segunda-feira, 30 de junho de 2014

Correio da Copa XVI : Alemanha x Argélia


                            

         Na Copa do Mundo, não existe a categoria dos vencedores morais. No entanto, na partida jogada nesta tarde no Beira-Rio, a Argélia esteve muito perto dessa condição, pelo que ela significa.

         Para a equipe da Rede Globo, seria apenas uma formalidade, seguida pela esmagadora vitória da Alemanha, dada a manifesta superioridade da equipe teutônica diante da seleção argelina.

         Em qualquer tipo de jogo, há um erro que não se pode cometer - menosprezar o adversário, e julgá-lo batido de antemão.

         Ao vermos a esquadra alemã pisar no gramado,  sentia-se que o escrete da RFA estava ali para cumprir a programação. Com a sua fama de rolo compressor, tudo transcorreria conforme previa o retrospecto, e os gols logo viriam como consequência inevitável da disparidade nas duas equipes.

         Essa arrogância se descobria no campo do Beira Rio e se transmutava nos olhares condencendentes dos jogadores alemães, nas apreciações jocosas dos representantes da Rede Globo, e na geral suposição de que se assistiria a match pro-forma (a despeito de ser uma oitava de final), que  culminaria com uma goleada do time do técnico Lowe.

         Ninguém se perguntou como a Argélia conseguira chegar às oitavas de final, eliminando ao fim a Rússia.

         As avaliações de Júnior e os gracejos de Alex Escobar – que pretende com isso assinalar-se por um novo estilo, ao contrário das usuais imitações de Galvão Bueno – sem dizê-lo expressamente, nos apresentavam a equipe do Magreb como um quase rústico time de roça, que não teria qualquer condição de enfrentar o rolo compressor alemão.

          Nesses casos, a realidade sói bater forte. O time tosco que a bola costuma atrapalhar, apareceu como uma equipe valerosa, cujos contra-ataques principiaram a criar confusão no ordenado esquadrão teutônico. Por várias vezes, os jogadores, com rápidos passes e velozes investidas, lançaram em confusão os craques germânicos. As ações se repetiam, em evidente desrespeito às avaliações da equipe da Globo, e pior do que isso, criavam pandemônio nas linhas de Schweinsteiger, Muller e do próprio goal-keeper que no desespero tinha de transformar-se em beque para controlar as penetrações dos atacantes da Argélia.

           A arbitragem da peleja foi entregue a um árbitro e a bandeirinhas brasileiros. Talvez a decantada importância da esquadra germânica os tenha impressionado demasiado. De qualquer forma, diante do esforço e da habilidade dos jogadores argelinos, e da manifesta confusão que os acometeu – ao se darem conta que a outra equipe não tinha qualquer respeito pelos seus campeonatos mundiais, pelo seu renome e capacidade de destroçar as defesas contrárias, como o fizera com Portugal  - a seleção alemã passou a mostrar na fisionomia e no gestual não só a própria confusão, senão a exasperante suspeita de que um quadro de segunda ordem pudesse desmantelar todo o entrosamento, além de causar-lhe danos ainda maiores.

             Ao final, rasgou a considerada fraca equipe argelina, com um aglomerado de jogadores que juntos devem valer menos do que um Müller e outros craques alemães, a soberba do conjunto da RFA. Cercados pelos deferentes cumprimentos de nossos locutores, os futebolistas germânicos não conseguiram vencer no tempo regulamentar os argelinos. Além disso, passaram inúmeros sustos com os seus velozes contra-ataques e a sua generosa disposição. Os modestos argelinos desrespeitaram os craques germânicos, além de colher da torcida a admiração e o aplauso, que são expressões genuínas que pouco têm a ver com as mesuras dos comentaristas televisivos.

              Para esses jogadores, terá sido ao cabo uma derrota que para eles é mais do que um lenitivo. Forçar o rolo compressor alemão, e a empáfia de suas coortes, a atabalhoadas correrias e àqueles olhares perdidos, marca momentos que tem grande valia e podem motivar no futuro a transformar a habilidade e a desenvoltura em grandes esquadras, capazes de em novos torneios completar aquilo que hoje começaram, arrastando os craques germânicos aos incômodos e incertezas de uma prorrogação.

               Ao fim de tudo, pode ser que os alemães tenham apreendido uma lição: devem respeitar o adversário e nunca subestimá-lo. É um ato tanto de inteligência, quanto de caráter, que pode poupar-lhes muitos dissabores.

 

( Fonte: Rede Globo )      

Correio da Copa (XV)


                                        

           O México e a Grécia foram eliminados nas oitavas de final.  A equipe mexicana esteve próxima de classificar-se, mas a excessiva prudência do técnico a prejudicou. Depois de lograr a vantagem, preferiu montar um esquema defensivo contra a Holanda, ao invés da orientação ofensiva que até então fizera prevalecer no campo a equipe asteca.

           Com o retrospecto holandês, privilegiar a retranca não foi uma boa solução. Robben, apesar de apagado no primeiro tempo, brilhou no segundo, contribuindo com escanteio que a zaga mexicana deixou passar,  para o empate salvador aos 43 do segundo tempo, em chute de Sneijder. E ainda nesses minutos finais,  Rafa Márquez derrubou Robben na área, o juiz marcou o penalty (ao contrário de Mr Webb com Hulk na área do Chile) e Huntelaar converteu.

           Eis o time laranja de volta à quartas de final  . E o goleiro-fantasma Ochoa se viu redimensionado. Voltou a ser um mortal, como os demais.

           A vice-campeã mundial enfrentará a Costa Rica. Carimbada de zebra pela imprensa, a Costa Rica depois de fazer o gol contra a fraca Grécia, optou pela dúbia tática da cera. Errou ao invés de privilegiar o jogo e a técnica, que a tinham feito prevalecer no grupo da morte (três campeões mundiais!), e assim acabou perdendo um jogador e cedendo o empate nos minutos finais do tempo regulamentar.

            Entrou em verdadeiro inferno astral na prorrogação, em que lutou contra a exaustão dos respectivos jogadores, em um cenário subitamente adverso, dada a inferioridade numérica.

            Salvou-a não o Rum Creosotado, mas a limitação técnica dos jogadores gregos. Assim, ao entrar na loteria dos penaltys mostrou determinação, convertendo  todos os cinco, enquanto a Grécia perdeu a quarta cobrança.  De resto, a maneira segura com que os costarricences converteram os gols contrastou deveras com a incompetência mais uma vez dos cobradores de uma grande equipe – que hoje se empenha na conquista do hexacampeonato mundial.  É um escândalo que continuemos a perder pênaltis infantilmente. A seguir desse modo, em um torneio tão disputado quanto o presente, desperdiçamos uma grande vantagem potencial. Apesar de Júlio Cesar haver defendido dois e visto outro chute bater na trave, tivemos de esgotar as cinco cobranças na partida com o Chile, porque a fraqueza de alguns dos cobradores forçou que a disputa fosse até cinco penalidades.

