sábado, 30 de agosto de 2008

Dos Jornais - IX

FOLHA DE S. PAULO (30.VIII.08)
O GLOBO

Eleições Americanas. A escolha por parte de John McCain de Sarah Palin, republicana, governadora do Alaska, como sua companheira de chapa tem diversas facetas. Por um lado, representa hábil jogada política, que constrange Barack Obama em sua decisão de preterir Hillary Clinton, sua adversaria nas primárias, e sobretudo na negativa de compor-se com Hillary e formar o que os americanos chamam de ‘dream ticket’, isto é, a chapa partidária mais forte. Não há negar que John McCain, ao convocar a desconhecida Palin como candidata à Vice, contribui de forma determinante para que os dezoito milhões de eleitores da Senadora por New York não se esqueçam até novembro do tratamento não exatamente favorável que o Senador Obama optou por dispensar à sua rival nas primárias democratas. Ironicamente, o conservador (e havido como independente) John McCain toma posição supostamente mais aberta e progressista do que o seu contendor, indicando uma mulher como candidata a Vice-Presidente.
Não é pouca coisa decerto, eis que será a segunda mulher candidata a Vice (a primeira foi Geraldine Ferraro, vice de Walter Mondale, em 1984, em chapa derrotada por Ronald Reagan e George Bush senior). Obama julgou que Hillary não fazia por merecer tal designação. Com todos os discursos que procurem eludir (spin) este fato, será ele constante dessa eleição, que afetará de algum modo a muitos eleitores e sobretudo eleitoras de Hillary, não muito felizes com o tratamento que lhe foi reservado por Obama e a cúpula democrata.
Entretanto a questão não se limita a tal aspecto. Há igualmente na seleção conotações com implicações negativas. Sarah Palin de 44 anos é ainda mais conservadora do que McCain, sendo adepta do criacionismo (que nega a teoria da seleção natural de Darwin), da derrubada da decisão da Suprema Corte em Roe versus Wade (o que implica em ser contrária ao aborto), evangélica, favorável à exploração do petróleo no círculo ártico e à política econômica de Bush. Em algumas dessas questões, e notadamente na do aborto, Sarah Palin tem posições mais radicais do que McCain.
Para alguém que seria o sucessor direto de um septuagenário com problemas de saúde, o lado democrata aponta para a sua experiência nula em matéria de política externa, o que, salvo engano, não semelha um argumento muito forte se se perguntar qual é a experiência nesse campo do candidato democrata.
Finda a Convenção de Denver, a presteza tática de John McCain não ensejou a Obama sequer um fim de semana para descansar nos próprios louros. Agora, será aguardar a Convenção Republicana, a realizar-se na próxima semana. Uma vez concluída essa fase, se poderá verificar qual o candidato que se acha na dianteira, ao encetar-se o periodo decisivo da campanha. Nesse ensejo, será importante observar se a polêmica indicação por John McCain de uma mulher há de representar um fator relevante na determinação do resultado dessa eleição presidencial.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dos Jornais - VIII (27.08.2008)

DOS JORNAIS (VIII) 27.08.2008

O GLOBO
FOLHA DE S. PAULO

Convenção Democrata de Denver. O discurso de Hillary Clinton na Convenção de Denver, ansiosamente esperado pelos partidários do candidato Barack Obama, assinalou-se pela grandeza – que a Senadora por New York já mostrara em sua alocução aos seus correligionários, quando suspendera a sua campanha, ao final das primárias (V. meu blog sobre o assunto).
Em suas palavras no segundo dia da Convenção, Hillary não foi apenas generosa com o seu ex-rival, que não a tratou com a deferência que não só ela fazia por merecer, senão o próprio partido, se realmente deseja vencer os republicanos de John McCain em novembro.
Hillary não deixou de sublinhar os grandes temas da sua campanha das primárias, e em especial a reforma da saúde, com a extensão da assistência médico-hospitalar a todos os americanos. Enfatizou a necessidade de os democratas recuperarem o governo, de modo a que os oito desastrosos anos de Bush não se prolonguem em mais quatro de McCain.
É decerto preocupante que o eleitor estadunidense, por força de uma série de circunstâncias, se esteja rapidamente esquecendo de o que é a Administração Bush (guerra no Iraque, crise econômica, perda de prestígio internacional, o crescente déficit público, o descalabro ocasionado pelo furacão Katrina, etc.), a ponto de reservar por ora o empate técnico ao candidato republicano (que no essencial não se dissocia das posturas da atual administração). É inquietante para os democratas essa involução e no entender desse colunista a solução do problema deve ser encontrada – se possível – no próprio campo do partido de John Kennedy, Lyndon Johnson e Bill Clinton.

Eleições Municipais – “Saúde: agora é guerra(O Globo – pág. 03)

Em uma questão importante, como a do combate à dengue, os governos estadual de Sérgio Cabral e municipal de Cesar Maia não estão de acordo. Depois da grave epidemia de dengue desse último verão, em que a atuação da prefeitura, seja nas suas gritantes falhas no trabalho de prevenção à proliferação do mosquito Aedes Aegipti, seja nas estranhas declarações do senhor prefeito (que depois de negar a epidemia, suplicou ao mosquito que voasse para o mar), foi objeto de um tratamento bastante leniente pelos meios de comunicação, provoca espécie que volte a causar polêmica entre Estado e Município. Seria de esperar que o Senhor Maia, ao invés de atacar as Unidades de Pronto-Atendimento (UPA) com insinuações e casuismos, reconhecesse a necessidade de combater o flagelo. Aparentemente, tal não é a posição do Prefeito e de sua candidata, quando a hora seria a de somar forças para que a desgraça não se repita no próximo verão. O governo estadual de Sérgio Cabral só incrementou a sua participação no combate à dengue diante da incompreensível apatia dos serviços da prefeitura em reconhecer a crise e em trabalhar para debelá-la. No passado o Governador Cabral mostrou empenho em enfrentar o desafio da dengue, cuja persistência é uma acusação perene quanto à inoperância dos serviços municipais competentes no Rio de Janeiro, aparentemente mais preocupados em aventar razões da dificuldade nesse combate do que em assumir a missão de lutar contra o mosquito. O eleitor não é tolo e saberá distinguir entre de um lado os que procuram debelar as causas da epidemia e reforçar o atendimento médico, e de outro, os fabricadores de factóides e de argumentos que intentam desviar a atenção do que realmente importa.

