terça-feira, 31 de julho de 2012

Zelig para Presidente ?

                                        
       Dentre os inúmeros achados do cineasta Woody Allen,  Zelig (1983) é uma de suas grandes contribuições à galeria de personagens marcantes. Quem não se recordará de sua estranha capacidade de mimetizar as personalidades com que privasse ?
       Seria o deserto das respectivas qualidades, ou um culto servil à figura humana de quem se aproximasse, que levava Leonard Zelig não só a imitar o expoente de que se acercasse, senão descer a uma real, posto que aparente, parecença com o indivíduo, diante do qual literalmente se liquefaziam os próprios traços distintivos.
      Para enfatizar essa incrível peculiaridade, o humor de Woody Allen não trepida em colocar o camaleônico Zelig na companhia de um flagelo humano como foi Adolf Hitler. Nada poderia mais acentuar e vincar a ignominosa – e ridiculamente cômica – predisposição de seu personagem em refletir os ademanes alheios.
     Dir-se-ía, portanto, que a imaginação de Allen teria frisado, no absurdo do exagero, a tendência de pessoas de caráter mais fraco em abraçar o excesso – seja para o bem, seja para o mal – em patética homenagem ao Outro, motivada pela respectiva e sentida ínsita mediocridade.
     A esse propósito, a progressão da campanha de Mitt Romney tende a induzir-nos, ainda que com as necessárias precisões, para examinar mais de perto a por vezes embaraçosa procedência do personagem woodiano quanto a certos traços do virtual candidato do GOP à presidência dos Estados Unidos.
     Não é esta a primeira campanha que empreende, mas ao contrário do passado, tudo indica que o ex-governador de Massachusetts será ungido em Tampa, na Flórida, como o adversário do Presidente em exercício Barack H. Obama.
    A sua organização, ajudada pela Citizens United e o desbragado suporte dos milionários (e bilionários, como os petroleiros irmãos Koch) semelha superar em recursos o caixa do atual residente na Casa Branca.
    Será a homenagem que o capital presta a um de seus adeptos mais fervorosos. A sua gestão na Bain Capital poderá provocar problemas de imagem – com o seu vezo de despedir empregados e a desenvoltura em mandar firmas problemáticas à breca – mas não deixa de patentear a comunidade de vistas e a abertura sem quaisquer reservas para Wall Street.
    Se é corriqueira característica do político que pleiteia um cargo procurar expressar colocações  agradáveis para os eleitores, assim como evitar, na medida do possível, assumir atitudes que lhe alienem votos, outra coisa muito diversa será a de não ter convicções nem posições firmes.
    Mitt Romney sublinhou tal traço de caráter ao renegar a sua maior conquista, enquanto governador de Massachusetts. Naquela oportunidade, ele lograra fazer aprovar pela legislatura  – com marcada presença do Partido Democrata naquele estado de tendência liberal na Nova Inglaterra –  reforma da assistência médica estadual, que se fundamenta no mandato individual para a obtenção dos fundos necessários à sua aplicação em Massachusetts.
     Como muito depois os eleitores republicanos – em marcada contradição com a posição muitas vezes preconizada pelo GOP de utilização do mandato individual para o custeio dessa reforma – não só se dissociaram da Lei da Assistência Sanitária Custeável, a que passaram a chamar de Obamacare, mas também consideraram inconstitucional a utilização do mandato individual, Romney tratou de desdizer-se e de repudiar a sua principal obra política.
    Nesse sentido, diversos procuradores gerais de estados de administração do GOP, tampouco sem decerto preocupar-se com a coerência, não se pejaram de entrar na justiça prontamente, para derrubar nos tribunais, o que o Congresso aprovara.
    Já sabemos como esse oportunismo foi derrotado – e surpreendentemente – pelo Chief Justice John G. Roberts, jr. , que foi o quinto e determinante voto a afirmar a constitucionalidade da Lei  da Assistência Sanitária Custeável.
    Mitt Romney, sem embargo, não hesitou um átimo em dissociar-se e renegar a lei federal, posto que calcada no exemplo estadual introduzido por Massachusetts.
    Essa flexibilidade do pré-candidato republicano, por mais éticamente questionável que se afigure, não é algo excepcional em Romney. Daí a sua precedente e persistente rejeição de parte substancial da militância republicana, atualmente de maioria evangélica e conservadora. O grosso partidário se recusou por muito em abraçar-lhe a candidatura, preferindo diversos outros, que, como Rick Perry, Newt Gingrich e Rick Santorum, acabaram saindo da arena, por falta de fundos e de apoio no GOP. De qualquer forma,tal recusa se refletiu na incapacidade de Romney vencer primárias em estado do Sul profundo (deep South), que o considera um moderado (o que é palavrão para o republicano nos dias que correm).
    Como Romney contava com o apoio da direção partidária, a maneira por ele utilizada para tentar angariar o sufrágio da maioria ultra-conservadora é o de assentir de forma quase automática às posturas da base. Diante de posições pregressas que discrepavam de tal rigidez doutrinária, se intui a desconfiança dos republicanos quanto à fiabilidade de suas promessas.
    O comportamento de Mitt Romney em sua visita caça-votos a Israel corrobora    a preocupante tendência de assentir às postulações dos simpatizantes do GOP, mesmo na hipótese de que impliquem em riscos consideráveis para o interesse dos Estados Unidos.
    O apoio ao estado-cliente Israel não distingue entre republicanos e democratas, mas Obama – a exemplo de presidentes anteriores – procura ter presente o interesse americano e o da Paz. Nesse sentido, o atual presidente não apóia a postura belicista de  Bibi Netanyahu no que tange a Teerã, confiando primeiro em recorrer a todos os meios de pressão (excluído por ora o ataque militar, dadas as consequências imprevisíveis de  nova conflagração). Desejando obter o voto judeu (importante sobretudo no estado de New York), Romney acolheu o ‘direito de Israel de bombardear as centrais nucleares’, e nesse contexto não teve meias palavras sobre o apoio americano.
    Na sua coleção de gafes, a desequilibrada e ultra-favorável postura do candidato republicano a Israel, teria outrossim conotação especialmente ofensiva para a Autoridade Palestina : “A cultura faz toda a diferença. E em chegando aqui, e ao ver esta cidade e verificar as conquistas do povo desta Nação, eu reconheço o poder pelo menos da cultura e de outras coisas.”
    A tal propósito, Saeb Erekat, assessor categorizado do Presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Palestina declarou como ‘racistas’ as observações de Romney: “É uma assertiva racista. Este homem não compreende que a economia palestina não pode alcançar o seu potencial, justamente porque existe a ocupação israelense”.
     No domínio da política externa, em que as afirmações precisam ser sopesadas e postas no respectivo contexto,Mitt Romney, pela sua preferência por asserções genéricas e fora do contexto, tem incidido em erros grosseiros, como a atribuição à Federação Russa da condição de inimigo, o que não leva em conta todo um decenal trabalho conjunto para o desarmamento gradual, e para uma visão livre das contraposições da guerra fria.
     A cautela de Mitt Romney sói manifestar-se no que tange às respectivas finanças, contornando os baixos tributos pagos ao erário estadunidense, malgrado os seus profusos, milionários recursos, inclusive aqueles depositados em bancos estrangeiros.
     Já na diplomacia, as reações de Romney lembram mais as do 43º presidente, George W. Bush, e todos nós sabemos a que levaram as ilusões dos neo-conservadores, a começar pelo abandono dos orçamentos superavitários do Presidente Clinton, À disciplina fiscal de Bill Clinton  sucedeu a gestão ruinosa de Bush jr. com os déficits, crises, guerras e bolhas que a marcaram, acentuando o discurso do declínio americano, com a compreensível resultante súbita reentrada em voga do best-seller do imediato pós-primeira guerra mundial – a Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler.