               Ontem a Costa Rica não estava em dia muito feliz.  Mas devemos ter cuidado ao designá-la de forma pejorativa. Até quando a imprensa vai continuar a carimbá-la de zebra ?  Já deixou para trás três campeões mundiais ... Não seria mais inteligente e apropriado que essa simpática equipe da América Central fosse tratada com mais respeito ?

 

(Fontes:  O Globo,  Rede Globo)  

domingo, 29 de junho de 2014

Colcha de Retalhos B 25

                                

Imagem x Realidade

 
               Peço vênia para discordar de algumas observações do interessante artigo de Matias SpektorA Virada, publicado na Folha de 25 de junho de 2014. Reporto-me à discussão entre realidade e imagem, no contexto da utilização pontual de grandes eventos. Sem desmerecer da função marqueteira, cuja importância cresce na atualidade, as embaixadas  não semelham incluir  tais encargos em suas funções precípuas. Sem dúvida, é um trabalho que tem muito mais a ver com as repartições consulares e os serviços comerciais.

                  Nesse contexto, continua válida a itemização por Hildebrando Accioly dos deveres do agente diplomático para com o seu próprio Estado. Tais encargos são óbvios, mas carecem de ser especificados. Como é sabido, eles se dividem em três categorias: representação, observação e proteção. São os deveres clássicos do agente diplomático para com a sua sede de origem, usualmente denominada de Secretaria de Estado.

                  Já com relação ao Estado onde esteja exercendo suas funções, o agente diplomático tem outras obrigações, que como Heffter o assinalou, são deveres de lealdade para com o soberano estrangeiro. O linguajar pode parecer antiquado – o “Tratado de Direito Internacional Público”, 2ª edição, é de 1956 – mas tais funções nas duas esferas de ação são aplicáveis à atualidade. Os meios disponíveis – aqui entra o progresso – podem mudar, mas as respectivas funções não variam.

                  Assim, quando se fala em embaixada atuando para a divulgação de uma imagem determinada, na essência a função continua a mesma, se nos ativermos ao objetivo precípuo, mas não aos meios que devam ser empregados. Sendo repartições permanentes, as respectivas chefias, por iniciativa própria ou coordenadas pela Secretaria de Estado, poderão ocupar-se de questões atinentes à imagem do país. Não estão, decerto, entre as funções específicas de uma missão diplomática, dada a mutabilidade de uma imagem respectiva.

                  O que me parece mais consentâneo é que a política de promoção de determinada imagem seja concertada nos seus grandes traços pela embaixada, que se encarrega da missão política de promoção do país. A viabilização dessa campanha caberá a serviços auxiliares, dada a orientação tópica da questão.

                  No meu serviço na carrière, em que completei dez lustros, tive mais de uma vez de lidar com esse falso problema, que é a suposta contraposição entre a dita imagem e a realidade subjacente. Na verdade, a promoção da imagem – qualquer que seja – é uma função tanto individual, quanto coletiva.

                  É bem verdade que essa questão se reporta mais aos anos finais da minha presença no Itamaraty. Seria um vezo da última década do século vinte, quando surgiram na Casa de Rio Branco assessorias encarregadas especificamente da dita imagem.

                  Convém, no entanto, precisar que, como toda política promocional, ela deve ser manipulada com cautela.  A sua premissa é a realidade que o agente diplomático representa. O que ele não deve esquecer é que a embalagem, por melhor que seja, não altera a qualidade do produto. Por episteme, dispomos da verdade que o país representa.  Por maiores habilidades e meios tecnológicos de que o agente disponha, há um limite bastante claro quanto à mensagem a ser passada para Garcia. Na promoção de campanha para a obtenção de patrocínio para grandes eventos, há uma normativa a ser seguida. Na transmissão da imagem, o conteúdo é importante, não só nas suas qualidades técnicas, mas também na medida em que reflita algo concreto e factível, e não estórias da carochinha, com curtíssimo prazo de validade.

                  Contrariando a opinião de um colega – que infelizmente não está mais entre nós – permiti-me referir  minhas dúvidas sobre a validade de política que privilegiasse os aspectos superficiais da imagem em detrimento do conteúdo.

                 É o antigo debate entre valor epistêmico de uma questão e a sua derivada projeção como imagem.

                 A imagem, se veraz, será necessariamente um aspecto adjetivo de uma determinada situação. As posições políticas, os dados relativos ao estado presente de nosso país, são relevantes enquanto projetam uma determinada realidade. A imagem decorrente será necessariamente adjetiva, por constituir função de um estado de coisas preexistente.

                 Por ser derivada, a imagem só terá real importância se corresponder à realidade.

                  Nesse caso é bom lembrar a sapiência popular sobre a mentira. Ela costuma ter as pernas curtas.

                   E quando a imagem, uma vez projetada e fixada, briga post-factum com a realidade, o desserviço ao interesse nacional tem de ser multiplicado por um coeficiente na razão inversa de seu suposto êxito quando de sua tópica utilização

                   E aí se volta a verificar um velho truísmo. A imagem será tanto mais deletéria quanto mais contrária for determinada a sua relação com a realidade.     

 

Poroshenko assina acordo com U.E.

 
                    Estão pendentes de esclarecimentos futuros as razões que levaram o então Presidente Viktor Yanukovych a jogar na cesta o acordo comercial longamente discutido e negociado com a União Européia. Por força desta inopinada decisão – que os escaninhos da História um dia hão de esclarecer – Yanukovych bateu de frente com a vontade majoritária do povo ucraniano, vontade essa que não tardaria em repontar na Praça da Independência e na continuada rebelião civil que se espalharia pelos diversos prédios oficiais de Maidan, numa épica resistência que recordaria as revoltas da Paris oitocentista, com as suas barricadas e a coragem dos populares.

                    Agora, o pleito nacional com a sua abertura para a Europa ocidental  - leia-se promessa de progresso econômico e financeiro, em ambiência democrática – é atendido pelo novel presidente Petro Poroshenko, com a firma nesta sexta, 26 de junho, dos acordos com Bruxelas. Ao contrário da via estreita da submissão ao Kremlin, pela adesão à União aduaneira que a Rússia quer impor, o presidente ucraniano preferiu a senda mais ampla e promissora da abertura para o Ocidente. Dos benefícios de tal opção – que gospodin Vladimir Putin alegando sérias razões deseja à força impedir – basta um olhar para a vizinha Polônia para cientificar-se do potencial proveito de ingressar na União Europeia.  O caminho para tal propósito, como muitos ideais, principia por um passo singelo, quase burocrático, i.e., a firma do pacote de acordos negociados com as instâncias de Bruxelas. O povo ucraniano, máxime aquele das regiões ocidentais, deseja desvencilhar-se do sufocante amplexo do urso russo, que é um misto de autoritarismo, dependência, e estreiteza burocrática, em uma receita que, por conhece-la bem, o ucraniano opta pela promessa de tempos melhores da Comissão de Bruxelas.