Guerra no Cáucaso ( Folha de São Paulo, pág. 01)

Assistimos a clara involução nas relações internacionais, com a retomada de parte da Rússia da vocação imperialista dos czares e dos comunistas. Sob o domínio do regime forte de Vladimir Putin - aliás a respeito dessa construção política prometo discorrer mais longamente no futuro - o Presidente Dmitri Medvedev ratificou a decisão da Duma (parlamento russo) que reconhecera a independência da Ossétia do Sul e da Abkazia. A par de ser manifesto desrespeito à soberania territorial da Geórgia, igualmente implica em um retrocesso diplomático, prenunciando possível deterioração das relações entre Estados Unidos e União Européia, de uma parte, e Rússia, de outra. A volta da guerra fria não mais é uma possibilidade acadêmica. Para que se tenha idéia do contra-senso da decisão do regime de Putin, cabe lembrar que o último episódio similar de invasão armada e constituição de ‘república’ à revelia do direito internacional público se verificou na década de setenta do século passado, com a expedição turca contra Chipre. Essa intervenção armada resultou na formação da República Turca de Chipre do Norte, que é um pária internacional (só é reconhecida internacionalmente por Âncara, que lá mantém quarenta mil soldados). Será o que deseja o Senhor Putin, ou quiçá a ‘independência’desses duas regiões da Geórgia representará apenas um passo para quem acalenta reincidir no secular vezo anexionista de Moscou, afinal incorporando Ossétia do Sul e Abkazia ao império russo ?

sábado, 23 de agosto de 2008

Eleições Americanas - Obama escolhe Joe Biden

Eleições Americanas – Escolha do Sen. Joe Biden como candidato a Vice de Obama

Barack Obama escolheu o Senador Joe Biden como seu companheiro de chapa. A motivação seria a de trazer alguém experiente em matéria de política externa, terreno em que Obama não tem grande familiaridade. Segundo tal raciocínio, Biden - Senador pelo pequeno estado de Delaware, e presidente da Comissão de Relações Exteriores na Câmara Alta – supriria esta lacuna. A propósito, cabe perguntar em que campo Obama se assinalaria pelo conhecimento. A par da oratória e do carisma, o senador por Illinois nunca demonstrou, em seus debates com Hillary Clinton, segurança também em matéria econômica, que constitui assunto de particular interesse para o povo americano, ora às voltas com grave recessão, de resto, um dos legados da Administração de Bush júnior. A despeito de instado a precisar suas propostas, Obama preferiu manter-se em generalidades – como o seu lema de “Mudança” (change) – esquivando-se de entrar em pormenores (que poderiam seja pôr a nu a pouca substância de suas idéias, seja, o que seria pior, alienar correntes de opinião). Com efeito, a habilidade política constitui um de seus principais trunfos,habilidade essa que já evidenciou ao concorrer sem adversários ao senado estadual do Illinois. Logrou a façanha ao valer-se de tecnicalidades pela comissão eleitoral do estado para impugnar as duas candidaturas rivais.
Mas voltemos ao presente. Segundo o grupo de Obama, o candidato democrata teria feito a escolha de Joe Biden para reforçar a sua chapa. Na verdade, quero crer que a real escolha ele a tinha feito anteriormente, ao preterir a candidata natural para vice. Parafraseando a célebre pergunta de Stalin, de quantos votos dispõe o candidato selecionado ? O aporte será negligenciável, mas não é isto o mais importante. Ao optar por ignorar aquela que traria considerável número de votantes (que não morrem de simpatias por ele), Barack Obama indica que pode ser hábil em jogadas menores, porém não em questões maiores. Faltou-lhe a serenidade necessária para transcender os pequenos rancores, e a grandeza indispensável para reforçar a própria candidatura, e transformá-la em uma de união do partido democrata.
Se o partido de Roosevelt, Truman e Bill Clinton não conseguir recuperar a Casa Branca em novembro próximo, talvez a causa determinante esteja no denegar a Hillary Clinton e a seus partidários uma composição honrosa e profícua para os interesses dos democratas. Como já foi dito, se os democratas, depois da desastrosa administração de Bush júnior, e dos descalabros da invasão do Iraque, do furacão Katrina, e da crise econômica, ainda assim conseguirem perder uma vez mais para os republicanos, eles se terão assinalado por colossal incompetência política.
O jogo político americano entra agora em sua fase decisiva. Por força da Convenção de Denver, os percentuais de Obama poderão registrar alguma recuperação. No entanto, com a sucessiva Convenção republicana, é de esperar-se a reação de John McCain.
Adentrando a reta final da campanha, quais são os trunfos dos candidatos? Obama, por óbvias razões, dispõe do eleitorado afro-americano, e também dos segmentos de eleitores jovens e de maior nível de instrução. McCain, dos estados sulistas, dos setores conservadores e evangélicos. E os correligionários de Hillary Clinton (latinos, mulheres, em especial as mais idosas, e o setor operário) que correspondeu na verdade à metade dos votos democratas ? O tratamento dispensado à sua candidata os levará acaso a vencer as próprias desconfianças quanto ao candidato Obama ? Resta saber se Barack Obama ainda reserva alguma surpresa para os partidários de Hillary. Será que com toda a sua ‘habilidade política’ alcançará reforçar as suas fileiras, malgrado esta decisão que pouco ou nada acrescenta para um resultado favorável em novembro? Só o futuro o dirá.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Dos Jornais (VII) 22.08.2008