( Fonte: International Herald Tribune )        

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O que significa o juízo do Mensalão

                                 
    De um lado 38 réus, segundo a acusação do Ministério Público,aceita pelo Supremo; de outro, a compreensível expectativa da sociedade civil, pelo que significará esse exercício democrático.
    Que o processo haja vencido todos os obstáculos, dextramente manipulados por hábeis advogados – que dispõem de códigos não-atualizados, que se prestam a festival de recursos protelatórios – já representa uma vitória, malgrado os muitos anos para que se abra o juízo.
    Nesta semana, a dois de agosto, se inicia a fase introdutória, com a determinação dos juízes e outras eventuais manobras dilatórias dos causídicos. Posto que haja ministro que, se examinado por crivo imparcial e técnico, deveria declarar-se impedido, será grata surpresa se o impedimento for assumido. Dados os inúmeros precedentes, é mais provável que, contra vento e maré, o Ministro Dias Tóffoli discorde e afirme o seu direito de participar do julgamento.
    Muitos já saudam o juízo como vitória da democracia. Na verdade, temos o costume de entoar vivas, antes que o procedimento avance e diga ao que veio.
    O Povo brasileiro pede justiça sem adjetivos. Nem as sentenças dos tribunais kanguru, em que as cartas estão marcadas, seja num sentido ou noutro. E tampouco uma pífia resposta a grande desafio. Gente poderosa, seja antes ou mesmo agora, foi trazida à barra do tribunal. Não nos regozijemos, porque a possibilidade de morrer na praia não pode ser descartada.
      A sociedade brasileira quer justiça. Não quer simulacros nesse exercício. A força da razão dispensa os altos decibéis da propaganda partidária. Tampouco há lugar para intervenções sob encomenda.
     Corre o rumor de que não há advogados no céu. Aqui, no entanto, eles são necessários, desde que não confundam alarido com ponderação, nem argumento com confusão proposital.
     O ruído das bandas de música não deve disturbar o andamento dos trabalhos, se a causa é boa, e a culpabilidade do réu não está comprovada.
    A absolvição de Fernando Collor pelo Supremo não é precedente para este processo.
    De uma certa forma, não são apenas os 38 réus da ação do Mensalão que estão sendo julgados.  O Supremo Tribunal Federal, a quem hoje preside o respeitado Carlos Ayres Britto, não poderá esquecer que igualmente se acha sob o crivo da sociedade e do Povo Soberano.
     Quando ele aparece – e costuma mostrar-se pouco – as instituições devem ter presente o que significa, e o quanto elas são a expressão de sua vontade.
     Tenhamos paciência para que formemos o juízo indispensável. Que ele nos satisfaça, não na sanha de vingança, e sim na atribuição serena e imparcial da necessária justiça. É isto que o Povo quer. Não simulacros, ou cousas parecidas, num e noutro sentido.
      Será possível descortinar a Velha Senhora, os olhos vendados, mas sempre atenta, imbuída apenas do singelo desígnio de fazer justiça, sem quaisquer outras condições?