                 Segundo Amanda Paul, do Centro de Política Europeia, o grande perdedor nesta questão seria o Presidente Putin: ‘Criou uma série de problemas internos para a Ucrânia, mas só conseguiu jogá-la ainda mais nos braços do Ocidente de o que antes acontecera.’ Sem embargo, as ‘sérias consequências’ mencionadas pelo governo russo começam a concretizar-se.  Dentre as medidas retaliatórias – não se deve esquecer que o Kremlin controla a torneira do gás para a Ucrânia – está incluída a retirada de tratamento preferencial para as suas exportações para a Rússia.

                Coincidindo a cerimônia em Kiev com cerimônia diplomática no Kremlin, Putin fez a seguinte declaração: “A aguda crise na vizinha república nos perturba muito (sic). O golpe inconstitucional em Kiev e intentos para artificialmente impor uma escolha entre a Europa e a Rússia pelo povo ucraniano empurraram essa sociedade para uma fratura e dolorosa confrontação.” Mesmo para conhecedor superficial das relações da Ucrânia com o seu poderoso vizinho, essa declaração é um amálgama de inverdades e omissões.  A escolha europeia do povo ucraniano custou-lhe a anexação da Criméia, em cínica agressão ao direito internacional e ao princípio dos pacta sunt servanda.

                Também por trás das tentativas de secessão na região oriental está o governo Putin, com o envio de ‘voluntários’ (alguns dos quais voltam em caixões),  assim como apoio aos milicianos pró-Rússia nas províncias do Leste, notadamente os diversos centros servidos por via férrea na bacia do Don, em cuja fronteira se acham 40 mil homens do exército russo. Há uma visão russa – que Putin deseja firmar com a ideologia eurasiana, que claros pendores autoritários -  de que é chamado “o exterior próximo” (near abroad), cujos países deveriam pautar-se por uma visão deferencial com relação ao vizinho do Kremlin, como principal herdeiro da União Soviética.

                As sanções impostas pelo Ocidente – inclusive os Estados Unidos – ainda são de natureza ‘light’, e refletem a ambivalência diante dessa ‘potência regional’, como a definiu Obama em relação a Moscou.

                A própria OTAN (organização do Tratado do Atlântico Norte) tem evidenciado atitudes conciliatórias no que tange à Federação Russa. Essa vontade de conciliação não favorece muito a países que desejem liberar-se do sufocante amplexo do urso russo.

                Por isso, malgrado as alusões do presidente Poroshenko, não semelham muito brilhantes por ora as perspectivas de em futuro próximo serem admitidas na União Européia a Ucrânia, a Moldova e a Georgia. O pretexto seria a oposição da opinião pública europeia a uma ampliação da UE, considerada já demasiado grande e de difícil manejo (conta atualmente 28 membros plenos). No entanto, a assinatura do acordo comercial (e de outros correlatos) pelo governo de Kiev é um marco relevante, porque caracteriza o início de um processo, que pode levar a uma eventual adesão política da Ucrânia (como foi o caso da Polônia).

                  Por sua vez, a organização favorecida pelo Presidente Vladimir Putin – a União Eurasiana, que deverá começar a funcionar em 2015, só registra por ora três membros: a Federação Russa, a Bielo-Rússia e o Kazakhstão. Por oferecer pouco mais do que o amplexo hegemônico do antigo império russo, o interesse em aderir dos países ativamente requestados tem sido baixo, mais preocupado em preservar a própria autonomia, do que cair nos braços de um imperialismo de que têm sobejo  conhecimento.

 
Captura de suspeito no ataque de Benghazi
 
                    Os comandos da Marinha estadunidense - os Seals (focas) que realizaram o raid que levou à eliminação de Osama ben Laden - capturaram na Líbia o principal suspeito pela morte do Embaixador americano J. Christopher Stevens e outros três americanos. O assassínio do embaixador Stevens resultou de ataque terrorista à missão americana em Benghazi, e a instalações vizinhas, utilizadas pela CIA.

                   Segundo investigações posteriores, do Congresso e de comissões especiais, a ação em apreço fora tornada possível por segurança deficiente no ‘compound’ americano, inclusive no que dizia respeito à proteção do chefe da missão. O ataque em que morreram quatro cidadãos americanos, inclusive o Embaixador, se efetuou na noite de onze de setembro de 2011.

                   Detido em navio de guerra americano, o suspeito, Ahmed Abu Khattala,  levado em seguida a New York, e daí transportado de helicóptero para Washington. Na capital, neste sábado, 28 de junho corrente, compareceu perante um juiz, para o respectivo indiciamento relativo a três imputações,  a cargo do Departamento de Justiça, e relativas à ação criminosa em Benghazi, em setembro de 2011.

                   Por intermédio de seu advogado, o suspeito alegou inocência.

 

( Fontes: Folha de S. Paulo, The New York Times )

sábado, 28 de junho de 2014

Correio da Copa (XIV)


                                      

        O jogo desta tarde no Mineirão,na verdade, teve duas partes.  Na primeira, o juiz da Fifa, o inglês Mr. Howard Webb, errou duas vezes e de forma grave. Numa entrada na área de Hulk, o nosso jogador foi derrubado por trás, em um muito hábil movimento do jogador chileno, que não foi visto por Mr. Webb.

         Além disso, em outra investida do mesmo Hulk, que terminou com a bola no fundo das redes, Mr Webb desta feita anulou mal o gol, depois de consultar o bandeirinha. A reprodução do lance mostrou, no entanto, que não houvera braço ou mão do jogador. Na verdade, a bola lhe roçara no ombro. Assim, este árbitro inglês, que passa como o preferido da Fifa, colaborou no resultado da pior forma imaginável, qual seja não apitando um penalty claro e anulando um gol legítimo, ambos que seriam em favor do Brasil.

       O Chile jogou bem e depois desses incidentes dominou por boa parte a equipe brasileira. O Brasil abrira o placar no primeiro tempo, através de David Luiz, em lance confuso na pequena área e o Chile empatou, numa bobeada da defesa, em lateral à esquerda da área.

        No jogo, Neymar, depois de sofrer falta no início, praticamente desapareceu da partida. O Brasil, dominado no primeiro tempo, reagiu no segundo, mas nada logrou, o que também se aplica para a prorrogação de trinta minutos.

