sábado, 30 de novembro de 2013

Má-gestão na Economia ?

                                        

         O governo da Presidenta Dilma Rousseff acumula erros na economia, apesar de suas declaradas boas intenções. Antes de percorrer o varejo de tantos equívocos, semelha importante perguntar sobre as causas da controversa e confusa performance.
         Pois Dilma Rousseff tem estudo e experiência na matéria. Em termos de energia, o seu curriculum mostra cargo político exercido no Rio Grande, não sem louvores. A par disso, Lula da Silva, seu criador, foi buscá-la nas Minas e Energia, onde a colocara, para substituir nada menos que o maestro do Mensalão, o então deputado e virtual Primeiro Ministro José Dirceu.

        Há a velha crença religiosa de que não se deve servir a dois senhores. Em termos de credo, este axioma é obedecido por panteísmo e monoteísmo. Assim, mesmo no panteon helênico, Zeus tinha a primazia. Se hoje memória dele só se consente nas ruínas de seus templos, o princípio foi abraçado por seus epígonos, por mais distantes e menos críveis que muitos deles ora se apresentem.
        Se a diarquia não subsiste na religião – este perene refúgio do homem em meio às tempestades - muito menos a lógica mais comezinha poderá admiti-la na governança da economia.

        Pois, malgrado todos os apodos e afrontas com que se visita a sombria ciência (dismal Science) da economia política, na definição famosa de Disraeli, primeiro-ministro inglês no século XIX, há regras firmes e inflexíveis nas suas aparentes incertezas.
        Ora, Dilma Rousseff e seus ministros (que na sua Administração estão bem próximos da servil etimologia do hoje altissonante vocábulo) muita vez dizem uma coisa e fazem outra, ou, o que dá no mesmo, enquanto a Presidenta professa a ortodoxia, por baixo do pano, ou nem tanto, inviabiliza os resultados que afirma perseguir.

        Isto veremos, na coisas mais comezinhas, ou nas mais complexas. O leitor que me honra com a sua atenção poderá isto confirmar na através de um sem-número de blogs.
       Deste modo, a Presidenta parece acreditar na mágica virtude da palavra, mesmo se não acompanhada de ação coerente e diuturna. No calor do pico inflacionário – causado pelo então manietamento do Banco Central e pela habitual gastança sem apoio fiscal –  convoca almoço no Planalto, cujo prato principal é o suposto combate à carestia. Contando com a boa-vontade de quem já sinalizou esta menção, permito-me a ela recorrer uma vez mais, eis que as constantes visitas podem tornar o próprio objeto mais cogente e relevante.

       Na verdade, tal episódio não é tão singelo quanto aparenta, e traz consigo uma lição permanente. Para tratar de luta contra a inflação, ela chama para convivas Antonio  Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo! Está igualmente presente o favorito Arno Augustin. Nesse contexto, também as ausências são importantes: Dona Dilma não convida nem o seu discreto Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e tampouco os únicos que têm o que mostrar no capítulo, vale dizer os artífices do Plano Real.
      No entanto,  a  Presidente Dilma Rousseff quer conciliar o inconciliável. Para tanto, ou recorre – como era seu hábito, quando o dragão ainda dormitava – a uma esgrima verbal contra a besta-fera, como se o flagelo de tantas décadas da economia brasileira tivesse medo de ocas e retóricas ameaças, ou num micro-gerenciamento desvairado, multiplica mesuras anti-inflacionárias, com um comportamento oposto, em que se favorecem as capitalizações (as mágicas não-fiscais que tanto agradaram a Lula), a inchação dos gastos correntes (com o desvairado empreguismo público), as mágicas fiscais e a imitação da contabilidade da companheira Cristina, viúva de Kirchner.

      Assim, de que serventia terá um superávit fiscal primário, que encolhe vexaminosamente? Também se ataca a Lei da Responsabilidade Fiscal, a chave da abóbada da boa-gestão econômico-financeira.  E a investida se agrava, pelo tratamento preferencial que se pretende dar à prefeitura ora sob os cuidados do companheiro e também poste de Lula, Fernando Haddad. Trata-se agora de redigir as leizinhas malignas que permitirão aos inadimplentes um tratamento que não foi – e por justa razão – dado àqueles que deveriam pagar as próprias dívidas, e não sobrecarregar a União.

     Multiplica-se em detrimento dos investimentos, seja a opção pelo consumo – com a sobrecarga dos cofres da União na subvenção a compras de eletro-domésticos – ou os subsídios à conta energética, sem falar na farra das térmicas (que não são exatamente ecológicas, com sua contribuição ao aquecimento global), sem falar das desonerações fiscais (verdadeira roleta-russa para os empresários) e o amadorismo clientelista, que a tudo perpassa no seu paranoico temor da resposta das urnas. Para tanto, se sobrecarrega o Estado com o peso de desvairado assistencialismo, cujo escopo é o de assegurar, pela coleira de enganosos benefícios, a preferência de inteiras regiões que torne dispensável o aleatório juízo de partidos e eleitores independentes.
                                                                                        (a continuar)

 

(Fontes subsidiárias:  O Globo, Folha de S. Paulo)

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Boas Notícias ?

                                       

 Derrotas do campo pró censura

                  A imprensa noticia que o Supremo Tribunal Federal  negou pedido de João Gilberto para que um livro do pesquisador Walter Garcia, lançado em junho de 2012, fosse retirado de circulação. A decisão foi tomada no plenário do STF do dia sete de novembro corrente, mas só foi publicada ontem no site  da Corte.
                  Por unanimidade o tribunal rejeitou o pedido do cantor, acompanhando o voto da relatora do processo, a Ministra Carmen Lúcia.

                  Por motivos processuais, a ação volta para o TJ-SP. Na prática, o que João Gilberto fez ao STF foi uma ‘reclamação’. Por esse instrumento legal, os seus advogados  argumentavam que a Justiça de São Paulo – que já negara três vezes pedidos do cantor pelo recolhimento do livro “João Gilberto”  - não poderia julgar a questão. O motivo, segundo eles, é o fato de o STF já deliberar sobre o mesmo assunto na Ação de Inconstitucionalidade.

                   
Ação Direta de Inconstitucionalidade

 
                  Entrementes, o Supremo se apresta a julgar afinal a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), de que é autora a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel) contra artigos do Código Civil que têm sido instrumentalizados por um biografado ou seus herdeiros, na fundamentação de impedimentos para a publicação da biografia respectiva, o que na prática implica em censura, o que é inconstitucional.

