quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Montanha Russa do GOP

                              
       Continua a alternância na disputa pelas primárias republicanas. Desta feita, foi a vez de Mitt Romney.  Persistem, no entanto,  as resistências  contra a  candidatura do ex-governador de Massachusetts. A par disso, cabe notar que a permanência de Newt Gingrich entre os pré-candidatos retira votos de Rick Santorum.
      Assim, em Michigan – é bom lembrar que se trata do estado natal de Romney – este venceu com dificuldade, com 36%, seguido por Santorum com 33%, o libertário Ron Paul com 10%, e o conservador Newt  com 6%.
     Por sua vez, no Arizona, a vantagem de Romney, com 47% dos sufrágios, sobre Rick Santorum, com 27%, parece a princípio bastante mais marcada (Gingrich teve 16% e Ron Paul,8%).
     Como se verifica, entretanto,mesmo em  estado onde contou com o apoio da governadora Jan Brewer,  se somados os votos dos dois pré-candidatos que se proclamam conservadores (Santorum e Gingrich),  a parcela dos opositores de Mitt se elevaria a 43%, apenas três por cento menos do que o total atingido pelo ex-governador de Massachusetts (os votos de Ron Paul, da radical corrente libertária estão fora, na prática, do marco partidário).                         
     A par disso, se a demografia de Arizona é mais favorável para Romney, o apoio da governadora – que, não faz muito, teve acalorada discussão no aeroporto com o presidente Obama – semelha mais para o oportunista, eis que ela deve  sua eleição ao Tea Party, movimento republicano da franja do extremo direitismo que até hoje se mantém à distância do moderado Romney.
     A sorte de Newt Gingrich será selada na chamada Super Terça-feira (6 de março), com muitas primárias em estados sulistas (Gingrich é natural da Georgia). Se o antigo Speaker da Câmara não conseguir nessa data desempenho razoável, com pelo menos uma vitória no seu estado natal, afigura-se provável que venha a desistir da pré-candidatura. Dada  sua filiação ao campo conservador, ele tenderia a pôr suas fichas no candidato principal desta tendência, v.g.,  Rick Santorum (sempre na suposição de que Santorum tenha uma votação substancial nessa data, que é um dos momentos decisivos da campanha das primárias).
    Dos dois prélios da terça-feira 28 de fevereiro, o mais esperado era o de Michigan. Um tropeço de Mitt Romney enfraqueceria bastante a sua postulação.
    Nesse contexto, há alguns aspectos que merecem ser sublinhados. Em Michigan, como no New Hampshire, a primária está aberta não só para republicanos, mas também para democratas. Dentro da orientação – que é precipuamente a da Casa Branca – de ver em Mitt Romney o rival mais temível (e aquele com maior probabilidade de arrebatar a nomination na Convenção de Tampa, na Flórida) os democratas que participaram da votação, concentraram as suas preferências em Rick Santorum, que pela linha conservadora e posturas de quase extrema-direita seria, nos comícios de novembro, o candidato republicano claramente mais débil.
     A par disso, o próprio campo de Santorum solicitou os votos democratas, julgando que tal recurso não fere a ética partidária (a fortiori, porque Romney pleiteara os sufrágios dos democratas em New Hampshire).   
      Como a campanha em Michigan para Mitt não foi fácil – na semana anterior, o ex-governador de Massachusetts estava ainda atrás nas preferências com relação a Santorum – a modesta organização eleitoral do ex-senador pela Pennsilvania demonstrou regozijo pela dinheirama que o pré-candidato Mitt Romney (não obstante estar competindo no seu estado natal) teve de dispender, diminuindo os fundos da sua candidatura (que é de longe, entre os republicanos, a mais bem fornida).
      Em consequência, Romney prevaleceu nas duas primárias, mas haja vista as considerações acima, as suas vitórias não foram triunfos determinantes e esmagadores.
      Perdura, assim, a montanha russa da corrida no GOP. Mitt Romney, que é o postulante com a campanha mais organizada e com maiores fundos, e que dispôs desde o princípio de uma sustentação mínima de 25% das preferências, se ressente de uma rejeição substancial na militância conservadora do partido de Abraham Lincoln.
      Será, indubitavelmente, por tal motivo, que os votos desses militantes  pairaram em vários pré-candidatos (hoje politicamente defuntos), como Herman Cain (o executivo afro-americano do Burger King) e Rick Perry (governador do Texas) com claros na memória. Está na marca do pênalti Newt Gingrich (o ex-Speaker) com notórios pontos fracos de caráter, enquanto Rick Santorum representa a principal ameaça para a Convenção.
      Nesse momento da campanha republicana existem três possibilidades, em linha crescente de probabilidade, para  Tampa, na Flórida: (a) uma convenção negociada - como se fazia no passado remoto, em que a direção dos notáveis do GOP designaria um candidato até então fora da disputa, como, v.g., Jeb Bush (o irmão de Bush júnior) ou o governador de New Jersey, Chris Christie; (b) a entronização do conservador Rick Santorum ou de seu contendor, o ressuscitado Newt Gingrich; e (c) a confirmação do moderado Mitt Romney, como a opção, amarga para os conservadores, porém com maiores probabilidades de constituir a alternativa de Barack Obama.
      


( Fonte subsidiária:  CNN )

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Garzón: uma Estocada e duas Fintas