        Na cobrança dos penaltys, Julio Cesar foi o grande nome, tornando-se o verdadeiro herói da partida. Defendeu dois  e, viu um chocar-se na trave. Dos nossos batedores três lograram converter (David Luiz, que iniciou a série, Marcelo e Neymar, que a concluíu) mas Hulk e William sofreram da síndrome da Copa América e falharam. Por isso, apesar do desempenho excepcional de Júlio Cesar (defendeu os dois primeiros), a série não pôde ser interrompida, pois a vantagem desapareceu com os dois erros de William e Hulk. Só na cobrança final, em que a bola cobrada pelo chileno bateu na trave e a nossa foi convertida, que a maiúscula contribuição de nosso goleiro levou o nosso time para uma suada e sofrida vitória.

        E para o Chile, uma vez mais, a despeito das bazófias e campanhas pela mídia, se confirmou a histórica freguesia com o Brasil.

        Faltou muita coisa ao escrete canarinho nesse jogo. No primeiro tempo, ficou atarantado em campo. No segundo e na prorrogação, esforçou-se muito, mas sem êxito. O juiz também contribuiu, sobretudo no primeiro tempo. Mas no final, graças sobretudo a Júlio Cesar - que nos mostrou o grande goleiro que é – o nosso time lhe ficou devendo o triunfo que  carregou o time para as quartas de final.

 

(Fonte:  Rede Globo)

Notícias da Corte Petista


                                 

       Hoje não é dia de pescaria, mas da partida eliminatória Brasil x Chile. Iniciamos o ciclo das oitavas de final, e nós brasileiros esperamos que a seleção vença hoje, entrando na pedreira dos desafios que hão de levar-nos à final, com o espírito e a determinação dos feitos de 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002.

       Jerôme Valcke, o homem do pontapé no traseiro, declara que Sepp Blatter e Dilma Rousseff entregarão a taça aos campeões. Será? Acho que é muito cedo para pensar  em tal detalhe formalista. De qualquer maneira, seria preferível que no caso de resultado positivo, a classe política não quisesse tomar jacaré nessa onda.  Tudo isso é muito prematuro, e só indica a sofreguidão de eventuais ganhos secundários.

       A realidade da gastança do governo dílmico bate forte. E ao invés de superávit primário registra-se um déficit primário de R$ 10,502 bilhões neste maio último. Assim, o problema de que pôr de parte para o superávit primário não se coloca. Com as despesas superando as receitas, se marca o pior resultado para o primaveril mês de maio, desde 1997, quando se inicia a série estatística.

       Já em maio de 2013 houve um superávit primário (receitas do governo menos despesas, sem incluir pagamento de juros da dívida pública) de R$ 16,6 bilhões !

        Segundo a Fazenda, a receita líquida total somou R$ 68,3 bilhões em maio, valor 28,85 % inferior àquela obtida em maio de 2013. Explica-se essa diferença negativa por uma razão oficialóide: ela se deve à concentração sazonal de recolhimentos tributários em abril. Na verdade, o recolhimento extra em 2013 – de R$ 4 bilhões relativo a PIS/Cofins, IRPJ e CSLL – não se repetiu em 2014. Dessa sopa de letras, transparece uma verdade: em 2013 o aumento correspondera a artifício fiscal, o que, como todo artifício, não é suscetível de ser repetido a cada ano.

        Dessarte, nesta administração fazendária, como as despesas são altas – o que se insere na gastança do modo dílmico de governar – nem sempre será possível escamotear os déficits no erário. Valer-se de recursos una tantum  (válidos por uma vez) tiram a Administração supostamente do sufoco anual, mas como todos os malabarismos fiscais de que é tão rico e imaginoso o governo de Dilma Rousseff tem um prazo de validade curtíssimo. Dando um exemplo, seria o de comprar remédios mais baratos, em liquidação: só que o cliente não é informado de que a baixa no preço corresponde a um uso muito restrito do medicamento, por causa de prazo de validade já beirando o vencimento...

          E essa notícia, divulgada justo em dia de compromisso da seleção nacional, será outro artifício para esconder maus desempenhos na programação fiscal e consequentes déficits na economia. Tais peripécias não ocorrem por acaso: em casas mal geridas, em que as despesas excedem os ganhos, malabarismos e outros papagaios fiscais não logram, no final das contas, tapar o sol dos dispêndios muito acima do caixa disponível...

       

( Fonte:  O Globo )

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Correio da Copa (XIII)


                                        

      Neste sábado, 28 de junho se iniciam as quatro rodadas restantes da Copa do Mundo, com o jogo final previsto para o Maracanã, no domingo treze de julho.

     Manda o bom procedimento que a nossa seleção se concentre no rival da vez, porque terá de tirá-lo do caminho, se deseja prosseguir na sua caminhada, como nós brasileiros desejamos.

     Há duas modificações em nosso time, uma confirmada, que é a de Fernandinho, que vem substituir Paulinho. Há consenso quanto à necessidade desta mudança por Felipão, haja vista a boa atuação do volante do Manchester City contra os Camarões, e o primeiro tempo algo decepcionante do titular Paulinho.

     Será que Maicon vai entrar no lugar de Daniel Alves ? Há queixas no que tange à avenida Daniel Alves, o que apontaria para a necessidade de mais esta alteração.

     O Chile será decerto carne de pescoço, mas é de augurar-se que prevaleça a nossa supremacia, que as estatísticas confirmam. As apelações e eventuais provocações não nos devem tirar do sério.  São até menores se tivermos presente a encenação do rojão no Maracanã, em partida classificatória.

      Ontem, Alemanha e Estados Unidos se classificaram em partida que dissipou quaisquer suspeitas sobre eventual conchavo. É de lamentar-se o tropeço de Portugal, em que pesou muito a derrota acachapante contra a Alemanha, com pesados reflexos sobre o saldo de gols. O esforço de Cristiano Ronaldo deve ser assinalado, eis que teve de superar séria contusão, que lhe limitou a capacidade de atuação (além da fraqueza técnica do restante do time luso).

      No jogo entre Rússia e Argélia, esta seleção do Magreb (norte africano) alcançou por vez primeira a classificação para as oitavas. Pelo denodo e movimentação, o limitado conjunto argelino fez por merecer a passagem para nível que jamais visitara antes. A Rússia continuou irreconhecível, no que desmentiu o retrospecto na rodada classificatória europeia, em que atuara muito bem. Nos jogos desta Copa caíu muito de nível, e o seu goleiro, além de anotar um senhor frangaço, se não me engano no jogo com a Bélgica, voltou a falhar ontem no gol de Slimani (que empatou o jogo, e classificou a Argélia). Não obstante, pelo empenho os argelinos mereceram o resultado favorável.

