quinta-feira, 31 de outubro de 2013

P Í L U L A S


                                               
Agora Lula da Silva equipara José Sarney a Ulysses Guimarães como grandes da Constituinte de 1988. Onde está tua coerência histórica, ó Lula ? Não haverá limite para esse tipo de comparação para fins eleitoreiros?


No Rio de Janeiro, carro-pipa compra água (da CEDAE) por R$ 32 e vende a R$ 4 mil ao consumidor. O Presidente da CEDAE considerou ‘um roubo’ o preço praticado pelas empresas de carros-pipa, mas disse que não pode fazer nada (o mercado não é regulado)

 
Alessandro, Goleiro do Vasco, toma um frangaço em chute fraco de Uendel, o time fica cada vez mais ameaçado da Segundona, e a Diretoria substitui o técnico Dorival Júnior por Adilson Batista, especialista em salvamentos in extremis.

 
Um momento !  O problema do Vasco não é de goleiro ? Desde a incompreensível venda do bom arqueiro Fernando Prass (para o Palmeiras) pelo Presidente Roberto Dinamite, que o CRVG tem perdidos pontos preciosos por falhas memoráveis de seus esforçados, mas pouco talentosos goal-keepers...

 

(Fonte subsidiária: O Globo)

Desacato e outras Ameaças à liberdade de expressão

                      
  
      Não poderia ter sido mais oportuna a advertência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) dirigida ao governo do Brasil.
        Nesse Congresso brasileiro - que só trabalha com expediente integral nas quartas-feiras - muita revisão de legislação é feita de forma superficial e pouco satisfatória.

        Tome-se o exemplo do Código Penal brasileiro, promulgado em pleno Estado Novo (1940), e elaborado sob direta influência do código fascista italiano.
         A CIDH alerta o governo do Brasil – e em especial o Congresso – que a manutenção dos crimes de desacato, injúria, calúnia e difamação no Código Penal representa um risco considerável ao exercício pleno da democracia e à liberdade de expressão.

         Assinale-se que tais normas fascistóides criminalizam a opinião dos cidadãos em geral e de jornalistas em particular.
         Nesse contexto, a CIDH reiterou que, na jurisprudência do Sistema Interamericano, disputas sobre a veracidade de acusações e a intenção e o dano de suposto ataque à honra devem ser circunscritas à esfera civil e respeitar o critério de proporcionalidade para evitar excessos em punições, banir a ameaça de prisão e inibir o uso da Justiça como instrumento para silenciar críticas.

         Com grande sensibilidade e oportunidade no caso brasileiro, a Comissão questiona em especial o desacato – ofensa à honra de funcionários públicos e de autoridades. Como sublinhou Catalina Botero, relatora especial de liberdade de expressão da Corte, a CIDH já deixou claro que esse tipo de norma penal tem de respeitar a Convenção Americana. É importante revisar as normas de desacato, não porque não tenham honra os funcionários públicos, mas pelo dano que tais normas podem causar ao processo democrático. A ameaça de prisão produz medo, intimidação, especialmente a jornalistas de áreas mais vulneráveis.
         Esse oportuno alerta foi feito em audiência na CIDH, solicitada pela ONG Artigo 19, de São Paulo.  Está em xeque que o regime jurídico brasileiro viola a Convenção de Direitos Humanos regional e é utilizado indiscriminadamente para reprimir.

         Segundo pesquisa realizada pela ONG, de 512 acórdãos do TJ-SP entre junho de 2012 e março de 2013, 80% dos autores das denúncias são policiais, políticos, advogados e ocupantes de cargos públicos. O desacato lidera com 272 processos. Hoje, em seis dos 27 TJs, há em curso 800 processos de desacato, calúnia, injúria e difamação.

         O direito brasileiro carece de atualizar-se e de perder, no capítulo da opinião e do comportamento, o seu viés  repressivo. Nesse quadro, é interessante e assaz oportuno assinalar que já foram condenados, por criminalizarem a opinião, seis países: Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Venezuela. Nesse sentido a o Argentina, em 2008, foi sentenciada a alterar o Código Penal e excluir o desacato, o que cumpriu. Também posteriormente a opinião foi descriminalizada integralmente.
         Como sublinha Paula Martins, diretora da ONG Artigo 19, “o Código (Penal) tem um efeito fortíssimo inibidor à liberdade de expressão. O medo pode gerar autocensura.”

           A CIDH comunicou à missão do Brasil junto à OEA a necessidade de implementar as recomendações do Sistema interamericano. Em sua resposta, a missão obtemperou que o Brasil não está descumprindo a Convenção.  Nesse contexto, aludiu a projeto de lei de autoria do Senador José Sarney (PMDB-AP).

           No entanto, a leitura do projeto Sarney mostra que a ‘reforma’ não é decididamente para valer. Apesar de que o texto do projeto supostamente acabe com a figura do desacato, a qualificação em apreço é mantida para ofensa a servidores públicos. Além disso, a ‘reforma’ aumenta o tempo de prisão em 50% nesses casos. E o projeto Sarney ainda extrapola em termos de calúnia, injúria e difamação, que têm a pena máxima elevada a três anos.  
            O instituto do desacato é ferramenta cujo uso tem sido estendido a um sem-número de ‘autoridades’, nelas incluídas policiais e P.M.s. Dado o caráter fascista deste instituto – que criminaliza o comportamento da vítima – ele tende a prejudicar o eventual acusado, dentre de seu enfoque unilateral, ao privilegiar a autoridade coatora. Releva, outrossim, sublinhar que em muitos casos o desacato se caracteriza pela unilateralidade, eis que fica ao inteiro alvitre da autoridade.

             É muito oportuna no contexto – sobretudo se tivermos presente a supracitada ‘reforma’ à legislação do projeto Sarney – a assertiva da CIDH que na jurisprudência do Sistema interamericano disputas sobre a veracidade de acusações e a intenção e o dano de suposto ataque à honra devem ser circunscritas à esfera civil e respeitar o critério de proporcionalidade para evitar excessos em punições, banir a ameaça de prisão e inibir o uso da Justiça como instrumento para silenciar críticas.
              Estamos falando de democracia, e é importante que ela esteja presente igualmente no campo da opinião.

              Para cumprir o ditame implícito na Constituição Cidadã de Censura, Nunca Mais, carecemos de acabar também com as figuras encapuzadas do desacato, da calúnia, injúria e difamação. Essas figuras estarão à vontade em legislação feita sob influência fascista, mas jamais  sob a autêntica ordem democrática.
 