DOS JORNAIS (VII)

O GLOBO - Derrota da seleção feminina do Brasil para os Estados Unidos (págs. 3 e
9 – caderno Esportes)

Comentário. Apesar da grande diferença técnica entre o plantel das seleções do Brasil e dos Estados Unidos, e a despeito do domínio territorial durante toda a partida, tais fatores não foram suficientes para assegurar a vitória brasileira. Com bom treinamento físico, a seleção americana não demonstrou o cansaço da brasileira, que levou inclusive à maior periculosidade dos ataques estadunidenses na prorrogação, quando Carli Lloyd marcou ainda no primeiro tempo da etapa suplementar. Outra consequência do negligente apoio prestado pela CBF foi a falta de um esquema de jogo. Concordo plenamente com as afirmações do colunista Fernando Calazans: “Para ganhar a medalha de ouro pela qual chorou a Marta, nossa seleção de tão boas jogadoras precisa de estrutura, de planejamento, de preparação, necessidades para as quais dona CBF não está nem aí. Nossa seleção precisa de um verdadeiro técnico que dê uma arrumação ao time, uma arrumação no jogo, uma estratégia – e não de um simpático torcedor à beira do campo, amigo das jogadoras”.
Não só no futebol feminino, mas em diversos outros ramos os nossos dedicados atletas não tiveram o desempenho esperado. Terá sido falta de apoio psicológico para suportar a pressão da mídia e dos habituais patriotas profissionais, que criam muita vez falsas expectativas quanto à probabilidade de conquista de medalhas? O lema do barão de Coubertin – o importante é competir e não ganhar – está há muito esquecido. De toda forma, se vexame existe – como foi proclamado na derrota sofrida perante a Argentina – é a circunstância de um país com a demografia e a extensão do Brasil ter presença ultra-medíocre na Olimpíada, rivalizando com Zimbabue, Uzbequistão e Azerbaijão em número de medalhas. Dentre a incrível pletora de ministros (quarenta, se não me engano) de que é composto o ministério do Presidente Lula, é o caso de perguntar o que faz o Ministério do Esporte com vistas a dar condições dignas para que os nossos atletas possam ter um desempenho de acordo com o seu potencial.

Mauro M. de Azeredo

Mauro M. de Azeredo

Eleições Americanas - Escolha do Vice por Obama

Com a realização na próxima semana da Convenção Democrata em Denver, recrudesceu a especulação acerca de quem Barack Obama irá indicar como seu candidato a Vice-Presidente. O Senador por Illinois resolveu a 21 do corrente comunicar à imprensa que já escolhera o nome de seu candidato e que oportunamente o revelaria. As possibilidades seriam de que o fizesse neste sábado, em comício em Springfield, Illinois, ou na própria Convenção.
Os mais falados como constantes da lista de Obama seriam os Senadores Evan Bayh (Indiana) e Joe Biden (Delaware) e o Governador da Virgínia, Tim Caine. Existem vários outros nomes que estariam dentre os possíveis. Ao contrário das notícias que circulavam após a desistência da Senadora Hillary Clinton à candidatura presidencial, quando reconheceu a vitória nas primárias de Barack Obama (V. blog anterior a respeito), não se atribuem grandes possibilidades ao nome da Senadora por New York, agora havida como um azarão para a formação da chapa democrata.
Interessante é a respeito a opinião do candidato independente Ralph Nader. Para ele, Hillary Clinton seria a escolha certa (smart choice) para integrar a chapa, porque é a única pessoa que pode carrear mais votos para Obama.
Apontando Hillary, Obama passaria mensagem de unidade no Partido Democrata, unidade essa de que os Democratas estão muito precisados se desejam vencer John McCain no pleito de novembro próximo. Com efeito, além da vantagem de Obama sobre McCain haver diminuído para apenas dois por cento (o que equivale a um empate técnico, por achar-se dentro da margem de erro das pesquisas), as consultas ao eleitorado têm fornecido ulteriores dados para a análise pela campanha do candidato democrata. Assim, somente pouco mais da metade dos sufragantes de Hillary nas primárias (52%) devem votar em Obama em novembro. Dos restantes 48%, 21% votariam em McCain e 27% estão indecisos. Verifica-se, por conseguinte, que se estendesse a mão para a sua companheira no Senado e ex-adversária nas primárias, Obama estaria sinalizando a sua opção pela unidade partidária para um grupo de votantes que não há de engrossar as fileiras de seu eleitorado em novembro se a sua candidata não receber o tratamento do cabeça de chapa a que julgam faz por merecer.
O bom senso político indicaria nesse sentido. Nada aproveitará a Obama designar candidatos a vice que não agreguem votos. Por outro lado, os republicanos estão utilizando com a habitual proficiência as falhas (reais ou presumidas) do Senador por Illinois, notadamente inexperiência em assuntos externos e vagueza de suas propostas para a economia. Como assinalara anteriormente, tais deficiências estranhamente muito importaram para a sua anterior adoção pela mídia, não só por ser um candidato menos ‘ameaçador’ do que Hillary para o establishment, senão e a fortiori por ser mais vulnerável aos ataques dos consultores republicanos, de que o finado Lee Atwater (eleição de Bush senior) e Karl Rove (eleição de Bush junior) mostram sobejamente tanto a habilidade politiqueira, quanto o escasso compromisso com a ética.
Caberia, portanto, esperar que Barack Obama possa evidenciar um superior tirocinio político. Tal só será possível se lograr superar as mágoas e os pequenos rancores próprios e de seus correligionários mais próximos. Não será por temer uma eventual influência do ex-Presidente Bill Clinton em sua administração que será acertado escolher para companheiro de chapa um vice sem maior expressão popular. Se julgar oportuno preterir a pretensão de Hillary Clinton, poderá sem o saber estar golpeando a própria candidatura. De que lhe servirá perder em novembro para mais um republicano, e ao invés de suceder a um dos piores presidentes da história americana, ser associado no futuro aos perdedores John Kerry (2004), Albert Gore Jr (2000) e Michael Dukakis (1990) ?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Dos Jornais (VI)