                             
        O jogo de cartas marcadas do Tribunal Supremo de Espanha contra o juiz Baltasar Garzón se conclui com a ‘absolvição’ do acusado no processo dos crimes do franquismo. Com um voto discrepante – do juiz José Manuel Maza – seis juízes consideraram que não houve neste caso prevaricação dolosa. Se censuram Garzón por errônea interpretação da lei, asseveram a inexistência de prevaricação.
        Completa-se, assim, o ordálio do corajoso juiz da Assembleia Nacional, que, para sua imorredoura glória, trouxera para o âmbito internacional o direito de indiciar penalmente os transgressores contra os direitos humanos, como a sua ação contra o ex-ditador Augusto Pinochet assinalaria.
        Segundo referem articulistas de ‘El País’, muitos de seus ‘colegas’ na magistratura não lhe perdoariam a chuva internacional de concessões de doutorados ‘honoris causa’. Tampouco a direita, tanto a legal, quanto a franquista, haveria de perder a suposta  oportunidade de castigá-lo por sua defesa das vítimas dos direitos humanos, assim como pela ousadia de recolocar em pauta a imprescritibilidade dos crimes contra a Humanidade, questionando as chamadas leis de anistia ampla.
        Daí a operação orquestrada pelo Tribunal Supremo, com o auxílio, entre outros, da direita franquista (Associação ‘Mãos Limpas’) e a do Partido Popular. Foi saraivada de três processos: o das vítimas do franquismo, o dos patrocínios dos cursos em Nova York e, por último, o das chamadas ‘escutas de Gürtel’.
       O claro enigma de toda a experta maquinação foi desvendado por um magistrado, já em 2010, segundo terá confidenciado para José Yoldi, de El País. Consoante adiantou para o jornalista o aludido magistrado, Garzón seria absolvido em dois processos – no dos cursos universitários em N.Y., e no das vítimas do franquismo. Este, pela delicadeza do tema, e o imperativo de preservar a imagem de Espanha e do Tribunal; aquele pela sua inerente debilidade.
      Serviriam, no entanto, para acentuar o acosso ao juiz Baltasar Garzón, e para transmitir a impressão do pretenso alargado  âmbito dos ataques movidos contra ele pela sociedade.
      A cereja do bolo da condenação do magistrado estaria assegurada, já o referira em 2010 este encapuçado membro do Tribunal Supremo, pela condenação no processo das escutas de Gürtel. Por alegadamente violar os direitos da defesa, no parecer dos juristas, oferecia o colimado ensejo de desfazer-se do incômodo juiz Garzón. Pela sua condenação e virtual expulsão da carreira na magistratura, se vibraria a letal estocada na perigosa besta taurina.
      Pouco importa, na opinião dos entendidos, que no futuro o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condene o Reino de Espanha pela falta de imparcialidade de seus magistrados Luciano Varela e Manuel Marchena. 
     O mal estará feito, com o afastamento do juiz Garzon. As duas fintas (as causas das vítimas do franquismo e das bolsas do Santander em Nova York) apenas compõem o quadro, que é o da iniqua condenação pelas chamadas escutas de Gürtel.
     Como o sublinha José Yoldi, de ‘El País’, a cruel astúcia do Tribunal Supremo tem antigas raízes. Marco Tullio Cicero já pusera o dedo na ferida: “Sumum jus, summa injuria”. Em outras palavras: o excesso de formalismo pode levar à injustiça.
     O maquiavelismo do Tribunal conta com a inelutável tardança na eventual sentença da Suma Corte Européia. Se tal demora na justiça se comprovar, a quem aproveitará o ditame de última instância ?  Para a história, se procederá a reabilitação do juíz Baltasar Garzón, mas na prática os seus algozes se hão de locupletar com o seu iniquo e descarado banimento da curul da justiça, aquela atuante e verdadeira.
     Para essa gente, a vitória do castigo em vida mais interessa do que os ouropéis de um porvir que já se confunde com a  História.



( Fonte:  El  País )       

      

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Aprendiz de Ditador

       
       Na frágil democracia equatoriana, Rafael Correa não hesitou em palmilhar a batida trilha da intimidação da imprensa. Fê-lo por via judicial, valendo-se do poder irrestrito do señor presidente, por intermédio de oportunas substituições de juizes, fossem de primeira ou de última instância.
      Ao impor pesadas penas à expressão do livre pensamento, sejam físicas ou pecuniárias, embriagado pela própria húbris – e será esta a única emoção que há de partilhar com o berço da democracia – Rafael Correa é discípulo de outros algozes da mídia, a começar pelo seu modelo Hugo Chávez Frias e a viúva Cristina de Kirchner.
      O poder absoluto não só corrompe os respectivos usuários e pretendentes, mas também tolda-lhes a visão. Com a atmosfera do medo, ficam os tiranetes entregues a fâmulos e cortesãos, a ponto de carecerem na fábula da ingenuidade infantil para denunciar-lhes a nudez moral.
      Em um passado ainda próximo, Equador e América Latina se dão as mãos pela pletora de ditadores, demagogos e golpes militares. O mestre-escola e discípulo de Chávez ensaia largos passos nesta enganosa e traiçoeira vereda.
     Ao empreender a pouco dignificante jornada, não se deve comiserá-lo pelas verdades que lhe são entrementes arremessadas.
     Em El Pais, Mario Vargas Llosa aponta para a ação do presidente, que é um ato político, feito para minar os pilares da democracia, que são  a liberdade de expressão e o direito de crítica. Daí a irrespondível constatação de que “Rafael Correa acaba de ganhar uma importante batalha legal contra a liberdade de imprensa em seu país e deu um grande passo para a conversão de seu governo  num regime autoritário”.
     A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, em boa hora, resolve emitir medidas cautelares para impedir a execução da sentença contra o jornal. Nesse sentido, o Presidente Jimmy Carter subscreveu carta de apoio à Comissão Interamericana.
     Por sua parte, mais de cem escritores espanhóis e latino-americanos assinaram manifesto em defesa dos jornalistas equatorianos Emilio Palacio, Juan Carlos Calderón e Christian Zurita.
     Enredado pelo cipoal dos protestos, Rafael Correa aciona os respectivos canais para saber se a Comissão Interamericana extrapolou suas funções ao emitir as medidas cautelares. Para tanto, tenciona apresentar-se como querelante junto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, provocado pela injunção da Comissão para que o governo de Correa “suspenda de imediato os efeitos da sentença de 15 de fevereiro de 2012, a fim de garantir a liberdade de expressão”.
     Se confirmado, semelha de bom augúrio esse despertar das instâncias interamericanas na defesa da democracia. Existe uma Carta, aprovada faz tempo, que dorme nas gavetas dessas mesmas ‘burocracias internacionais’, a que alude o aprendiz de ditador incomodados por tais extrapolações.
     Até quando Hugo Chávez, Rafael Correa, Cristina de Kirchner e Daniel Ortega abusarão da paciência dos democratas, perseguindo a liberdade de expressão, em pequenas e grandes manobras, navegando, com ardilosa astúcia, entre as contraditórias correntes das respectivas opiniões públicas ?



( Fonte:  O Globo )

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Colcha de Retalhos CV

                                  
Nova Carta por referendo ?

       Hoje está sendo votada a nova Constituição síria. De acordo com a vontade do Palácio, submete-se ao povo a sua aprovação por referendo. Supostamente, anunciaria passagem a um regime mais democrático, que sucederia ao atual de partido único por um multipartidário.
       Semelha óbvio que se insere nas vãs promessas de Bashar al-Assad. Até o presente, ele as descumpriu todas e nada, absolutamente nada, garante que agora seja diferente.
       Tentar aprovar nova carta magna nas presentes circunstâncias, com um país conflagrado por situação que beira a guerra civil, com cidades – como Homs – sitiadas e sob a artilharia pesada, grita aos céus não ser este o momento mais adequado.
       A  oposição anuncia o propósito de não comparecer, pela absoluta impropriedade do procedimento, seja pela sublevação, seja pela falta de credibilidade de quem apresenta a mensagem.
       Nesse tipo de regime é sabido o valor do voto. A fraude campeia, e os encarregados das seções de votação conhecem bem o próprio ‘dever’ que é o de apresentar os inchados totais das urnas da ditadura, como sói acontecer não só  em muitos países árabes,como na Federação Russa do aliado Vladimir Putin, e na ditadura bielo-russa de Alexander Lukashenko.
       Não é de hoje       que os princípios inseridos em tais Constituições não correspondem à realidade do país.  Já nos tempos sombrios da ditadura de Josef Stalin, pobre daquele que porventura acreditasse nos ditames da Carta. Muito cedo seria expedido para o arquipélago Gulag,  que nos descreve Alexander Soljenitsin.
       No caso de Bashar al-Assad, dados os extremos em que se debate, trata-se de patético artifício, que sequer engana a seus partidários.    