      Cabe ao final palavra sobre Luis Suárez.  Se a punição da Fifa terá sido severa, a infração do craque uruguaio, pelos seus aspectos patológicos, clamava por  ser enquadrada e punida. Nesse contexto, muitas personalidades uruguaias perderam boa ocasião de ficarem caladas (em geral, caíram na negação). Num caso como esse, se precisam cair será na real. Eis que não é mais possível recorrer à negação pura e simples. É em verdade positivo e um claro avanço na determinação da responsabilidade, que a cobertura da mídia atual torne risível qualquer tentativa de escamotear responsabilidades do gênero em partidas da Copa do Mundo. Por isso, que me perdoe o Presidente uruguaio, o respeitado e estimado José Mujica, mas no caso em tela, se até caberia arguir contra alegada severidade da pena, não é admissível  negar-lhe  a evidência.  Luis Suárez, um mordedor reincidente, carece com urgência de tratamento psiquiátrico. Agindo dessa forma lamentável, de que serviu todo o meritório esforço do fisioterapeuta e dele próprio para a recuperação da lesão no joelho?

 

( Fonte:  O Globo, Rede Globo)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Correio da Copa (XII)


                                         

       Ontem, no Grupo F, tivemos a vitória suada da Argentina (3X2) sobre a equipe nigeriana. Além das mesuras a Lionel Messi, dois fatores ajudaram os portenhos. A equipe africana é forte, mas não tem disciplina tática – o que, de resto, pode ser dito dos demais conjuntos da África. Por outro lado, a Nigéria de hoje em termos de futebol é apenas uma sombra do time que venceu o Brasil e a Argentina, conquistando a medalha de ouro olímpica.

       Por outro lado, como o resultado não comprometia a classificação dos nigerianos, os jogadores no segundo tempo até fizeram uma certa cera, eis que o resultado não interferia com a sua passagem para as oitavas de final.

       Quanto ao jogo entre Equador e França (Grupo E), a equipe equatoriana lutou muito (ficou no 0x0) e merecia melhor sorte. Chocou-se, no entanto, com a atitude anti-esportiva de E. Valencia, que recebeu (merecidamente) cartão vermelho no início do segundo tempo.

        O Equador não logrou sair do zero a zero, mas apesar de estar inferiorizado – inclusive no ataque – atuou com perigo.

        O juiz Noumandiez Doue teve atuação infeliz, prejudicando por mais de uma vez o Equador. A Fifa deveria ter mais atenção com as arbitragens. Escolher um árbitro da Costa do Marfim em um jogo da França não me parece escolha adequada. O principal estadista marfiniano, Houphouet Boigny (1905-1993), presidente da Costa do Marfim de 1960 a l993 era ligado visceralmente à França, tendo sido inclusive Ministro da Saúde francês, de 1957 a 1958.  Daí os laços desse país com a antiga metrópole.

        Hoje temos Estados Unidos x Alemanha (Grupo G). Os técnicos das duas equipes são alemães e velhos conhecidos – Jürgen Klinsmann, para o time americano, e Joachim Löw, para o conjunto teutônico.  Apesar de que os interessados negarem, há suspicácias no ar de eventual conchavo (no caso de um empate no jogo, os dois teams asseguram passagem às oitavas de final).    

        E, por fim, se aguarda a decisão sobre a famosa mordida de Luis Suárez. Patética a negação da realidade, tanto da mídia uruguaia, quanto do próprio capitão Lugano. A unanimidade – que segundo Nelson Rodrigues é burra – no caso se vê quebrada pelo "ídolo" do Maracanazo, o ponta Ghiggia que reconheceu a culpa do craque: “Uma punição poderia ser aplicada. É um absurdo.”

 

(Fonte:  O  Globo )

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A Crise do Iraque


                                               

          Os primeiros assessores militares prometidos por Barack Obama já começam a chegar para o teatro de operações no Iraque, mas por foto divulgada pela imprensa o funcionário americano mais incômodo para o cambaleante governo de Nuri al-Maliki semelha ser o Secretário de Estado americano, John Kerry.

          Na fotografia, divulgada por O Globo, não há traços de calor humano, ou dos sorrisos tipo ‘noblesse oblige’[1] que costumam aparecer em tais ocasiões. Nem o carrancudo Kerry, nem o desconfortado Maliki (que parece ter problemas com o colarinho) fazem qualquer esforço de aparentar cordialidade. O único aspecto mais light  é o da intérprete que troca sorriso com alguém não visto na foto.

          No entanto, Kerry mostrou-se satisfeito com os resultados da reunião.  A Casa Branca já manifestara a conveniência de que al-Maliki renunciasse como passo necessário para conter a insurgência sunita. Sem embargo, ao cabo do encontro, se colheu a promessa do Primeiro Ministro (no poder desde 2006) de montar um gabinete até o dia primeiro de julho p.f.

          Havendo os Estados Unidos solicitado o afastamento do xiita al-Maliki, cuja política facciosa (e excludente da minoria sunita) constitui o principal motor da ofensiva do Isis (Estado Islâmico do Iraque e da Síria),  sem embargo,  John Kerry saiu da reunião satisfeito. Tal se deve muito provavelmente à circunstância de que o Primeiro Ministro lhe terá dado elementos para que confie na sua palavra. Com efeito, o Primeiro Ministro reafirmou seu compromisso com a data de 1° de julho para a solução da crise no governo do Iraque. O futuro dirá se a palavra de Maliki – com os elementos que terá fornecido - merece o crédito que lhe foi dado pelo Secretário de Estado americano.

          A reunião, que se desenrolou em ambiente por vezes tenso, terá pela promessa do Primeiro Ministro alcançado o seu objetivo.  Kerry, dentro de seu propósito de viabilizar uma solução política para enfrentar o desafio do Isis, também se reuniu  com o influente clérigo xiita Ammar al-Hakim, e os dois expoentes sunitas, Osama al-Nujaifi, presidente do Parlamento, e o vice-primeiro ministro  Saleh al-Mutlaq.

            Entrementes, os jihadistas do Isis consolidaram a sua posição no norte do Iraque, tendo assumido o controle de postos fronteiriços em disputa: o de al-Walid, junto à Síria, e o de Trebil, com a Jordânia. Nesse momento, o Iraque estaria separado pelo exército do Isis de qualquer contato nos postos de fronteira do Iraque com a Siria e a Jordânia.

             Por enquanto, existe a clara ameaça de que o Iraque se esfacele, sob o controle de poderes rivais: os curdos no norte, os insurgentes (jihad) sunitas ao norte e ao centro, e a maioria xiita no sul, esta sob os nervosos olhares de Ali Khamenei, o líder supremo da teocracia iraniana.     

             Depois do pavoneado desembarque no porta-aviões Abraham Lincoln do uniformizado Presidente George W. Bush, sob o slogan “Missão Cumprida”, semelha que as coisas não saíram como Bush Jr. e o seu grupo neo-conservador imaginaram, em termos de situação iraquiana.  O carrossel vienense de Arthur Schnitzler[2] reserva para os sucessores do bicho-papão Saddam Hussein surpresas para eles imprevistas, mas demasiado humanas e previsíveis para outros que não o então Vice-Presidente Dick Cheney e o Secretário da Defesa Donald Rumsfeld, cuja responsabilidade nessa tragédia americana tem sido magistralmente descrita por Mark Danner, em The New York Review.

