrutável semblante do jogador de pôquer, que jamais revelará as péssimas cartas que ora tem em mãos.

        O rublo despencara 45% este ano – há estatísticas ainda piores – mas o bom Putin cuida de tocar a tecla estrangeira para explicar a barafunda em que se meteu. Para ele, os problemas financeiros da Rússia se devem às sanções (ditas injustas) sobre a economia. Ainda no campo de caçar bodes-expiatórios, o presidente resmunga que o Banco Central  deveria estar mais atento e agir um pouco mais.

        Responsabilidade, terá acaso alguma?  Tudo somado, ele acha que não, embora fique difícil de explicar o surgimento das sanções de Estados Unidos e da U.E., senão por causa de política imperialista, de que sofre agora notadamente a Ucrânia.

        Sem embargo, por dispor de grandes reservas, o rublo registrou ontem sua maior alta desde 1998: 11% frente ao dólar, que fechou cotado a 60.74 rublos. A que se deve esta súbita recuperação?  Tal se deveu às ainda fartas reservas de dólares americanos de parte do Banco Central. Além da venda dos dólares, funcionou a promessa do banco de ajudar as empresas, em especial as exportadoras, a honrarem suas obrigações em moeda estrangeira. Consoante o britânico Financial Times, o ministro de Finanças russo disse que o governo está pronto para vender US$ 7 bilhões no mercado de câmbio.

       De qualquer forma, se terá presente que a Rússia tem uma gordura finita de reservas em moeda forte, para a qual existe obviamente um término. Uma política desse gênero só é pensável para o curto prazo. Esse tipo de solução, portanto, não satisfará ao mercado, pela simples razão – segundo o diretor do Instituto de Rússia no King’s College, Sam Greene -  que “as reservas do país não vão durar para sempre”.  Por isso, a equipe econômica do Presidente Putin teria de agir depressa.

        Segundo Greene, o maior problema da economia russa é a falta de quaisquer fontes de crescimento. Assim, sem os preços altos do petróleo (com a atual queda sistêmica no preço do barril) e sem acesso ao mercado de capitais (por causa das sanções do Ocidente), a economia russa “está sem combustível”.

        Dado seu tamanho, a crise na Rússia incomoda o Ocidente,  notadamente a países como a Alemanha, que tem relações econômicas e comerciais bastante amplas com  o  Kremlin. Uma situação do gigante dos Urais vizinha de concordata não interessa a ninguém, muito menos aos maiores parceiros comerciais de Moscou.

        Por isso, soa a hora da negociação. É importante que a oportunidade seja bem aproveitada. Se não interessa à Europa e Estados Unidos uma Rússia em crise, a disposição de um eventual auxílio e de um conjunto de medidas que tornem a situação menos perigosa – tanto para a Rússia, quanto para os seus grandes parceiros – deveria ser sopesada com atenção e visão política. A costura dessas intervenções conjuntas deveria, contudo, ter um pressuposto:  a cessação de parte do Kremlin de sua postura imperialista e de fomento de guerra civil na vizinha Ucrânia. A situação da Crimeia será talvez difícil de remediar, não obstante a ilegalidade da ação militar e o fajuto referendo, que não suportaria qualquer exame sério por tribunal internacional.

       A sugestão da composição para Vladimir Putin é pensada pelo mercado financeiro de Londres, como transpira na sugestão abaixo do diretor do King’s College, relativa a um eventual pacote de medidas pontuais para criar condições de solução da sua crise: “O presidente Putin e seus ministros não têm como trazer os preços do petróleo para os altos patamares em que se achavam, mas podem fazer outras coisas. Podem buscar uma acomodação na relação entre o Ocidente e a Ucrânia, de modo a conseguir que as sanções aplicadas sejam suspensas.”

         De alguma forma, Vladimir Putin deve ser confrontado com a dura verdade de que uma política imperialista, no que tange a seus vizinhos e notadamente a Ucrânia, não é compatível com acerto duradouro que inclua vantagens econômico-financeiras que respaldem a frágil economia russa.

 

(Fontes:  CNN, O Globo)

EUA e Cuba reatam relações

                                

          Anunciado ontem pelo Presidente Barack Obama e por Raul Castro, o reatamento de relações diplomáticas entre os dois países veio surpreender o mundo, após ruptura que durou 53 anos.

          De uma certa forma, a força inercial de congelamento oriundo da guerra fria, passara a fazer parte da paisagem. Presos pelas retóricas respectivas, Washington, condicionado pelo núcleo de oposição da comunidade cubana exilada na Flórida, e Havana  prisioneira do próprio antagonismo, que lhe servia para o enrijecimento da contraposição, um fácil pretexto para dissimular a respectiva situação político-econômica.