                  A relatora da ação também é a Ministra Carmen Lúcia – a notar que ela foi voto vencido quando o Supremo se negara, por maioria de votos, a conhecer do mérito (por motivos adjetivos) da ação que manteve a censura contra o Estado de S. Paulo (estabelecida por despacho do desembargador Dácio Vieira (TJ/DF).

                 Haveria, portanto, alguma base para  prognóstico favorável a uma derrota do campo pró-censura judicial, o que, pela lentidão da Suprema Corte em derrubar as inúmeras tentativas em cortes de primeira e segunda instância de na prática restabelecer a censura,  não poderia ser desenvolvimento mais auspicioso.

                Diante, no entanto, das inúmeras marchas e contramarchas dessa questão – de que o blog é testemunha – cabe aguardar a decisão do Supremo Tribunal Federal, a exemplo do público diretamente interessado na sentença em tela, que espera o voto da Ministra Carmen Lúcia com compreensível ansiedade.

 
Rodrigo Janot cobra aplicação de Fidelidade Partidária

 

              Em boa hora, o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, entrou com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cobrando a perda de mandato de treze deputados federais (três são do Rio de Janeiro), por infidelidade partidária.

              Como se sabe, pela inação do Congresso, o Supremo baixara decisão judicial estabelecendo a perda de mandato para deputados que trocassem de sigla. A determinação se aplicava para congressistas que passassem para siglas já existentes, mas não para novas siglas, como foi o caso do PSD do senhor Kassab.

              No entanto, a infidelidade partidária continua a valer para siglas já existentes, o que teria sido alacremente ignorado por treze (entre 67) que trocaram de partido entre setembro e outubro de 2013.

             Essa troca de partido constitui um desrespeito ao eleitor – e um sinal do pouco apreço dado por Suas Excelências aos programas das siglas respectivas, inchadas pela decisão do STF de derrubar as porcentagens mínimas que representariam a barreira para essa absurda proliferação de partidos políticos.

            A tese do Supremo de que todas as tendências devem ser acolhidas encontra a sua nêmesis no exagero, que deforma as boas intenções e as ridicularizam. Daí, a proliferarem as legendas de ocasião, as chamadas nanicas, e aquelas que se servem das generosas verbas com fins subalternos que nada têm a ver com a defesa das ideologias. O multifacetismo político tem limite que é o do bom senso. O que é teoricamente admissível – quarenta ideologias ? – não resiste à exposição pelo fragmentarismo de práticas subalternas e fisiológicas.

           Entre os 13 processados pela Procuradoria-Geral, três são do Rio de Janeiro: Alfredo Sirkis (PV) para o PSB, diante da (estranha) impossibilidade da criação da Rede, partido a ser criado para Marina Silva; Dr. Paulo Cesar, que deixou o PSD (partido novo, que até hoje não concorreu em nenhuma eleição) pelo  PSB;  e Deley, que trocou o PSC (partido evangélico) pelo PTB.  Dos três casos, o de Sirkis mereceria decerto ser examinado com mais cuidado. Além de serem notórias as motivações políticas (e de outra índole) que levaram à polêmica recusa da licença partidária para a Rede, não são tampouco ignoradas as condições pouco favoráveis dentro do PV para com o filiado Alfredo Sirkis.  

 

 
(Fonte: O Globo )        

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

PÍlulas agridoces

                                          
Juros voltam a dois dígitos

 
     O mercado já esperava a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). A taxa básica de juros, a Selic, volta ao patamar de dois dígitos, o que não acontecia desde janeiro de 2012.
      A alça dos juros pelo BC se propõe a elevá-los em 0,5%,de 9,5% a 10,0% a.a. para combater a inflação no ano eleitoral de 2014.

      Entrementes, o Governo tem outra estratégia. Aumentar o gasto, principalmente via desonerações fiscais, para reativar a economia. No entanto, como mostra Miriam Leitão em sua coluna, o dinheiro da renúncia fiscal (estimados $84 bilhões em 2014) não entra no cofre do governo, nem parte dele é poupada para o pagamento dos juros da dívida (superávit primário). Para onde ele vai?  Para a farra do consumo (empresas e famílias)!
      Assim, a perda é dupla: pressiona a inflação (farra do consumo) e coloca em xeque as contas públicas (redução no pagamento do superávit primário).

 
O chabu da Reforma da Saúde de Obama

 
      A displicência do Presidente Barack Obama nas coisas simples – vide já citada no blog assertiva de Bill Clinton de que Obama faz mal as coisas simples e fáceis enquanto acerta nas difíceis – ataca mais uma vez, com as previsíveis perdas no apoio popular ao ACA (Lei da Assistência Custeável).
      Agora é a vez das pequenas empresas !  O site da Reforma Custeável de Saúde – cujas incríveis falhas para o atendimento dos contribuintes que nele desejam inscrever-se fez desabar o nível público de aprovação do Presidente – apresentou tais dificuldades para o segmento das pequenas empresas, que a Casa Branca optou por atrasar por um ano a sua implementação no setor.

     Deixando a implementação do site na internet da Reforma da Saúde aos burocratas da Secretaria de Saúde,  Obama cometeu um duplo e estúpido erro: na terra de Silicon Valley transformou a porta de entrada da reforma sanitária em ineficiente repartição pública; e proporcionou de bandeja uma rara oportunidade para os detratores republicanos do Obamacare, como se a principal reforma do 44º presidente pudesse atolar-se nos pântanos da burocracia.

 
Flamengo campeão da Copa do Brasil

 
      O júbilo da torcida do Mengo encontra comovente contrapartida na cobertura dada por O Globo – e, estou certo, da Rede Globo, e de seus sintonizados locutores e comentaristas.  O Jornalão, antigo vespertino, hoje matutino, reserva a parte superior da primeira página, para a exultante comemoração de “FLA é tricampeão da Copa do Brasil”, com direito a instantâneo a cores de Hernani agradecendo aos céus.

         A explosão rubro-negra me recorda a observação que ouvi de Adolpho Bloch, quando lhe perguntaram por que descontinuara a Manchete Esportiva, talvez, no gênero, o melhor semanário especializado:
como fazer, se a Manchete Esportiva só se vendia quando o Flamengo ganhava?

         Hoje o marketing funciona mais centrado na cobertura televisiva. Ao contrário das publicações escritas, constrangidas a tratar de fatos consumados, a tevê mora na esperança e os ibopes se sustentam na incerteza dos noventa minutos.