             Após ter contribuído para a vitória eleitoral de Barack Obama (pela sua oposição à aventura militar iraquiana de Bush Jr.), a ironia de que o fantasma do Iraque – cuja guerra ruinosa sangrou o erário da Superpotência em mais de um trilhão de dólares) – retorne agora, com as vestes diferentes de um mesmo problema, para a administração Obama, com  fortes e inquietantes indicações de uma revisitada maldição (começada, é bom lembrar, com os assessores militares mandados por Eisenhower para outro teatro militar), mas com iguais danosos resultados, como foi a experiência do Vietnam para os Estados Unidos...

 

( Fontes:  O Globo, The New York Review of Books )



[1] ‘por obrigação de nobreza’.
[2] Arthur Schnitzler (1862-1931), escritor austríaco, autor da ‘Ronda’.

Correio da Copa (XI)


                                          

          O destaque (para o bem e para o mal) esteve com o jogo Uruguai x Itália.  Luis Suárez reincidiu na prática de morder um jogador rival. No seu curriculum, que agora é desvendado com a inevitável crueza, há também ofensas racistas. Quanto à mordida no ombro no zagueiro Giorgio Chiellini – dentro da área italiana – foi escancarada pela tevê para todos, menos para o juiz (o mexicano Marco Rodriguez ) e o bandeirinha. Aliás, o juiz evitou, apesar da iniciativa de Chiellini de mostrar-lhe o resultado dessa incrível agressão, de sequer lançar um olhar para tal comprovação.  Aliás, a sua expulsão do italiano Marchisio já provocara protestos da Itália. 

          Agora, a situação de Luis Suárez está por conta da burocracia da FIFA.

           O Uruguai ganhou no final, em gol de cabeça de Godin, aos trinta e seis minutos do segundo tempo, sobre a Itália. Essa, depois de ganhar da Inglaterra (Grupo D), foi eliminada pelo Uruguai (este ficou em segundo lugar no grupo, atrás da Costa Rica).

           Por sua vez, a Grécia obteve uma inesperada passagem para as oitavas, em grupo em que a Colômbia prevaleceu de forma incontestável (ganhou do Japão por 4x1).

           A eliminada Espanha, ao chegar à pátria, não é que a sua aeronave foi atingida por um raio? A par do susto, não há nada de mais grave a registrar. No entanto, o acidente atmosférico tende a sublinhar que a antiga Fúria e atual Campeã Mundial  não teve nesta Copa do Mundo a acompanhá-la a sorte...

 

( Fonte:  O  Globo ) 

Fracasso do Cessar- fogo ucraniano ?


                                   

          O novel presidente da Ucrânia, Petro O. Poroshenko, apresentou proposta de cessar-fogo no leste ucraniano. Nesse sentido, discutiu a questão, por telefone, com gospodin Vladimir Putin, que teria, em princípio, aceito a iniciativa.

          Conjugada com essa oferta, foi prometida anistia aos milicianos pro-russos que atuam nessa vasta área da Ucrânia, e em especial na bacia do Don.

          No entanto, os grupos de sublevados, em diversos centros em torno do entroncamento ferroviário de Krasny Liman, não depuseram as armas. Ao invés, continuam  batalhando, e afirmam que não estão convencidos da sinceridade e da efetiva validade da anistia proposta por Poroshenko.

           Tal bastou para que os efetivos de tropas russas retornassem para a fronteira – como assinalou fonte da NATO.  Por outro lado, em telefonemas para a Chanceler Angela Merkel e o Presidente François Hollande, Putin manifestou a sua preocupação com a evolução da situação.

            Como Moscou está por trás da atitude beligerante dos milicianos pró-Rússia – e um helicóptero ucraniano teria sido derribado por esse grupo -  há fundadas razões para duvidar da sinceridade do Kremlin na matéria.

            A bacia do Don – e a cidade de Donetsk, onde está instalado um governo provisório pró-anexação à Rússia  - é região bastante importante para a economia da Ucrânia, pela sua usina siderúrgica, e a via férrea que assegurava conexão com a Criméia. A ilegal intervenção russa naquela antiga província ucraniana dificilmente será revogada. No entanto, Vladimir Putin não parece satisfeito com o que já conseguiu – em forma que vai contra o direito internacional e os supostos progressos no respeito à lei depois da Segunda Guerra Mundial.   

              Sem parecer acusar maior mossa com as fracas sanções que os Estados Unidos e a União Europeia impuseram à economia e a cidadãos russos, Putin, em telefonemas com a Chanceler alemã, Angela  Merkel, e o Presidente francês, François Hollande, se declarou preocupado com a evolução da situação na Ucrânia oriental.  Como o senso de humor não parece ser o forte do presidente russo, desperta não pouca estranheza que o principal fautor da crise (primo, na Criméia, que já virou província russa, e secondo, nessa desestabilização da Ucrânia aonde predomina a fala russa, no fomento de revolta em que voluntários russos batalham e morrem, tropas russas se acotovelam na fronteira oriental ucraniana, e até tanques russos são transferidos para as milícias pró-Russia ) venha agora manifestar  preocupação (concern) com a atitude do novo Presidente.

             A situação no Iraque – e o crescente re-envolvimento americano – contribui para afastar, ou pelo menos, colocar em segundo plano, a atenção de  Barack Obama para a crise ucraniana. Não há indicação das eventuais observações da Merkel e de Hollande quanto às queixas do presidente russo. Não creio muito provável, s.m.j., que hajam defendido o colega ucraniano. Parodiando um ditado francês, Hollande poderia, v.g., ter explicado que, à maneira de um cachorro muito mau, que se defende quando o atacam, Poroshenko teria agido dessa forma, diante da manifesta oposição dos milicianos pró-Russia, à idéia do cessar-fogo, e por conseguinte, à idéia da soberania do governo de Kiev naquela região...

(Fonte subsidiária:  The New York Times )

terça-feira, 24 de junho de 2014

Correio da Copa (X)

                              

 
        O jogo de ontem do Brasil mostrou características que, infelizmente, são comuns desta equipe montada por Felipão. Não é novidade, e Tostão com a sua habitual precisão já assinalara essa lacuna da seleção. Por opção própria – Ganso ainda não se recuperara de todo – o scratch canarinho não tem armador.

        A falta de um jogador que distribua a bola – como Pirlo na Azzurra – cria problemas para o nosso time, cujos defensores (volantes) têm dificuldade de municiar o ataque,  recorrendo a chutões de questionável precisão. Foi o que se viu ontem no primeiro tempo sobretudo, quando as coisas endureceram para o nosso time.