   
A Eleição em São Paulo 

       Há ironia pesada na participação, tornada inelutável pelas circunstâncias, do ex-candidato derrotado no segundo turno, com todos os seus 44 milhões de votos, em uma primária para escolha do representante do PSDB para o próximo pleito do poder executivo municipal de São Paulo.
      A relevância da disputa não tem nada de simbólica. Trata-se do terceiro orçamento na União, e o PSDB não se pode dar ao luxo de perdê-la. Por isso, a aceitação de José Serra de passar pelas forcas caudinas das primárias partidárias, em que disputará com militantes que não tem qualquer comparação com a sua força nacional, estadual e municipal, implica, a par da incógnita da votação em colégio reduzido,  em  desconforto ineludível.
      Para que ele não se transforme no coveiro do PSDB, terá de submeter-se ao teste das primárias, sob o sufrágio da militância. Para a eleição anterior, Serra lograra inviabilizar a proposta do desafiante Aécio Neves.Sua negação lhe terá  custado caro, dada a circunstância de haver acarretado, segundo alguns, a sua quase cristianização pelo rival em Minas Gerais.
       Por sua vez o PT, que tanto apreço tinha pelas primárias, agora parece preferir a verticalização das indicações, como sinalizado pela imposição pelo ex-Presidente Lula do nome de Fernando Haddad, com o brutal afastamento da candidata natural, a Senadora Martha Suplicy. Haddad é o típico  candidato oficialista, que pode congregar, como o fez em 1953  Francisco Antonio Cardoso no embate contra Janio Quadros, uma ampla aliança  (UDN, PTB, PSD PR e PSP)de diversos medalhões (o governador Lucas Garcez e Adhemar de Barros, entre outros). Tal, no entanto, não foi suficiente para deter o quase desconhecido Janio Quadros, apoiado por dois pequenos partidos (PDC e PSB), a esmagá-lo com o dobro dos votos.


O Candidato Vladimir Putin


      A eleição para a Duma – a Câmara baixa da Federação Russa – terá sido um marco na progressão de Vladimir Putin e  sua havida como certa próxima eleição para a presidência.
      Se o poder corrompe, como na frase célebre de Lord Acton, ele também pode tornar menos sensíveis para os desafios e sobretudo as mutações da política aqueles acostumados a pairar nas alturas da aprovação popular.
      Tal semelhava ser o caso de gospodin Putin – um gigante no regime sucessor de Boris Ieltsin. No entanto, a realidade pode preparar surpresas para aqueles que se julgam votados à trajetoria ascendente nas altas esferas de governo.
     O que seria apenas um episódio no trajeto reservado a Putin – com a volta à presidência, denegada a reeleição a Dmitri Medvedev – representou, na verdade, forte e real choque para as otimistas expectativas do atual Primeiro Ministro.
      Os comícios para a Duma, a forma em que se realizaram, não só com a súbita presença de votação contra o partido oficial, mas também com a irrupção de uma despejada fraude, contribuíram para modificar radicalmente a avaliação de Putin, assim como e sobretudo, o mito de seu controle dito absoluto da política na Rússia.
      Para quem gosta de se apresentar com o torso desnudo – em clara imitação do Duce Mussolini, na sua divulgação da chamada Batalha pelo Trigo -, ou em outras posturas de homem forte, Vladimir Putin  terá sentido o insidioso ataque dos comícios de oposição, e de uma relativa queda na respectiva avaliação.
     Apesar de ser bastante provável  sua vitória,  já em primeiro turno, para o próximo sexênio, dada a pobreza do grupo de candidatos selecionados para enfrentá-lo (como o secretário do Partido Comunista Guennadi Ziuganov, Vladimir Jirinovski, da direita nacionalista). A perspectiva de um segundo turno afigura-se como um evento bastante improvável, embora não possa ser excluído. Putin antes pairava em níveis de aprovação de cerca de 80%.  As últimas peripécias o redimensionaram , mas nada ainda que implique na hipótese de um segundo escrutínio, eis que a sua popularidade ora se situa em torno de 60%.
      Para causar uma eventual surpresa, da ordem daquela provocada por François Mitterrand  no pleito para o segundo septenato de Charles de Gaulle,  até o momento o homo novus, encarnado pelo multimilionário Mikhail Prokhorov, não representa efetiva ameaça, eis que a aprovação deste último está ainda no reino de um só dígito.  Como o primeiro turno está marcado para quatro de março as possibilidades de uma reviravolta não são grandes. Mas, manda a prudência, não fechar-lhe por inteiro a porta.



( Fontes:  O Globo, International Herald Tribune )

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Atoleiro Sírio (2)

                                     
        Bashar al-Assad pode lamentar os ‘bons tempos’ em que o Ocidente permitia, em compungido silêncio, a realização da ‘operação de limpeza’ do levante islamita na cidade de Hama, sem nada fazer para atalhar a sistemática matança de milhares de nacionais sírios, sob as ordens de Hafez al-Assad, o então todo-poderoso ditador.
       O filho e sucessor Bashar al-Assad tem, por vezes, de navegar com mais cuidado, para contornar os escolhos e arrecifes de uma quase mundial oposição. Ela é decerto mais vocal,  extensa e atuante do que a dos anos oitenta, mas ainda recorda a precedente pela singular ineficácia de alterar, senão conter, o comportamento do tirano de turno.
       Existe nas Nações Unidas esmagadora maioria de países que condenam a cínica e desabrida atuação do déspota sírio, e apóiam a longa luta de um sofrido povo em prol da democracia. Muito em breve essa revolução completará um ano e, se a guerra civil se estende por quase todo o país – com ameaços inclusive nos subúrbios de Aleppo e Damasco – o presidente Bashar parece longe de debater-se nas vascas da agonia que carregaram não faz muito um provado companheiro seu, o líder da Jamahiriya.
      O referido desequilíbrio na ONU não é, no entanto, uma situação nova. Tal descompasso prevalece desde o seu surgimento em Lake Success. Dessarte, a Assembleia Geral tem caráter deliberativo. As suas recomendações não tem força executiva. Este poder cabe ao órgão diretor no quadro das Nações Unidas, que é o Conselho de Segurança.
      Para atender às então grandes potências, e em especial ao aliado J. Stalin, o presidente Franklin D. Roosevelt concordou em que os cinco membros permanentes teriam o direito do veto. Pouco importa que as realidades do imediato pós-guerra pouco tenham a ver com a situação no século XXI. Destes  cinco membros permanentes do Conselho – Estados Unidos, União Soviética,China, Reino Unido e França – a URSS foi sucedida por uma diminuída Federação Russa, e a China de Chiang Kai-shek pela China Comunista de Mao Zedong. Quanto às duas antigas grandes potências europeias, constituem um anacronismo que fica pendente de uma suposta reforma das Nações Unidas, reforma essa que por demasiado tempo tem balizada a atuação de muitas diplomacias.
      O direito de veto continua bastante válido, e ele é apanágio das grandes potências. Vale sempre e muito para proteger os interesses do estado-cliente (Israel no caso dos EUA), aspectos econômicos e de poder imperial (RPC), e agora a Rússia (em defesa do seu dependente Bashar).
     Se foi introduzido supostamente para contrabalançar as falhas da antiga Liga das Nações, em termos de direito internacional público o direito de veto será sempre um remanescente dos arreganhos das chamadas grandes potências. Antidemocrático, ele inviabiliza as maiorias da Assembleia Geral, eis que é um verdadeiro escândalo que o poder internacional se descubra manietado por um único voto (ou o que dá no mesmo, quando um segundo voto de circunstância a ele se agrega).
    Apresso-me, no entanto, em dizer que, por motivos acima aludidos, nenhum membro permanente pode censurar os demais pelo uso abusivo desse direito conferido pela Carta.
     A recente reunião em Túnis do ‘Grupo de Amigos da Síria’ nada trouxe que suscite maiores inquietudes no campo do Presidente sírio, e de seu reduzido punhado de aliados. As instruções da Secretária de Estado Hillary Clinton ainda não se estendem à distribuição de armas para equilibrar um combate. Apelos para descumprir ordens terão escassa validade, se as forças de Assad continuarem a deter o controle da situação, inclusive o de fuzilar eventuais trânsfugas.
     Compreende-se que a Administração Barack Obama não deseje meter-se no chavascal de outros conflitos, a exemplo do ocorrido com o seu predecessor George Bush júnior, mas não há de escapar a agentes políticos calejados que a escala das ações admite várias gradações.
     De um certo modo, a reunião de Túnis, carimbada de fracasso pela mídia, pode ser o início de  processo que aprenda  a lidar com as realidades no terreno, e descubra meios de dar à resistência síria condições de impedir esse impune morticínio de civis indefesos.
      Para quem, por cortesia de apoios pontuais e da ineficácia de fragmentárias sanções, aí se julga firmemente plantado, não serão grandiloquentes apelos que o farão mudar de postura. O denodado sacrifício de uma sublevação da sociedade civil carece de valer-se de apoios mais convincentes,se não se deseja vir a integrar a vasta coorte dos levantes malogrados.