        Por outro lado, os bi, tri e tetra campeonatos tiveram o antigo significado desvirtuado. Na acepção antiga, bi ou tri era o time campeão por anos sucessivos e não no espaço histórico. A nova designação é o reflexo do marketing: dá a impressão daquilo que não é, pois vai catar no passado (longínquo ou não) os títulos conquistados...  

                  
Morre o craque Nilton Santos

 
          Aos 88 anos de idade (nascera em 16 de maio de 1925), morre Nilton Santos, o maior lateral-esquerdo do século (eleição da Fifa em 1998). Vários traços marcantes o distinguem como jogador e craque: a enciclopédia do futebol atuou somente no Botafogo (17 anos). Bicampeão mundial (1958 e 1962), foi reserva em 1950 e  titular a partir de 1954.
          Trouxe a imaginação e a habilidade técnica para a lateral esquerda, de que se tornou titular absoluto da seleção a partir de 1954. Ao contrário de o que esperavam os técnicos, fazia gols também, como o fez em 1958 contra a Áustria.

          Trabalhou muito tempo como funcionário no velho Maracanã, a todos recebendo com a sua finura e simpatia.  

 

(Fonte:  O  Globo )

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Quem com ferro fere...

                                            

        Ontem a direção paulista do PSDB veio a público com acusação de que documentos, encaminhados ao CADE e à Polícia Federal pelo PT e o Ministério da Justiça, haviam sido adulterados.
       Consoante tal versão, endossada por dirigentes do PSDB, o documento original não tem qualquer citação ao PSDB,  que estranhamente aparece na versão traduzida para o português. Nesse sentido, o Secretário do Governo Geraldo Alckmin, Edson Aparecido, acusou o deputado petista Simão Pedro, que repassou os papéis ao Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de incluir indevidamente as citações aos tucanos (a que acusa de supostos cartel e pagamento de propina no Metrô de São Paulo, durante os governos do PSDB de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin).

       Perpassa a questão um ar de polêmica pré-eleitoral. Ainda de parte do PSDB, encontram-se semelhanças com outro escândalo, o dos chamados (na expressão de Lula da Silva) aloprados, com o dinheiro vivo apreendido, às vésperas da eleição de 2006.
      O Ministro Cardoso, que é o titular da Justiça, repassou à Polícia Federal, o documento que, segundo declarou, é maior de que o ontem exibido pelo Secretário José Anibal.

      Essa troca de acusações – o PSDB chegou a pedir a demissão pela Presidente Dilma de seu Ministro José Eduardo Cardozo, iniciativa a que não se associou o próprio candidato virtual à Presidência, Senador Aécio Neves – semelham bastante indicativas das polêmicas pré-eleitorais, que, no Brasil, como as tempestades de verão, apesar dos trovões e raios prometidos, vêm e vão.
      A interpretação corrente dos setores interessados é que o Partido dos Trabalhadores se serviria com grande desenvoltura dos instrumentos do Estado, como se fora modo admissível de engajar na luta política.

      Há também outra leitura que seria a de introduzir o escândalo da Siemens como contraponto aos estragos do mensalão (Ação Penal 470).
      A história política do Brasil – escrita com letra minúscula  - parece enorme lombriga que teima em repontar a cada pleito com escândalos e montagens. Agindo sob a pressão da possível perda do poder, o submundo da politiquice, malgrado ignorante do conselho de Beaumarchais [1]caluniai sempre porque alguma coisa há de ficar! – costuma vir, em toda eleição, com novas falsas montagens para lançar a confusão nas hostes adversárias.

      A cada pleito, pelo menos um escândalo sob encomenda. Assim, as cartas (apócrifas) do seu Mé, no caso Artur Bernardes, vinham com acusações sob medida contra o Sargentão do Marechal Hermes. As crises, no Brasil, podem mudar de vestuário (na república velha, o fantasma do golpe militar), mas terão sempre no seu âmago o propósito inconfessável de fazer sangrar o adversário, assim como os picadores nas touradas, dessangram os pobres touros...
        Nelas acredite, quem quiser... pois fazem parte do cenário.

 

 
(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)  



[1] Caron de Beaumarchais (1732-1799), escritor e teatrólogo francês.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Diário da Mídia (X)

                                             

Privatização do Galeão

             A sensação de abandono e desleixo que a passagem pelo aeroporto do Galeão causa no viajante deverá permanecer até seis meses depois da Copa do Mundo, segundo  manchete de O Globo.
             Está garantido, portanto, o vexame para os brasileiros e o desconforto para os usuários de todas as nacionalidades, pela incompreensível inação do governo da Presidenta.

              Manter a Infraero com toda a sua carga de ineficiência em controle até então e mais tarde como presença minoritária será incômoda recordação do contrapeso estatizante do PT.
              Fica então mais fácil de entender a manutenção da partilha partidária da administração dos aeroportos, na contramão do conforto e do bom serviço para os viajantes.

 
Carga inusitada


                 A Polícia Federal apreendeu ontem quase meia tonelada de cocaína em helicóptero da família do Senador Zezé Perrela (PDT/MG) no Espírito Santo.
                  O piloto – de que não foi dado nome nem sobrenome na notícia de O Globo – seria o responsável pelo crime, segundo declarou o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro (Kakay): “É um caso de vítima de furto. O Gustavo (filho do Senador) teve a aeronave furtada pela pessoa que tinha acesso às chaves para usar com finalidade de trabalho. O piloto pegou  o helicóptero sem autorização e fez uso indevido, foi demitido por isso.  Ele falou para o delegado que é responsável por essa operação.”

                 Tratava-se de pasta base de cocaína. A movimentação na propriedade rural onde o helicóptero pousou estava sendo investigada pela polícia há vinte dias. A atenção das autoridades aumentou quando se soube que a propriedade em tela fora comprada em quantia duas vezes superior ao seu valor de mercado.
 

Planos Econômicos 

                 A inflação – e o descalabro financeiro de que temos abaixo notícia – assim como a hiperinflação, que motivara os Planos Bresser, Verão, Collor I e Collor II, continuam infelizmente bastante presentes no cenário nacional
                  Segundo noticiado, o Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, defendeu ontem  o adiamento para 2014 do início do julgamento pelo STF  marcado para esta quarta-feira, 27 de novembro, de ações movidas por investidores de cadernetas de poupança, as quais questionam a constitucionalidade dos planos econômicos das décadas de oitenta e noventa.