DOS JORNAIS (VI) (20.08.2008)

O GLOBO - Vexame abre contagem regressiva para Dunga - manchete 1ª. pág.

FOLHA DE S. PAULO - Genro de Maradona afunda o Brasil (chamada la pág.)
- Tostão: Dunga deve sair porque o país tem treinadores
melhores (chamada 1ª pág. e pág. D-12)

Comentário. Não restam mais dúvidas sobre a oportunidade do afastamento de Dunga da direção técnica da seleção nacional. Por causa do compromisso olímpico e a tentativa mais uma vez malograda de obter a medalha de ouro no futebol, o senhor Ricardo Teixeira preferiu considerar Dunga ainda ‘prestigiado’para ocupar-se da seleção olímpica. A atuação desastrada do Brasil – e não apenas contra a Argentina – demonstra que tal não foi uma boa solução. Infelizmente não se pode esperar das pessoas mais do que elas possam realmente dar. Dunga, seja como jogador de futebol, seja como técnico, tem uma mentalidade defensiva, como se tivesse um plantel de time pequeno. Vai na contra-mão de o que sempre caracterizou o nosso futebol, e a campanha da seleção nas eliminatórias é uma prova inequívoca dessa visão medíocre de nossa capacidade. Preocupados em defender, os times de Dunga não tem um esquema para o ataque; daí as dificuldades que forçosamente deverão encontrar, como o evidenciam as partidas contra o Paraguai (em Assunção), a Argentina ( em Belo Horizonte), assim como os jogos da seleção olímpica contra os Camarões e a Argentína.
Não creio que passe pela cabeça do Sr. Ricardo Teixeira a manutenção de Dunga. Terá suficiente acuidade política para desfazer-se de alguém que põe em risco a classificação do Brasil para a próxima copa, logo o Brasil que é o único país que participou de todas as copas do mundo. O que me preocupa é que, sob pretexto de um calendário carregado, se avente a possibilidade de manter Dunga para os próximos dois jogos das eliminatórias, a começar pela partida com o Chile. Não creio seja uma decisão sensata, pois o que se poderá esperar de um técnico nas suas condições e em em adiantado processo de fritura ?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Dos Jornais (V)

DOS JORNAIS ( V )

O GLOBO - 18.08.2008

Diplomata do Vietnã escapa do cativeiro (pág. 1)
Quando o medo faz parte da rotina da profissão (pág. 11)

Comentário. Não meu caro leitor, não são notícias originárias do Iraque. Infelizmente, as matérias de O Globo se referem ao Rio de Janeiro. Assim, quase 30 horas após terem sido levados, a trezentos metros do Corcovado, por doze bandidos, o conselheiro da embaixada do Vietnã e três chineses conseguiram escapar do cárcere, uma cisterna no Complexo do Alemão. Formula-se a hipótese de o crime haver sido encomendado pelo traficande Fernandinho Beira-Mar. Depois desse seqüestro, o movimento no ponto turístico do Corcovado caíu ontem, com uma redução de 20% em relação a outros domingos de sol.
A violência por outro lado leva cada vez mais trabalhadores como carteiros e operadores de subestações de energia a se afastarem das funções. Também os mestres estão sujeitos à insegurança decorrente da ausência do Estado, como uma professora que já viu uma criança ser morta na sua frente. Segundo declarou, “nós professores, nos sentimos reféns. Muitos colegas já deixaram a escola.” Também os carteiros se estão afastando de sua atividade por causa da falta de mínimas condições de segurança para realizarem seu trabalho. Assim, um carteiro de 45 anos dorme em média apenas quatro horas por dia e tem lapsos de memória. Só os vinte assaltos e tentativas de roubo que sofreu ao longo de dezesseis anos nos Correios não saem de sua cabeça. Ele tem síndrome do pânico e usa cerca de dez remédios em seu tratamento.
Fala-se muito em “violência”. No entanto, tais descrições genéricas costumam omitir um fator importante. A chamada “violência” só inferniza o trabalho de agentes dos serviços básicos de uma comunidade, assim como pode seqüestrar diplomatas estrangeiros em locais turísticos como o Corcovado porque o Estado está ausente. Ausente das favelas em que grande parte dos moradores é refém do tráfico. Ausente igualmente dos pontos turísticos e dos logradouros públicos, em que só aparece após alguma incursão de bandidos armados pelo tráfico – e que desde muito já se sente em condições de sair do morro e descer para a cidade. Em outras palavras, sómente depois da ‘porta ter sido arrombada’ é que a Polícia Militar dá o ar de sua graça.
A população brasileira em suas grandes cidades está obrigada a vivenciar uma situação que os livros de história declaram pertencer à Idade Média. Nessa época, um poder central débil não lograva impor-se à nobreza, encastelada em seus respectivos feudos. Nesses dias negros, os servos da gleba não tinham dúvida quanto a quem deviam fidelidade, se ao próximo senhor feudal ou se ao rei longínquo.
A situação que a população do Rio de Janeiro enfrenta nada tem de metafísico. Uma série de maus governantes e a inação diante do crescimento das favelas como substitutivo de política pode explicar a realidade de uma situação, mas infelizmente não é uma ‘solução’. Como tampouco o são os “basta!”, os “chega!”, as brancas passeatas multitudinárias, as cruzes na praia, as referências metafísicas, as vazias promessas feitas em palanques bem protegidos, e até as incursões e as ocupações pontuais que apenas marcam ações em território inimigo e que continuará a ser inimigo no futuro.
Apenas uma coisa parece preocupar nossos governantes. É a chamada ‘imagem do país no exterior’. Assim, se noticia a repercussão em grandes jornais de Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, etc. Em todas as notas se destaca o problema da insegurança no Rio e no país. Que o povo – que paga os impostos a beirarem os quarenta por cento de sua renda – conviva diuturnamente com tal realidade, já se sabe, mas importância se dá mesmo quando o estrangeiro toma ciência da situação. Aí então é que é grave...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Os Taxistas de Atenas