 
(Fonte: O Globo)                      

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Obama e o Desafio da Presidência

                                    

        A famosa frase do Presidente Harry S Truman pode definir uma presidência?  Nesse contexto, o suposto afastamento de Barack Obama de determinados temas vem colocando a questão da atitude presidencial de uma forma muito mais incisiva.
        Ao contrário de Truman que não só definiu, mas também não hesitou em arrogar-se a responsabilidade última do Primeiro Mandatário quando recorreu à fórmula ‘aqui param as contas’ (the buck stops here), Obama, por mais de uma vez tem transmitido a impressão de que desconhece determinada questão e, por conseguinte, dela está alheio.

       Em dois recentes problemas enfrentados pela presente Administração, Barack Obama não deu ideia de que estivesse plenamente inteirado do assunto e, por isso, surgiu a impressão de ‘bystander president’ (presidente espectador).
       Reporto-me ao falho lançamento do site do ACA (a reforma custeável da saúde), que se prestou à maravilha para as críticas republicanas ao Obamacare. A Secretária da Saúde, Kathleen Sebelius, tampouco terá impressionado pelas suas respostas quanto à implementação desse site, pelo qual o cidadão americano providencia sua inscrição nas câmaras (exchanges) de saúde abertas nos estados pela nova reforma. Salta aos céus que dada não só a expectativa em torno da recepção desta reforma que é a pedra angular da Administração Obama, mas também os intentos do GOP (e são muitos) de fazê-la descarrilar, salta aos céus, repito, que a implementação do ACA não deveria ser questão colateral, seja do Presidente, seja da Secretária, a ponto de permitir, pela falta de ênfase e de empenho, que o referido site tenha evidenciado um funcionamento típico de engenho burocrático de baixíssima prioridade.

       Não há negar que aí faltou tanto o empenho prioritário da Secretária da Saúde, quanto a sinalização inequívoca do Presidente no que concerne à magnitude do esforço que lhe deveria ser atribuído.
       No que tange ao escândalo das escutas e da espionagem eletrônica da National Security Agency, o distanciamento de Obama, se a princípio serviu um escopo – o presidente não estava inteirado da agressiva política de indiscrição eletrônica da Agência de Segurança Nacional -, com o agravamento da crise, o afastamento presidencial passaria a significar uma de duas coisas: uma colossal insensibilidade a uma política invasiva e pela amplitude pouco razoável, ou alienação quase patológica de questão de magna importância.

       Como assinala a matéria jornalística do New York Times de hoje, em toda Administração existe a tendência natural de preservar o Presidente. Nas audiências promovidas pela Câmara de Representantes – dominada, e como!, pelo Partido Republicano e a sua facção extrema, do Tea Party – a respeito das escutas procedidas pelos responsáveis da segurança, não há de surpreender que se tenha insinuado fosse o procedimento do conhecimento do Presidente.

       Dado o perfil da Alemanha, é difícil aceitar que o grampo no celular de Angela Merkel fosse ignorado por Barack Obama. Considerando o intelectualismo do 44º Presidente, se tal não pode ser negado prima facie (de cara), atendidas suas características, esse fato pode não ter merecido a mesma atenção prioritária que dera à escuta o seu predecessor (o qual, de resto, a determinara).
        Se o estilo do homem Barack não pode ser comparado com o de seu longínquo antecessor Harry Truman – e nesse contexto a frase de Buffon[1] sobre a questão revela a importância desta conexão – tampouco se deve esquecer que cada presidente constitui um capítulo a parte.

        É conhecida a prevenção da opinião pública americana quanto à presença de intelectuais à frente da Nação. Tal preconceito responderia ao temor de que o morador da Casa Branca seja um racionalizador,e não um líder, alguém que sopesa as alternativas de um problema e opta por uma ação determinada. Perpassa essa inquietação quanto à eventual indecisão da personalidade presidencial, a possibilidade de não chegar a uma conclusão, dada eventual tendência de examinar de forma exaustiva todas as opções.
       Daí, FDR, o protótipo do êxito presidencial, nunca foi tomado por intelectual. Tampouco Ronald Reagan, de cuja capacidade mental muitos chegaram a desmerecer, mas que se tornou modelo de determinação presidencial.  Jimmy Carter só teve um mandato, perseguido que foi pela impressão de que hesitava por demais diante das muitas opções que o importante ofício lhe apresentava.

 
 
(Fonte: New York Times)



[1] O estilo é o homem.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Notícias Direto do Front

                                

Espionagem da NSA

 
        Estaria prestes a ser implementada diretiva do Presidente Barack Obama no sentido de que chefes de governo de países amigos não mais sejam objeto da espionagem eletrônica da National Security Agency.
        A principal razão desta mudança nos procedimentos revelados por Edward Snowden está no mal-estar com a Alemanha Federal, pelo fato de que o celular da Chanceler Angela Merkel vem sendo grampeado desde 2002, por ordem de George W. Bush.

        Outros chefes de estado e governo atingidos pela programada indiscrição  da NSA são François Hollande da França, o Primeiro Ministro da Espanha, Mariano Rajoy e o Presidente do Conselho italiano, Enrico Letta.
       A reação da dirigente alemã manifestou seu mal-estar em descobrir-se objeto de prática que se destina em geral a países adversários. Por outro lado, a Merkel enviou representante da agência competente alemã aos Estados Unidos para contatos, sem desgastar-se com reações personalizadas.

        Se for confirmada a determinação da Casa Branca no sentido de excluir chefes de estado e governo com boas relações com a superpotência da espionagem da NSA, a proverbial discrição e moderação da Chanceler germânica ver-se-á amparada pelos resultados, demonstrando para bom-entendedor que a elegância na reação não é necessariamente um fator negativo para o êxito respectivo. O punho de ferro, se envolto em veludo, não sói ser contraproducente...  

 
O que fazer de Nicolás Maduro ?     

 
         O fato de que Nicolás Maduro, ‘filho adotivo político’ de Hugo Chávez, tenha sido um caminhoneiro pode explicar muitas atitudes do novel presidente venezuelano, mas não é consolo para a opinião pública daquele país.

          O primarismo dos recursos de Maduro - o constrangedor e lépido passarinho no ombro já constituira dose de difícil deglutição – só terá um limite, que será dado pela população (ou por forças que digam representá-la).