                   O Ministro Mello concorda com a inoportunidade de o tema ser discutido em fim de ano judiciário.
                   Em correspondência encaminhada ao Supremo, o Ministro da Fazenda, Guido Mantega e o Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ponderam ao colegiado que o escopo é apresentar suas preocupações “em razão dos graves e deletérios impactos que podem advir para as finanças públicas, o crédito e o desempenho econômico do Brasil”. Endossam as ponderações um autêntico ‘quem é quem’ da guarda das finanças e da economia brasileira naquele convulsionado período da hiperinflação: ex-Ministros da Fazenda – Ciro Gomes, Gustavo Krause, Pedro Malan e Ernane Gâlveas; ex-presidentes do BC Paulo Cesar Ximenes Alves Ferreira, Gustavo Franco, Armínio Fraga, Carlos Langoni, Ibrahim Eris, Fernão Carlos Botelho Bracher e Persio Arida. Também endossam as inquietudes do grupo o próprio ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, Ministro da Fazenda de maio de 1993 a março de 1994, e os ex-Ministros Luiz Carlos Bresser Pereira e Maílson da Nóbrega.

 
Dívida Pública Federal chega a dois trilhões !

 
              Não se lançarão foguetes nem fogos de artifício, mas novo patamar histórico é alcançado pelo Governo de Dilma Rousseff, com a participação do Ministro Guido Mantega.
              A dívida pública federal em títulos no mercado financeiro alcançou R$ 2,022 trilhões, que é o maior patamar desde que o governo começou a registrar os dados em 2000.

              Segundo o Tesouro Nacional, as emissões de papéis superaram os resgates em R$ 15,2 bilhões no mês passado, com um incremento no endividamento de 1,69%.
             Deve-se assinalar que não é a primeira vez que a marca dos dois trilhões foi rompida. Há um ano isso já ocorrera.  Como o viés é o do aumento (da dívida), o ano deverá terminar, de acordo com os cálculos governamentais,  como uma dívida bruta entre R$ 2,1 trilhões e R$ 2,24 trilhões.

             Por outro lado, em nove anos, a dívida pública dobrou de tamanho (em dezembro de 2004, já sob Lula da Silva,e o endividamento em títulos federais ultrapassou a barreira de  um trilhão de reais ! )

 
Reajuste de gasolina e diesel

 
              Segundo informa a Folha, a Presidenta resiste a autorizar fórmula defendida pela Petrobrás, de reajuste automático para gasolina e diesel.
              São notórios os problemas de caixa da Petrobrás, daí os esforços de Graça Foster para marcar reunião com Dilma e Mantega, com vistas à rápida solução na linha da fórmula avalizada pela diretoria da Petrobrás.

              É a um tempo interessante e preocupante que se volte a cogitar seriamente de gatilhos para enfrentar os déficits de caixa da Petrobrás.  A indexação que é um típico companheiro de viagem da carestia – banida pelo Plano Real – volta ameaçadora, o que não deixa de ser um retrato sem retoque da realidade econômico-financeira em que a estabilidade de preços está bastante comprometida.
              Com o aumento da dívida pública, o ataque irresponsável à Lei da Responsabilidade Fiscal (V. ajuda à prefeitura paulistana do companheiro Haddad e projetos correlatos no Congresso) o pífio superávit primário deste ano – e outros desenvolvimentos que nos reserva o fechamento de contas de fim de ano,  até dá para entender o temor de Dona Dilma.

              Infelizmente, não se resolvem problemas na Economia com tampas em áreas pressionadas. Pela porta de serviço, passam ‘soluções’ em que se busca maquiar pressões de preços e similares. Enquanto não for restaurada a responsabilidade fiscal e política, e varridos todos os jeitinhos que têm infestado a gestão econômico-financeira, vamos continuar a arar o oceano, com as previsíveis consequências.

 
(Fontes:  O  Globo; Folha de S. Paulo )            

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Ucrânia se alinha ao Kremlin

                          

         Diante da larga via europeia antes aberta para Kiev, a Ucrânia cede às pressões de gospodin Vladimir Putin e se encaminha para agregar-se à União Aduaneira com Moscou.  As pressões do Kremlin valeram tanto para a pequena (e pobre) Moldova quanto para a Ucrânia, um dos maiores países que se dissociaram da suserania de Moscou, ao ensejo do desaparecimento da URSS, no início da última década do século vinte.
         Para assegurar-lhe o ingresso no curral russo de União Aduaneira, o presidente Putin – cuja índole autoritária, após o hiato de liberdade dos anos de Boris Ieltsin, tem pesado bastante sobre o sofrido povo russo – teria exercido fortes pressões sobre o governo de Kiev, inclusive com a ameaça de retaliação com sanções comerciais a atingirem a Ucrânia oriental, que constitui a principal base de apoio político para o Presidente Viktor Yanukovytch.

        Assim, a Rússia de Putin acrescentaria à União Aduaneira sob a sua égide a participação de país de considerável extensão territorial e relevância econômica, o que implica, de certa forma, em disfarçada reconstituição parcial de sua antiga esfera de influência.
         A Ucrânia está dividida diante desta encruzilhada.  Enorme e multitudinária manifestação popular, vocalizando a opção pela Europa ocidental e democrática, foi  organizada neste domingo pelos três principais partidos de oposição. Ocorreu nas principais avenidas da capital Kiev, e, embora cercada por grande dispositivo de segurança, terminou sem incidentes diante da sede do Parlamento.

         Dela participaram o UDAR (Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma), com Wladimir Klitschko (que substituía o ausente líder e campeão de box Vitali Klitschko); o partido Pátria, cuja líder Yulia Timoshenko continua encarcerada; e por fim o partido nacionalista Svoboda.
         Como o blog tem amiúde referido, a União Europeia negociara acordo comercial com Kiev, cuja relevância para o governo do Presidente Viktor Yanukovytch e do Primeiro Ministro Mykola Azarov se afigura inegável, abrindo para a Ucrânia grandes correntes de comércio.  A assinatura em Vilnius, na Lituânia, desse importante instrumento comercial, com boas perspectivas de abertura para a economia ucraniana, fora condicionada à liberação para tratamento de saúde da condenada política e ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko.

          Dado o precário estado de saúde da Timoshenko – líder inconteste do principal partido de oposição a Viktor Yanukovytch – as razões humanitárias sobrelevam inclusive às políticas, para que o Presidente permita-lhe a saída da Ucrânia para ser tratada em hospital da  Alemanha. A ex-Primeiro Ministro se encontra em lazareto de Kharkov e padece de grave afecção na coluna.
         Através de uma série de desculpas pretextuosas,  o presidente Yanukovytch vem eludindo há tempos a autorização para que a Timoshenko receba o indispensável tratamento a que a piora em seu estado de saúde torna inadiável.
  