        Para sorte do Brasil, no ataque dispomos de Neymar, que ontem voltou a decidir a partida com dois gols. Também no segundo tempo, as alterações introduzidas por Felipão puderam melhorar o desempenho da equipe, agilizando de alguma forma a passagem da bola da defesa para o ataque.

        Dessarte, o 2 x 1 de Brasil versus Camarões no primeiro tempo é um espelho desta fase da partida, sobretudo, em que os Camarões ameaçaram por mais de uma vez o nosso goleiro, e fizeram um gol em que a defesa brasileira falhou, deixando Matip livre para marcar.

        A dependência da equipe do Brasil de Neymar é, de certo modo, inquietante. Como referiu a análise de O Globo, “houve momentos em que Neymar não era um jogador do Brasil. Era o Brasil.”

        Assim, tais lacunas da seleção – e o fato de ser por vezes encurralada por equipes da qualidade dos Camarões – constituem sinalização importante.  Vamos esquecer o habitual oba-oba e estruturar melhor a equipe.  Assim, é muito pertinente a indagação de “onde vai parar a seleção se alguém parar Neymar.  Ou se ele receber cartão, sentir uma lesão.”

        Uma coisa é a disparidade entre Neymar e os demais integrantes do plantel. Essa afirmação não pode ser contornada. Outra coisa, no entanto, é a excessiva dependência da seleção quanto à atuação de Neymar.  É aí que Felipão carece de trabalhar, para através do conjunto tornar a realidade  menos angustiante. O restante do time não ficar pendurado no nosso supercraque. Será possível ? É melhor que seja, pois essa incômoda realidade não é óbvia somente para nós brasileiros, senão também para os técnicos das equipes adversárias.

        E não é mistério para ninguém que de agora em diante o caminho do hexa se torna mais difícil e perigoso.

         Por sua vez, o México se classificou para as oitavas com a mesma pontuação brasileira. No Grupo B,  Holanda e Chile se classificaram. 

         Por outro lado, há suspeitas de falta de isenção do juiz neozelandês  Peter O’Leary (Grupo F). Além de anular um gol para muitos legítimo da Bósnia (que acabou perdendo para a Nigéria por um a zero), esse árbitro foi flagrado  pelo jornal inglês “The Independent” abraçando efusivamente  o goleiro nigeriano ao cabo da partida na Arena Pantanal.

            Por conta da confusão, e de aparências comprometedoras, petição na internet  já colheu vinte mil assinaturas pedindo a saída da Copa do aludido juiz.

 

( Fontes:  Rede Globo, O Globo)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Correio da Copa (IX)


                                               

                No dia de ontem, o jogo que há de ficar na memória, em meio a geral sensaboria foi Portugal x Estados Unidos.  A esquadra lusa começou melhor, e marcou a vantagem, que manteve até dezessete do segundo, quando os americanos empataram. Aí, as coisas pioraram com o gol de barriga de Dempsey. Tudo parecia perdido para os portugueses, quando Cristiano Ronaldo – que por causa da contusão não tem brilhado como de hábito – mostrou para inglês (e americano) ver o porquê das vaias da torcida de Tio Sam quando o craque pegava a bola. No ultimíssimo minuto, deu um passe perfeito pelo alto para Varela, que completou para as redes.

                Como dizia um locutor gaúcho, Deus não joga, mas fiscaliza.  Assim, Portugal tem empresa difícil pela frente, mas não impossível. Há que ficar atento para como se desenvolve o jogo entre Estados Unidos versus Alemanha, porque um empate classifica a ambos. Para a classificação às oitavas, Portugal enfrenta a forte equipe de Ghana, a quem careceria de vencer por dois a zero, combinado com um triunfo alemão de três a zero...

                Por sua vez, no jogo medíocre Bélgica x Rússia, os dois times foram apupados pelas torcidas. No final, ganhou quem tinha melhor preparo físico. Nos minutos finais, numa sequência de ataques perigosos contra o fraco e cansado time russo,  os belgas afinal marcaram  com Origi (que substituíra Romelu Lukaku, que até reclamou da decisão do técnico...).

               E a Argélia está surpreendendo. Venceu a Coréia do Sul por 4x2 .  No grupo, a Bélgica lidera com seis pontos (sem ainda mostrar as maravilhas de que era falada), seguida pela equipe norte-africana, com três pontos (os argelinos não venciam em Copa do Mundo desde 1982). A Rússia, se vencer a Argélia, ainda pode classificar-se, e também a Coréia do Sul se derrotar a Bélgica...

              E hoje temos Brasil x Camarões.  A equipe africana será talvez a mais fraca entre as de seu Continente, e esperemos que hoje não seja o dia em que pretenda redimir-se.  De qualquer forma, vamos torcer pelo esquadra canarinho, para que mantenha com atuação afinal à altura de nossas tradições o primeiro lugar no grupo A.

 

(Fontes: Rede Globo e  O  Globo )

domingo, 22 de junho de 2014

Correio da Copa (VIII)


                                        

          Nos jogos de ontem, sobressai a partida entre Alemanha e Ghana, terminada por empate de 2x2. Como assinalou, no entanto, Casagrande, Ghana poderia ter vencido, se tivesse mais espírito de equipe e disciplina tática. Quando vencia por 2X1, teve grande oportunidade de fazer o terceiro gol. No entanto, o atacante de Ghana, ao invés de passar a bola para companheiro mais bem colocado, optou por monopolizar o lance. Perdeu, assim, a ocasião por individualismo, preferindo tentar marcar gol de placa, ao invés de ceder a bola para o companheiro. Ao pensar em si, mostrou o principal defeito das equipes africanas, ao não privilegiar o conjunto e o interesse maior na vitória de Ghana. 

          Embora esta equipe africana seja a melhor do Continente em termos de técnica e conjunto, ainda se ressente de tais defeitos, em que o indivíduo prevalece. Quem ganhou com isso foi a Alemanha, pois se a vantagem tivesse passado para diferença de dois gols, dificilmente a equipe de Joachim Löw teria logrado o empate salvador.

          De qualquer forma, a atuação de Ghana desmistificou o suposto bicho-papão da Copa, que se viu em diversos momentos em nítida desvantagem diante dos africanos. Com as pífias atuações de Nigéria e das demais africanas, Ghana se destacou ao deter o ‘expresso’ alemão, embora não tenha alcançado (pela falta de espírito tático de um jogador) resultado que a pusesse em melhor situação no grupo, e, portanto, com maiores perspectivas de passar para as oitavas de final.   

        O outro jogo a assinalar foi Argentina X Irã. Surpreendentemente, por sólida formação defensiva, o fraco Irã logrou manter o 0X0 até literalmente o último minuto da prorrogação, quando sobreveio o gol salvador do craque Lionel Messi.  Repetiu-se – e aqui com ainda maior suspense, eis que tudo parecia levar para o empate – o ‘esquema’ do jogo com a Bósnia, quando a folhas tantas irrompe Messi e com chute magistral faz esquecer a mediocridade dos companheiros de equipe.       