          O desabastecimento do mercado, a incapacidade de atender a compromissos financeiros, o ridículo nas denominações ministeriais,  parecem contribuir para a aceleração de um familiar processo de Latino America. Nada mais aglutinador para os leais companheiros do que a ameaça de uma perigosa ineficiência que, por falta de sensibilidade e de qualquer resquício de competência administrativa, possa redundar em situações terríveis, como a perspectiva de soterrar a todos os chavistas sob a avalanche do mau governo.

 
Crepúsculo de Cristina Kirchner

 
           A fragmentação do peronismo pode disfarçar um tanto a derrota da Presidente – manteve a maioria em Senado e Câmara, mas perdeu nas principais províncias (Buenos Aires, Córdoba e Mendoza).

            A principal vitória da oposição foi de Sergio Massa, dissidente kirchnerista, que venceu no maior colégio do país, com  43,92% dos sufrágios. Por outro lado, Maurício Macri, do PRO (Proposta Republicana) prefeito de Buenos Aires, teve a sua legenda como campeã de votos para o Senado e a Câmara na Capital Federal.
           O populismo continua forte na Argentina. Mas os reveses sofridos pelas forças que apoiam a Cristina viúva de Kirchner, parecem indicar que o peronismo, se nominalmente persiste, estará presente no governo através de outras correntes, que não se confundem com a linha propugnada por Nestor Kirchner, que sucedera a modalidade neoliberal peronista de Carlos Menem.
 

David Cameron, o aliado fiel

 
           A controvérsia sobre a espionagem da National Security Agency  tem ensejado ao Primeiro-Ministro David Cameron maior exposição dentre o seleto grupo dos “Cinco Olhos[1], a que este blog já se referiu, e que, em termos de cercania da Superpotência, representa o seio do seio de Abraão, pelo seu acesso à inteligência mais delicada.

           Cameron já se distanciara da indignação de líderes europeus continentais, e agora estará pensando – como antes dizia o finado General João Figueiredo – em ‘recrudescer’, ao ameaçar agir para impedir a publicação  de o que considerou  ‘vazamentos prejudiciais’, trazidos à baila pelo atual asilado moscovita Edward Snowden.
          A advertência visa ao jornal “Guardian’ – de que Glenn Grenwald é o correspondente no Rio de Janeiro, e depositário de documentação desvelada pelo anterior agente americano – e não semelha coadunar-se com a tradição do país da Magna Carta e das liberdades no Ocidente.

          O comportamento de Cameron, sobre o qual pende o temível gládio da impopularidade, se tem ultimamente dissociado da vertente da União Europeia – chega mesmo a repisar o velho insularismo da Albion, com a reexumação da querela sobre a participação – ou não – da Inglaterra no organismo continental de Bruxelas.

          Agora, se dispõe a reintroduzir a censura no berço ocidental da democracia, e o alvo voltaria a ser o irrequieto Guardian. Nesse sentido, o solícito Cameron aponta para o perigo de “o que Snowden está fazendo (e que os jornais o ajudam a fazer, vale dizer) “sinalizar para os que querem nos fazer mal como fugir e driblar a inteligência, a vigilância e outras técnicas. Isso não vai tornar  nosso mundo mais seguro (...). Isso está ajudando nossos inimigos.”

            Embora David Cameron garanta que “não quer usar liminares, proibição de publicações ou outras medidas mais duras”, ao pedir a responsabilidade social dos jornais, o que ele semelha desejar implantar seria a velha auto-censura, que muitos não pensariam existir na sucessora de Atenas em termos de linhagem democrática.

 
(Fontes: New York Times, Folha de S. Paulo, O Globo)



[1] Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A Campanha Eleitoral

                                

       Campanha eleitoral?  Compreendo a perplexidade do leitor, mas basta dar olhadas superficiais nos jornais para que o observador se dê conta do onipresente fato político.
       Não sei se terá sido o movimento do passe-livre em junho último, e as manifestações que se seguiram por todos esses brasis nos meses sucessivos. Havia grande e justificada insatisfação da sociedade diante da falta de sensibilidade da classe dos políticos – e nunca tão poucos se haviam colocado em alturas de que contemplavam com tal subjetiva distância o povo a quem tolamente atribuíam apenas a função de obedecer-lhes.

       A sacudida foi boa, mesmo ao provocar as respostas mais desprezíveis do enxame de partidos, que se apressaram em pôr na chamada propaganda partidária obrigatória declarações de princípios e intenções em que muitos alardeiam convicções e propostas oportunistas, que mais ofendem pela pressuposta credibilidade popular, do que pelo conteúdo pobre e rasteiro.
       A chamada classe política – em que quase todos se apegam a regalias – age como se as eleições fossem no corrente ano e não no próximo. O relativo privilégio que a caracteriza – e como uma capa esse privilégio os recobre a todos, com a única, mas importante distinção do grau respectivo – está decerto presente na pulverizada propaganda dos trinta e dois partidos.

       Mas o exemplo vem ainda mais de cima. No terceiro ano de experimentações, a Presidenta continua a frenética campanha pela reeleição. Valendo-se do eco palaciano, cada reunião, por dá cá aquele pretexto, vira comício inserido na luta pelo novo mandato.
       Como a propaganda da Primeira Mandatária foi definida como institucional e não política, a temporada de caça está aberta, e a Presidenta, ao cabo de administração sofrível, se lança na busca do prêmio maldito trazido por Fernando Henrique, que é a reeleição.

      Nunca um princípio estranho à nossa tradição política se tem mostrado mais pernicioso para a democracia e o bom governo. Ao distorcer a visão das autoridades eleitas do poder executivo – e o oportunismo aí não conhece limites ao mimosear de prefeitos a presidente com a falsa prerrogativa de dobrar o período de mando – a corrida se generaliza, e as diferenças são apenas de grau e nunca de qualidade.
      Nesse contexto, a Presidenta tem sido exemplo da prática. A autoridade em exercício goza de ampla vantagem neste campo. Só em casos limites de desgoverno, o (a) detentor(a) do poder não dispõe de vantagem (recordo-me de dois, um em Porto Alegre, outro em Caxias). Ao dispor das engrenagens do mando, a ela cabe não só a iniciativa das ações, mas também a oportunidade de manter-se sob as luzes do protagonismo, seja ele autêntico ou falso, benéfico ou pernicioso.