        Não subsistem dúvidas de que a punição aplicada a Yulia Timoshenko tem motivação política. Ela concorrera com Yanukovytch  para a presidência da Ucrânia, e não foram decerto dissipadas as suspeitas sobre a confiabilidade do resultado de  eleição renhida e definida por frágil maioria em favor do atual Presidente.

            Malgrado as pressões de Putin, há observadores que explicam a opção de Yanukovytch em favor da União Aduaneira de Putin, como uma escolha já anunciada. Para o atual presidente – cuja força política reside precipuamente na região do país mais ligada a Moscou – não surpreende deveras que conduza esta grande nação à  aliança ainda mais estreita com o Kremlin, de que, de resto, participam as ‘democracias’ do Kazakstão e da Bielorrússia, além da Moldova, país mediterrâneo (landlocked) e de parcos recursos.

            Benvindos ao passado, pois!

 

(Fonte subsidiária: The  New York Times)

Cartas ao Amigo Ausente (XXVI)


 

                                                    X X V I

 

  

                 Meu bom e grande amigo Pedro,

 


                 senti  certo laivo amargo na última correspondência. Não tinhas o hábito de tapar sol com peneira, e certas coisas carecem de ser ditas. Tua personalidade me leva, no entanto, a tê-las presente no quadro geral, e sem nada querer pôr debaixo do tapete, tampouco me anima o intento de hipertrofiá-las.  Se o fizesse, estaria cometendo um deslize muito maior do que as eventuais falhas acima referidas – e quem não as tem?     
        
                 Por isso, passemos adiante. Nesse teu quadro – que os anos pintaram com sua por vezes suave, por vezes brutal crueldade – não poderias senão sair com felicidade no caprichoso instantâneo do tempo. Não me refiro, decerto, aos fotógrafos do lambe-lambe, em que nascendo mais de década na minha frente – e todos nós somos educados e cedemos de bom grado a vez se se trata de nosso ingresso no túnel do tempo – terás visto  nos parques da tua infância.

                Entraste tarde no Instituto Rio Branco. Já advogavas quando passaste pelo temível crivo do vestibular. Por isso, quando fui ao Hotel Inglês (na verdade, uma das pensões na Rua do Catete), já relatei a impressão havida com os teus livros – e estavas apenas no começo da tua caminhada de leitor e, sobretudo, de estudioso.

                Depois, a película da mente me abre a imagem fugaz do Secretário Pedro com a sua escrivaninha atopetada de livros e maços, fazendo observações que o deus Cronos fez desaparecer. Mas o quadro, mesmo sem palavras, me fala bastante do Diplomata lotado na então prestigiosa Divisão Política do Itamaraty.

                Sem embargo, tua real entrada em cena no que seria o filme a estender-se por infinidade de seriados aconteceu no aeroporto de Quito. Nesse quadro, estava eu adentrando, sem saber da missa a metade.

               Nem sei por que falei de missa se o personagem sempre fora agnóstico. Hás de entender, contudo, a mensagem. No tarmac do aeroporto me recebias ao pé da escada do avião da Avianca que me trouxera, com a jovem esposa, de New York, com escala em Bogotá.  Não pretendo, porém, cansar-te com reprises do longo documentário de nossa amizade.

               Se bem que me haja inquietado um pouco com tua euforia, quando se confirmava pela respectiva presença a minha transferência da embaixada em Paris para a de São Francisco de Quito. Semelha óbvio que, sem o sabermos, ali se iniciava amizade que se estenderia por quarenta anos.
         
               Não ignoro – e como poderia? – que ao aventurar-me por plagas já percorridas, estou correndo sérios riscos, de que talvez o maior seja o de repetir impressões, ou, o que é quiçá mais grave, apresentar-se visões sucessivas e discrepantes.
 
               Meu desígnio, entretanto, não é o de maçar-te com iterações, à moda daqueles que a idade ou a sorte madrasta transforma em quase-sombras do Hades, a que parecem arremedar no confinamento dos asilos.

               Ao invés, quero tão só traçar-te as grandes linhas, como um pintor que se apressa, temeroso, sobretudo, do tempo que se escoa e não volta mais.
          
               Por vezes, nas páginas acima surge a personagem de gestos imprevistos e mal-controlados, fonte perene de intervenções pontuais do teu fiel escudeiro, o Rezende, por vezes encarnando Sancho Pança para o irrequieto Dom Quixote.

              Se este é o tempero que nos evoca os tipos inesquecíveis da revista Seleções do Reader Digest, será apenas uma vinheta que pouco mostrará de o que realmente foste em vida.

             Mais do que diplomata – em que, de resto, atuaste com proficiência e habilidade nos páramos quitenhos – te vejo como o apaixonado pelo estudo e leitor constante e inveterado. Na verdade, tua personalidade mora em palavra sem tradução exata em português, i.e. o  scholar.

             Onívoro em termos de saber, arrimaste sob o pretexto de que pretendias escrever sobre as origens do direito penal a necessidade de adquirir tudo a que esse tema se reportasse. Já escrevi a tal respeito, e não carece repetir. Dada a amplitude do assunto, se te obrigava a abrir muitas portas, também o passar dos anos te convenceu de sua inviabilidade. Já na década dos noventa, começaste a desenvolver a tua tese acerca da frase, para ti, sem sentido de Aristóteles.

             Em passagem minha por Petrópolis, me deste para ler o que seria o embrião do livro, com os dois primeiros capítulos da tua obra “CRÍTICA DO ANIMAL POLÍTICO  – O significado de uma expressão sem sentido”.

             Mais tarde, no meu período na Secretaria de Estado e à testa do ERERIO (o conjunto arquitetônico com endereço na Avenida Marechal Floriano, 196) fui acompanhando, com os fascículos que me passavas, a elaboração da monografia. Como já referido acima, ela ainda está pendente de publicação.

              Praticamente, não te sobrou tempo em vida para cuidar da edição. O Rezende tentou, mas sem sucesso.  O encargo passou para mim e até o presente ainda não foi concretizado – a despeito de que em uma editora esteve a ponto de fazê-lo – mas podes crer que a sua publicação não se acha longe de ser finalmente implementada.