Para o turista, também os motoristas de taxi podem ser considerados representativos das respectivas cidades. Em New York, os choferes dos carros amarelos constituem uma espécie de ONU às avessas. Ali encontramos naturais de países os mais ignotos e longínquos, muitos irmanados por quase ininteligíveis sotaques do inglês, o que enseja um congraçamento de não-familiarizados com a língua que foi de Shakespeare que não tende a facilitar a desejável comunicação entre o condutor e visitante estrangeiro. Além disso, boa parte desses taxistas encarnam o que pensam ser o espírito do nova-iorquino, vale dizer o mau humor crônico ou – o que para o usuário vem a dar no mesmo – a má vontade no que tange tanto às intenções turísticas quanto às simples indicações de deslocamento do passageiro.
O chauffeur parisiense não fica a dever ao de Manhattan em termos de maus bofes. Esse mau humor é uma espécie de nuvem preta que há bastante tempo paira sobre muitos deles. Assim, já se encontrava a acompanhar os rabugentos taxistas nos anos de de Gaulle, e que chegavam a rosnar interjeições e outras palavras menos citáveis quando o passageiro não pronunciava corretamente o endereço a que aspirava ser levado. Agora, o serviço não está mais exclusivamente a cargo de gauleses descendentes de Asterix, dele igualmente ocupando-se orientais e africanos. O que não mudou foi o mau humor de quem está na direção, o que poderia ser encarado como esforço de aculturação.
O Rio de Janeiro mostrava no passado pronunciada escassez de carros de praça. Em geral, os taxis eram calhambeques, velhos modelos de Fords ou Chevrolets, com um peculiar e irritante molejo, muitos deles dirigidos por corpulentos portugueses, unidos pela não-irradiante simpatia com seus confrades de além-mar.
Aquele personagem de René Clair, interpretado por Michel Simon, que ritualmente aparecia nas mesas de bar, para com indumentária fora de moda entoar loas aos bons tempos de outrora, se em tantos outros aspectos teria a partida ganha, se veria, no entanto, em maus lençóis nesse particular aspecto do Rio de Janeiro. Pois, nos dias que correm, em termos de oferta, basta chegar junto ao meio-fio em qualquer rua de grande ou razoável circulação, e fazer tímido aceno de que se deseja um taxi, para que não raro esse indivíduo presencie uma Blitzkrieg em miniatura. Com efeito, se dois ou três taxis estiverem nas cercanias, há de desenrolar-se uma ação relâmpago diante do assustado candidato a passageiro. Na incursão rumo à oferta prometida, haverá movimentos que poderão incluir, entre outros, bruscas acelerações e fulminantes fechadas. Ao mais audaz caberá a palma, digo a freada perante o inquieto postulante.
Na verdade, por obra e graça dos últimos prefeitos, o morador da antiga Cidade Maravilhosa passou da penúria extrema para uma pletora de carros de praça. Tal abundância provocou a esfaimada concorrência supra-referida. Em mercado ora dominado pelo consumidor, a maior parte dos taxistas se vê forçada a vagar pela cidade à cata de passageiros. Excluídos os permissionários, que dispõem de licença para conduzir o próprio veículo, os auxiliares, para pagar as altas diárias que lhe são cobradas pelas empresas ou pelos donos dos veículos, não têm escolha senão rodar pelas ruas e avenidas, na busca de fregueses. Daí, a cena acima descrita não é produto da imaginação do cronista, mas da dura realidade das leis do mercado dos taxis no Rio de Janeiro.
Essa situação privilegiada do carioca, se vista do prisma da demanda do transporte por taxi, não me parece seja valorizada na sua devida medida pelo habitante desta cidade. Haveria a propósito maneira infalível de torná-lo entusiasmado usuário do serviço aqui proporcionado.
Não, não me estou referindo a comparações com o passado, sempre de resto um tanto problemáticas, porque tais experiências não costumam ser facilmente transferíveis, dado o natural ceticismo dos mais jovens ou a prevalência de visão mais romântica das décadas de cinqüenta e sessenta, em que a névoa do saudosismo oblitera os defeitos e realça as qualidades de época mais tranqüila e mais segura. O próprio personagem de René Clair surge como uma desmistificação do incorrigível saudosista dos chamados bons tempos de antigamente.
A solução proposta para a valorização do taxista carioca, se é na aparência mais simples, é algo onerosa e só seria aplicável através do efeito demonstração. Tratarei de explicar adiante de forma quiçá menos obscura e nesse sentido encareço a paciência do leitor.
De início, ela implica em viagem à Grécia. Ora, quem não almejaria conhecer Atenas, com o Parthenon, o azul, luzente mar Egeu e suas incontáveis ilhas ?