domingo, 29 de julho de 2012

Colcha de Retalhos CXVIII

                                        
A  Senhora  da  Birmânia

        Luc Besson é o diretor da película ‘The Lady’, traduzida no Brasil por mais um desses títulos sem sentido, que proliferam nas cópias da filmografia importada: Além da Liberdade.
       A correção política e o ceticismo imperantes desconfiam, por princípio, de heróis e heroínas. Vivendo-se em uma fase de personagens medíocres, alguns críticos e jornalistas se empenham na inglória tarefa de desmistificar os eventuais candidatos nos tempos que correm, enquanto historiadores, ensaístas e livre-atiradores buscam tirar de seus pedestais as personalidades de um passado que se acreditara mais dignificante.
      Ainda a tal contexto voltarei mais tarde. O filme de Besson retrata a trajetória de Aung San Suu Kyi (Michelle Yeoh), sobretudo a partir do momento em que ela deixa de ser dona de casa, casada com Michael Aris (David Thewlis), professor universitário inglês, e acolhe o chamado para defender  seu povo.
     A Birmânia está entregue à corrupta e supersticioosa ditadura do general Ne Win (Htun Liu). A mãe de Suu Kyi ( e viúva do herói nacional Aung San) sofrera um derrame, e por isso Suu deixa a Inglaterra e vem  cuidar da enferma.
    Breve flashback nos mostra o assassínio do general Aung San, herói da independência e defensor da democracia. Os homicidas são bandidos fardados, que logram  livrar-se do general tão popular quanto idealista.
    Se a genealogia incomoda ao boçal Ne Win – o nome e o sangue de Suu Kyi o inquietam - estes mesmos traços levam professores e ativistas birmaneses a procurar a filha de Aung San, e a encarecer-lhe que assuma a causa do povo.
    Suu Kyi não hesita muito, e com o estímulo do marido, veste nos negros cabelos a flor que o pai, no dia de sua morte, lhe colocara na  cabeça de criança.
    Malgrado nunca tenha discursado, as palavras lhe vem à mente, traduzidas em linguagem de simples verdades acessíveis ao público, que gosta de ouvi-las porque lhes acenam com a justiça de futuro melhor.
    Não é à toa que o nome de Suu Kyi recebeu do povo o título de Daw, reservado aos personagens que lhe são caros. Na própria existência se dão as mãos os exemplos de serena, indômita coragem (passa por pelotão de soldados com armas apontadas com o comando de atirar), e  a brutalidade castrense, nos seus ridículos uniformes, em que pululam os alcaguetes e os torturadores.
    A junta chefiada por Ne Win teme as consequências de eliminar fisicamente o surpreendente desafio apresentado pela filha do herói nacional, que alia plácida  coragem  ao carisma da líder, na pregação da não-violência e da união. Isso tudo faz com que Suu Kyi nao deixe a Birmânia. Para sorte desse infortunado país, Suu se vê forçada a permanecer em Rangoon, ao invés de acompanhar o esposo e os filhos no regresso à Inglaterra.
     É escolha dilacerante, provocada pela crueldade militar que falha defronte do apoio da família e da firmeza de Suu Kyi. Michael Aris, o marido, não vacila nem na força que dá à esposa, nem na dedicação que conduz à candidatura  e posterior designação para o prêmio Nobel da Paz.
      Aos tiranos – e os exemplos abundam no presente (2010), com Liu Xiaobo (RPC), e no passado (1935), com o pacifista Carl von Ossietzky – desagrada sobremaneira prêmio atribuído pela Academia norueguesa. São exemplos disso  tanto os gerarcas chineses, quanto  Adolf Hitler. Se nesses dois casos, a cadeira do premiado ficará vazia, com  Suu Kyi, em prisão domiciliar, pelo menos o marido Michael Aris e os dois filhos a representarão em Oslo.
     O mando militar passou de Ne Win, para o esperto (e também corrupto) Than Shwe, mas a situação de Suu Kyi, apesar de idolatrada pela população, não muda. O filme de Luc Besson se ocupa dos padecimentos da heroína birmana, de inquebrantável resistência, que reflete, na  firmeza, a singela pujança de sua perene eleição pelo sofrido povo de Myanmar.
     Daí o prazer que sente o espectador em seguir uma história verdadeira. Aung San Suu Kyi é  unanimidade nacional – e ela a recebe mais qual  encargo do que como título. Se o povo não tem dúvidas sobre o próprio significado da filha-heroína do general-herói da independência, tais qualidades podem até irritar mentes contorcidas, a que, dir-se-ía, semelha aborrecer a imagem do bem. A explicação que reponta seria a de tomarem  por simplórios tais relatos. Pecam por  não satisfazerem às baixas expectativas que sóem conceder a um tipo de raro e incômodo personagem, o qual não logram encaixar dentro da respectiva visão de vida.
     Se provoca consternação que revista conceituada, editada em cidade que se crê capital do universo, dê preferência nesse capítulo a cronistas que mais se especializam nas insinuações sem base e em estranhas alusões, não me lamento deveras contraditá-los pois é com prazer que sinalizo  a satisfação de assistir  filme que não se peja de espelhar  o bom e o generoso.
     Diante das homenagens – dúbias porque de torpe origem – que o vício, vestido com os trajes lustrosos da hipocrisia, faz à virtude -, não está certamente o filme de Luc Besson. Nessa época, com o deserto de valores à volta, é um lenitivo poder participar, ainda que vicariamente, da existência de pessoas como Daw Aung San Suu Kyi.     

             
Erenice Guerra e o escândalo da Casa Civil

     A sucessora de Dilma Rousseff na Casa Civil foi Erenice Guerra. Ao desincompatibilizar-se Dilma, Erenice – que fora a sua auxiliar direta – surgira como a candidata natural ao cargo.
     Não esquentou muito a cadeira, no entanto, em virtude das investigações da Polícia Federal – segundo noticia a Folha de S. Paulo – que denunciaram Israel Guerra, filho da ministra e Vinicius de Oliveira Castro, então assessor da pasta. Ambos operaram para ganhar dinheiro por meio de consultorias a empresários interessados em contratos com o governo.
   Embora o relatório resulte de investigação que durou quase dois anos, por considerar que houve falta de provas de tráfico de influência, o Ministério Público pediu e a Justiça Federal mandou neste mês arquivar o inquérito.
   Se causa desalento esta solicitação do M.P. – assim como a concordância do juiz encarregado do caso – pode-se acaso afirmar que tal desenvolvimento provoque surpresa ?
    No Brasil, aos escândalos administrativos não se sucedem amiúde ações penais. Posto que não seja vocalmente expressa a observação, semelha existir a impressão de que a perda do cargo já terá sido castigo bastante.



A Família Sarney nas Malhas do COAF


    O Coaf, órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda, confirmou irregularidades em transações financeiras e, nesse sentido, aplicou multa a Teresa Murad Sarney, nora do Senador José Sarney.
     Teresa controlava a empresa São Luis Factoring, intermediária de operações financeiras da família. Foram as atividades da empresa de factoring que levaram a Polícia Federal a investigar Fernando Sarney na operação Boi Barrica (depois Faktor), realizada em 2007.
     Como se sabe essa Boi Barrica teve sentença do desembargador Dácio Vieira (TJ-DF) impondo censura ao Estadão (o que continua de pé).  Por outro lado, a  dita operação teve as provas anuladas pelo Superior Tribunal de Justiça, em setembro de 2011. No capítulo, os ministros do STJ consideraram ilegais as quebras de sigilo da P.F.
    Sem embargo, o Coaf manteve o procedimento administrativo. O inquérito do Boi Barrica – que quebrara sigilos e realizara escutas telefônicas – apontou indícios de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.  De 2002 a 2006, a empresa de factoring movimentara R$ 42 milhões, apesar de haver informado ter obtido receita de R$ 1,7 milhão, em valores da época.
    Como se verifica, a ação do Coaf continua, posto que a operação tenha tido as provas anuladas pelo STJ.



Mensalão no Supremo


     Na semana entrante, depois de muito choro e ranger de dentes, o Mensalão chega ao Supremo. Antes que comece o juízo propriamente dito, assistiremos ao terçar armas dos hábeis advogados, à frente o ex-Ministro Marcio Thomaz Bastos. Não se excluem ulteriores postergações, a par do suspense acerca de que juízes se hão de declarar impedidos. Serão acaso muitos ? Se me permitem humilde palpite, esse total, malgrado protestos eventuais, será de zero.
    A banda de música do PT, com Rui Falcão à frente, alçará o diapasão. Injustiça ou caixa dois ?
    E a jamais olvidada absolvição de Fernando Collor pelo Supremo Tribunal Federal será acaso um precedente ?
     Como há de terminar mais este célebre processo ? Em que elenco de causas, e que motivos de júbilo, espanto e consternação há de deixar registro ?