              Nesta carta de hoje, gostaria sobretudo de bosquejar as razões pelas quais creio te assinalaste em vida. Homem do século XX, serias coerente com ele até com o respectivo limite. Dedicaste tua existência ao livro, que acumulaste não como mercadoria ou objeto de bibliofilia, mas como fonte de saber. Não recusavas o novo, desde que inserido no paradigma de Gutenberg. Acreditavas no estudo, e por isso encetavas a leitura de cada tomo pelo exame cuidadoso de suas fontes de referência. Nelas te abeberavas, antes de ir adiante, para obter uma primeira idéia da proposta e de suas possibilidades.

              Por isso, aprenderias muitas línguas (além do inglês e do francês, de que a fluência era então obrigatória para os diplomatas, lias em espanhol, italiano, alemão e holandês). Tinhas conhecimento mediano do latim. Do grego, não o desenvolveste como decerto o desejavas. Ainda por cima, te embrenhaste pelo acadiano, porque querias ler no original o Código de Hamurabi !

              O teu interesse em termos de conhecimento se estendia do direito a paleontologia. Acompanhavas de perto a pesquisa sobre o homo sapiens sapiens, e procuravas nas mesas de exposição da Leonardo da Vinci  (incontáveis eram as livrarias e os sebos que frequentavas) os tratados mais recentes sobre bioética. Assim, a par de filosofia e história (bastante jovem leste Farias Brito, o nosso único autêntico filósofo, porque proponente de um sistema original), além dos compêndios jurídicos, da política, sociologia e antropologia, biografia e daquilo que os alemães chamam de Zeitgeschichte (crônica contemporânea). Como esquecer a cara assustada de fregueses do Urich ao ver a capa do calhamaço de Joachin Fest sobre Hitler, com uma foto das reuniões pagãs do Terceiro Reich, que sobraçavas como a tua aquisição da jornada!
 
             Os basbaques levaram para casa a impressão errada. Não havia maior democrata que o meu amigo Pedro. Se eras partidário do pior regime que existe (com exceção de todos os demais, na definição de Churchill), respondias também ao imperativo de conhecer melhor o mundo, através da leitura e do estudo.

             Compravas para Thérèse – e havia um ulterior interesse em satisfazer a cara-metade, com os custosos volumes em papel bíblia da Pléiade que creio já ter mencionado, i.e. aplanar o caminho para a tua contínua aquisição de livros e mais livros, mas, no que te concernia, nunca de literatura! – aquilo que humoristicamente denominavas de “demagogias culturais”.

             Como amante da obra impressa dedicada ao estudo e à ciência – e a quem te posso comparar enquanto alguém que acaso haja como tu sacrificado a própria carreira no altar do Livro? – jamais encontrei pessoa que se identificasse tanto com a obra impressa como vetora de saber.

             Compreendo agora que, como o romântico Rollo, que chegara demasiado tarde em um mundo demasiado vetusto, não tinhas condições psicológicas e epistêmicas de identificar-te, mesmo que forma colateral, com o novo paradigma que irrompeu nas últimas décadas do século vinte. Não foi por preguiça, nem por reacionarismo que disseste a frase do Pontífice medieval: Non possumus !

 
             Meu velho e bom Amigo,

 
             Sempre foste um liberal (ainda que por vezes do século XIX), e estavas aberto aos ventos novos e as ideias que trazem. Colocavas, no entanto, uma humilde condição – que fossem vazadas no conduto do livro impresso – porque as facilidades do espaço digital te pareciam a expressão de um outro mundo, que chegara à tua porta demasiado tarde para ser administrado, penetrado e desenvolvido.

              Recordo-me do preço abusivo que te exigia a velha máquina Olivetti, com os seus papéis carbonos, as suas teclas gastas pelo tempo (na prática, o, e  e a) batiam na folha branca o mesmo caracter ! Jamais sequer consideraste a hipótese de abandonar o velho barco, para experimentar o novo. Por quê?  Pura e simplesmente por ser tarde demais.

            Dado o teu temperamento, não saiste de cena pé ante pé.  Preferiste esbravejar contra a nova ordem, que, sem combinar contigo, viera para pôr de cabeça para baixo a tua visão da realidade.

            Hoje, quando a tarde vai caindo e o crepúsculo, com o seu lusco-fusco se espraia, devo confessar-te que entendo cada vez melhor a tua luta. Nada a fazer quando o paradigma muda. Ele não costuma pedir licença, mas, de certo modo, vai infernizar-te o que te restava de vida.

 
           Não havia adepto mais entranhado no paradigma de Gutenberg. Enquanto muitos outros depararam o que acontecia com o olhar ausente dos filisteus, tu foste daqueles que acreditaste no singelo mensageiro do teu mundo – a página impressa dos compêndios! - e julgaste oportuno e válido juntar-te aos poucos que vociferavam e gesticulavam contra as bestas do apocalipse.                 
              

          Todavia – e não duvido que gostarás da imagem – viremos a página. Nas terras frias, quando a escuridão da noite começa a avançar, soa a hora de querer buscar o próprio refúgio, o lar respectivo, com a sua promessa de segurança e aconchego. Home, before dark[1] é título da filial memória biográfica sobre John Cheever, que é, a um tempo pressago, e reconfortante.

 
          Se me permites a franqueza, se te pudesse ainda dar um conselho – e tais propósitos, lá onde estás não mais têm guarida – recomendaria que de vez em quando, ou até muito de vez em quando, admitisse às tuas leituras os ademanes da ficção. Por inexistirem, eles se permitem posturas e pensamentos que a rigidez da ciência – em todos os seus avatares – barra a porta com a mansuetude do leão de chácara. Quiçá nestas linhas não apareça boa intenção mais fora do tempo. Sem dúvida, ela chega tarde demais. Mas a literatura – e a poesia! – são importantes por nos darem visão diferenciada.

 
         Não discuto a tua primeira opção. Preferiste continuar a vocação de estudioso, e para tanto deixaste a banda passar por muitas vezes na carrière[2]. Reservado, não comentaste a injustiça da aposentadoria antecipada, que então se aplicava aos conselheiros e ministros de segunda. Voltaste ao Brasil via New York, e se lá visitaste várias livrarias, inclusive um sebo na Broadway[3], também fechaste a tua conta na agência nova-iorquina do Banco do Brasil, que ficava em edifício da 5ª Avenida. Aqui me detenho sobre tais providências bancárias, em que não demonstraste o teu habitual bom senso.