(Fontes: O Globo, International Herald Tribune)       

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Notícias do Front (8)

                                 
Chávez: ficções administrativas

        A nova operação em Cuba do Presidente Hugo Chávez, marcada para o início da próxima semana, não causará nenhuma transferência formal de governo. Esta é a versão oficial de  problema que se pensa resolver através de uma não-solução. A decisão do presidente de continuar governando do exterior pode atender a disputas internas dentro do esquema de poder chavista,  é uma postura artificial, que nada resolve.
       A doença de Chávez repõe a velha questão dos caudilhos e dos ditadores. A possibilidade de sua falta deslancha uma luta interna dentre os grupelhos que dele se reclamam. É o combate dos sucessores – de que há tantos exemplos na história mundial – e que se caracteriza muita vez por feroz antagonismo nessas facções. A ponto de preferirem a estória da Carochinha de que o enfermo coronel governará o país até da sua mesa de operação em Havana, Cuba. Isto sem falar dos dias subsequentes, em que estará entubado e sedado, empenhado em diversa batalha, que terá mais a ver com a física sobrevivência, do que com pormenores de administração e de pública política.  


Contas Externas: Pior resultado em 65 anos

       O turista brasileiro, nesta época de vacas magras nos EUA e na Europa, é recebido de braços abertos. Também, pudera. As nossas contas externas de janeiro fecharam no vermelho: US$ 7,1 bilhões !
       O peso determinante, segundo o Banco Central, foram os gastos no exterior, especialmente nos Estados Unidos, de nossos viajantes, no total de US$ 2 bilhões.
       Consoante as autoridades, não há motivo de inquietação. O fluxo de recursos de fora continua a chegar, embora com uma diferença: no passado o investimento produtivo equilibrava o cômputo. Agora, o Banco Central tem de contar também com os financiamentos externos para empresas.
       A distinção é clara. Nas inversões produtivas, o dinheiro vinha para ficar. Já no caso de financiamento, como todo empréstimo tem necessariamente o momento da volta.
      De qualquer forma, dado o volume de reservas internacionais – US$ 354 bilhões em nossos cofres – haveria, segundo o mercado, muita gordura para queimar.
      A pergunta inconveniente é: por quanto tempo, se o jogo financeiro continuar com as constantes acima ?


Os crimes contra a Humanidade do Ditador Bashar

      Bashar al-Assad continua a martelar a oposição em Homs. Não há nada, porém, de figurativo nisso. Esse martelamento se procede a tiros de artilharia pesada. A desfaçatez do tirano – após a recarga da respectiva confiança, por cortesia de uma aliança que não é santa, e que atende pelos nomes de Putin (Rússia) e Khamenei (Irã) -  chega ao ponto de trucidar jornalistas nesta carnificina do povo sírio.
      Nas duas primeiras semanas de fevereiro, após a saída da missão de observação da Liga Árabe, e a patética visita em carro blindado do Ministro russo Sergei Lavrov,  o bom oftalmologista Bashar julgou adequado forçar a barra. Não é à toa que relatório apresentado por Paulo Sérgio Pinheiro – por fim um nome brasileiro a abraçar uma boa causa – reporta 787 pessoas abatidas. Tais violações, sempre conforme o relatório, decorrem de ‘política de Estado incentivada pelos mais altos níveis das Forças Armadas e do governo’.
      O que é mais grave para o senhor al-Assad é que haja mortes com retrato, nome e a profissão de informar. São as vítimas da mídia, que adentraram o cenário sanguinolento, e que pagaram o mais alto preço em termos existenciais: Marie Colvin, com um tapa-olho oriundo de outra missão proterva, de nacionalidade americana, e como correspondente do Sunday Times, de Londres; e um jovem fotógrafo francês, Rémi Ochlik.
      Bashar al-Assad quer que o deixem massacrar os próprios nacionais, sem interferência alienígena. É a mesma anti-política em matéria de informação que esse paradigma do tratamento dos direitos humanos – o regime de Ahmadinejad e dos ayatollahs – aplica no que tange aos meios de comunicação.
      Os que acompanham a CNN terão visto os corajosos jornalistas infiltrados na Síria, que se dispõem a arrostar grandes riscos para informar sobre as violações e os crimes contra a Humanidade do regime alauíta. Uma coisa é verberar tais ofensas das tribunas internacionais, outra coisa é noticiar da área conflagrada, sem quaisquer garantias de uma soldatesca que encara o jornalista estrangeiro como um cúmplice da oposição.
        Enquanto a jornalista francesa Edith Bouvier apela para o governo sírio a deixe partir (ela precisa ter o fêmur operado), reúne-se na Tunísia (onde tudo começou pela auto-imolação de Muhamad Bouazizi) o Grupo de Amigos da Síria, que é alternativa diplomática para contornar o apoio das autocracias de China e Rússia a Bashar. A Secretária de Estado Hillary Clinton fará parte da reunião, e não se exclui que doravante a política ocidental se torne um pouco mais pró-ativa no particular, com a eventual distribuição de armas às frentes da oposição na Síria.
        Para que tal alternativa apareça na mesa de negociações, a revolução síria deve agradecer à própria insana política do presidente Bashar, cujos procedimentos não deixam dúvidas de que  julga factível a eliminação física em larga escala dos que porventura ousem contestar-lhe o mando.   