Além dos encantos da clássica Hellas, berço da civilização ocidental, com suas obras primas de escultura, magníficas ruínas espalhadas pela terra das oliveiras, existe igualmente a Grécia insular, e suas praias, baías, alvas, encarapitadas aldeias e os paredões, falésias e outras belezas naturais de um esgarçado litoral. A par de tantos atrativos – e não mais me estendo para não rivalizar com folhetos turísticos e programas de cruzeiros – haveria talvez outro fator a ser considerado, que, se não é normalmente encarado como motivo suplementar para empreender-se a longa travessia, proporcionaria informações úteis do ponto de vista sócio-antropológico.
Nessa altura, conto com a compreensão do leitor para um parêntese. Sei que lhe será difícil visualizá-lo não só para o usuário no Rio, mas também em São Paulo e Porto Alegre. Não obstante, rogo encarecidamente a sua boa vontade.
Imagine uma esquina de Atenas. É cidade com muitas colinas e esse ponto parece favorável ao pedestre, porque lá existe um sinal, o trânsito se origina de rua que sobe para desembocar num logradouro plano que logo se transformará em descida. Aí está parada uma velhinha, com vestido e casacão preto (é a cor predileta dos gregos, jovens e veteranos). Estamos no inverno, chove e venta. Há algum tempo espera pela oportunidade de embarcar num taxi. Depois de muitos passarem sem deter-se, apesar de se acharem vazios, por fim um dá o que chamaria meia parada. Para o carioca, seria o final feliz da cena, com a entrada da passageira no veículo. Ledo engano, porém, pois o encontro se realiza na Ática. A candidata ao transporte expõe a sua pretensão e o faz com inusitada deferência para os padrões do Rio de Janeiro. Infelizmente, o propósito não foi do agrado do taxista, que se limita a um gesto cansado para seguir viagem.
O imaginário espectador carioca fica perplexo. Porquê o motorista, com o carro vazio, recusou a passageira, que pelo clima e a idade mereceria melhor sorte ? Para começar a entender essa bizarra situação, em que o mando inconteste se acha com o chofer de praça e não com o passageiro, será suficiente um dia em Atenas, seja flanando pelas ruas e bulevares, seja – o que seria pior – engrossando as fileiras dos pedintes de viaturas de aluguel.
Como as tarifas vigentes são julgadas insuficientes pelos taxistas, a primeira regra da corporação é a de não aceitar passageiros que não se adeqüem aos seus interesses de itinerário. As mais das vezes, o taxista ateniense circula como uma lotação virtual. Se o motorista se detiver ao sinal do candidato a passageiro, tal não é decerto indicativo de que vá aceitar mais este postulante. Para o embarque no taxi, o passageiro é um suplicante, e existe de sua parte plena consciência dessa situação de relativa inferioridade.
Outra precisão que semelha oportuna será frisar nada terem de xenofóbico os taxistas atenienses. Se os locais têm melhores condições de lidarem com as modalidades de sua operação, não se pode dizer que os choferes façam distinção entre gregos e troianos (no caso, os estrangeiros).
Entretanto, em termos de conseqüências práticas caberia aqui uma qualificação. Como o turista não tem possibilidades de inserir-se no esquema-lotação, por óbvio desconhecimento das linhas abertas para os atenienses, o único instrumento a seu alcance seria o de oferecer um pagamento muito superior àquele que o taxista coletaria pelo sistema do lotação. Compreende-se, assim, que para valer-se do taxi ele terá na prática de pagar quantias que não só excedem a tarifa local, senão as cotações vigentes nas grandes capitais.
Para o alienígena, impressiona sobremaneira a docilidade do usuário grego em submeter-se às regras procrusteanas dos taxistas. Não é só a circunstância de que Teseu pôs fim há milênios ao bandido Procrustes. Para um povo que rivaliza com o italiano na vivacidade, espanta a submissão de homens jovens e não tão jovens, de exuberantes moças e trêmulas velhinhas, empenhados na respeitosa solicitação de um lugar no transporte. Pouco importará se na esquina é verão resplendente ou se o inverno cai frio e chuvoso. Nada disso pesa na balança. Se não aprouver ao taxista, seja quem for o pedinte terá de esperar pela próxima.
Como se verifica pelas linhas acima, o sistema de táxi urbano na metrópole de Atenas é disfuncional, refletindo uma idiossincrasia corporativa, que pouco ou nada tem a ver com as regras constantes das ordenações municipais. Na verdade, somente capital com o potencial turístico de Atenas se poderia dar o luxo de ter motoristas de taxi que não se enquadram em sistema eficiente de apoio aos turistas. O único consolo para conviver-se com essa realidade seria talvez uma elaboração nos termos abaixo. Sendo as atrações de tal ordem, as deficiências nesse serviço seriam de certo modo minoradas pelo impacto visual de tantas obras memoráveis de escultura e arquitetura, não obstante os efeitos da passagem de mais de dois milênios...
Quero crer que ulteriores explicações seriam desnecessárias. Depois de passagem pela Grécia, e a decorrente experiência com os taxis de Atenas, cresceria em muitos a convicção de que possuímos pelo menos algo que merece o nosso orgulho citadino. Por isso, longa vida aos taxistas cariocas !