          Antes de concluir, gostaria de escrever sobre um outro Pedro que conheci. Nos almoços que marcavam a tua passagem pelo Rio de Janeiro, depois de cumprido o ritual meteorológico que não dispensavas – e avalanches e desastres posteriores me mostraram à saciedade quão oportuna e apropriada era a tua prudência – vinhas para essas ocasiões em que o alimento mais substancioso estava em nossas discussões e nos temas e tópicos que trazias à baila. Do Bar Monteiro, tangidos pelas exalações dos bueiros, passamos para o Urich, que tinha o requinte do ar condicionado. Ali conversávamos de tudo e sobre todos, mas na mesa teríamos duas certezas: a tua voracidade – que entenderia depois quando nos tocou, depois da tua partida, almoçar na casa de Therezinha – e capacidade de congregar em bar ou restaurante um grupo de pessoas, que ali estavam atraídos pela tua aura de estudioso e pensador.

 
            A trinca – Pedro, Rezende e Mauro – tinha cadeira cativa, e havia convidados, e alguns de nomeada, que ali estavam precipuamente por tua causa. Sabias disso, mas agias sem sobranceria. O que interessava era a conversa e o que se discutia.

 
            Recordo-me que, às vésperas da eleição de 2002, havia uma febre na intelligentsia  quanto à momentosa oportunidade da eleição de Lula. Rezende, do PT igrejeiro, era um apóstolo insistente. Eu mesmo, deixara cair as antigas restrições. Tentávamos convencer a Pedro de sufragar o candidato da hora. Ele ouvia com atenção e a urbanidade de sempre, as instâncias dos amigos (dos quais Rezende era o mais veemente).  A reticência persistia, no entanto, e ela se fundava precipuamente na precária formação intelectual do candidato petista. Pedro achava que um candidato a presidente carece de curso superior. Na época, achávamos que a experiência do líder sindical e político mais do que supria essa lacuna. Na época. Com o benefício da visão posterior, eu não discordaria hoje do amigo Pedro. Ele estava certo.

 
            Assim como ele possuía a pertinácia de caçar um livro – armado até da astúcia de um xerife do velho Oeste, inexorável na perseguição da presa – e me assaltava com solicitações por vezes desmedidas, quando de minhas viagens a Europa, era também proverbial a sua atenção ao amigo, dando-lhe dicas preciosas, como na aquisição do Aristóteles de Ingemar Düring, na época só disponível na edição mexicana da Universidade do México. Às vezes, no entanto, os atalhos podiam reservar surpresas, como a deste maçudo volume, que veio sem um dos fascículos centrais, exatamente o que discutia a questão da existência ou não de um segundo livro da Poética do Estagirita  (que Umberto Eco, em seu best-seller mundial, O Nome da Rosa, aventa a existência em biblioteca de convento medieval). E não é que tu me indicaste, por correspondência para a Guatemala, onde eu estava em posto, a maneira de encontrar cópia do fascículo fujão ?

 
           Os adeuses são cerimônias por vezes dolorosas, mas também ensejam momentos em que nós pobres mortais conseguimos matizar a sensação da perda através de artifícios que não logram suportar uma visão mais detida e percuciente. E, sem embargo, à falta de outra coisa, manipulamos o que temos à mão, e não é que imaginamos o riso nervoso, os gestos (que preocupavam o Rezende), a alegria em estar e conversar com os amigos, tudo isso é bom rememorar – enquanto a noite não vem.

 
         Com forte abraço, mas sem o sempre temível tapa nas costas, do teu amigo velho



[1] Em casa, antes que escureça, de Susan Cheever, Boston, 1984.
[2] Carreira diplomática.
[3] Strand Bookstore, 828 Broadway & 12th Street East.

domingo, 24 de novembro de 2013

Colcha de Retalhos A 43

                         
Acordo provisório com o Irã

 
        Na madrugada deste domingo, 24 de novembro, o Irã e a União Europeia e os membros permanentes do Conselho de Segurança chegaram a acordo válido por seis meses sobre a questão atômica e as providências que a República Islâmica deverá tomar para que seja respeitado o caráter estritamente pacífico de suas instalações nucleares.

        Optou-se por entendimento provisório, dada a complexidade das diversas questões ainda em suspenso, no que tange às medidas indispensáveis que deverão ser tomadas por Teerã com vistas à assinatura de documento definitivo sobre a matéria.

        Dada a complexidade das questões envolvidas, optou-se por documento que estabelecesse o congelamento temporário do programa nuclear iraniano. Esta foi a rationale a que se ativeram os negociadores, que teriam, de acordo com tal raciocínio,mais tempo  para chegar a um acordo abrangente. Resta verificar se esse acordo provisório será instrumental suficiente para conter o programa nuclear do Irã, e assegurar  sua utilização exclusiva para fins pacíficos.
        O Ministro do Exterior Mohammad Javad Zarif,  disse esperar que o acordo possibilite restaurar a confiança entre o Irã e os Estados Unidos. Nesse sentido, Zarif sublinhou o caráter pacífico do programa, e que o povo iraniano merece ser respeitado pelo Ocidente.

        Nesse sentido, o Irã concorda em deter o enriquecimento do urânio no nível de 5%, bastante para a produção de energia (para fins militares o urânio necessita de enriquecimento em níveis mais altos).
       Para assegurar o caráter pacífico, o governo iraniano se comprometeu a desmontar as atuais conexões  na sua rede de centrífugas. Quanto ao estoque já existente de urânio enriquecido até 20% (assaz próximo daquele utilizável para fins militares), ele seria convertido em óxido, de modo a não estar disponível para fins militares.  Dentro da mesma linha, o Irã também se comprometeu em não instalar novas centrífugas,nem pôr em funcionamento as não-operantes, assim como não criar novas facilidades de enriquecimento de urânio.

       Sem embargo, o governo iraniano poderá continuar a enriquecer urânio até o nível de 3 a 5%.  Tampouco carece de desmantelar as existentes centrífugas.
        Em troca do acordo, os Estados Unidos concordaram em conceder de seis a sete bilhões de dólares em compensação pela imposição das sanções. Deve-se ter presente que cerca de 4.2 bilhões desta soma se refere a renda de petróleo, que fora congelada por bancos estrangeiros.