          Em seu segundo mandato, e sem mais eleições por enfrentar, Obama pode inovar no capítulo. Por sua vez, para a gerontocracia cubana, diante da endêmica crise sócio-econômica do antigo polo revolucionário, não tem outra saída, senão recompor relações com a besta-fera do passado.

        Mais uma vez, o Papa Francisco comparece com  bom senso e vistas largas. Nos bastidores, Sua Santidade trabalhou sobretudo pela sofrida comunidade católica cubana, eis que através dessa abertura de janelas e de canais de intercâmbio, os novos ares serão benéficos para  recanto que mais semelhava umas dessas paragens geográficas votadas ao marasmo senão ao retrocesso social, político e econômico.

       Antes de ocupar-me das perspectivas do reatamento diplomático, e dos novos horizontes, peço licença aos meus leitores para relembrar a contribuição do Presidente Jimmy Carter,  desde que Dwight D. Eisenhower e John F. Kennedy, de um lado, e Fidel Castro, de outro, criaram  um impasse de meio-século.

       Por uma série de circunstâncias, Carter (1977-1981) integraria essa parcela ‘maldita’ de presidentes de um só mandato. A crise dos reféns americanos no Irã  e o malogrado intento de liberá-los por operação especial, decretaria a derrota de  Jimmy Carter, o  39º presidente dos Estados Unidos, para o candidato republicano, Ronald Reagan. Apesar de intelectual e culturalmente inferior ao democrata Carter, Reagan pela sua personalidade e vontade surgiu para o eleitorado estadunidense, em hora difícil, como o mandatário para aquela ocasião histórica.

       Carter, no entanto, se tinha alguns defeitos, não lhe faltou bom senso na área diplomática, tendo inclusive colaborado para a normalização das relações de Washington e Beijing. Por outro lado, Jimmy Carter quebrou o marasmo nas relações cubano-americanas com a criação de escritórios diplomáticos em Havana e Washington. Dadas as suas contribuições para a agilização das relações, subsistiam poucas dúvidas de que Carter as normalizaria no seu nível pleno se fosse eleito para um segundo mandato. Infelizmente, as páginas da História não puderam registrar tal fato, eis que, com o direitista R.Reagan não havia lugar para tais ousadias, e por isso as relações cubano-americanas, com algumas melhoras periféricas, permaneceram onde estavam desde a partida de Jimmy Carter.

        Mas voltemos ao 44º presidente. Sem mais futuro político-eleitoral, Barack Obama pode intentar o que para os demais seria impossível politicamente falando. Tem ele pela frente, no entanto, uma situação difícil. Não se trata apenas de derrubar o embargo econômico e financeiro que sufoca as relações entre os dois países. Não surgiu decerto por acaso a existência desse gigantesco obstáculo ao desenvolvimento do intercâmbio, assim como à normalização econômico-financeira entre os dois países. O estrangulamento da frágil economia cubana diante do colosso americano colheu apenas como objetivo o sofrimento da população em Cuba. As medidas que constituem o monstruoso embargo surgiram para satisfazer a comunidade cubano-americana, que instalou-se e cresceu na Flórida.

           Não surpreende tampouco que a mor parte de quem apoie o embargo – e quem induziu demagogos a introduzirem medidas ainda mais restritivas – são os exilados cubanos, hoje residentes na Flórida, e cujo número constitui trunfo relevante do Partido Republicano.

           E diante da medida de Obama, quebrando com uma ruptura de meio-século, não desperta nenhuma surpresa que a caterva republicana venha em peso opor-se à iniciativa de Barack Obama.

           Politicamente, os céus do Capitólio não induzem a otimismo. Assim, o Speaker da Camara de Representantes, John A. Boehner e o Senador Marco Rubio (Rep/Fl.), este filho de imigrantes cubanos, se opõem à queda do embargo. Tampouco diferem da negativa a mexer no embargo o futuro líder da maioria (republicana) no Senado, Mitch McConnell, o Senador Ted Cruz (Rep/Tx) e o ex-governador da Flórida (e aspirante à designação presidencial) Jeb Bush.

            Como se sabe, um pouco por responsabilidade própria, Barack Obama iniciará o seu biênio terminal na Casa Branca, rodeado por um Congresso dominado pelo GOP.  A Câmara de Representantes é republicana desde 2010, com o shellacking (tunda), que proporcionou ao Grand Old Party a oportunidade única de construir maioria estável na Câmara Baixa, com a ajuda do recenseamento decenal conduzido judiciosamente por diversas assembléias estaduais com o domínio do GOP, que trataram de através do gerrymandering transformar o ganho ocasional em permanente.  O estado da Câmara de Representantes se tornou reflexo disso, e sabe-se lá quando será possível remediar à tal anômala situação.   