( Fontes: O Globo, CNN, International Herald Tribune )

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Doença de Hugo Chávez

                              
         O câncer é uma doença cujo tratamento tem registrado nas últimas décadas grandes progressos. Não está longe o tempo em que o anúncio dessa enfermidade já implicava em quase certeza de desfecho.
         Na Itália, por exemplo, a imprensa evitava citar nominalmente a palavra agourenta, limitando-se às mais das vezes a reportar que fulano ou sicrano sofria de mal incurável. Ninguém ignorava de o que se tratava, mas seja por caridade, seja por superstição, abstinha-se de designá-lo explicitamente. Seria quiçá maneira de mantê-lo à distância.
        Era exemplo de scaramanzia que o dicionário Zingarelli define como palavra, gesto ou sinal que, de acordo com a crença popular, livra as pessoas do mau olhado, ou as defende contra ele.  
       Posto que tal enfermidade continue a ser temida, a ciência médica tem feito muitos progressos no seu tratamento, tanto na prevenção, quanto na eventual cura, uma vez determinada a sua incipiente presença no organismo.
       Há inúmeros exemplos próximos do moderno êxito. A nossa presidente Dilma Rousseff é indicação nesse sentido. Por outro lado, o Brasil, em especial São Paulo e o Hospital Sírio-Libanês mostram os consideráveis avanços que a oncologia realiza em nossa terra.
      Prova disso são os tratamentos dispensados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Se a longa luta para salvar o Vice-Presidente José de Alencar não terminou bem, ela foi testemunho da coragem e da disposição do companheiro de chapa de Lula, assim como da perseverança das equipes médicas. No entanto, essa guerra, malgrado os progressos alcançados, longe está de ser vencida.
     Indicação disso é o caso do Presidente Hugo Chávez. Quiçá por desatenção, tenha descurado dos exames clínicos indispensáveis para desvelar os seus primeiros indícios.
    Sea doenca  atalhada  na primeira fase, o paciente tem probabilidade muito maior de sobrevida. Por motivos que não nos cabe indagar, tal não foi o caso do Presidente Chávez.  Tampouco acedeu em vir tratar-se no Sírio Libanês, o que seria garantia de atendimento de acordo com os melhores e mais adiantados nosocômios.
     O presidente venezuelano e seu entorno se habituaram a uma cultura do segredo, o que é inaceitável para os hospitais brasileiros. Como as suas descabidas exigências não foram aceitas, Chávez teve de entregar-se à medicina cubana.
     De certa maneira, voltamos ao passado, em termos de sigilo e de extremas precauções de segurança. Os romanos, uma vez mais, nos trazem a respeito amostra de irônico bom senso. Como se sabe, por dois mil anos convivem com o Papado, que é uma das poucas monarquias absolutas que restam no planeta Terra. E, nesse contexto, a propósito do mistério que sói cercar a enfermidade dos Sumos Pontífices, tem um dito que traduzido do saboroso romanesco ironicamente assevera: ‘O Papa goza ótima saúde até a sua morte’.[1]
      Terá sido essa inquietude cortesã, a quem apavora a perspectiva do passamento do soberano, pelo que prenuncia de incerteza e de tempos interessantes (no sentido chinês), que condiciona tal gênero de reação, que procura ocultar o que, em verdade, é inocultável.
      Em junho, Chávez revelou haver sido operado de um câncer. Ele anunciou que o mal tinha sido removido, não especificou o tipo de câncer (a prostactomia radical semelha o procedimento mais provável).
     Depois de anunciar a ‘cura’ em outubro, ora reaparece a doença. O Presidente a chama de ‘lesão’ - e no mesmo local anterior – e comunica a próxima operação, igualmente em Cuba.
     Henrique Capriles, seu adversário na vindoura eleição (distante de sete meses), deseja ‘operação bem-sucedida, rápida convalescença e uma longa vida’.
     A atitude da oposição se enquadra em tentativa de campanha civilizada, baseada não em questões pessoais, mas na discussão de problemas e de propostas no que concerne ao futuro da Venezuela.
      Parece a melhor estratégia, mas seria importante determinar se com ela concorda – ou pode concordar – o vasto campo que circunda o Presidente Hugo Chávez Frias.



( Fontes:  O Globo, CNN )

   



[1] Er Papa gode ottima salute finche muore.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Questão de Autoestima ?

                            
       O colunista Elio Gaspari dedica o comentário hodierno à deportação sumária pela polícia do aeroporto de Barajas, em Madri, de turistas brasileiros, que, supostamente, não se adequem às exigências da U.E.
      A pretensa novidade é que as autoridades brasileiras resolveram pôr  termo a  prática, que se estende, pelo menos, há quatro anos.
     Os meganhas espanhóis, além de tratar grosseiramente os turistas brasileiros – suspeitos de tentativa de imigração ilegal – os encerram em ambientes confinados, a par de negar-lhes acesso a remédios, bagagem de mão e eventuais corriqueiras comodidades.
     Dada a maneira objetivamente indiferente com que o governo brasileiro vem, na prática, reagindo, não há negar que a causa principal da permanência da inaceitável situação deve ser atribuída à sua displicência, traduzida em falta de qualquer preocupação seja de isonomia, seja de velar pelo respeito aos próprios concidadãos.
     Para tanto, nada mais simples do que a aplicação da estrita reciprocidade. É realmente um escárnio que tanto a polícia brasileira, quanto o Itamaraty tenham convivido com tal estado de coisas. A responsabilidade, no caso, cabe ao próprio governo. Desse modo,  uma vez verificado o arbitrário procedimento, se  passa a empregar a retorsão, que é a óbvia e apropriada resposta (submeter os espanhóis a idêntico tratamento no Brasil). Não há melhor fórmula para atalhar esse tipo de excesso, do que infligi-lo aos nacionais do país que se arroga a prática das tropelias.
     Dados os longos anos em que o governo brasileiro tolera esse absurdo, parece forçoso recorrer à  explicação psicológica de  negligência tão maligna quanto duradoura.
    Conviver com tal estado de coisas vai muito além da costumeira ineficácia dos serviços oficiais. Permitir uma  situação, em que nacionais brasileiros sejam tratados como gado, depõe menos contra os infratores do que  ao Estado nacional responsável, que admite o inadmissível (vale dizer, se omite no exercício do direito de proteção de seus concidadãos).
     Pelo visto,malgrado os ouropéis de nossa progressão na  hierarquia da riqueza das nações, ainda baixamos a cabeça diante de manifesta falta de equidade e de mínimo respeito no que tange às prerrogativas dos viajantes.
    Isso tem a ver com autoestima baixa que, no frigir dos ovos, pode conviver com esse tipo de gritante disparidade. Em fim de contas, a velha estória de que fantasma sabe para quem aparece continua a valer.
    A receita para pôr um termo a tais prepotências semelha bastante singela. Basta fazer o dever de casa. O respeito aos nossos viajantes devemos ensiná-lo às autoridades estrangeiras, através da oportuna e recíproca avaliação dos respectivos direitos e deveres, com a aplicação sem afeto – no sentido do Dr. Freud – da isonomia a que todos fazemos jus.  
    Ou será que ainda tacitamente aceitamos ser um país de là-bas (de Gaulle), uma nação sem personalidade (non-descript country, Edward Saïd) ?