      Em três anos incompletos de administração, Dilma Rousseff já dispõe de um senhor repertório de ocasiões perdidas (as reformas política e fiscal), de obras inacabadas (a transposição do São Francisco, a infraestrutura aeroviária) e outras que melhor seria houvesse deixado intocadas (o Plano Real e, agora, a Lei da Responsabilidade Fiscal).
      Por vezes se tem a impressão de que o maior ‘poste’ de Lula da Silva esteve por anos fora de circulação, eis que não semelha atribuir maior cuidado em manter distante a inflação (o que dizer então do Plano Real?). Em menos de três anos, a sua inepta ‘equipe’ econômica já vira pasto dos fiscais do FMI, por incrível e deplorável imitação das práticas da amiga Cristina de Kirchner, em termos de contabilidade fiscal...

      Entrementes, a candidata à reeleição e o seu partido (hoje desfigurado e lixiviado por anos de poder) cuidam de afastar ou de atrapalhar quem parece surgir ameaçadora no horizonte. As peças más são muitas, porém a antiga e tinhosa maldição da política as persegue, eis que os mantos negros do segredo de nada servem e as desculpas, por capengas, tampouco lhes aproveitam.

      Caro espectador, o filme é deveras antigo e, se mudam os personagens, o desfecho costuma ser sempre o mesmo.

 
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)   

Cartas ao Amigo Ausente (XXII)


                                                X X I I

 

 

          Meu mui prezado e grande Amigo Pedro,

 

          talvez pela longa companhia e a afeição que dedicavas  a Therezinha, ela te acompanhou no ceticismo. Não tinha crenças espirituais, nem acreditava em existência extraterrena.

         Teria leituras sobre o niilismo?  Difícil de dizer, mas sendo tua companheira, conviveria com as idéias que alimentavas. Recordo-me bem do tratado niilista que encontraste nas edições Loyola, livraria católica que se aguentava em um dos últimos andares do edifício Sisal, na Presidente Vargas.

         Só mesmo a tua sede livresca para desencavar o precário abrigo aonde se refugiara a livraria. Por falta de meios, as últimas edições se encontravam empilhadas em poucas salas. Pois lá deste com franzina obra acerca do niilismo, que me saudaste entusiasmado.

         Surpreendeu-me a tua atitude, a ti que em geral folheavas os volumes com ar meio desconfiado. Para ti, nos livros, as referências bibliográficas mereciam uma atenção à parte. Com isso, sinalizavas a importância das obras em que qualquer título deveria basear-se.

         Assim, antes de folhear o texto próprio de obra determinada, buscavas as fontes onde se abeberara o autor. Ao abrires um volume qualquer nas bancas de livraria, como, v.g., a Leonardo da Vinci, costumavas ir direto para a sua bibliografia. Antes de admitir a entrada de qualquer título na lista de candidatos à aquisição – e o teu apetite livresco não era moderado – procedias ao exame das obras que lhe constituíam a fundamentação.  Sem o saberes, pois segundo quero crer o termo ainda não era usado, a tua maneira de inteirar-te, posto que de modo necessariamente superficial, se iria estruturar em tipo especial de comportamento, que hoje chamaríamos meme.

         Desse modo – e nada impedia que tais exames se sucedessem, em vistas rápidas, mas nunca desatentas – depois da página de rostro, a incursão na bibliografia, a folheada no corpo do texto, e um que outro mergulho em nota de pé de página. Dependendo do interesse que despertasse, esses movimentos rituais poderiam ser breves ou longos, com as devidas modulações que apontariam para a indiferença – o volume volta sem mais delongas ao seu lugar; o módico interesse – com repaginar sumário e de pronto interrompido; e, por fim, a cúpida atenção, que desembocava, ou na releitura da página, que trazias para bem perto da vista, como um jogador a sopesar o que as cartas lhe prometiam, ou no assomo de retirar aquela pepita do alcance de outros aventureiros, pois a julgavas merecedora de aumentar a tua dívida com a livraria.

         Mal comparando, agias na matéria como as donas de casa que sequer se detêm na pessoa da empregada que postula o serviço, antes de apurar tintim por tintim as indicações que traz consigo. Para que um livro gozasse do privilégio de ser colocado nas tuas estantes, buscavas na respectiva bibliografia a imprescindível documentação que fundamentaria ou não o seu ingresso na tua biblioteca.

        Pelo cálculo de probabilidades, quem poderia contestar-te o critério? Como nas escolas antigas, as apresentações eram obrigatórias. Mas se toda regra para valer carece da exceção, me irias comprovar, pela eleição desprovida de qualquer recomendação séria, de que até os rituais mais arcanos podem ser postos de lado se, no caso,  valor mais alto se alevante.

       Não contavas com a surpresa de topar no espartano mostruário de livraria que sequer dispunha de prateleiras para exibir o seu acervo um livro sobre o niilismo. A cena que presenciei tinha um pouco de Ionescou, autor que por série de razões não era de tua especial predileção.

        A meu espanto de então só o posso atribuir à pouca familiaridade com a tua biblioteca. O que no caso me estranhou, é que, em termos de tratado niilista, já o saudaras com estado de espírito que me arrisco a qualificar de algariado.

         Com o livrinho em mãos, nos mostras – a mim e ao Rezende – o que tinhas por um achado. Ficava-se com a impressão de que ganharas o dia, ao descobrir, entre as pilhas que a modestíssima instalação da Loyola proporcionava, o que para ti sem dúvida era cativante gema a coruscar na monotonia do quotidiano.
 
       Esse episódio ganharia significado maior, se tivesse tido a oportunidade de melhor conhecer a tua biblioteca. Com efeito, raríssimas vezes a visitei. Além de teres muito ciúme dela, o fato de viveres em Petrópolis colocava um senhor fosso para eventuais visitas. Em verdade, ao longo das décadas de nossa amizade, até o século XXI, as minhas idas a Petrópolis se contam nos dedos da mão direita, pelo simples fato de que me achava a serviço no exterior ou em Brasília. Por isso, quando passava pelo Rio – e eram visitas raras e breves – costumávamos combinar o almoço ou por telefone, ou por telegrama. Desse modo, se não me engano, estive uma vez na biblioteca, quando residias no solar da avenida Rio Branco, e uma outra, já na tua residência da Visconde do Uruguai, em Valparaíso. Foram fugazes visitas à tua magnífica coleção de livros. A ela – ou melhor dizendo – a seu núcleo original tinha sido apresentado, como bem recordo, quando, candidato ao vestibular do Rio Branco, estivera com outro colega nas tuas amplas acomodações do hotel Inglês, na rua do Catete, quando se me depararam por primeira vez as estantes de livros, decerto modestas se comparadas com os avatares posteriores, mas já tendentes a impressionar o jovem estudante. 