   


( Fontes: Folha de S. Paulo,  O  Globo )

sábado, 28 de julho de 2012

Notícias direto do Front

                              
A abertura dos Jogos Olímpicos

     Apesar de longa, a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres – a terceira que lá se realiza – foi original e, na maior parte do tempo, interessante e motivadora. A Grã-Bretanha tem muitos trunfos em personagens utilizáveis. A começar pela Rainha Elizabeth II, ladeada  pelo atual agente 007, Daniel Craig , com a solenidade de Buckingam Palace amenizada pelos simpáticos corgis[1], A direção de Danny Boyle para a  grande cerimônia soube palmilhar um caminho que enalteceu a velha Albion, sem cair na areia movediça das patriotadas.
     Se o  sol de Sua Majestade já se põe, passados os dias do predomínio nos mares, a Inglaterra tem ainda muito o que mostrar, para as grandes audiências mundiais. Hilariante presença foi trazida pela figura de Mr Bean (Rowan Atkinson), um dos maiores cômicos britânicos que tão bem sabe refletir a esperteza light do súdito classe C  que circula em Mini Cooper e fura fila de liquidação anual. No show, todo enfarpelado, brinca aborrecido com tecla e arranja jeito de passar à frente dos corredores que evocam ‘Carruagens de Fogo’.
    O subtexto e o caráter simbólico do magnífico cenário, e da participação de tantos atores, atrizes e voluntários anônimos, poderia ter sido traduzido com maior verve e conhecimento pelo pessoal da Record. Infelizmente, em muitos aspectos, por falta de maior base, as explicações dos locutores da tevê que ganhou a exclusividade  da cobertura das Olimpíadas de Londres, deixaram a desejar.
    Considero, no entanto, um aspecto positivo que o virtual monopólio da Rede Globo tenha sido quebrado, o que tende a acirrar a competição, com maior proveito para o telespectador.
   É bom não ouvir por uns tempos as agourantes estatísticas de Galvão Bueno, na narração das partidas.


O desfile das delegações


    Aplaudida por D. Dilma, passou a delegação brasileira no ritual desfile de abertura. A nossa bandeira, simbolicamente foi fincada ao lado da helênica – que, afinal, inventou os jogos olímpicos, e trouxe o quadrienal certamen para o mundo grego, junto com a temporária paz, o calendário e a mística dos campeões do estádio, premiados por coroas de louro e se, fora do comum, por estátuas comissionadas por suas cidades agradecidas.
   Além do falatório dos políticos de Pindorama – que prometem mundos e fundos – vejamos como se comportam os nossos atletas. Terão a princípio de enfrentar o oba-oba da mídia e o incurável otimismo de cantar vitória antes do tempo.
   Seria bom que se não esquecessem de que a nossa representação, por primeira vez, se diferencia das demais. Não é que daqui a quatro anos teremos de dizer ao que viemos, tanto em matéria de cerimônias, quanto nos resultados das provas ?
   É interessante, a propósito, o quanto, na realidade, distam as competições olímpicas da máxima do Barão de Coubertin. Aruba, as Ilhas Virgens, etc. podem pensar que tudo se cinge à alegria de participar. Será este acaso o pensamento de americanos, chineses, alemães, ingleses e brasileiros ?...


Ucrânia e Bielo-Rússia


    Ontem à noitinha, quando desfilavam as delegações ucraniana e bielo-russa, a minha atenção se dirigiu para Iulia Timoshenko, que está internada em cárcere hospitalar em Kharkov, por especial deferência do déspota Viktor Yanukovich, e para os anônimos prisioneiros nas masmorras de Alexandr Lukashenko.
    Será que os robustos e bem-alimentados atletas da ditadura bielo-russa e do regime autoritário ucraniano terão presente a real situação de seus países?
    Na próxima segunda-feira, em plenas olimpíadas, o Parlamento ucraniano realizará sessão especial, no intento de aprovar a polêmica iniciativa do governo pró-russo de tornar o idioma do poderoso vizinho ao norte também oficial em regiões da Ucrânia. A maioria pró-Yanukovich já havia votado esse instrumento que, em favorecendo a utilização oficial do russo, não trabalha decerto pelo reforço da língua nacional ucraniana.
    O presidente da assembleia, Volodymyr M. Lytvyn, recusou-se, no entanto, a firmar o projeto de lei. Na nova sessão, se procurará persuadir o presidente Lytvyn a assinar a legislação. Se persistir na negativa, tentarão eleger um substituto, que se preste a tal formalidade contrária ao interesse da Nação ucraniana.
 


( Fontes:  Folha de S.Paulo, O Globo, International Herald Tribune )



[1] Os cães Corgi é  raça originária do País de Gales, e que é a preferida da Rainha.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tigre de Papel ou Gerentona ?

                              
       Dilma Rousseff firmou seu nome na constelação lulista como gestora competente da alta administração. Com a forçada partida de José Dirceu – e mais adiante de Antonio Pallocci – ela ficou sozinha em campo.
      Dada a incapacidade do Presidente Lula da Silva em atender a rotina administrativa do governo, Dilma se tornaria a virtual Primeira Ministra e, nessa condição do trato imediato do primeiro escalão, a candidata natural a suceder o chefe carismático.
     Na área que lhe é mais afeita, o Presidente não teve grandes dificuldades em apontá-la como sua sucessora, dado o tirocínio evidenciado na gestão da Casa Civil e no acompanhamento da mastodôntico ministério. A par disso, durante a campanha, não se deve esquecer a colaboração da oposição pela sua singular incompetência na disputa eleitoral.
     Excluída a participação de Marina Silva, e  sua heróica afirmação, malgrado o ridículo espaço concedido a seu partido pela propaganda obrigatória, a inexperiência da candidata do P.T. foi mais do que suficiente para levar de roldão o adversário que, a par das previsíveis traições, não soube transmitir a confiança de um vencedor.
     Depara-se agora Dilma Rousseff com uma greve generalizada, que semelha avatar de fenômenos anteriores a assombrarem os precedentes ocupantes do Palácio. Como assinala Elio Gaspari, a Presidenta terá delegado a seus ministros a negociação, com o consequente agravamento das pendências.
     Depois da greve dos professores, alastrou-se o protesto no serviço público. A falta de pulso e as cautelas do segundo escalão contribuíram para que outras categorias se juntassem aos reivindicantes da primeira hora, a ponto de ora chegarmos ao extremo de que nem estatísticas de desemprego podemos examinar, eis que o IBGE resolveu aderir ao movimento grevista.
     As greves no serviço público se ressentem de legislação que as regulamente,  em especial aquelas dos setores vitais do Estado, como segurança e saúde.
     Ao contrário da maioria dos países, se costuma adotar o modelo ‘para inglês ver’ igualmente para as greves. Aqui o corte do ponto é uma ameaça ritual do poder estatal. Brandir tal castigo, e depois ‘esquecê-lo’, só tende a desarmar a autoridade, diante da certeza dos líderes grevistas de que o eventual descontos das faltas não é para valer.    
     Assim, fica fácil entrar em greve, ou aderir a movimento de outras categorias, com a certeza de que se receberá ao cabo a remuneração integral.
    Nesse contexto, Dilma terá falhado como gerente. Ao invés de atalhar de pronto o movimento, evitando que se difundisse, ela delegou o trato do problema para os ministros das pastas respectivas que não têm a capacidade e o poder de bater o martelo.
    Das duas, uma. Ou se adota o modelo de Pindorama, e a chefe de Estado negocia uma rápida solução para a pendenga; ou se deixa apodrecer a questão, enquanto se avisa que o corte do ponto é para valer,em se mostrando determinação de não ceder, o que, em geral, dissuade eventuais oportunistas de se agregarem à onda grevista.
      Como d. Dilma não fez uma coisa nem outra, como no velho provérbio, em agindo desse modo,  ajudou a semear muitos ventos.
      Daí, as tempestades que ela irá colhendo, em um círculo que tende a alargar-se sempre mais.   



( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Dilma e o empreguismo petista

                             
         A foto nos jornais não reflete o problema que confronta Dilma Rousseff. Vemo-la diante de uma porta famosa, a saber, o número dez de Downing Street.
        Ali está a sede do governo de Sua Majestade. Como o regime é parlamentarista, a pompa – mas não o poder – fica em outro endereço. Atrás da aldrava e da negra, singela entrada está a sede do Primeiro Ministro, que para os incautos pode parecer uma residência como outra qualquer.
       Ledo engano ! Se o Reino Unido não é mais império onde o sol nunca se punha, e hoje chega a ter o PIB superado por um país do hemisfério sul, tampouco é o caso de desfazer da importância dessa terra de tantas tradições. No presente, a velha Albion volta a ser sede dos Jogos Olímpicos.
      Será nesse estribo que se fundamenta a foto difundida pelas agências de notícia. À esquerda, o atarefado conservador David Cameron, o distante sucessor de Winston Churchill, que encabeça gabinete de coalizão com os liberais – uma reaparição do passado que não surpreenderia ao grande líder da IIa Guerra Mundial;  à direita, a figura um pouco desajeitada da sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva.
      Dilma ainda não exibe a naturalidade que caracterizava o carismático homem político Lula da Silva. Ressente a falta de experiência e, quem sabe, o pendor do ofício, que o antecessor trazia consigo, fosse na companhia da Rainha Elizabeth, ou na do então ocupante da Casa Branca, Bush júnior.
      Neste delicado mister, nem tudo se pode aprender.
      Em casa, a esperam pepinos que, a dizer verdade, não são de sua criação, posto que hoje constituam responsabilidade sua.
      Dentre as heranças de Lula, está o enorme aumento nos gastos correntes da União.  Isto não aconteceu por acaso. Nosso Guia tinha muitos planos de consolidar a presença do PT no aparelho do Estado. Viu na inchação do funcionalismo oportunidade de ouro para aparelhar o Partido dos Trabalhadores no seio da Viúva.
     Abriu concursos às mancheias, a par de inchar o ministério a dimensões absurdas, a ponto de representar dificuldade cênica a realização de reuniões do gabinete. Cada pasta, por mais insignificante que seja, tem sede de funções gratificadas. E aí se insere a estória da profusão de secretários-gerais, secretários executivos, chefes de departamento, os sólitos DAS, e por aí afora, na farra do aparelhamento petista às custas do Estado.
     Desafortunadamente, o fenômeno – que será indubitavelmente folclórico e subdesenvolvido – tem outras implicações, a principal delas a engorda nos gastos correntes. Esses dispêndios avultam e ter a indesejável característica de não serem flexíveis, nem produtivos como inversões em infraestrutura e o mais que imaginar-se possa nesta terra de Pindorama.
     É verdade que a terra de Santa Cruz já nascera sob o signo do empreguismo. O seu primeiro cronista – Pero Vaz de Caminha – não se pejou em inserir na celebérrima carta um pedido de emprego a Sua Majestade, D. Manuel, dito o Venturoso.
    Agora todo esse afluxo inventado por Lula da Silva, apesar de bem remunerado pelos cofres estatais, estende a mão a exigir aumentos nos respectivos salários. Em padrões de funcionalismo, todos ganham bem, com a exceção dos professores. Mas como assinalou um dirigente trabalhista da terra de Tio Sam, o que caracteriza a pretensão de seus associados se poderia resumir em uma só palavra:  more (mais).
     Dessarte, ao aumentar o contingente de funcionários públicos, concursados ou não,  nos quadros das múltiplas diretorias das repartições, terá agora de lidar com o peso suplementar de uma artificial engorda. Por ser decorrência menos de necessidades funcionais, do que de astuto projeto partidário de repassar à União o custeio do aparelhamento tendente em aumentar a presença do PT no Estado, por peculiar ironia o governo de Dilma Rousseff se descobre assediado por onda de grevista, partida em boa parte de funcionalismo cujas dimensões são de responsabilidade do estado-maior petista.
    E agora José ?  



(Fonte subsidiária: Folha de S.Paulo)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A UPP não é Vila Poniatowski