(Fonte: O Globo)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O GOP, Santorum & Cia.

                            
        A corrida republicana, se não é um avanço inexorável de lemingues rumo ao previsível destino, forçoso será reconhecer que muito se esforça em parecê-lo.
        O incrível Rick Santorum reflete as contradições dessa campanha. Neste contexto, o Presidente Barack Obama que, segundo as prévias da CNN, voltou ao patamar dos 50% é acusado pelo atual lider das preferências republicanas de ‘empurrar os preços da gasolina para as alturas com a sua radical política ambientalista’.
        Para angariar o sufrágio dos eleitores conservadores, Santorum serve para os republicanos estórias feitas sob medida para  público que se supõe crédulo e de vistas limitadas. Para carregar nas tintas da demonização de  Obama, o atual vanguardeiro nas pesquisas do GOP lança as seguintes pérolas: a incompetente direção da política externa americana no Oriente Médio faz com a ‘tensão’ se reflita na alça dos preços do petróleo; existe ‘falta de reais provas científicas sobre o aquecimento global’; por isso, não se pode confundir ‘falsos estudos’ sobre a questão com ‘ciência climática’quando não passam de ‘ciência política’.
       Quiçá inebriado pelas súbitas alturas de sua aprovação nacional – as pesquisas ‘Gallup’ ora lhe dão, em todo o país, 36% contra os 26% do severamente conservador Mitt Romney – o antes ignorado Santorum se tem metido em terreno movediço. Assim, como católico da Opus Dei, veemente adversário da prática do aborto (e da sentença da Corte Suprema Roe v. Wade), o ex-Senador pela Pennsilvania se opõe a que a amniocentese[1] seja custeada pela Reforma sanitária (para os conservadores, esse teste está associado à prática do aborto).
      Outra observação de Santorum – na verdade insinuações quanto à ‘real teologia da crença de Obama’- foi definida pelo porta-voz da campanha do Presidente como ‘bem além dos limites’: a adesão de Obama a ‘algum falso ideal, falsa teologia’ que ‘não se baseia na Bíblia, mas em diversa teologia’.
     Por sua vez, o crescimento de Santorum  pode agravar a crise na pré-candidatura de Mitt Romney, o envergonhado moderado. O ex-governador de Massachusetts não conseguiu até o presente manter o desejado momentum (força inercial) para manter-se como vanguardeiro do pelotão de candidatos republicanos, o que seria do agrado do estamento do GOP, mas não de sua base militante, que desconfia da respectiva sinceridade.
     Por duas vezes – em New Hampshire e na Flórida – Romney deu mostras de que dominaria a corrida, para logo adiante decepcionar tais expectativas. A  campanha, malgrado as contribuições, não consegue que os vultosos fundos lhe assegurem a liderança. Assim, de acordo com dados da Comissão de Eleições Federais, queimou US$ 18.7 milhões em janeiro, restando-lhe US$ 7.7 milhões. Há no campo de Mitt o temor com eventual resultado negativo em Michigan (onde seu pai foi governador).
Um revés neste estado seria desastroso para ele, além de tirar-lhe de vez a aura de front runner (corredor dianteiro).
     Até seis de março, a denominada Super Terça-Feira (com primárias em dez estados e 437 delegados) há de encerrar essa fase da campanha. A 28 de fevereiro teremos Arizona e Michigan, a que precede um último debate televisivo nesta quarta-feira, entre os quatro republicanos restantes (Santorum, Romney, Gingrich e Ron Paul). O antigo Speaker, com 13% das preferências nacionais, e que disputa o ‘voto conservador’, enredou-se na admissão de que, se perdesse o estado onde nasceu (Georgia) veria a sua candidatura gravosamente (badly) enfraquecida. Ron Paul, o candidato libertário, é o lanterninha da disputa, com 11%. Embora não tenha chance aparente para a nomination, deve ir até a Convenção em Tampa, e tentar arrancar concessões na plataforma partidária.
      A corrida pela designação da candidatura oficial pode ser lida como um retrato sem retoque da fraqueza dos pré-candidatos republicanos. Nenhum deles conseguiu firmar-se até agora como líder inconteste. O representante dos sonhos da direção do GOP seria o milionário, ex-banqueiro de Wall Street, e ex-governador de Massachusetts. Persistem, entretanto, ainda muitas resistências contra a seu desígnio, espelhadas, de resto, por repetidas esquivas dos militantes em adotá-lo como campeão das ambições republicanas em negar a reeleição ao abominado presidente Barack Obama.
     Desse modo, a corrente alternativa para Tampa – a postulação do ultra-conservador Rick Santorum – é caminho arriscado para o estamento dirigente, eis que, selecionando um contendor fraco e vulnerável (semelha difícil visualizar os independentes – que costumam decidir as eleições – abraçando candidatura tão fora do main stream[2] como a de Santorum) se descobririam condenados à inelutável derrota. Não é à toa, aliás, que nenhum senador republicano (malgrado os seus longos anos de serviço na Câmara alta) haja até agora apoiado o ex-colega.
     Por enquanto, o tétrico (dismal) plantel republicano poderia ser entendido como aquele dos sonhos do Presidente Obama. O otimismo, sem embargo, não é bom conselheiro. Até a burrice, tem limites. E, por isso, com todos os seus defeitos, parece fora de propósito que o moderado Mitt Romney não consiga na Convenção da Flórida arrebatar por fim a nomination. Até há pouco, se alternava na dianteira das preferências com Obama. Quem há de dizer que uma arremetida final bem-concertada não endureça a partida e torne o resultado conclusivo imprevisível ? Afinal, a única democrata a superar em popularidade todos os republicanos tem sido Hillary Clinton, mas por força da campanha de 2008 as sortes já foram lançadas, ficando Barack Obama, para o bem e para o mal, como o candidato também para 2012.