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

DOS JORNAIS - IV

DOS JORNAIS (IV)

O GLOBO ( 7 e 8/08/2008)

STF libera candidatura dos fichas-sujas em todo o país. Nove dos 11 ministros votaram pela aceitação de quem responde a processo.
‘Bandidos de notória visibilidade serão eleitos’. O presidente do colégio dos Tribunais Regionais Eleitorais lamentou a decisão do STF de liberar os candidatos com ficha suja. Para ele, a magistratura está de mãos atadas’.

Comentário do cidadão. Antes do julgamento pelo Supremo, pairava a esperança de que não se confirmariam os prognósticos quanto à maioria de juízes em favor de denegar a ação dos Tribunais Regionais Eleitorais e de entidades civis (que propugnava o veto à candidatura de políticos que respondem a processos). Assinale-se que o Tribunal Superior Eleitoral, ainda que por apenas um voto, já tinha se manifestado contrário a essa aspiração da magistratura e dos juízes eleitorais. No entanto, as previsões estavam certas. Por esmagadora maioria, os ministros do Supremo preferiram não atender ao manifesto desejo da sociedade civil, optando por seguir a letra da lei.
Compreende-se, assim, a reação de desalento do presidente do colégio dos TREs, Cláudio Santos, diante da continuada impossibilidade de impedir a candidatura de políticos por estarem submetidos a processos na justiça. Com efeito, como se apressou em frisar o atual Presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes, a decisão do Supremo tem caráter vinculante e “deverá ser seguida pela Justiça Eleitoral como um todo”.
Teria sido melhor se o mesmo STF mostrasse a mesma acuidade e clarividência do Ministro Ayres Brito, que é também o Presidente do Superior Tribunal Eleitoral. Junto com o Ministro Joaquim Barbosa havia sido o único a aprovar o veto a candidaturas de políticos processados ou que já tenham sido condenados pela justiça.
Infelizmente, assim não foi. Do alto de suas curuis, os ministros do Supremo preferiram ignorar a vontade da Sociedade civil de reverter o avanço da corrupção que ela tem assistido inerme. Por que tantos corruptos pleiteiam os cargos públicos ? Notadamente, por dois motivos: (a) locupletar-se em postos executivos ou legislativos do bem público; e (b) valer-se das imunidades que tais postos costumam outorgar a seus detentores.
Daí, a campanha da Sociedade: fazer com que as listas eleitorais não sejam conspurcadas por bandidos (nas palavras do presidente do colégio dos TREs), e que os representantes públicos lá estejam não para engrossar o número de indiciados da Polícia Federal, mas para cuidar do interesse geral, seja do município, do Estado ou da União.
Faltou à Corte Suprema sensibilidade política. Que não se esqueça que os senhores ministros não se devem circunscrever ao jurisdicismo, e ter igualmente presentes os anseios da Nação, a que representam no mais alto nível judiciário. Essa percepção do interesse político, social e ético, a instância jurídica já o demonstrara em outras oportunidades, através de uma criativa construção jurídica, como v.g. no caso da fidelidade partidária. Diante da omissão legislativa de pôr um termo ao desrespeito ao voto do eleitor – como a farra das legendas e das mudanças de filiação o vinham demonstrando – em boa hora, a instância competente instituíu normas de fidelidade partidária.
Se é para levantar uma lista de responsáveis pela corrente situação de anomia jurídica, é mister não omitir o Poder Legislativo, que tem pecado pela sistemática omissão de promover a reforma política. Em época de eleição, todos são favoráveis à dita reforma política. Feita a apuração, e encastelados em seus mandatos quadrienais ou até de oito anos, cai o silêncio de muitas conivências sobre a causa da reforma política.
Não é só na área político-legislativa que se clama por providências. Se tem bastante a ver com a última decisão do STF, terá ainda mais pertinência a manutenção de um código de processo penal manifestamente superado, e que se presta, pela pletora de recursos de toda ordem que possibilita aos causídicos, à quase virtual impossibilidade de alguém com meios e um bom advogado a vir a ser condenado em última instância na justiça brasileira.
Se ministros do STF cuidaram de apontar para essa omissão do Legislativo em não criar condições para viabilizar a norma impeditiva de candidatura pelos TREs – e se tal inação não os exime de responsabilidade – a Nação pode perguntar-se por que, tendo presente tanta atividade legislativa promovida seja pelo Executivo, seja pelo Legislativo, nada até o momento tenha sido feito para remediar essa virtual e estranha proliferação de instrumentos processuais ?. Na verdade, tais instrumentos mais aproveitam a corruptos, criminosos e facínoras, do que aos respeitadores da lei, que a despeito de serem maioria parecem a muitos minoria.

sábado, 2 de agosto de 2008

Dos Jornais - III

O GLOBO (02.08.08)

Jogos de Cartas Marcadas (pág. 44)

O correspondente Gilberto Scofield Jr. escreve a respeito da entrevista do presidente da China 'para melhorar a imagem do país'. O presidente Hu Jintao concedeu entrevista a 26 jornalistas (um brasileiro e nenhum ocidental). As perguntas foram previamente submetidas e os perguntadores escolhidos. Segundo Ernesto Paglia, da TV Globo, apenas seis pessoas fizeram perguntas, todas entre o ingênuo e o filosófico.