                          
        Iniciada a 25 de novembro de 2010, em operação conjunta das Forças Armadas e do BOPE, a retomada do Complexo do Alemão, a partir da Vila Cruzeiro, foi saudada com grande entusiasmo pela sociedade.
       Até os pavilhões do Brasil e do estado do Rio foram içados  no ponto mais alto da favela. Passados quase quatro anos de tal efeméride carioca, como devemos encarar a alegria das comunidades, até então abandonadas ao jugo do tráfico, e a exuberância dos governantes, que festejaram a ocorrência como se fora a culminação de processo de liberação de mais de duzentas mil pessoas ?
      As UPPs, com a pacificação iniciada pela favela do morro de D. Marta, posto que represente auspiciosa evolução para a metrópole carioca, é um caminho difícil, que pressupõe trabalho sério e aturado.
     Se nos ativéssemos às  mensagens enviadas pelo triunfo da quinta-feira, 25 de novembro, já teríamos motivo para maiores doses de cautela na avaliação do desafio que o oba-oba das comemorações tentava apresentar como vencido e sem volta ?
     Todos os que viram mais de duzentos bandidos fugirem pela estrada de terra, em busca de valhacouto além da área enfim reclamada pela soberania do Estado, não terão por um momento considerado a hipótese de que os fora-da-lei iriam reagrupar-se alhures, para assim continuar as suas atividades ?
     Quantos atentaram para as palavras de estudiosos no ramo, como Luiz Eduardo Soares, que referiam a longa trajetória que se tinha pela frente. A atividade do tráfico, que se enquistara na favela, responde a uma demanda que, infelizmente, existe e perdura. Enquanto houver mercado, os núcleos do abastecimento continuarão a existir, nos locais em que dispuserem de um mínimo de condições para atividade tão ilegal quanto antissocial.
     Respeito o trabalho do Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Não obstante, há vários desenvolvimentos no Complexo do Alemão que semelham não levar em conta as dificuldades remanescentes, e que são talvez originários de outras dependências do governo estadual.
    Reporto-me à envidraçada sede da nova UPP, sem qualquer proteção para armas de fogo. Questionável também o sistema de transporte aéreo há pouco inaugurado, e que igualmente pressupõe  realidade de segurança que ainda não prevalece.
   E os coletes dos PMs da UPP ? Qual a sua serventia, se um tiro de fuzil 762 atravessou o peito da soldado Fabiana Aparecida de Souza, com a morte da pobre integrante de Unidade de Polícia de Pacificação ?
   Que pacificação é essa que vitima PMs, como Fabiana, mal transcorridas três semanas após a retirada do Exército do Complexo do Alemão ?
    Como ilustram episódios anteriores, como o vandalismo praticado na sala de cinema preparada para a comunidade, que gênero de pacificação é essa, em que uma vez mais os habitantes têm de refugiar-se na lei do silêncio ?
    Há menos de dois anos da ‘liberação’ do Complexo do Alemão, diversas instâncias de que a bandidagem continua atuante apontam para a necessidade de maior prudência e, por que não dizer, seriedade na avaliação dos obstáculos remanescentes.
    Como já deveríamos ter apreendido, o tráfico não se extingue por decreto, proclamação, ou bandeiras desfraldadas. Há comprida faina a ser realizada, faina essa que não admite a pressurosa omissão de etapas. A exemplo de praga renitente, que se dissimula nos escaninhos das debilidades humanas, a missão é árdua e não admite remédios milagrosos.
   Além de melhor proteger os nossos e as nossas policiais, não é hora de saltar etapas, nem de tentar abraçar áreas com ficções de propaganda.
   A caminhada é longa, e não adianta fingir o contrário.
   Menos oba-oba e mais pé no chão, no combate ao tráfico e a seus aliados.



( Fonte:  O   Globo )      



[1] As Vilas Poniatowski são cenários montados pelo Príncipe Poniatowski para iludir a Czarina Catarina, a Grande, em sua viagem pelo interior da Rússia, como se os camponeses morassem, felizes, em belas casas.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Notas não-Diplomáticas

                                
Ainda os  Quatro  Vereadores  Éticos no Rio

             Como assinalei no blog de domingo, 22 de julho, apenas quatro vereadores na Câmara do Rio recusarem o aumento da remuneração. Vale a pena repetir: são dois do PSOL (Eliomar Coelho e Paulo Pinheiro) e duas do PSDB (Teresa Berguer e Andrea Gouvea).
           É de assinalar-se que a Gaiola de Ouro se compõe de 51 edis.
             Parece, igualmente, oportuno frisar que nenhum membro da bancada do PT recusou o incremento no salário. No passado, quando estavam fora do poder, os membros do Partido dos Trabalhadores se caracterizavam por comportamento bem diverso. Muito provavelmente, teriam engrossado o minguado total de edis que não aceitaram mais essa ‘bondade’ do Congresso das quartas-feiras.
           Hoje, aí estão, ronronando no bando dos gatos gordos.



Os  Ciclistas e  o  Prefeito


            Surgiram calçadas no Rio de Janeiro que levam muito adiante a autorização – contrária às leis do trânsito – de que as bicicletas circulem livremente por espaço antes reservado aos pedestres.
           Embora nas instruções do DETRAN conste que os ciclistas devem respeitar as leis do trânsito, esta disposição se insere entre aquelas regras para inglês ver. Basta caminhar pelas calçadas cariocas para vê-las infestadas por bicicletas, muitas delas rodando em alta velocidade, como se fossem donas do campinho.
         Na verdade, em muitos espaços já o são, como se vê em placas com a figuração do pedestre e ... do ciclista. Apesar de dizerem que a prioridade é do pedestre, dá para acreditar que os rápidos, apressados ciclistas terão algum especial cuidado com o público que, em geral, nas terras ditas civilizadas, se associa às calçadas e às praças ?
       Deveria aqui abrir um parêntesis de justiça a estes heróicos ciclistas – como a moça Juliana Ingrid Dias que morreu em São Paulo, a dois de março último, na rota do trabalho, atropelada por um ônibus, na avenida Paulista. É gente consciente, digna de todo nosso respeito e admiração, e não só porque obedecem às leis do trânsito. Nas ruas e avenidas, enfrentam perigos, muita vez pela falta de atenção e consideração devidas por ônibus e automóveis.
         Tais ciclistas não têm a nada ver com o bando de trêfegos que, quando fora das calçadas, não respeita as mãos dos logradouros. Quantos transeuntes já não foram atropelados pela simples circunstância de não terem olhado também para a contramão?
        Outro espaço que se tornou perigoso para o pedestre é a pista da Vieira Souto que ladeia o calçadão de Ipanema. Antes, nos domingos e dias feriados, essa pista ficava aberta exclusivamente para os pedestres, que podiam assim exercitar-se com toda segurança, caminhando em faixa mais larga e confortável do que o estreito calçadão de Ipanema.
        Se em teoria nada mudou, na prática as bicicletas e os skates invadiram a pista  da Vieira Souto, tornando bastante arriscada a sua utilização pelos indefesos pedestres. Dir-se-ía que os usuários de skate se acreditam veículos,  fazendo todo tipo de manobra perigosa na pista da Vieira Souto. E as bicicletas, também enjeitando a sua ciclovia – onde nunca os ciclistas param, quando o sinal está fechado – ajem como se estivessem em espaços exclusivos, sem modos nem consideração.
       Por causa dos novos centauros, os pedestres perdem a vez, quando não baixam ao hospital, como já ocorreu com gente muito conhecida.
      O que surpreende ainda mais é a total abulia da guarda municipal, que nada faz para coibir os abusos e tornar seguras essas vias para quem de direito.