( Fonte:  CNN )   



[1] retirada de líquido amniótico do abdome materno, um dos exames pré-natais que pode determinar a existência da síndrome de Down ou outros problemas no feto.
[2] curso principal.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Revolução Órfã

                                       
        A situação na Síria se agrava. Liberado pelo veto da Federação Russa (leia-se Vladimir Putin), a que se associou a China, o Ditador Bashar al-Assad recrudesceu a  violenta repressão contra o povo sírio.
         Não restam dúvidas quanto ao significado do cínico apoio reiterado pela visita a Damasco do Ministro do Exterior russo Sergei Lavrov ao pária internacional Bashar, logo após a inviabilização pela autoritária dupla  sino-russa de qualquer ação internacional autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
        O próprio Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, condenou os bombardeios das forças do déspota contra o seu próprio povo. Bashar al-Assad se acredita autorizado a sufocar em sangrentos massacres a obstinada resistência da revolução na Síria, que já entrou no seu undécimo mês, com milhares de mortos (há cômputos que elevam a macabra lista a nove mil).
        Muitas dessas fatalidades teriam sido evitadas se o tirano Bashar tivesse pela frente não uma população, na prática, desarmada. A princípio, o presidente sírio acreditou possível engambelar a sociedade civil com promessas de liberalização tão gerais, quanto vazias, enquanto  seus destacamentos de segurança abatiam manifestantes singulares, pelo ‘crime’ de reivindicar a democracia.
       Como essa ‘cura preventiva’ não funcionou e o levante se espraiou de Dara aos  diversos centros urbanos como Homs, Hama – já castigada por Hafez al-Assad em 1982 – Idlib, Baba Amr, até alcançar Aleppo e Damasco, em que o oficialismo predomina, o regime alauíta acreditou possível suprimir a insurreição através da intimidação e da matança.
      A exemplo de outras oportunidades, no entanto, o método do fuzil – que pode até servir em intervenções tópicas, como no recente esmagamento do movimento verde iraniano, liderado pelos candidatos esbulhados em 2008 Mir-Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi – tem sério defeito, eis que os soldados rasos estão encarregados de empunhá-los.
      Se a tropa não for cevada com privilégios, terá muitos motivos para entender a rebelião dos concidadãos. Esse fenômeno da eventual confraternização dos destacamentos regulares com a população levantada já se assinala na Revolução Francesa. Se a divisão blindada, dita de elite, sob o comando do irmão Maher, cumpre as ordens da repressão, os demais destacamentos de conscritos, com baixa paga, estarão mais abertos para a adesão à causa do povo.
     Esses imaginários bandidos armados pelo estrangeiro, com que a propaganda oficial intenta desmerecer e conspurcar a resistência, são na verdade soldados que preferiram desertar a continuarem assassinos de sua própria gente.
     Como se vê através de bravos profissionais, que se atrevem a descumprir os mandados do tirano – e os riscos que correm são óbvios e mortais – a mídia internacional tem logrado rasgar em determinadas áreas essa cortina baixada por al-Assad (também aqui seguem lição ministrada pela república dos ayatollahs).
      E o que se descortina é decerto deplorável. Deparamos  povo quase desarmado que tem de arrostar a artilharia pesada e os carrascos, atiradores isolados (snipers) e toda a escumalha de tais regimes autoritários e discricionários.
        Por tal razão, a revolução síria, temperada por tão larga e aturada determinação, que se manifesta por toda a parte, como o suor em um corpo que não mais suporta as teias e faixas com que pretendem manietá-lo. Se as armas estão iniquamente distribuídas,  dada a extensão e o entranhamento da resolução popular, o seu emprego, por letal e injusto que seja, só tende a espicaçar  criatura a quem a repressão não tem mais o poder de intimidar, subjugar e calar.
       Esse momento mágico, no entanto, terá seus limites, e a Humanidade não pode, com benigna indiferença, assistir a uma progressão que pelo inerente desequilíbrio terá seus limites de sustentação.
      Que algo deve ser feito em prol da resistência síria, semelha manifesto. Para tanto, as atenções da comunidade internacional se voltam para os Estados Unidos e a administração Barack Obama.
     Surge, entrementes, primeira revoada de protestos. A sua oportunidade é inegável.
Não obstante, Mao Zedong recomenda aos chineses que antes de implementar sugestões por mais sensatas que pareçam, tenha-se bem presente quem as apresenta.
    No caso em tela, segundo a CNN 56 republicanos, expertos  de política exterior e ex-altos funcionários subscrevem carta que encarece, sob liderança estadunidense,  a tomada de medidas pró-ativas contra o governo Assad. Entre outros, recomendam essa linha de ação Karl Rove (o antigo alter ego de George W. Bush), Paul Bremer (o desastroso ex-procônsul no Iraque), James Woolsey (ex-chefe da CIA) e Robert McFarlane (ex-assessor de segurança nacional de R.Reagan).
    Afigura-se inegável a seriedade da situação síria e a sua presente orfandade em termos de válido apoio para enfrentar a desapiedada repressão de al-Assad.
     Que algo carece de ser feito, e com urgência, não há negar. A Administração Obama não pode limitar-se às atuais medidas, com sanções de determinados países, cuja eficácia parece mais do que duvidosa, diante de um regime como o de Bashar, que conta com poucos – mas válidos – apoios internacionais (leiam-se Rússia e Irã).
      Se a recomendação dos 56 expertos republicanos – muitos dos quais aprovaram a guerra contra Saddam Hussein, fundada nas inexistentes armas de destruição em massa (WMD) – levanta questão importante, cuja solução pelo governo democrata de Obama, no entanto, não pode prescindir da camponesa sabedoria do antigo líder da revolução chinesa.
     Algo terá de ser feito, mas, por favor, convém não  esquecer o atoleiro em que os neoconservadores meteram Washington e seu Tesouro, na sua suposta cruzada pela democracia no Iraque.

( Fonte: CNN )

     

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Colcha de Retalhos CIV

                                 
 O Artista

         A princípio, as notícias e o êxito nos prêmios Globo de Ouro, não me livraram de um certo ceticismo. Já tinha havido experiências de filmes silenciosos, mas seria possível, nos dias que correm, fazer um filme mudo  suscetível, não só de vencer a natural desconfiança, senão de tornar-se sucesso de público nos Estados Unidos, a ponto de apresentar-se com múltiplas indicações para o Oscar ?
         Vamos por partes. Para quem já teve a oportunidade de assistir aos filmes mudos em diversos festivais dos cinemas americano, francês, alemão e italiano, não escapa o cuidado na reconstituição dos créditos. A parcimônia era a regra na apresentação, muito diversa da atual prolixidade.
          Reservavam-se os quadros iniciais a uns poucos. Não há dúvida que em tal laconismo algumas injustiças fossem feitas, mas aqui o corolário da correção política nos lança demasiados nomes para que a memória possa retê-los.
          O Diretor, Michel Hazanavicius - que também é responsável pelo roteiro e os diálogos - fez uma concessão à modernidade. A música do filme não  provem do velho pianista que, nas salas de projeção, dela se ocupava, mas de trilha sonora. Sem embargo, parece sob medida, não destoando do quadro geral.
          Como homenagem à qualidade do cinema mudo, sem artificialismos, há o intuito da reconstituição,  durante toda a película. Sem exageros arcaizantes, os antigos recursos de linguagem cinematográfica, seja nos enquadramentos, seja nas focalizações e nas ampliações, seja em imagens que se esfumam em conclusões de cena,  lá está tudo, dentro do esforço do cinema mudo em suprir o que os diálogos na tela inteira procuravam explicitar.
        Assim, não é preciosismo que as ofensas do torpe policial ao artista decaído se concentrem no movimento grosseiro de lábios brutalmente ampliados. Dessarte, o público pode ter ideia do efeito daquelas palavras sobre um ego corroído não só pela súbita queda – de astro da tela para um fracassado anônimo – assim como vivenciar o golpe que exacerba o desespero do artista.
       Não pretendo contar a estória, que é um vezo de muitos críticos. Gostaria, contudo, de assinalar-lhe uns traços que a mim semelham marcantes.
       O filme deve ser entendido como  fábula, que segue, à risca, as prescrições da dramaticidade. O herói (George Valentin, interpretado por Jean Dujardin) vive o respectivo auge, mas sentimentalmente não se sente feliz. A esposa Doris ( Penelope Ann Miller) é a distante companheira holliwoodeana. É hora, portanto, para que surja a mocinha Peppy Miller (por Berenice Bejo) para encontrar-se com o astro, a quem a princípio diverte, mas ainda não motiva sentimentalmente.
      Há outros personagens emblemáticos: o empresário Al Zimmer (John Goodman) que paira sobre os artistas, mas serve ao mercado; o mordomo e chauffeur Clifton (James Cromwell), o retrato da dedicação; o dono da loja de penhores (Ken Davitian), que é uma espécie de símbolo das mudanças da sorte; o policial burro (Joel Murray), a quem o cachorrinho Uggie (interpretado pelo terrier Jack Russell) desperta da respectiva obtusidade.   
       Por falar nesse cachorrinho. Ele é o fiel e quase eterno acompanhante do protagonista, a quem segue nos bons e sobretudo nos maus momentos. Esse canino anjo da guarda mereceu decerto a coleira de ouro com que foi galardoado por sua atuação.
       Jean Dujardin nos dá uma grande interpretação – merece de longe o Oscar -, atravessando indene todas as armadilhas e as areias movediças do filme, e nos mostra, a cada momento, a diferença entre o grande ator, que desenha o próprio papel nos seus diversos avatares, marcando a distância de o que seria a usual canastrice.
       Nessa alegoria do cinema mudo, em que viajamos dos píncaros da glória ao abismo da queda anunciada, Hazanavicius mantém a unidade da estória, com o floreio final da peripeteia.  
 