      Foi depois de tua inumação,  que pude conhecer com um pouco mais de vagar a tua biblioteca. Therezinha, confusa e inquieta diante da burocracia da morte, com Hermes[1] voejando pela casa, pareceu-nos lamentar mais a tua falta material, do que a presença do esposo.

      Sentados à mesa da copa, com pilhas de documentos, ela deixara escapar uma queixa: será que o Pedro lá de cima está vendo como me deixou? No reclamo dava a impressão de acusar-te por sentir a tua falta em termos de apoio material para lidar com todo o papelório das providências e sequelas do passamento. 

       Na primeira carta ao meu amigo ausente, escrita com a memória ainda vívida daquela visita de pêsames, há pormenores que só agora menciono como o queixume acima registrado. Mas a nossa visita à tua biblioteca, e a comparação com a da mansão da Rio Branco lá está.  A tua ausência do sobrado que mandaste construir – e como hoje não computar os dispêndios com os espaços de alvenaria que criaste para a tua coleção de livros, pensando sobretudo no que te dilapidaram a conta bancária ?
 
       Que seja um pensamento breve. Longe de mim maçar-te depois da morte com censuras de contador. Dedicaste a tua vida ao livro. Como então não dar-lhe ambiente adequado, não só para tê-los a mão, mas também para dispor de locais apropriados para a leitura e a escrita. Guiados por Therezinha, a quem fomos Ana e eu levar os nossos pêsames ainda na sexta-feira da fatídica semana, adentramos o pavilhão – que me pareceu mais apertado – ou quiçá mais atopetado de tomos, do que o da Rio Branco. Como assinalei, passamos pela coruja de Minerva e por dístico de Humanitas, antes de ingressar no conjunto de sala (e do banheiro invadido pelos livros!).

        Em boa hora, Thérèse se decidira a mostrar-nos o teu reduto mais sagrado. Suponho que estivesse fechado há mais de semana, pela contingência do AVC, o forçado afastamento do teu recanto preferido, mais tarde a estada miserável no dito ‘quarto de hóspedes’, a que sucederam as jornadas da tua definitiva ausência.

      
         Pairava já naquele espaço o odor do relativo abandono, com a falta de ventilação e a umidade de Petrópolis. Por isso, esta particular visita seria bem mais breve do que desejaria. Ao me ver constrangido a encurtar os tempos, pelos efeitos que a clausura do ambiente provocara, não pude enjeitar um pensamento maroto, de que, cioso como sempre dos teus domínios, vias com algum gosto que o ar confinado e as sensações dos mortais me afastassem de incursões mais inquisitivas das tuas estantes.
 
       De qualquer forma, como mencionei na primeira correspondência, lá estavam os in-octavo do teu admirado Pierre Bayle, e os quatro volumes da enciclopédia sobre ateísmo. Mas havia mais, muito mais, com os pensadores céticos e os tratados de Sextus Empiricus, na coleção Loeb. Não pude deixar de notar a colocação preferencial que tinha a portentosa encadernação da obra de Bayle, um esclarecido em tempos obscuros, em que o respeito pela tolerância e a liberdade de pensamento constituíam dádivas raras, muita vez de súbito retiradas, sob as inconstâncias e as metamorfoses, por vezes cruéis, dos poderosos de então.

       Não há negar a tua admiração por esses livres pensadores. Até que ponto aquela visão nostálgica de personalidades que marcaram a respectiva presença em tempos onde a autoridade do soberano e da Igreja se elevavam, incontrastadas, nas charnecas do pensamento conformista, se refletiria na colocação de obras nas confinadas estantes – eis uma outra questão. Que tal se a deixássemos para a próxima carta?
 
      Com o abraço do amigo velho,




[1] Pseudônimo.

domingo, 27 de outubro de 2013

Colcha de Retalhos A 39

                                        

Além do Assistencialismo ?

 
             Segundo noticia a Folha, o repasse da Bolsa Família supera a receita do Fundo de Participação dos Municípios em 457 cidades brasileiras, das quais a esmagadora maioria (435) fica nas regiões Nordeste e Norte.

             Um dos 39 ministérios do governo Dilma se ocupa precipuamente da bolsa família – a subvenção cai diretamente na conta das famílias beneficiadas. Por sua vez, o outro benefício governamental, o FPM é alimentado pela receita de impostos como o IPI e o Imposto de Renda, e entra no caixa da prefeitura, com fins precípuos de custeio, como o pagamento de funcionários.
             Os pequenos municípios das regiões mais pobres do país – Nordeste e Norte – têm no FPM a sua principal fonte de financiamento mensal. O fenômeno correlato é o elevado número de famílias aquinhoadas pela Bolsa Família, e a consequente dificuldade de encontrar fontes de arrecadação.

             Em estados como Maranhão (o feudo dos Sarney é o campeão da Bolsa Família) e Acre, a maioria das cidades recebe mais verbas por meio do benefício.
             O Bolsa Família, que ora completa dez anos, pagou em 2012 R$21,1 bilhões a catorze milhões de famílias. No mesmo ano, o Fundo somou R$ 67,7 bilhões. Assinale-se, por oportuno, que o volume de recursos do programa social cresce em ritmo superior ao da verba do FPM.  Nesse contexto, com a iniciativa do governo Dilma de desonerar produtos de consumo durável, menos recursos foram destinados ao FPM.

             Há desconforto entre prefeitos, chegando os de Minas e Pernambuco a ameaçar fechar as portas em protesto.
            Falta visibilidade no Bolsa Família, quando pessoas não qualificadas – como recentemente o caso de diversos políticos (cujos nomes não foram divulgados) continuarem a receber de forma indevida o benefício em apreço.

             A pergunta que fica no ar – e nesse contexto o Maranhão e Pernambuco  são estados que vêm à mente – é determinar o mecanismo social do programa, com vistas a criar condições para que os beneficiários não se eternizem como recepiendários. Que incentivos proporciona o Bolsa-Família (além da frequência dos jovens na escola) para que o benefício não seja um simples fim de linha ?

 
Pobre Petrobrás !