        Este instrumento foi acertado de modo a ser implementado por decreto presidencial. Diante da mui possível resistência do Congresso (que tenderia a exigir o desmantelamento prévio do programa nuclear iraniano), a Casa Branca preferiu recorrer a uma solução provisória da questão. Sem embargo, nas suas palavras o presidente Barack Obama não deixou de aludir às preocupações (de Israel e também da Arábia Saudita e de outros aliados de Washington no Golfo Pérsico): ‘eles têm boas razões para encararem com ceticismo das intenções (de Teerã)’. O Presidente enfatizou , no entanto, ‘a profunda responsabilidade’ de testar as perspectivas de uma solução diplomática para essa questão.
       Nos termos do acordo provisório, o regime iraniano poderá aumentar  o estoque de urânio de baixo enriquecimento para 8 tons. (das sete atuais). Ao cabo de seis meses, contudo, Teerã deverá retornar às sete hodiernas.

       Os fiscais da AIEA poderão visitar as instalações de Natanz e a usina subterrânea em Fordo,  diariamente, com vistas à verificação do filme das câmeras aí instaladas.
       Como igualmente seria previsível, a oposição mais forte ao acordo negociado em Genebra vem de Tel-Aviv.  O governo Netanyahu preferiria um documento muito mais severo, que implicasse na terminação dos programas de enriquecimento do urânio pelo Irã. As potências do Conselho de Segurança e a U.E. se pautaram pela regra diplomática de que a negociação deve realizar-se dentro do regime do possível e não do teoricamente preferível.

       O novo governo iraniano do presidente Hassan Rouhani tem dado indicações de maior flexibilidade e relativa moderação. Tudo vai depender da atitude na prática do Líder Supremo Ali Khamenei, para que o entendimento seja implementado de boa fé.

       Após haver jogado a carta da independência atômica – e do enriquecimento nuclear bem acima dos níveis compatíveis com a utilização pacífica – caberá ao ayatollah Khamenei fazer com que seus aliados à direita (os guardiães da revolução e os que desejam a morte do grã Satã) se conformem com os novos parâmetros, para as que as sanções sejam levantadas, e a economia iraniana possa recuperar-se.


 A Comissão Feliciano e o que significa      

 
            Depois de apossar-se da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) logrou mostrar para os observadores o significado do domínio  de uma Comissão por um movimento político engajado na obtenção de realidades objetivas que estão na contramão da modernidade e do consenso constitucional vigente.

            Por muito, a Comissão de Direitos Humanos esteve sob o controle do PT. A presença do Partido dos Trabalhadores na aludida presidência se não se traduziu em agenda pró-ativa, tampouco se caracterizou pelo que ora se vê. A presença do deputado evangélico Marco Feliciano, marcada de início por série de manifestações de repúdio – o que contribuíra para dar-lhe à presença na comissão um enganoso aspecto farsesco  - agora involui para medidas que são suscetíveis de interpretação de viés homofóbico. 

           Consoante O Globo, nesta semana, a Comissão Feliciano “aprovou (a 20 do corrente) dois projetos contrários aos interesses dos homossexuais e ainda rejeitou outro que atendia aos pleitos da comunidade. Entre os projetos aprovados está a suspensão da resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que autorizou cartórios a realizarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Já a proposta que foi rejeitada daria a companheiros de gays o direito a receber pensão pelo INSS.”  

           O Congresso das quartas-feiras (até mesmo a veia inconstitucional da Comissão corre neste dia da semana) permitiu, por um misto de incompetência e de negligência, que de repente surgisse na costa esse novo presidente de comissão, de um partido da direita evangélica, que venha substituir a longa e ineficaz presidência do PT na Comissão dos Direitos Humanos, nominalmente de esquerda, por uma assunção de questionável oportunidade e de discutível significação para a atual Câmara, de parte de movimento fora do consenso prevalente da sociedade civil e, na aparência, com uma agenda que não reflete o sentir da direção da Câmara e do próprio governo Dilma Rousseff.

           Pela sua continuada presença, o Senhor Marco Feliciano mostrou que a Câmara e a sua Mesa diretora não dispõe de instrumentos – ou não quer deles valer-se – para afastar da direção de uma Comissão de Direitos Humanos um deputado que já deu mostras suficientes de que não tem condições tanto pessoais, quanto constitucionais para ocupar tal presidência.

 

Superpoderes para Maduro !



           O presidente Nicolás Maduro já deu sobejas mostras de qual nicho lhe reserva a história política da Venezuela. O ex-caminhoneiro, ao apagar das luzes da presidência chavista indicado como sucessor do moribundo caudillo, se insere dentro de uma tradição já referida, de que a farsa é a continuação de certas situações políticas.
          O nível intelectual do atual presidente é uma triste realidade, em que se infantiliza a sociedade civil que, no passado, já se assinalara por grandes presenças no mundo político. O próprio Hugo Chávez,  fundador do corrente regime venezuelano, jamais no curso de seu neopopulismo, seria cúmplice ou fautor de atos e atitudes como os que vem sendo realizados pelo seu herdeiro de ultimíssima hora.

        A pretexto de controlar a alta dos preços que já acena para a hiperinflação, Maduro exigiu da  Assembleia Legislativa da Venezuela – e a concessão foi manchada pelas habituais ilegalidades – a outorga de superpoderes para governar a Venezuela e, em particular, dominar a inflação.

        Pelas declarações e iniciativas do Presidente Maduro, foi dado ao povo venezuelano uma visão tipo Brucutu da economia. No entender de Sua Excelência, há inimigos por toda a parte, e a carestia (a par do desabastecimento e um vastíssimo etcetera) se deve a inimigos do Povo, a tubarões empresariais, etc. etc.

         Os plenos poderes dados a Maduro, que por um ano governará por decreto, serão utilizados muito provavelmente com fins demagógicos, na busca de supostos culpados por todos os males que enfrenta a população venezuelana.

         É de indizível pobreza intelectual que alguém se proponha a combater a inflação através de uma caça às feiticeiras, ou através de medidas coercitivas de congelamento de preços, ou de incriminação de empresários e patrões como bodes expiatórios do atual desgoverno.

        A economia é ciência decerto imperfeita. O que dela sabemos, no entanto, nos permite algumas certezas. Uma delas é que a realidade econômico-financeira não respeita os decretos e os ukases (ordens ditatoriais).

          Embora ainda exista gente não de todo convencida em Pindorama, a heterodoxia não funciona na ciência econômica.

          Os plenos poderes de Maduro terão consequências. Só se pode garantir, no entanto, é que não valerão para o que nominalmente se propõem. Ao cabo de um ano, o presidente constitucional, seja ele quem for, não terá controlado nem a inflação, nem o desabastecimento, nem a insatisfação crescente de um povo que sequer tem o que  comprar.  

 

(Fontes:  O  Globo, New York Times)