  Desafios para as candidaturas Santorum e Romney   

         A campanha de Rick Santorum comparada com a mega-operação publicitária montada pelo grupo que apóia a Mitt Romney pode representar uma lição de que o dispêndio de dólares não se traduz automaticamente em vantagem nas prévias eleitorais.
        A circunstância de que Romney registra um empate nas preferências nacionais com Santorum – ao cabo da tríplice vitória deste último nas primárias de Colorado, Missouri e Minnesota – admite duas óbvias constatações: (a) dinheiro e dimensão da respectiva base não é garantia de sucesso; (b) a aceitação do candidato Romney enfrenta uma séria e inegável crise.
       Não há cotejo possível entre as duas campanhas: a de Santorum se centraliza no esforço do ex-Senador, e o seu suporte logístico se compõe de uma picape e de um assistente; por sua vez, o orçamento de Romney enseja numeroso plantel de auxiliares, ônibus, carros e até aviões. Para as vindouras primárias no Arizona e em Michigan (28 de fevereiro), as Super-PACs dos aliados de Romney deverão despejar muitos anúncios e videos negativos contra Santorum.
      Sem o saber, Santorum personifica o embate do tostão contra o milhão. Com os seus parcos fundos, e em resposta à torrente de negativismo do campo de Romney, fez um tosco anúncio televisivo em que o ex-governador de Massachusetts é retratado como um comando tipo Rambo, a manejar  arma que joga lama  em efígies  de papelão representando Santorum. No vídeo se acrescenta, entretanto, a observação de que a organização pró-Romney gastou vinte milhões de dólares para atacar os rivais republicanos.
      A escassez de fundos da campanha de Santorum pode, contudo, colocá-lo em uma situação crítica nas primárias da Super-Terça Feira, 6 de março (onze estados).
     Embora seja difícil declarar Newt Gingrich fora do páreo – já foi comparado ao monge Rasputin, pela sua incrível sobrevivência a pesados ataques e derrotas – Rick Santorum, se tem inúmeros pontos fracos, sobrepuja o antigo Speaker em matéria de caráter e de curriculum. Se a sua frágil ‘organização’ resistir aos embates dos dias 28 de fevereiro e 6 de março, tanto a sua incômoda presença como concorrente sério à nomination se terá confirmado, quanto a intrínseca fraqueza como válida proposta (malgrado a pletora de recursos) da pré-candidatura de Mitt Romney será outra realidade no quadro da luta republicana para inviabilizar a reeleição de Barack Obama.  


A Sucessão no Banco Mundial  

      O republicano Robert Zoellick, e atual presidente do Banco Mundial, deverá deixar o posto quando vencer  seu quinqüenio no próximo dia trinta de junho. Zoellick foi designado pelo Presidente George Bush.Por isso, é provável que o Presidente Barack Obama indique para sucedê-lo um (uma) democrata.  
        Como se sabe, no pós-guerra, enquanto os Estados Unidos aponta o presidente do Banco Mundial, cabe à Europa a designação do diretor-geral do Fundo Monetário Internacional.
       O processo sucessório, no entanto, não se anuncia tão simples quanto no passado. Nesse contexto, três países do grupo dos BRICS – Brasil, Índia e China – têm gestionado – juntamente com outras nações – por um processo de seleção mais aberto, transparente e inclusivo.
      Por enquanto, os rumores se concentram em candidatos americanos e democratas. Nesse sentido, fala-se na Secretária de Estado Hillary Clinton – posto que o Departamento de Estado haja negado repetidamente que ela esteja interessada no posto.  Outro  candidato seria Lawrence H.Summers, o antigo assessor econômico do  Presidente Obama. A esse respeito, o recente livro de Ron SuskindConfidence Men’, se ocupou, entre diversos tópicos, do estilo de atuação de Larry Summers e de sua saída da Administração Obama.


Fim da Liberdade de Imprensa no Equador


     A democracia não vive sem liberdade de imprensa.
     Rafael Correa logra, na prática, silenciar a mídia, através de sentença da Corte Nacional de Justiça.
     Tampouco se desconhece que este caudilho logra outra vitória de Pirro. Repete-se o ritual de um filme que muitos pensavam fosse  coisa de  passado sombrio, mas já vencido.  A estrada da América Latina, por quanto tempo ainda nela veremos as  cruzes de ditadores ?
    Foi confirmada a condenação dos proprietários de ‘El Universo’, principal jornal equatoriano, a três anos de prisão e US$ 40 milhões, por editorial publicado em 2010, no qual Correa era chamado de ‘ditador’. O jornalista autor do texto foi igualmente condenado.
    Os ingredientes são faltos de originalidade. Para obter o que desejava – em síntese castigar os donos do jornal por ousarem dizer a verdade – o aprendiz de tirano mudou a composição do tribunal, empossado por Correa há três semanas atrás.
    Em outro traço das ditaduras, a embaixada do Panamá concedeu, por autorização expressa do Presidente panamenho,Ricardo Martinelli, o asilo diplomático a Carlos Pérez, o único dos três irmãos proprietários de El Universo que se achava no Equador.
    O Ministro do Exterior Ricardo Patiño partilhou da irritação de seu amo, eis que a seu juízo o asilado não é um perseguido político, mas simples delinquente. Pensando talvez no futuro o ministro, no entanto, respeita a decisão.



( Fontes: International Herald Tribune, O Globo )