  
      Senhor Prefeito,

      
      o senhor que ora postula a reeleição deverá ter presente que, a par dos lídimos direitos dos pedestres, que vêem o respectivo espaço invadido, além de ameaçada a própria segurança pelos maus modos acima descritos, têm todo o fundamento de pleitear o respeito à sua incolumidade, tanto nas calçadas e praças, quanto nas vias citadinas, abertas para o seu merecido lazer dominical.
       Se entre os ciclistas, como acima mostrei, cabe referir, separando os responsáveis, que se servem da bicicleta como meio de trabalho e de subsistência, dos demais que as usam como instrumentos de folguedo, importa por isso cuidar da proteção de um e de outro, assim como evitar que se transforme em meio de dano e prejuízo ao que temos de mais precioso, i.e., a nossa própria segurança e o direito de nos valermos das supostas oportunidades de diversão.
      A maioria tem o direito de ser respeitada, até mesmo no interesse da autoridade que pleiteia a própria recondução. Nesse ponto, termina a demagogia e se afirma a obrigação perante a sociedade civil.

Notícias do Front (26)

                                     
A luta pela democracia na Rússia

     Mais um capítulo no recrudescimento do autoritarismo  na Federação Russa. Em fevereiro passado, quatro jovens mulheres, que envergavam balaclavas, encenaram canção anti-Putin no altar da catedral de Cristo Salvador.
    O protesto, realizado pelo conjunto ‘Pussy Riot’[1] se inseria nas audaciosas e por vezes até ofensivas manifestações  do passado inverno boreal. O que surpreendeu foi a sua brutal utilização pelo regimen como advertência à oposição.
    Contra todas as expectativas, no mesmo cenário reservado para o ‘julgamento’ de Mikhail Khodorkovsky – condenado sob encomenda do Kremlin a um total de dezessete anos de cárcere – as  frágeis moças, depois de detenção provisória de quatro meses, receberam extensão de pena de seis meses (até janeiro vindouro). E não se exclui que a dócil justiça de gospodin Putin lhes comine mais sete (bíblicos) anos de cadeia.
    A princípio, o local da apresentação  e os modos do conjunto rock-punk tinham sido vistos por muitos como desrespeitosos, inapropriados e até sacrílegos. No entanto, a pesada e desproporcional reação do poder acabou por calar fundo na opinião pública, alterando radicalmente a posição da sociedade.
    Essa severa repressão vai sendo gradualmente registrada pela população como se se pretendesse  introduzir na Rússia uma espécie de Talibã ortodoxo.  No entender de um antigo consultor político e dono de galeria, Marat Guelman, ‘as autoridades estão cometendo um grande erro, ao vingar-se desse modo. A sociedade não apoiará isso.’
    A audiência da última sexta-feira  foi fechada para o público. A defesa depositou  moção solicitando o testemunho na corte do Patriarca Cirilo I e de Vladimir Putin.
    O esposo de Nadezhda Tolokonnikova, uma das presas, levara em audiência anterior Gera, a filha de quatro anos do casal. Esperava-se, então, que a acusada fosse liberada. Desta vez, ele a deixou em casa. Segundo o pai, a menina entende o que está acontecendo: ‘ Diz para todos que Putin pôs sua mãe em uma gaiola, e agora temos de lutar para que eles a deixem sair’.


A ditadura Bashar e as armas químicas  


    O estoque de armas químicas do governo sírio será um dos maiores do mundo, segundo alvitram os meios especializados. Em ominosa declaração, o porta-voz da Chancelaria, Jihad Makdissi, afirmou: ‘A Síria jamais usará qualquer arma química contra seus civis e as usará só em caso de agressão externa.’
    Diante do precedente de Saddam Hussein contra os curdos, e a forma mais do que elástica em que a ditadura alauíta se reporta aos ‘terroristas estrangeiros’ como fautores dos distúrbios internos, semelha muito oportuna a assertiva do Presidente Barack Obama de que Assad ‘prestará contas se cometer o trágico erro’ de usá-las.
    Brandir esse recurso extremo pode indicar a real situação em que se acha o regime, e a consequente tentação de apelar para o que se afigura impensável. Decerto não tranquiliza o informe de que o arsenal sírio desta arma vedada por convenção internacional venha a ser um dos maiores do mundo.
 

Crescentes interrogações na campanha presidencial


     Há poucas dúvidas que a encruada recuperação da economia se revele um dos principais fatores negativos para a candidatura à reeleição de Barack H. Obama. Como o leitor deste blog não desconhece, não é pequena a responsabilidade do Presidente no que tange às suas perspectivas de triunfo em seis de novembro p.f.
     A campanha presidencial democrata tem batido deveras na tecla da propaganda negativa quanto às desqualificações do adversario Mitt Romney (V. performance na Bain Capital e a sua falta de sensibilidade com o eleitor comum). Malgrado tais ingentes esforços, as pesquisas têm demonstrado à saciedade que as atitudes dos votantes privilegiam o estado da economia acima de tudo.
    Com o indicador do desemprego ascendendo para 8,2 % , Obama paga o pato por  suposto gerenciamento pouco satisfatório da economia no juízo do eleitorado. Nas últimas pesquisas, existem alarmas de não pequena monta. Dessarte, a atuação de Obama quanto à economia tem 39% de aprovação e 55% de desaprovação.  
    A corrida presidencial prossegue muito renhida, mas nos últimos dias indica outro sinal inquietante para o presidente em exercício. Antes, os totais dos dois contendores estavam bastante próximos, mas a vantagem era de Obama. Atualmente, 45% dos eleitores votariam em Romney se a eleição fosse agora, e 43% votariam por Obama.
   Dessarte, se os competidores continuam com posições próximas, quem está na dianteira é o candidato republicano.
    Há ainda informes das pesquisas que transmitem sinais de esperança para a postulação de Barack Obama. Mais da metade dos consultados na pesquisa acreditam na possibilidade de que o presidente consiga melhorar a situação agora (17%) ou no futuro mediato (34%).
    Outro aspecto favorável está em que Obama se importe muito ou o bastante com os problemas do americano comum  (63%), enquanto Romney recebe uma avaliação nesse sentido de 55%.
    Por fim, o apoio republicano a Romney não tem a consistência daquele dado pelos democratas a Obama. Enquanto 52% dos democratas o apóiam fortemente, somente 29% dos republicanos sente o equivalente pelo ex-governador de Massachusetts.
    Quiçá um dos grandes obstáculos a ser enfrentado por Barack Obama está expresso  na assertiva de uma sua eleitora em 2008, Jenny Taylor (de Yerington, Nevada): “Obama fez muitas promessas e falhou em todas sem exceção. Palavras não custam nada, mas os fatos são preciosos”.
    Esta queixa contra Obama é encontradiça nos jovens e em muitos eleitores comuns.  Talvez ela seja demasiado severa, mas decerto o Presidente perdeu grande oportunidade de dizer ao que veio no primeiro biênio, quando dispunha de maioria nas duas Casas do Congresso. Depois da tunda (shellacking) de novembro de 2010, com a perda do controle na Casa de Representantes, as coisas ficaram muito mais difíceis.