Comentário de observador. A República Popular da China muito desejou sediar as Olimpíadas e nesse sentido governo e povo chinês fazem um esforço considerável. O calcanhar de Aquiles está no fato de a RPC ser um regime híbrido. O seu espetacular desenvolvimento econômico decorreu da liderança de Deng Xiaoping (na década de oitenta), quando o marxismo foi abandonado no campo da economia, com a correspondente abertura ao capitalismo internacional. No entanto, esta opção econômica capitalista não determinou abertura no domínio político, permanecendo o monopólio do partido comunista chinês do poder político. Surgiu assim uma espécie de Frankenstein, em que existe uma ditadura política do PCC (se bem que a ideologia comunista para fins práticos foi transformada em uma ideologia de manutenção do poder) e uma democracia (ou abertura) capitalista no mercado. Assim, o poder político na China continua em mãos do PCC, e reveste necessariamente um aspecto burocrático e não-carismático. O atual detentor é o Presidente Hu Jintao e a maneira com que foi conduzida a chamada ‘entrevista’ à imprensa internacional é um retrato da atitude da hierarquia perante a mídia. Como toda ditadura, tem um temor pronunciado da liberdade de imprensa e de outros sintomas democráticos. Nesse sentido, tudo faz para controlar a imprensa, para tanto utilizando todos os métodos disponíveis para um regime dito ‘forte’. Para quem tem tantos esqueletos no armário ( com o Tibete à frente), essa postura se não é obviamente aceitável, é inteligível. Parece-me importante assinalar que um dos primeiros sinais de alerta em termos da progressão autoritária se acha na relação do poder estatal com a imprensa. Assim, como à democracia repugnam os adjetivos, também o regime autoritário experimenta uma rejeição violenta e incontrolável diante das tentativas de inserção dentro de sua área de influência de uma imprensa realmente livre e não-caudatária.
Infelizmente a história política da China poderia ter sido bastante diversa se Deng Xiaoping tivesse aceito em 1989 a sugestão do então Primeiro Secretário do Partido Comunista Chinês, Zhao Ziyang. Não tendo o enfoque repressivo da ala conservadora, representada na estrutura de governo pelo Primeiro Ministro Li Peng, Zhao preconizou como soluções para a crise de 1988/9 ‘democracia e a primazia (rule) da Lei’. Marxista e um membro brilhante do partido, Zhao se chocou nessa oportunidade com o ‘líder máximo’ Deng, e pagaria alto preço pela sua coragem e retidão. Afastado de todos os cargos, ficou por dezesseis anos (até sua morte em janeiro de 2005) em estrito regime de prisão domiciliar. Como assinala Perry Link, em artigo em ‘The New York Review’, essa medida governamental tinha menos a intenção de punir a Zhao do que a de evitar qualquer possível ressurgência de sua popularidade no povo chinês. Na verdade, segundo mostra o livro “ Conversações com o prisioneiro Zhao Ziyang” (publicado em 2006, em Hongkong e banido no resto da China), a sua proposta para a abertura democrática era conseqüência também de pensamento pragmático. A própria intuição democrática evoluiria para a conclusão de que uma economia de mercado sob o sistema do partído único inevitavelmente leva à corrupção. Por outro lado, Zhao vira na democratização a resposta para a corrupção, bem como a circunstância de que a incidência da corrupção, como questão pública podia ser usada para estimular o interesse popular na construção de instituições democráticas.
Verifica-se, assim, que no fim de contas são fundados os temores de Hu Jintao e dos demais hierarcas chineses. Todo ‘regime forte’ é uma vítima da síndrome do pânico, por bem conhecer a intrínseca fraqueza de quem depende da intimidação, da censura, e de todos os meios conexos à violência institucional para manter-se no poder.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Dos Jornais - II

FOLHA DE S. PAULO, 1/08/08, pág. A2

Eliane Cantanhede em sua coluna intitulada Martírio refere que “é de chorar literalmente cancelar uma conta de celular, pedir informações em bancos (...),reclamar de serviços de TV a cabo.Na hora de nos venderem, são ótimos, na de cumprirem seus deveres e corrigirem seus erros, viram carrascos. Como apólices de seguro.”

Comentário do cidadão. Enfrentando as esperas intermináveis e as visitas inconclusivas, que se arrastam ao longo da semana, procuro corrigir defeito na transmissão da NET em minha televisão, até o presente sem sucesso. As discrepância entre a oferta ao consumidor potencial e o lento, precário e insatisfatório serviço ao usuário é versada com muita oportunidade pela articulista Eliane Cantanhede.

(Eleições) Americanas - Coadjuvante pág. A-16

Derrotada nas primárias democratas, a senadora Hillary Clinton vai discursar na convenção nacional do partido, que oficializará a candidatura de Barack Obama. Deverá falar na segunda noite, a do dia 26 (de agosto), quando os EUA comemoram 88 anos de direito de voto para as mulheres (...). Já as apostas de que ela será anunciada como vice da chapa de Obama, na convenção ou antes, perderam ainda mais força nos últimos tempos.

Comentário do observador. A nota da FSP é imprecisa, pois Hillary não foi derrotada pelas primárias do Partido Democrata. Obtendo dezoito milhões de votos teve um total ou igual ou superior ao de Barack Obama. A sua ‘derrota’ foi o resultado de uma campanha da mídia e da conseqüente percepção pela opinião pública de que Obama era o candidato ‘vencedor’. A confirmação foi dada pela maioria dos delegados, tanto aqueles compromissados pelas primárias, quanto os chamados superdelegados, que no final decretaram a ‘pré-escolha’ de Obama como candidato democrata. Quanto ao prognóstico de que Obama não indicará Hillary Clinton após ter confirmada a sua designação como candidato pela Convenção – é impensável que ele indique o candidato a Vice antes -, se preterir a Hillary, o fará às suas próprias expensas, e em detrimento da unidade do Partido Democrata. Obama precisa do apoio dos partidários da senadora por New York, naquelos segmentos demográficos em que a sua debilidade política já está demonstrada. Ao contrário dos outros candidatos a Vice, Hillary Clinton é a única que tem estatura e potencialidade de trazer o voto daqueles e daquelas que, de outra forma, ou votarão em John McCain, ou simplesmente se absterão de votar.