            Barack Obama, com todas as suas debilidades, mostra ao que veio. O seu apoio aos latinos (no caso a comunidade latino-americana, que favorece nas urnas aos democratas, e por boas razões) e a reforma da imigração deverá melhorar a situação dos antigos ilegais.  Também na saúde, mesmo com alguns defeitos, o guarda-chuva do ACA deverá permanecer, malgrado a peçonhenta oposição da direita republicana.

            E agora, só para incomodar  os republicanos de boa cepa – a nobre vanguarda do atraso – não é que Obama vem com a normalização das relações com Cuba, e até intenta acabar com o embargo, esse instrumento de sufocação do povo cubano ?

 

( Fontes:  The New York Times, Folha de S. Paulo )

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Obscurantismo

                                           

       Mais uma vez o Talibã ataca no Paquistão. A região visada, desta feita,foi o Peshawar, no nordeste do país, em área próxima à fronteira com o Afeganistão.

       Embora simplificadas pela imprensa, naquelas paragens as responsabilidades são muitas. Em passado recente, com o intuito de dar abrigo ao talibã perseguido pelo Ocidente no próprio país, o ISI, órgão estatal paquistanês, responsável pela contra-informação e  espionagem (que constitui, em país militarizado, um poder virtualmente autônomo), tratou de abrir a fronteira com o Afeganistão, havendo o previsível influxo maciço de refugiados talibãs para o território paquistanês.

        Ali os drones[1],  uma espécie de justiceiro das forças militares da Superpotência, são mais temidos pelos talibãs do que a guarnição local. Daí o enfraquecimento da presença do estado paquistanês em Peshawar, zona em que, dentro do relativo desgoverno, o poder do talibã é componente relevante da complicada relação.

         No bárbaro ataque à Escola Pública de Graduação do Exército – e a sua seleção como alvo não foi decerto por acaso – o escopo do talibã  foi o da represália. Sem alterar-se, o porta-voz do Talibã paquistanês, Muhammad Umar Khorasani, explicou para a mídia o “porquê” da ‘operação’: ‘Escolhemos a escola do Exército para o ataque porque o governo está alvejando nossas famílias e mulheres. Nós queremos que eles sintam dor.’

         Cerca de 145 pessoas foram abatidas pelos militantes jihadistas do Talibã paquistanês. Depois de galgarem os muros do colégio militar, partiram para a matança: 132 dos chacinados eram crianças e jovens, entre dez e vinte anos, a maior parte com disparos na cabeça.  Por sua vez, escaparam feridos 121 alunos e três funcionários.

         Contra o comando suicida, o exército paquistanês levou o dia inteiro para assenhorear-se do local e retomar-lhe o controle. Após cerca de oito horas de tiroteio intenso, foram mortos todos os jihadistas, e as forças da lei paquistanesa puderam afinal  retirar do complexo escolar os sobreviventes: 960 seres humanos, entre alunos e funcionários.  Encaminharam, então, os feridos – e são muitos - aos hospitais da região.

          Há discussões sobre que tipo de talibã seja o pior. Treinados pela  guerra declarada por George W. Bush, após determinada a respectiva cumplicidade[2] no ataque às Torres Gêmeas, o talibã acabou por se tornar a principal força em terra afegã. Hoje está presente também no Paquistão, a princípio induzido pelos potentados locais, que pensaram fosse possível empregá-los como forças auxiliares nas suas diversas lutas.

          Todos esses artífices – a começar pelos americanos – de certa forma prepararam o talibã para o que ele é hoje: alguém saído da Idade Média em termos de tolerância com o outro, armado, no entanto, com os engenhos da modernidade.  Para muitos, um monstro; para outros, a esperança de afirmação étnica e cultural (se bem que a cultura aqui entre como composto de crenças e costumes).

           Neste sinistro ambiente, surgem tipos que pensam poder instrumentalizá-los. O resultado de tais atividades, em geral ditas bem-intencionadas, está aí, para gáudio de uns, e  para a condenação de muitos.

 

( Fontes:  O  Globo, The New York Times, Folha de S. Paulo)   



[1] Aviões armados e não-tripulados. Teleguiados, são uma espécie de xerife, à cata de terroristas. Ao contrário dos bandidos do Velho Oeste, aqueles devem enfrentar armas muito mais potentes do que as Winchester do Século XIX.
[2] De uma forma um tanto indireta, pelo suposto abrigo que foi dado ao chefe da al Qaida, Osama ben Laden.