 
              Se a estatizante e desenvolvimentista Dona Dilma parece tratar de forma menos favorável a empresa idéia-mestra de Getúlio Vargas, i.e. a nossa querida Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRÁS) do que paradoxalmente o governo de FHC, alguma coisa deve estar muito errada no Reino da ... Dinamarca.
             Como Dilma Rousseff para lá indicou a amiga Graça Foster, funcionária respeitada na matéria, a presunção seria que a Petrobrás entraria em período de grandes sucessos e realizações.

            A notícia de que o lucro da Petrobrás caíu 39% no terceiro trimestre estranhamente, no entanto, não surpreende. Na sua singular política de preços administrados, a estatal de Graça Foster é chamado a pagar o ágio da gasolina, dado o prejuízo de estabelecer preço para a gasolina que está abaixo da cotação internacional.
            A descapitalização da magna empresa brasileira é uma triste consequência  de uma antipolítica econômico-financeira do governo Dilma. Com subvenções embutidas – que na verdade ficam por conta da Petrobrás – é uma política míope essa de tentar controlar a inflação através das mágicas de preços administrados.

            Na verdade, pelas contradições que exacerbam, essa política foi descartada há muito por gestores financeiros responsáveis. Ao que parece, o Brasil entrou em fase regressiva, com uma antipolítica, com controles de preço como o acima referido, e agora o ataque à lei da Responsabilidade Fiscal.
           Com a federal irresponsabilidade, me recordo de antigo chefe meu que, em momentos de previsível turbulência posto que não atmosférica, recomendava a colocação ainda assim do cinto de segurança...

            Pelo que se indica, nada é permanente.  Por força de D.Dilma, o Plano Real vai saindo de cena, e as poucos a adentra o nosso velho conhecido FMI. Será que temos vocação de lista negra ?             

 
Rombo no Balanço de Contas Correntes            


          O nosso balanço de pagamentos apresentou uma melhora pontual em setembro último, posto que o resultado tenha sido influenciado por fator atípico. Com efeito, setembro foi o menor déficit mensal do ano, com US$ 2,6 bilhões negativos. Tal se deve ao aporte de nossas empresas no exterior, que transferiram para Pindorama, em setembro, US$ 3 bilhões (o valor médio mensal costuma ser de US$ 177 milhões).

         Em setembro, contudo, o acumulado do ano manda outra mensagem, deveras preocupante: até setembro o Brasil está no vermelho em US$ 60,4 bilhões (um recorde!), e 77% maior do que o registrado em período equivalente em 2012 (US$ 34,1 bilhões).
         Há para o corrente ano a previsão de que o déficit total seja de US$ 75 bilhões.  Essa piora tem muito a ver com a disfunção da Petrobrás, eis que reflete o aumento das importações de combustíveis e a queda nas exportações de petróleo.

 
 
(Fonte:  Folha de S. Paulo)

sábado, 26 de outubro de 2013

Espionagem da NSA: Reação internacional

 

       O número de dirigentes globais vítimas da espionagem digital da NSA (Agência de Segurança Nacional) não para de crescer, segundo os dados procedentes do jornal britânico “The Guardian”. Especula-se que atinjam a 35 líderes mundiais, o que, convenhamos, é uma respeitável senhora curiosidade.
       Como tal ativismo da NSA se dirige a personalidades ocidentais e outros continentes havidos como próximos politicamente dos Estados Unidos, tais indiscrições digitais não só surpreendem pela extensão, mas também colocam válidas questões quanto à sua pertinência e legitimidade.

      O Presidente Barack Obama, quando questionado incisiva e internacionalmente pela Presidente Dilma Rousseff– um dos primeiros líderes a protestarem, e a adotarem reação política ao comportamento invasivo da superpotência (cancelamento da visita de Estado a Washington e forte crítica da tribuna das Nações Unidas) – eludiu, na prática, as cobranças, dando a singular impressão de que é matéria sobre a qual prefere não manifestar-se (como se fosse função de segurança que não lhe caberia regular).
     Sem embargo, artigo de David E. Sanger, no New York Times de hoje, proporciona um quadro bastante mais abrangente da visão da atual Administração sobre a questão, fazendo referência à proficiência dos espiões digitais da China comunista (das suas façanhas o furto dos planos do F-35, o mais caro caça a jato da história). Nesse campo dos hackers invasivos, os russos têm igualmente respeitável presença.

     A posição americana, segundo Sanger, se desdobra na seguinte reflexão atribuída a Obama – a capacidade digital da NSA se expandiu mais rápido do que o próprio discernimento – e na convicção de que algo deva ser feito. Nesse campo, os cinco olhos (EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia) partilham as respectivas informações, e em especial as da superpotência, e se adstringem à injunção de não espionarem os do grupo. Nesse contexto, e incidentalmente, fica muito mais compreensível a recusa de David Cameron a associar-se a protesto de Frau Angela Merkel, eis que participa do ‘núcleo duro’ do apoio à Superpotência. Como poderia o Primeiro Ministro de Sua Majestade Britânica reclamar de procedimento que lhe aproveita?
     Segundo o artigo em apreço, não está claro desde quando o Presidente Obama esteja plenamente informado sobre a extensão dessa intrusiva orientação da NSA. A Assessora de Segurança Nacional, Nancy E.  Rice, em resposta à sua contraparte alemã, disse que Obama nada sabia sobre a questão, mesmo se ela não a negasse. De qualquer forma, o grampo no celular de Frau Merkel é bem antigo, eis que fora determinado ainda por George W. Bush.

     Se procede o argumento de que a era digital expandiu de forma geométrica a capacidade das potências de se espionarem entre si – o que é característica secular do chamado grande jogo – não tem cabimento a suposta ilação da National Security Agency de que tal é procedimento usual, não mais tem condições de perdurar.
    Em consequência da revelação do grampo no celular da Chanceler – um BlackBerry criptado – duas iniciativas estariam, consoante a fonte supracitada, sendo desenvolvidas. De uma parte, projeto brasilo-germânico de Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas estaria sendo elaborado para divulgação em novembro próximo, no que monta a ser a primeira resposta internacional coordenada contra a espionagem digital da NSA.

     Entende-se que as diplomacias brasileira e alemã prefiram o conduto da AGNU, apesar de que, formalmente, as iniciativas da Assembléia Geral tenham apenas a força de recomendação.  Nesse sentido, com o direito do veto, seria inviável a alternativa do Conselho de Segurança (em que as resoluções são mandatórias, mas dependem da anuência dos cinco membros permanentes).
     Por outro lado, a aliança Berlin-Paris prevê o início de negociações pelo virtual diretório da U.E. entre a Chanceler Angela Merkel e o Presidente François Hollande de um Código de Conduta que limitaria a vigilância digital. Nesse sentido, o acúmulo de revelações  do Guardian  confere aos dois líderes uma óbvia vantagem.