Recusa de alguns Tribunais de revelar os respectivos salários 


     A informação acerca de sua remuneração foi determinada por uma lei. Mais ainda do que os demais cidadãos, se deve esperar da magistratura a obediência às determinações legais.
     É de esperar-se, portanto, que o Conselho Nacional da Justiça venha a requerer, como de direito, que todos os tribunais cumpram a lei e que o cidadão seja inteirado de o quanto ganham todos os magistrados sem exceção.





( Fontes:  International Herald Tribune, Folha de S. Paulo, O Globo )



[1] ‘Moçoilas da Fuzarca (tradução livre)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Mensalão será mesmo Farsa ?

                                 
        Às vésperas de abrir-se o julgamento pelo Supremo do chamado ‘Mensalão’, é de compreender-se que a imprensa se regale com este escândalo. Dele se discute até a propriedade da designação, dada por Roberto Jefferson, como se os alegados pagamentos tivessem algum caráter mensal.
       É natural que os temperamentos se ericem, e não só o dos réus, quando o interminável processo – findas todas as doutas e expertas procrastinações dos inúmeros causídicos – foi despachado pelo ministro relator Joaquim Barbosa e, por fim, em meio a pressões e ofícios, pelo ministro revisor Ricardo Lewandowski.
       Por força de códigos flexíveis, demasiado generosos nos direitos de recurso, máxime se utilizados por advogados do peso do ex-Ministro da Justiça do primeiro mandato de Lula, Márcio Thomaz Bastos, foi muita longa a tramitação judicial desse processo. O inconfesso, porém manifesto escopo era o de ganhar tempo, e assegurar a prescrição de vários crimes.
      Sob a presidência do respeitado Carlos Ayres Britto, o processo deste século se abre a dois de agosto. Infelizmente, tanto o presidente, quanto o Ministro Cezar Peluso tem a seu lado a incômoda ampulheta, a recordar-lhes que a sua missão no Supremo está por findar, pela procrusteana imposição do limite de idade. É de augurar-se, no entanto, que um logre encerrar o procedimento, e ambos consigam emitir os respectivos votos.
      Dentre os ansiosos advogados das 38 partes, esses dois ditames – ainda que seja proverbial a incerteza quanto às sentenças – não provocam muitas dúvidas, sendo computados no grupo das condenações.
     Ainda que existam ministros que são dados como favas contadas  nas absolvições, não me aventurarei nessa contabilidade dos palpites. Se surpresas sempre  haverá, parece mister conceder ao colegiado, mesmo àqueles com aparentes menores títulos a dela se valerem, a homenagem da dúvida.
     Há gente que acredita faltar alguém no banco dos réus. É o velho argumento que se leu por primeira vez acerca de outro caso célebre, na reportagem de Davi Nasser ‘Falta alguém em Nuremberg’. Como se sabe, ali foram julgados os maiores criminosos do nazismo, e a frase ficou pairando no ar, aplicável a quem escapasse do banco dos réus de um juízo de relevância.
     Como a Justiça tarda, mas acaba por bater à porta dos que acaso se achem no seu caminho, depois das revelações de Roberto Jefferson, a trilha do mensalão se tem marcado por sinuosas e, às vezes, angustiosas mensagens para a figura de Luiz Inácio Lula da Silva.
    Como diz Ricardo Noblat na sua coluna de hoje: ‘ponham-se no lugar do ex-publicitário mineiro. Era rico, riquíssimo antes de se meter com o PT de Delúbio Soares, Genoino e José Dirceu.’
    Ter-se-á Marcos Valério se perdido pela ambição ? O fato é que quando se tornou público o escândalo, e o quadro mudou de figura, Valério encetou uma prática, que, pelo visto, ainda não considera encerrada. Os crípticos, ameaçadores avisos que configuram a chantagem, esse estranho abraço dos que se debatem nas águas do afogamento.
      Assim, sempre consoante o resumo do colunista, num ‘sábado de junho, depois de tomar uns goles a mais na Granja do Torto, Lula falou em renunciar ao mandato. Ficara sabendo que Valério admitira envolvê-lo no escândalo’.
     Seguiu-se, então, de acordo com a narrativa, a intervenção de José Dirceu. ‘Escalado para dar um jeito em Valério, deu sem fazer barulho’.
     E, como é da natureza de tal processo extorsivo, ‘no segundo semestre de 2006, Valério voltou a atacar. Procurou um político de forte prestígio junto a Lula.(...) O político (cujo nome não é declinado) reproduziu para Lula o que ouvira de Valério.’ Aí entra em cena Paulo Okamoto, o velho amigo de Lula.
    E, uma vez mais nas palavras de Noblat, ‘o diligente Okamoto, aquele que pouco antes pagara do próprio bolso cerca de R$ 30 mil devidos por Lula ao PT, apascentou Valério.’
    É um enredo que se  vem repetindo até agora.
    Nos últimos tempos, segundo a Veja, as ameaças (ou chantagens) voltaram a manifestar-se. Desta feita, se trataria de um depoimento em vídeo – que não se sabe se existe ou não – a ser enviado às autoridades , ‘com um depoimento bombástico, gravado por ele em três cópias e escondido em lugares seguros. Seria parte do acordo de delação premiada com os procuradores’. O recado foi recebido e ‘prontamente decodificado por um grupo de assessores próximos ao ex-presidente, que entrou em ação para evitar turbulências na reta final do processo’.
    Lula e o PT não mais reconhecem a existência do mensalão. As contradições, no entanto, abundam. Em 2005, no ápice do escândalo, (Lula) se penitenciou: “Eu me sinto traído. Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento. Não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos de pedir desculpas. O PT tem de pedir desculpas.”
    Mais tarde, aquilo de que se deveria pedir desculpa, virou para Lula da Silva caixa-dois, que todos fazem.         
    E a música parece ter mudado para o ex-presidente. A ver-se as ambíguas e bastante estranhas conversas com ministros do Supremo, como Gilmar Mendes.
    Serão fanfarronadas as palavras do novo presidente da CUT, de organizar protestos na rua em  manifestações contra o julgamento do mensalão pelo Supremo ?
    Essas contínuas mudanças na avaliação do mensalão, este portentoso desafio existencial para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegam a lembrar a série de atitudes apontadas em estudo famoso por Elisabeth Kübler-Ross.  No final, toda a raiva, todo o afeto (freudiano) terminam em aceitação. Será que aqui também a estória se repetirá ?



( Fontes:  O Globo, Veja ).