      No terceiro jogo, na Arena Pantanal, soou a hora da nova seleção da Bósnia.  Mas não para as oitavas de final, mas sim para o retorno à pátria, decretado de forma antecipada. A hoje fraca Nigéria  prevaleceu por um a zero.

 

( Fontes: O Globo e Rede Globo )

Colcha de Retalhos B 24

                                 

Apatia, desalento ou perplexidade?

 
      A Constituição de 1988, dispondo sobre os direitos políticos, abre o alistamento eleitoral e o voto, porém de forma facultativa, aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (Capítulo IV, Dos Direitos Políticos, art. 14, II, (c).

      Essa extensão do direito do voto antes da maioridade plena encerra algumas contradições. Com mais de dezesseis e menos de dezoito, o jovem é considerado com discernimento bastante para eleger o presidente da república, o governador do estado respectivo e a escala descendente de políticos que aspiram a cargos nos respectivos legislativos federal, estadual e municipal.

     Não obstante, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota um enfoque concessivo no que tange à culpabilidade penal. Nenhum brasileiro entre dezesseis e até completar dezoito anos pode ser indiciado e julgado no que tange a crimes e delitos, não importa a respectiva gravidade.

      Em função dessa benevolência o Estado assiste impotente a jovens transformarem-se em criminosos seriais. Sabem que estão imunes a qualquer imputação. Nesse sentido, formam o contingente dos de menores, que chegam em certos casos, voluntariamente ou não, a se colocar nesse peculiar mercado para oferecer seus serviços, ou assumirem a alegada responsabilidade de delitos que não cometeram, o que fazem pelos mais variados motivos, inclusive os torpes e oportunistas.

       Também essa concessão da chamada Constituição Cidadã – a atribuição do direito do voto para aqueles que completam dezesseis anos – vem sendo, na prática, enjeitada ou ignorada por um número crescente de jovens.  Segundo dados - que presumo procedentes do Tribunal Superior Eleitoral - somente 25% da população de 16 e 17 anos têm hoje o título de eleitor.  O pior, é que esse percentual está em curva para baixo:  em 2010, quando da última eleição presidencial, era de 32%;  e quatro anos antes, em 2006, alcançava 39%.

        Qual é a opinião do jovem atual sobre a política e os políticos? A mensagem das caminhadas do passe-livre, surgidas em São Paulo e alastradas por todo o Brasil, era a do reconhecimento da corrupção, endêmica ou não, na política da atualidade, e a desconexão dos governos da sociedade.  O grito de junho de 2013 : “Vocês não me representam” não ecoou só nas ruas da Paulicéia, mas chegou aos palácios de Brasília e ao Congresso das quartas-feiras, infundindo nesses senhores medo e a adoção de medidas moralizadoras – como a votação aberta das cassações – que antes seriam não só impensáveis, mas decerto provocariam na maioria dos parlamentares risos de mofa.

        Como a labareda nas campinas, a revolução pode assustar. Por isso, enquanto surge e avança, a maioria das excelências se esconde ou até mesmo vem a público engrolar-lhe as  palavras de ordem. Pois muitos dos políticos e a escumalha que os cerca  contam com o seu caráter efêmero. Por isso, cinicamente repetem os slogans e se fingem convertidos. Enquanto esperam que tudo volte a ser como dantes no quartel de Abrantes.
 

A  escolha do PSB  de Eduardo Campos

 
            Faz tempo que o problema se colocou. O mandachuva no Partido Socialista Brasileiro parece ter esquecido a sua fonte ideológica de esquerda. Pelo visto, opta agora pelo oportunismo, na sopa das letras partidárias de Pindorama. Pois não é que Eduardo Campos,  nos dois principais colégios eleitorais do Brasil, prefere renunciar à disputa do posto principal dos cargos, para aliar-se em São Paulo e Rio de Janeiro a siglas rivais no âmbito federal ?

           Desde muito se sabe que Marina Silva, da Rede Sustentabilidade (que teve denegada a inscrição pelo TSE, por estranha contestação de cartórios eleitorais no ABC paulista, dominados pelo PT, e que arguiram uma torrente de falsidade nas firmas dos eleitores que subscreviam o partido de Marina) discorda dessas alianças com o PSDB em São Paulo, e o PT no Rio de Janeiro.  Dessarte, um pessebista será o vice da chapa de Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo, e o ex-jogador Romário – que já progrediu bastante na política para não mais confundir PSDB com PSB – para disputar o Senado na chapa de Lindbergh Farias (PT).

           Pelo visto, não importa muito a orientação política da chapa a que se associa, para altos cargos inda que secundários, o partido do senhor Campos. Ignorou os reclamos de Marina – que, pelo visto, os engoliu – para colher, segundo aquela conhecida lei, vantagens eleitorais e se possível maximizá-las.

           Com a breca, a coerência. Que é também, não custa lembrá-lo, apanágio da sua Vice.

           Pensa que será assim, com a escolha do oportunismo, que progredirá nas pesquisas?

 

A Convenção do P.T.

 

          O partido no poder – e breve completará doze anos no Palácio do Planalto – será sempre o mesmo no que tange à respectiva auto-indispensabilidade. Assim, lobrigará sempre nas hostes adversárias a ameaça do caos. Propõe-se continuar não por egoísmo, mas por altruísmo...

          Se as pesquisas apontam um denominador comum é o desejo de mudança dos brasileiros. Não vê ironia, nem deslavado oportunismo em proclamar-se a campeã da mudança.

          Em matéria de promessas, Dilma acena com Plano de Transformação Nacional e indica como prioridades a desburocratização, a ampliação do acesso à internet, a educação e reformas do sistema político e de serviços públicos.

          Ela que nos trouxe a inflação de volta, acena agora com novo ciclo de desenvolvimento. Apesar do encenado otimismo, pairava na Convenção uma atmosfera de fim de reinado. Como sublinha Eliane Cantanhêde na sua coluna, “o grito de guerra do PT passou a ser   ‘nós’ contra todo mundo, contra tudo  e todos os que não votam – ou não votam mais – no partido.”

            A agressividade, as sovadas teclas contra a diabolizada mídia, ficaram mais por conta dos discursos de Lula da Silva, o criador de postes, e de Rui Falcão, o presidente do PT.

            Para variar, Lula atacou a “mídia que golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar”.  E disse, sem trepidar, que ele e Dilma mostrarão ser possível “criador e criatura viverem juntos em harmonia”.

            Entrementes, como se vissem e ouvissem outras realidades – que não se mostram aos gerarcas do PT -  o PTB anuncia que rompeu com o governo Dilma Rousseff e apoiará a candidatura de Aécio Neves.  Por seu lado, o Solidariedade oficializou em convenção, a aliança com Aécio.

 

 

(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)