     A não esquecer no particular o que vem sendo um mantra da Chanceler alemã: ‘os americanos devem restaurar a confiança’.

 
(Fontes: New York Times e, subsidiariamente, O Globo )     

      

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Os Descaminhos da Presidenta

                               

            Dilma Rousseff mostrou desde o inicio de seu mandato presidencial que não inovaria em termos de reestruturar a questão fiscal. Ao assumir, não quis valer-se da perspectiva aberta a novos mandatários de proceder seja a reforma política, seja a fiscal. De ambas o Brasil necessita. No entanto, ela optou pela timidez nesses campos, fazendo um aceno ao Congresso para que delas se ocupasse. Desperdiçou uma opção importante, deixando-as por conta do Legislativo, o que, na prática, equivale a conviver com a inoperância.
            Mas se a candidata da algibeira de Lula da Silva se tivesse pautado por manter a casa em ordem, ainda que fôssemos onerados pela brutal carga tributária de que o impostômetro é o triste símbolo, não estaríamos tão mal assim em termos econômicos e financeiros.

           Sem embargo, não tendo nenhuma experiência de voo solo em cargo executivo de magnitude, a princípio, Dilma se acomodou ao modelo do segundo mandato de Lula, com a Fazenda sob a responsabilidade do fraco Guido Mantega fazendo as mágicas das capitalizações, que acarretaram o crescente comprometimento do BNDES e os ‘empréstimos’ do Tesouro.
           Tampouco, de início, a presidenta se preocuparia muito com o eventual aquecimento da economia e o consequente surto inflacionário. Assim,  sua pesada mão forçou o Banco Central a sucessivas rebaixas na taxa Selic, tudo para favorecer, por via do consumo, o crescimento econômico.  

            Foram retomadas as chamadas desonerações fiscais de bens de consumo duráveis, como os veículos produzidos pelas montadoras-feitorias, além da série dos eletrodomésticos. Tais desonerações, no entanto, não tinham regras fixas, o que tendia a provocar incerteza no meio empresarial brasileiro – que não podia adivinhar que setores seriam privilegiados -, além da correspondente queda na receita do Estado.
           Exacerbou-se, outrossim, do empreguismo, a par do enorme incremento nos encargos correntes da União, o que seguia a orientação do governo Lula, com o aumento do assistencialismo estatal a par da inchação do ministério, que já beira os míticos quarenta. Em termos eleitorais, pode ser opção proveitosa, mas representa pesada carga para o Erário, além da consequente escassez de margens para investimentos produtivos.

           A principio, dona Dilma lidou com a inflação como se fosse coisa de somenos, contra a qual invectivava com forte retórica, mas sem nenhuma medida eficaz para contê-la. Seria o caso de perguntar-se onde a Presidenta,que semelhava desconhecer e os longos anos de estagnação que o flagelo da carestia causara ao Brasil, buscara tal estratégia.
           Desperta espécie, que ao invés de seguir a cartilha do Plano Real e do Ministro Palocci,  Dilma Rousseff – como se fora uma extraterrestre – acreditasse possível, como o seu consultor Delfim Netto, conviver com a inflação. Nesse contexto, bradava contra  o dragão ditos vazios do gênero ‘não admitiremos a volta da carestia’. Como o terrível dragão ignora ameaças desse tipo, não tardou muito para que a inflação retornasse.

           Como  sua popularidade despencou, algumas providências foram tomadas para contê-la, inclusive a licença para que o Banco Central de novo aumentasse a taxa Selic.

           No entanto, Dona Dilma parece seguir o modelo de Cristina Kirchner, com os seus malabarismos em termos de transparência fiscal, do que a prática seguida pelo seu antecessor Lula da Silva, que pelo menos teve o bom senso de não mexer em time que estava ganhando a partida.

          A recente querela com o FMI não é reprise de temporadas que muitos pensavam coisa de um passado superado e se possível enterrado.
          Com a fraqueza do Ministro Mantega que, na terra do futebol, semelha reminiscente daqueles técnicos prestigiados pela diretoria de um clube que não vai bem, a Fazenda não mais inspira ao inversor estrangeiro a confiança de outrora. Além de uma inflação que está sempre a beirar o teto máximo, as contas do Brasil parecem descambar para as da peronista Cristina Kirchner.

          Dona Dilma dá a impressão de ser alguém deslocado no tempo, eis que a presidenta parece viver um tanto fora dele. Além de um desenvolvimentismo defasado, que nota se deveria dar a uma gestora que para combater a inflação pede os conselhos de Antonio Delfim Neto e Luiz Gonzaga Belluzzo?
           O Plano Real não é obra partidária, mas um acervo a ser preservado. Desperta, por isso, estranhável assombro que os seus autores sejam ignorados, quando se trata de pôr em ordem a economia e as finanças.

           Se não queimasse os dedos com as pesquisas de opinião e a correspondente queda junto à população, a presidenta nada teria feito, pois ela deve achar, como outros no passado, que a inflação é administrável.
           Agora, o Brasil volta a sofrer reparos das autoridades do FMI. Ao invés, de brandir escudos e lanças, como era o costume – como se as censuras atingissem a soberania brasileira, quando na verdade apenas desnudam práticas reprováveis – o que se deveria fazer é voltar à ortodoxia econômico-financeira.  Não será por um estúpido ataque à Lei da Responsabilidade Fiscal (para proteger o companheiro Haddad) que vamos pôr em perigo este instituto importantíssimo. Para ajudar um mau devedor, é correto por em risco as finanças da União?

           Se nos igualarmos à Argentina de Cristina Kirchner, com as suas contabilidades fajutas (além da inflação maquiada e pesadamente), de que servirá essa fanfarronada à presidenta?  As contas vão piorar ainda mais (não há maquiagem que tapeie os fatos crus da economia), a estagnação prevalecerá e o dragão continuará pimpante.

           Para tudo isso, há um simples remédio...

 

(Fonte: O Globo)

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Problemas de Obama ?

                                      

        Os problemas da Administração Obama não param de crescer. Eles não se restringem à espionagem eletrônica intrusiva da National Security Agency (NSA), que as revelações do agente contratado Edward Snowden (atualmente asilado em Moscou) puseram a descoberto. Agora, pululam as dificuldades com a entrada em funcionamento das câmaras (exchanges) do A.C.A. (Affordable Care Act)[1]. Nesse aspecto, os usuários têm encontrado inúmeros obstáculos (lentidão do site, pouca adaptabilidade, excesso de burocracia).  Os óbices são tantos que até parece que o sistema estaria a cargo de gente que deseja boicotar a implementação do Obamacare.
        A Secretária Kathleen Sebelius, encarregada da Saúde, em suas aparições públicas, não tem dado conta do recado. Muito ao contrário. Inquirida a propósito das inúmeras falhas na implantação das exchanges (e do acesso ao site do ACA), as suas respostas não satisfazem. Sobretudo não transmitem a impressão de que tenha o controle ou que haja dispensado à questão a atenção que ela requer. Será que na terra estadunidense, com o seu avanço na informática, é tão árduo assim colocar um site sobre um programa de saúde (em fase de lançamento) e que interessa vivamente a um número tão grande de usuários ?

        Pois a senhora Sebelius, nas suas aparições públicas, inclusive perante o Congresso, não tem transmitido segurança.
       Compreende-se que, com encarregados de site da qualidade reunida pela Secretaria de Saúde, a alegria seja contagiante nas fileiras dos...  republicanos! Ao invés de suas teorias descabeladas sobre os desígnios do Obamacare, a gente do GOP (sem esquecer o Tea Party!) se está alapardando com as estranhices e as disfunções do site do ACA. Começam a achar que rende mais politicamente fustigar a ineficiência e a incompetência da agência encarregada – que parece não ter tido a sensibilidade política de atribuir a tão delicada questão a indispensável atenção e prioridade – do que seguir na velha e repisada trilha do ataque bolchevique que se esconde atrás da detestada (por eles republicanos)  Obamacare.

       Diante desta senhora confusão, cabe a pergunta: onde estás Barack Obama que não vens a público, tomando as providências que cabem ?
       Por outro lado, Angela Merkel resolveu desvelar o seu descontentamento com o fato de ser um dos alvos preferenciais  da nossa conhecida National Security Agency ! A Chanceler Merkel, pelo visto, assim como Dona Dilma, está zangada com o comportamento espioneiro da NSA. Afinal, a chefe do governo alemão não é exatamente uma inimiga de Tio Sam, para merecer esse tipo de tratamento.

       A dificuldade se agrava pela aparente falta de critério da NSA – ou de freio de parte de quem de direito – no que tange a aliados estadunidenses, como François Hollande, na França, e, para não esquecer, Dona Dilma Rousseff, do Brasil, que já reagiu com um protesto da tribuna das Nações Unidas, em uma senhora verrina (blistering attack) contra o amigo Presidente Barack Obama.

       Posto que não me pareça a maneira mais adequada para proteger-se das indiscrições sistêmicas da National Security Agency, ao deixar que o sistema extravase de tal maneira, o presidente americano, uma vez mais por não pôr cobro a uma atitude disfuncional, está trazendo água para o moinho de seus inimigos.
      Também aqui neste capítulo reponta a pergunta onde estás Barack Obama?   Não seria o caso de agir enquanto Presidente e pôr cobro tanto aos abusos na espionagem eletrônica, quanto a que se dê à Assistência Sanitária, um programa da maior importância para o Povo americano, a atenção e a prioridade que ele faz por merecer ?

      Assim como na questão síria, as indecisões de Barack Obama redundaram em proveito para adversários (como Vladimir Putin), cabe perguntar quando Sua Excelência mostrará pulso para pôr cobro às disfunções que pululam quando falta liderança ?

 

(Fonte: The New York Times )



[1] Lei da Reforma Sanitária Custeável

Marina na Roda Viva

                                    

      Coisas estranhas vem ocorrendo na democracia brasileira. Marina em seus comentários sobre o triste episódio acerca da chancela pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de dois novos partidos (sem voto), e do veto para outro (com votos!), falou de aviltamento da democracia.
      Com o solitário dissenso do Ministro Gilmar Mendes, pairou no ar uma impressão de chavismo no resultado final. Deve ter sido só uma impressão, mas como diria Drummond ela dói bastante.

      Para os outros (o PROS  e Solidariedade) choveram elogios, a despeito de que até morto deu apoiamento, sem falar das listas taquigráficas do Senado.
      Agora, outra surpresa, igualmente desagradável. Uma prá lá de estranha ‘falha humana’ tirou do ar o programa Roda Viva, e justamente – o cúmulo da coincidência – tal veio a ocorrer com a retransmissão da entrevista da pré-candidata Marina Silva !

      Post-facto, segundo noticia a Folha na segunda-feira, 21 de outubro, a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) disse que “uma falha humana impediu a retransmissão pela TV Brasil do programa ‘Roda Viva’, que teve Marina como entrevistada”. (!)
     Contactada pela reportagem da Folha, a ministra Helena Chagas (Comunicação Social), que preside o conselho da EBC, disse que não houve intervenção do Planalto.

     Todos nós sabemos da qualidade dos serviços da TV pública, mormente nessa década, sob administração petista.  Ainda ‘segundo a EBC, que administra a TV Brasil, houve falha humana no “acionamento do sinal” (convenhamos, é um procedimento assaz complexo), no Rio. 'Um técnico não teria conseguido sincronizar a transmissão, e a emissora optou por exibir o programa ontem, às 22hs.'
     Todos nós também sabemos – e para tanto estamos devidamente informados! – que D. Dilma, em suas (frequentes) alocuções televisadas (em rede nacional)   não faz propaganda política e sim institucional    

    Tal importante característica se verificou uma vez mais, quando, em grande esforço de reportagem, a tevê pública nos mostrou – e entrando adentro do horário da novela – os oportunos comentários da Presidenta sobre um grande êxito da Administração – agora no leilão de Libra, em que a única equipe concorrente – sob a liderança da Petrobrás – ganhou com folga  a hasta pública!  E a par de um defeitinho no sistema de áudio que nos roubou  palavras iniciais de Sua Excelência, tudo o mais correu a contento...
   
     Pena que a pré-candidata da oposição, que, talvez por ser boa de voto, ainda não conseguiu ter uma legenda, não pôde ter transmitida, por deplorável falha humana, a a seu devido tempo , a sua participação no programa ‘Roda Viva’.

     Será que vão continuar a acontecer coisas estranhas na caminhada da preferida das manifestações do Passe Livre ?

 

(Fonte:  Folha de S. Paulo)